sábado, agosto 07, 2021
O ESQUADRÃO SUICIDA (The Suicide Squad)
Talvez um ponto fraco da Marvel estando na Disney seja essa falta de liberdade para fazer filmes mais direcionados a públicos mais adultos. Tanto que a Fox até tomou a liberdade de usar os heróis da Casa das Ideias em filmes mais carregados na violência e mais apropriados para certos personagens, como foi o caso dos filmes do Logan e do Deadpool. Já a Warner tem uma tradição nascida dos filmes de gângsters e isso acaba combinando com a proposta de certos heróis e vilões (Batman e Coringa, por exemplo) ou com certos diretores (Christopher Nolan, Zack Snyder).
Fazer esse tipo de comparação faz sentido, pois o diretor de O ESQUADRÃO SUICIDA (2021) é James Gunn, um cara saído da Troma, que começou com filmes B de horror, e que teve a oportunidade de fazer na Marvel GUARDIÕES DA GALÁXIA (2014) e sua sequência (2017). E dentro de um esquema que costuma despersonalizar o trabalho dos diretores, é bom dizer que os filmes de Gunn, dentro do MCU, são os que mais têm uma personalidade própria, ainda que podado de maiores liberdades, por ser um filme-família e isso é totalmente compreensível.
Por causa de uma demissão da Marvel, devido a problemas de “cancelamento” (embora depois ele fosse recontratado para o terceiro filme vindouro dos Guardiões da Galáxia), ele foi convidado pela Warner/DC para desfazer a tristeza que foi o primeiro ESQUADRÃO SUICIDA (2016), de David Ayer. E felizmente, a carta branca que deram a Gunn funcionou muito bem e temos aqui uma obra que brinca com as possibilidades do gore, da ultraviolência em filmes de super-heróis - ou supervilões, no caso - e com certas liberdades na própria estrutura narrativa.
Embora seja um filme de “homens em missão”, a missão não importa tanto. Talvez importe mais perto do final. O que mais importa é a jornada dos “heróis”, homens e mulheres e um tubarão com pernas, muitos deles psicopatas, trocando experiências, traumas e explicitando seus distúrbios. Destaque para a conversa entre o Sanguinário (Idris Elba) e a Caça-Ratos 2 (a portuguesa Daniela Melchior) no ônibus sobre inseguranças e promessas de proteção mútua. Eles, junto com o líder Rick Flag (Joel Kinnaman), são os personagens com mais pé no chão no grupo, composto de zoados da cabeça.
E existem umas criaturas bem estranhas no grupo, como o Tubarão Rei (voz de Sylvester Stallone), o Pacificador (John Cena, em momentos inspirados), o Bolinha (David Dastmalchian) e a já nossa conhecida e muito querida Arlequina (Margot Robbie), que ganha um momento-solo lindíssimo: sangrento, colorido e com uma excelente coreografia.
Então, é curioso como em meio ao caos que é esse olhar mais diferenciado de Gunn, ele consegue estabelecer uma espécie de harmonia entre os personagens, tanto os mais psicóticos, quanto aqueles que funcionam como uma bússola moral no grupo e que acabam por transformar esses vilões em quase heróis no final.
Além do mais, por mais que seja um filme que já comece de maneira bem rápida e objetiva, sem muitas explicações a não ser o básico, com as ordens da chefe vivida por Viola Davis, há esses momentos de respiro que trazem o filme para um caminho menos óbvio dentro de uma narrativa de filmes de super-seres, como é o caso da cena do bar, quando o grupo chega a Corto Maltese (homenagem a Hugo Pratt?), a nação latino-americana que faz lembrar Cuba e que talvez seja um dos calcanhares de Aquiles do filme, em se tratando de usar os velhos arquétipos de nações latinas invadidas ou salvas por americanos, tão comuns em fitas de ação dos anos 1980.
Lá pelo final, como se não bastassem os excessos, há ainda uma homenagem a certos filmes de monstros gigantes, só que de um jeito bem mais colorido. Além de tudo, o gosto de Gunn por um bom rock´n´roll na trilha sonora enche o filme de muita porrada na orelha. Assim, com muito humor, gore, transgressão e até uma breve cena de nudez que parece uma homenagem a BACURAU (será?), tanto a tradição sangrenta da Warner segue firme e forte, quanto Gunn consegue tirar o gosto ruim que havia ficado com o filme de 2016.
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