quarta-feira, novembro 28, 2007

MEDOS PRIVADOS EM LUGARES PÚBLICOS (Coeurs / Cœurs)



Decepções amorosas, seguidas de novas esperanças, seguidas de novas decepções fazem parte da vida. E mesmo assim, é comum nos apegarmos à esperança de um novo amor. E quando isso acontece pensamos: agora vai! Só que nem sempre o resultado é positivo. E essa série de frustrações vai se acumulando e fazendo com que as pessoas se tornem com freqüência amargas, retraídas ou preferindo se isolar do mundo exterior. Esse filme de Alain Resnais trata dessas pessoas. Eu poderia fazer uma comparação - um pouco ruim, já adianto -, dizendo que MEDOS PRIVADOS EM LUGARES PÚBLICOS (2006) seria um negativo de SIMPLESMENTE AMOR, aquela comédia romântica onde quase todo mundo termina feliz e que serve para aquecer um pouco os nosso corações, muitas vezes carentes de afeto na época natalina, que coincide com o inverno no hemisfério norte - o que deve piorar ainda mais o sentimento de solidão nessa época do ano. O filme de Alain Resnais, ao contrário de SIMPLESMENTE AMOR, é frio como a neve que cai constantemente no inverno parisiense. E diferente do filme americano, a obra de Resnais contém bem menos personagens principais (apenas seis). Talvez se fossem mais, Resnais não teria conseguido dar a profundidade necessária para o sucesso de seu trabalho. Se bem que eu falo sucesso, mas por mais que eu respeite o seu trabalho, em momento algum eu me senti na pele ou sensibilizado de verdade com os problemas e as dores desses seis personagens.

Aviso, desde já, que sou um leigo na obra de Alain Resnais. O único filme do diretor que eu vi foi o essencial HIROSHIMA, MEU AMOR (1959), mas já faz muito tempo, e eu não tinha maturidade suficiente para assistí-lo. Portanto, não tenho familiaridade com o seu universo e não sei o quanto de seu estilo ou de seus traços autorais se apresentam nesse novo filme, adaptado da peça “Private Fears in Public Places”, do inglês Alan Ackynbourn. Talvez a minha tendência a não gostar muito de adaptações de peças teatrais para o cinema tenha contribuído um pouco para o fato de eu não ter me juntado ao grupo dos adoradores do filme.

Em MEDOS PRIVADOS EM LUGARES PÚBLICOS, como já disse, temos seis personagens, todos eles, almas solitárias, em busca de afeto, ou ao menos de companhia. Logo no início, conhecemos um senhor idoso e corretor de imóveis, mostrando um apartamento para uma jovem mulher. Ele mora sozinho com a irmã mais nova, também solitária, e que finge que sai com as amigas, quando na verdade vai até um barzinho com uma rosa na lapela, sozinha, à procura de alguém, um encontro às cegas (blind date), que dificilmente funciona. Quanto à mulher que procurava o apartamento, ela está tendo problemas com o seu atual companheiro, um sujeito que está desempregado e que passa os dias dormindo ou bebendo. Completando o mosaico, temos a secretária do agente imobiliário, que por trás de sua fachada de beata (ou evangélica), se esconde uma mulher que gosta de se fantasiar de stripper e de gravar suas performances em fita. Tem também um senhor que trabalha como barman num hotel e que cuida do pai, moribundo.

Claro que em se tratando de um diretor como Resnais, o filme não é apenas enredo, estória. Há os detalhes na construção dos ambientes, nos discretos movimentos de câmera e na maneira como ele nos mostra o quanto o mundo pode ser frio, mesmo no aconchego de um apartamento com aquecedor de ambiente, em especial na cena do diálogo entre o barman e a secretária, com a neve caindo em cima deles como se eles estivessem do lado de fora.

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