Conhecendo ou não o homenageado ERA UMA VEZ EM TÓQUIO (1953), de Yasujiro Ozu, ver UMA FAMÍLIA EM TÓQUIO (2013) é uma experiência extremamente recompensadora. Trata-se de um desses filmes de lavar a alma, que emociona durante a sessão e que vai junto com a gente até o caminho de casa. Dirigido por Yôji Yamada, trata-se de uma espécie de remake da obra de Ozu, para celebrar os 60 anos de um dos filmes mais cultuados de todos os tempos. Logo, era uma responsabilidade e tanto de Yamada fazer essa homenagem.
O filme acompanha um casal de idosos que moram numa ilha afastada da cidade grande e que resolvem ir a Tóquio visitar os seus três filhos. O problema é que, ao chegarem lá, eles vão percebendo que os filhos são ocupados demais para dar-lhes atenção e acabam chegando, em certo momento, a se sentirem como uns sem-teto, jogados de um lugar para outro.
Aos poucos vamos conhecendo cada personagem, cada filho e cônjuge ou namorada dos filhos de Shukichi e Tomiko Hirayama. Sem muita pressa, UMA FAMÍLIA EM TÓQUIO vai nos conquistando numa duração que parece ser aparentemente longa (146 minutos), mas que se mostra perfeita para contar a história. Tanto que nem vemos o tempo passar, de tão interessados que ficamos na trama que se desenrola.
Algumas atualizações são divertidas, como a do momento em que pai e mãe (eles são tratados assim por noras e genros também) chegam a Tóquio e a mãe tem um mapa desenhado, sem perceber que o taxista dispõe de um GPS que o orientará a chegar à casa do filho mais velho, o que é médico.
O curioso é que há muitas cenas de rotina, de pessoas conversando e comendo e falando sobre casamentos e falecimentos, mas nenhuma delas se torna tediosa. Há também todo um trabalho de emulação da geografia de interiores tão comum nos filmes de Ozu. Mas, apesar de observar esses aspectos ser também interessante, o que mais chama a atenção é mesmo a relação dos velhos pais com seus filhos. Na maioria das vezes eles são tratados como estorvos, sendo que a relação do pai com os filhos é sempre mais complicada, em especial com o filho mais novo, que é tido como um preguiçoso e irresponsável pelo pai. E é justamente no relacionamento mais complicado que o filme ganha em emoção.
Se UMA FAMÍLIA EM TÓQUIO já estava se encaminhando muito bem, o filme se torna melhor ainda com a entrada em cena de Noriko (Yû Aoi), a bela namorada do filho mais velho. A timidez característica japonesa, já tão apresentada em tantos filmes, é explorada no momento que o filho mais novo tenta apresentar a namorada para a mãe, com certo desconforto, apesar de a moça ser adorável e bondosa.
Sua presença, assim como a cena da mãe na casa do filho mais novo conversando antes de dormir, quando ela finalmente se sente feliz por ter vindo a Tóquio e não arrependida por não receber o cuidado devido, é crucial para que a emoção aflore abundantemente. E uma vez que a emoção chega dessa maneira, é acompanhar a dolorosa conclusão com o maior carinho do mundo pelos protagonistas, como se fôssemos tão culpados quanto os filhos mais ingratos em não dar a devida atenção a pessoas tão especiais.
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