quarta-feira, novembro 21, 2007

TRÊS CURTAS



Acho difícil avaliar curtas-metragens. Talvez pela curta duração, vários deles necessitem de revisões para que suas qualidades sejam melhor apreciadas e detalhes que passam desapercebidos sejam notados. O destaque desse post é, sem dúvida, AMOR SÓ DE MÃE (foto), mas o curta do Balagueró também é muito legal.

AMOR SÓ DE MÃE

Esse é um filme que sempre ansiava assistir, desde as notícias das primeiras repercussões, nos bons tempos de atividade da lista de discussão Canibal Holocausto. Esperava que um dia o filme passasse numa daquelas sessões de curtas patrocinadas pela Petrobrás, mas infelizmente não rolou. E talvez por causa de toda essa expectativa, talvez por isso, eu tenha me decepcionado um pouco. Gostei muito de NOCTURNU (1998), o primeiro curta de Dennison Ramalho, que recentemente co-escreveu o novo filme do Mojica, A ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO, e fiquei feliz ao ver disponibilizada na internet uma cópia em divx em excelente qualidade e com direito a áudio-extra, trazendo comentários (em inglês) de Ramalho e de André Kapel, técnico responsável pelos efeitos visuais, de maquiagem etc. Ainda assim, apesar dessa pequena decepção, que se deve também ao pouco impacto que eu senti vendo o filme, é inegável o talento de Ramalho com as imagens, fotografadas com capricho pelo craque José Roberto Eliezer, e com a construção de uma atmosfera sinistra. Junte-se a isso, o auxílio valioso de Débora Muniz, atriz que trabalhou em vários filmes pornôs da Boca do Lixo, e de Everaldo Pontes (o São Jerônimo no filme homônimo de Julio Bressane). AMOR SÓ DE MÃE (2003) conta a trágica estória de um homem que vive dividido entre ter que cuidar de sua mãe idosa e católica fervorosa e sua paixão pela prostituta Formosa, que lhe dá um ultimato: ou ele abandona a mãe e vai com ela pra longe daquele lugar ou ela o deixa. Por influências maléficas (demônios, macumba?), ele é levado a matar a própria mãe. Do jeito que é mostrado, com direito a seqüências gore e muito sangue, o filme não é recomendado para todas as audiências. Mas se a intenção de Ramalho é também chocar ou dar uma chacoalada no cinema brasileiro, ele foi bem sucedido. Perfeita a cena de Formosa toda banhada em sangue andando de maneira esquisita. No áudio, Ramalho explica que essa cena foi filmada "de trás pra frente", daí ter ficado tão sinistra. Soube através do blog do Leandro Caraça que Dennison Ramalho está com um longa-metragem "na agulha", baseado numa obra de Lourenço Mutarelli (O CHEIRO DO RALO). Aliás, foi lá do blog do Leandro que eu baixei o arquivo em divx. Aproveitem enquanto o link ainda está funcionando e confiram AMOR SÓ DE MÃE!

VISTA A MINHA PELE

Joel Zito Araújo, diretor de FILHAS DO VENTO (2005) e A NEGAÇÃO DO BRASIL (2000), parece ter a intenção de ser o Spike Lee brasileiro. Pelo menos, no sentido de querer tocar na ferida do preconceito racial no Brasil. Não vi os seus longas, mas a julgar por VISTA A MINHA PELE (2003), curta institucional educativo que ele fez e que está sendo exibido nas escolas com o objetivo de provocar a discussão sobre racismo e preconceito, não levo muita fé em seu trabalho. Vi o filme na escola em que trabalho e ele mostra uma realidade alternativa. Como seria se os papéis dos brancos e dos negros fossem invertidos na história da sociedade brasileira? É mais um trabalho para discutir em escolas mesmo. A idéia nem é tão original assim, já que existe um filme americano, A COR DA FÚRIA (1995), que já havia mostrado um mundo em que os negros são os privilegiados e os brancos são os discriminados e de posição social inferior. Pena que ficou muito parecido com MALHAÇÃO. :(

DÍAS SIN LUZ

Segundo curta-metragem do catalão Jaume Balagueró, DÍAS SIN LUZ (1995) consegue em apenas oito minutos construir imagens poderosas. Até pela curta duração, o filme é para ser revisto para ser melhor assimilidado. É como se Balagueró tivesse centenas de idéias e quisesse colocar tudo num único curta. Sou interessado na obra do diretor desde A SÉTIMA VÍTIMA (2002), e estou me preparando para ver qualquer dia desses FRAGILE (2005), um de seus últimos trabalhos. O filme é narrado pelo personagem principal, que conta do dia em nasceu, numa noite de intensa tempestade. Ele perdeu os seus pais ainda cedo e foi criado por um casal praticante de sadomasoquismo. Ele era freqüentemente torturado e a sua madrasta vestia roupa preta de dominatrix(!). Depois, vemos imagens dele adulto, numa cena bem produzida na qual ele corta o próprio braço, infestado e destruído por uma espécie de vírus. O curta teria tudo pra se transformar num longa dos bons. Quem sabe um dia, Balagueró resolva estendê-lo. Nacho Cerdà foi produtor do curta.

Nenhum comentário: