E mais uma vez o projeto de Sylvester Stallone em juntar alguns nomes importantes do cinema de ação da década de 1980 é feito com total desleixo. Tudo bem que há um clima oitentista que se via naquele tipo de filme que se encontrava nas fitas da América Vídeo, mas, muito provavelmente, isso só vai interessar aos aficionados pelo gênero. E talvez nem tanto a eles, já que OS MERCENÁRIOS 3 (2014), agora sob a direção do jovem Patrick Hughes, não está indo tão bem nas bilheterias americanas quanto seus antecessores.
E olha que o filme tinha um possível trunfo: Mel Gibson, o hoje astro rejeitado de Hollywood por suas posições e polêmicas, como o grande vilão. Sua presença poderia trazer um embate entre dois atores-autores em uma possível obra esquizofrênica: Gibson e Stallone. Ambos, mesmo quando não estão na posição de diretores ou roteiristas de seus trabalhos, fazem sempre filmes com a cara deles. Mas infelizmente não há espaço para um autorismo de Gibson em OS MERCENÁRIOS 3, embora possa se sentir um pouco disso nos olhos azuis e psicóticos do sujeito que fez MÁQUINA MORTÍFERA e UM NOVO DESPERTAR, para citar apenas dois trabalhos seus que apresentavam um sujeito que flertava com o suicídio.
Há pouco ou nada disso em OS MERCENÁRIOS 3, franquia cada vez mais de Stallone, que aqui, mais do que nos anteriores, aparece como o grande protagonista. Ele é o homem que dispensa uma equipe inteira de veteranos para sair em busca de novos. Ele é o cara adorado pelos colegas pela liderança do grupo, que se sentem como uma família e ficam perdidos se um dia resolverem se aposentar. Embora esse tipo de situação seja ótima para um filme mais dramático, as tentativas de soar dramático do filme não funcionam. Ou, mais provavelmente, nem era intenção de Stallone, o dono da história e do projeto, de fazer um filme mais sério do que os anteriores. Afinal, o segundo ganhou bastante com as piadas em torno de Chuck Norris.
No novo filme não faltam piadas por todos os lados. Há as piadas que se perderiam numa tradução (como a de Christmas, personagem de Jason Stathan, e aquela em que Stallone usa o termo "spook" e é logo repreendido por Wesley Snipes, por ser esse um termo que costumou ser usado em tom ofensivo com os negros americanos). E há as piadas internas, como a que envolve a prisão de Snipes por sonegação de impostos.
Aliás, pelo menos deram um bom espaço para Snipes brilhar no começo do filme, no bom prólogo que chega a enganar o espectador, pensando que estaria para ver um ótimo e divertido filme de ação. Infelizmente não é que o acontece e muitas vezes nos vemos entediados e sem dar a mínima para aqueles personagens. Sem falar que não há a menor sofisticação visual na direção de Hughes. Se ele se mostrou, porventura, mais talentoso em seu trabalho anterior na direção, isso se transforma em cinzas em OS MERCENÁRIOS 3.
Falando em não aproveitar o elenco, não existe exemplo mais gritante do que a presença ridícula de Jet Li. O filme não respeita o passado glorioso do ator e lhe oferece, mais uma vez, um papel minúsculo e idiota, brincando até mesmo com sua altura, quando na verdade ele era um gigante nos filmes de artes marciais de Hong Kong em seus bons tempos. Por isso fez bem Jackie Chan em ter recusado participar desse projeto, já que não lhe dariam um espaço digno. Outro que acaba recebendo um personagem bem ruim é Antonio Banderas, que recebe um estereótipo de espanhol chato e galanteador, com direito a música hispânica ao fundo para dar um ar de humor de mau gosto com o personagem.
OS MERCENÁRIOS 3 também é mais um exemplo de que quantidade não é qualidade. Ao contrário: cada vez que o filme aumenta a quantidade de astros (Harrison Ford) e sub-astros (Ronda Rousey, Victor Ortíz), o resultado é mais medíocre. Ainda assim, para quem acompanha a carreira de alguns desses atores, é uma diversão escapista que não fará mal. O problema é que esse negócio de não querer se levar a sério pode acabar prejudicando bastante até mesmo filmes que são feitos com essa intenção.
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