segunda-feira, novembro 26, 2007
O PASSADO (El Pasado)
Os últimos dias estão sendo difíceis em todas as áreas da minha vida. Aliás, o ano de 2007 está, como bem disse o Marcelo V. em alguma caixa de comentário da blogosfera, muito "estranho", pra não usar um adjetivo negativo. Quero sempre acreditar que tudo que acontece com a gente, por mais doloroso que seja, seja um mal necessário para um final feliz. E por falar em dor, o que é que dói mais do que o amor, que já até compararam com dor de dente? E quantas vezes eu mesmo não quis fugir desse sentimento, embora nos dias atuais ande querendo entrar de cabeça nesse "negócio"? Acho que porque percebi que no fim das contas o amor e os relacionamentos acabam sendo muito mais importantes em nossa memória do que qualquer outra coisa, além de ser também fundamental para o nosso bem estar físico e espiritual.
O PASSADO (2007) mostra as conseqüências do fim de um casamento na vida de Rímini (Gael García Bernal), um jovem tradutor. Depois de 12 anos casado com Sofia (Analía Couceyro), sua primeira namorada, eles terminam o relacionamento. A separação é tranqüila, pelo menos até onde é mostrado no filme, mas Sofia insiste em manter contato com o ex-marido, principalmente quando ele começa um relacionamento com uma modelo fotográfica um tanto quanto possessiva e mais adiante com outra mulher. Ele faz de tudo para evitá-la, mas ela sempre aparece para perturbá-lo, como um fantasma. Para Rímini, o passado é como um cadáver enterrado e esquecido, deixado para trás. Para Sofia, Rímini ainda é o homem de sua vida.
O filme é angustiante - eu fiquei com um aperto no peito durante toda a projeção - e por mais que eu goste do outro filme argentino de Hector Babenco - CORAÇÃO ILUMINADO (1996) -, acredito que O PASSADO é ainda mais incômodo e perturbador, até por ser menos enigmático que o supracitado, por não ser cheio de metáforas. Ambos os filmes são extremamente pessoais para o diretor. Se CORAÇÃO ILUMINADO serviu para exorcizar o período em que ele quase morreu de leucemia, O PASSADO também tem relação com sua vida particular. Numa entrevista, o diretor comentou ter vivido recentemente uma situação semelhante: "Em março me separei de minha mulher e percebi que ainda tinha suas fotos em minha casa. Senti a necessidade de jogá-las fora. Ou seja, a vida real estava imitando meu filme", afirmou Babenco. A clara referência à obra de Victor Hugo, "A História de Adèle H.", me fez ficar ainda mais interessado em assistir a adaptação homônima de François Truffaut.
O PASSADO é talvez o mais pesado, mais denso, filme sobre separação já produzido. A seqüência da separação das fotos pelo casal é uma das mais belas da carreira multi-nacional do cineasta. Não que o filme não tenha outras seqüências também bastante marcantes. É que contar mais pode estragar a surpresa de quem ainda não viu o filme, que também conta com a última participação de Paulo Autran no cinema, já com uma aparência bastante debilitada. Além do mais, o filme mostra o poder da mulher numa relação. A mulher já nasce com essa tendência de organizar e de manter as relações, desde criança, brincando de boneca, tendo, portanto, uma tendência a ter mais poder numa relação. Já o homem costuma evitar o famoso "discutir relações", talvez por ser mais imaturo nesse sentido e é aí que a mulher se aproveita. Claro que o fato de que quem ama mais dentro de uma relação também contribui para o peso de quem tem mais "poder". Quem ama mais é sempre o mais fragilizado, o mais preocupado com o possível fim de um relacionamento e quem sofre mais no final.
Top 5 Babenco:
1. BRINCANDO NOS CAMPOS DO SENHOR (1991)
2. CARANDIRU (2003)
3. O PASSADO
4. PIXOTE: A LEI DO MAIS FRACO (1981)
5. CORAÇÃO ILUMINADO
Filme fundamental de Babenco ainda não visto: LÚCIO FLÁVIO, O PASSAGEIRO DA AGONIA (1977).