sexta-feira, novembro 16, 2007
THE WHIP AND THE BODY (La Frusta e il Corpo / Le Corps et le Fouet)
Meio que influenciado pelo debate que rolou no blog do Heráclito, notei que precisava começar a ver alguns filmes do Mario Bava que tinha comigo. Comecei, então, com o belo THE WHIP AND THE BODY (1963), estrelado pelo inglês Christopher Lee e pela palestina Daliah Lavi. Trata-se de uma estória de amor sinistra, que já começa a encantar a partir dos créditos, com um vermelho forte e a bela música tema de Carlo Rustichelli, o que acaba remetendo um pouco aos melodramas de Douglas Sirk. E que também me fez lembrar obras de David Lynch como VELUDO AZUL e TWIN PEAKS - OS ÚLTIMOS DIAS DE LAURA PALMER. O estranho é ver todos os envolvidos no filme com pseudônimos "americanizados". A intenção era vender a obra para o mercado internacional como se fosse um filme americano. Até o próprio Bava aparece com o pseudônimo de John M. Old. A presença de um astro internacional e conhecido mundialmente pelo papel de Drácula nas produções da Hammer ajudava a "enganar" o público preconceituoso com produções estrangeiras. Naquela época, apenas diretores mais respeitados como Fellini, Antonioni ou Visconti conseguiam abertura no mercado americano mesmo com seus filmes dublados em italiano. Por sorte, consegui, em divx, uma cópia dublada em italiano de THE WHIP AND THE BODY, com legendas em inglês.
Christopher Lee já havia trabalhado antes com Bava, no peplum HÉRCULES NO CENTRO DA TERRA (1961) no papel de um feiticeiro. Em THE WHIP AND THE BODY, ele é o filho pródigo e maligno que retorna ao castelo de sua família para buscar o que acredita ser seu de direito. Ele não é bem vindo por seus familiares, já que ele seria o responsável pela morte de uma pessoa da casa. A mãe da moça assassinada, inclusive, guardava dentro de uma redoma de vidro o punhal ainda ensangüentado, esperando o dia em que ela poderia se vingar de Kurt (esse é o nome de Lee no filme). Kurt tem uma atração pela sua cunhada, Nevenka (Daliah Lavi). E apesar de a mesma dizer que o odeia, na verdade ela também é apaixonada por ele. São sentimentos contraditórios que a perturbam. E ela é daquelas mulheres que gostam de apanhar, de sentir dor. E quando ele a chicoteia até sangrar, ela parece gozar de prazer numa cena ao mesmo tempo excitante e perturbadora num praia, que acabou gerando polêmica na época. Não era comum assistir uma cena tão explícita de sadomasoquismo.
A ambientação de THE WHIP AND THE BODY lembra muito "Il Wurdulak", o segmento mais marcante do meu filme favorito de Bava: BLACK SABBATH (1963), ainda que não consiga ser tão apavorante quanto. Talvez por dar mais ênfase à relação romântica e doentia de Kurt e Nevenka. Em certa altura do filme, Kurt é assassinado e depois reaparece para assombrar todos da casa, principalmente sua amada Nevenka. E tome mais chicotadas. O filme também é um dos mais ricos de Bava no que se refere à direção de arte, com o uso de cores estranhas ao usual. Um diretor qualquer não teria, por exemplo, usado tantos tons esverdeados e azulados em cenas dentro de um castelo. Outros momentos marcantes acontecem sempre que vemos Nevenka ao piano, como que convidando o amado morto a se fazer presente naquela casa. São detalhes como esse que não nos deixa dúvida que estamos vendo uma obra especial.
P.S.: E PRISON BREAK entrou em hiato, deixando um gancho que pode mudar todo o rumo dos acontecimentos da série. O que me faz admirar essa série é a maneira como ela se mantém viva quando todos acreditam que ela está pra morrer.
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