quinta-feira, junho 16, 2011

MEDÉIA (Medea)



A mitologia grega sempre foi ao mesmo tempo fascinante e confusa pra mim. Sempre preferi os personagens do Velho Testamento, da cultura judaica, até por eu ter mais intimidade com eles desde a infância. Na mitologia grega, o fato de ter heróis e deuses demais em histórias que divergem de acordo com cada autor, complica ainda mais. Ler sinopses da história dessas divindades, então, só me mostra o quanto eu teria ainda que aprender ou me familiarizar com eles. E olha que eu tenho um interesse por astrologia, que direta ou indiretamente remete a esses deuses e heróis.

Recentemente, lendo textos sobre literatura clássica, em que a epopeia é tratada com destaque, em detrimento do romance, a sua mais legítima continuidade, dei de cara várias vezes com citações a "Medeia", tragédia que fala de uma espécie de feiticeira que mata os próprios filhos e que tem relação direta com a história dos Argonautas, de Jasão e o novelo de ouro.

No cinema, as versões mais famosas da tragédia grega são esta, de Pier Paolo Pasolini (1969), e a de Lars Von Trier (1988). Depois de ver a versão de Pasolini e não ter gostado muito, suspeitei que a versão de Von Trier talvez pudesse ser mais interessante. Pasolini, aliás, nunca esteve entre os meus cineastas italianos favoritos. Mesmo não morrendo de amores por Fellini, não há dúvidas de sua superioridade. Se comparar então com a poesia e o rigor formal de Luchino Visconti, então, é que a comparação fica desleal. Mas dizem que TEOREMA (1968) e O EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS (1964) são ótimos. Infelizmente, de Pasolini, só vi os filmes da chamada Trilogia da Vida (DECAMERON, 1972; CONTOS DE CANTERBURY, 1972; e AS MIL E UMA NOITES, 1974) e o meu preferido dele, SALÓ, OU OS 120 DIAS DE SODOMA (1975). Em geral, minha preferência por seus filmes é proporcional à quantidade de sexo e violência. Noto um pouco de desleixo na forma.

MEDÉIA traz elementos que remetem a AS MIL E UMA NOITES. Ainda que em nenhum momento o tempo e o espaço sejam citados, o deserto, a música, os figurinos e a aparência dos personagens remetem muito aos desertos árabes ou, talvez, à Europa medieval dos tempos da dominação moura. A personagem principal é vivida pela cantora lírica Maria Callas. Ela até hoje ainda é considerada a maior soprano de todos os tempos. E deve ter sido uma honra para Pasolini poder trabalhar com tal celebridade. Callas é a melhor coisa do filme, especialmente quando o diretor destaca sua expressão forte em close-up.

O que se conta como pontos positivos do filme são alguns momentos que despertam estranheza, como a sequência inicial do centauro, e a sequência do sacrifício humano, que é realmente bestial e deve ter provocado reações de choque na plateia da época. Mas o que é mesmo esperado e a razão de ser do filme é o momento em que Medeia mata seus próprios filhos. Dependendo do diretor, a sequência poderia ser implícita ou explícita, mais ou menos sangrenta. Pasolini opta por um meio termo, mas é, sem dúvida, o melhor momento do filme, chegando a ser hipnotizante.

Nenhum comentário: