segunda-feira, novembro 03, 2008
GUNGA DIN
Dentro de minha peregrinação pela obra de Howard Hawks, acabei tropeçando nesta aventura que o cineasta quase dirigiu e que se trata de um marco na História dos filmes de aventura. GUNGA DIN (1939) é praticamente um avô de Indiana Jones, principalmente de INDIANA JONES E O TEMPLO DA PERDIÇÃO, com direito a cenas cômicas, seita perigosa, ambiente exótico (a Índia do final do século XIX) e um covil de cobras. Ainda diria que o filme de Spielberg é melhor, mas vendo GUNGA DIN notei o quanto o cineasta não foi tão original assim na construção daquele que eu considero um de seus melhores trabalhos. Mas tudo bem. Nada se cria; tudo se copia. E encaremos como uma homenagem.
No livro de Todd McCarthy, "Howard Hawks: The Grey Fox of Hollywood", há detalhes sobre o interesse do diretor por essa produção, as negociações que ele fez com a RKO e o entusiasmo em contatar logo uma dupla de roteiristas nota 10 – Ben Hetch e Charles McArthur – para fazer o script, baseado num poema de Rudyard Kipling. Então, quando ele teve que passar a bola para outro diretor, no caso, George Stevens, o caldo já estava praticamente pronto e só tiveram que juntar a estória feita e transformá-la em roteiro, sem nem menos creditar o trabalho da dupla, ou do trio. Enquanto isso, a vida pessoal de Hawks estava passando por uma tempestade de eventos que ele preferia fugir a ter que lidar com eles. Talvez por causa de sua fuga dos problemas ele não tenha gostado nada quando sua esposa lhe fez uma surpresa, indo visitá-lo em Nova York, quando o que ele mais queria era fugir dos problemas familiares. O gesto agressivo de Hawks para com ela acabou deixando a mulher, que já sofria de esquizofrenia, ainda mais abalada, passando, a partir de então, uns tempos num sanatório, tomando eletrochoque.
Quanto a George Stevens, ele é um bom diretor e ainda teria no currículo grandes obras como UM LUGAR AO SOL (1951), OS BRUTOS TAMBÉM AMAM (1953), ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE (1956) e O DIÁRIO DE ANNE FRANK (1959), mas talvez na época de GUNGA DIN ele ainda estivesse um pouco verde. E como o próprio Hawks disse em entrevista a Peter Bogdanovich, Stevens não tinha o mesmo ritmo alucinado de Hawks. Seu ritmo de trabalho e conseqüentemente seus filmes eram mais lentos, o que não combinou muito bem para uma aventura como GUNGA DIN, que necessitaria de um diretor mais frenético. Por isso, GUNGA DIN, apesar de ter os seus bons momentos, parece uma daquelas sessões da tarde de outrora, em que a gente assistia até o final, mas sem grande entusiasmo.
Na estória, Cary Grant, Victor McLaglen, Douglas Fairbanks Jr. são oficiais da coroa britânica na época em que a Índia era dominada pelos ingleses. O personagem de Grant tem uma fixação por um tesouro em ouro que um dos escravos, o Gunga Din do título, havia lhe contado que havia numa espécie de santuário. O ápice do filme acontece justamente no momento em que o personagem de Grant e Gunga Din vão parar nesse lugar e flagram uma cerimônia religiosa que lida com sacrifícios humanos. Mas antes dessa parte do filme chegar, muita coisa acontece, coisas que cairiam bem num filme de Hawks: há até a figura simpática de um elefante que anteciparia os filhotes de elefante de HATARI!, mas há principalmente a questão da amizade dentro de um ambiente hostil e os momentos em que os amigos têm de lidar com a separação do trio, gerada pelo futuro casamento de um deles (Joan Fontaine aparece jovem e bonita como a noiva de Fairbanks Jr.). No meio de tudo isso, alguns bons momentos de humor, sendo o melhor deles, a cena do ponche na festa.
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