segunda-feira, novembro 24, 2008
A DUQUESA (The Duchess)
Georgiana Cavendish (1757-1806), a Duquesa de Devonshire, com seu carisma e sua popularidade, bem como o fato de ter vindo de família plebéia e de não ser exatamente adorada pela nobreza, faz com que identifiquemos imediatamente semelhanças entre ela e a Princesa Diana, morta em 1997. E diria que sua história, bem conduzida pelo diretor Saul Dibb, é um dos grandes trunfos de A DUQUESA (2008), estrelado por Keira Knightley, que tem se especializado em papéis em filmes de época. A duquesa vivida por Keira nessa produção inglesa dirigida por Saul Dibb, do drama de gangues BULLET BOY - SEM PERDÃO (2004, lançado direto nas locadoras), se mostra tão deslocada no ambiente nobre quanto a Maria Antonieta do filme de Sofia Coppola.
Porém, no que se refere aos seus deveres conjugais, enquanto Maria Antonieta até que tinha boa vontade para fazer sexo com o marido travado, Georgiana sofre em ser tratada apenas como a mulher que será mãe do herdeiro do Duque, em interpretação inspirada de Ralph Fieness. Ele é um sujeito bruto e que tem dificuldade em expressar seus sentimentos. Tampouco se esforça para agradar a duquesa, nem demonstra sentir atração física por ela, preferindo fazer sexo por prazer com outras mulheres. Georgiana, sendo uma jovem de mente voltada para o moderno, o que desperta logo uma identificação com o público, quer direitos iguais. Se o marido fica transando com outras mulheres por aí, ela quer também ter o direito de ficar com o homem que ama (Dominic Cooper). Acontece que as regras da sociedade da época não admitem esse tipo de comportamento.
O filme também traz certo interesse histórico, pois flagra um momento em que movimentos de libertação, como a Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa, estavam se formando. O tempo era de mudanças. E a Inglaterra, apesar de tudo, tem resistido com a monarquia, ainda que apenas simbólica, até os dias de hoje. Se algumas obras preferem mostrar essa época, em que os nobres mandavam no mundo, como uma era de ouro, A DUQUESA é um filme que, mesmo em pequenos detalhes, como no tratamento desumano dado aos soldados que servem à nobreza e passam o dia inteiro em pé feito estátuas, adota um posicionamento contra-monárquico. O filme mostra também o aspecto de negociação, o dinheiro que é dado à mulher depois que ela consegue ter o tão esperado herdeiro do sexo masculino.
O filme tem um tratamento bem tradicional, sem praticamente nenhuma ousadia estética, mas ainda assim, trata-se de um trabalho correto e bem conduzido, com momentos de emoção. Sem falar que a interpretação de Ralph Fiennes se destaca. Quem sabe ele até ganhe uma indicação de melhor coadjuvante no Oscar do próximo ano.
P.S.: A Mostra Varilux do Cinema Francês começou mal aqui em Fortaleza. Na sexta-feira, saí do trabalho com a boa vontade para ver LA BELLE PERSONNE, de Christophe Honoré. Paguei o ingresso, entrei na sala e fiquei vendo os trailers. Já estava estranhando quando vi que todos os trailers eram de filmes infantis. Quando o filme começa (HIGH SCHOOL MUSICAL 3!) eu me levantei indignado. A gerente estava conversando com os poucos gatos pingados que foram até a sessão para prestigiar o filme e contou que as cópias não haviam chegado e que o filme agorá só terá uma única sessão hoje às 21 horas, horário bem inconveniente para mim. Parece que vou ver o filme só quando entrar no circuito comercial mesmo. :(
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