sexta-feira, junho 10, 2011
FOME DE AMOR (VOCÊ NUNCA TOMOU BANHO DE SOL INTEIRAMENTE NUA?)
Sem querer ser chato, mas ler o livro sobre Nelson Pereira dos Santos (escrito por Helena Salem) tem sido mais prazeroso do que ver os filmes do diretor. Mas FOME DE AMOR (1968) é bem melhor que EL JUSTICERO (1967), embora guardem muitas similaridades - e não apenas por contar com a presença de Arduíno Colasanti. FOME DE AMOR deixa mais claras as influências de Godard e Resnais no trabalho de Nelson, tanto na forma - principalmente em seus momentos iniciais, quando o diretor opta por uma edição toda fragmentada e confusa no aspecto temporal dos acontecimentos -, quanto no conteúdo, quando vemos a personagem de Irene Stefânia lendo Mao Tsé-Tung na ilha, por exemplo.
Assim como EL JUSTICERO, FOME DE AMOR não foi exatamente um filme que Nelson Pereira dos Santos fez com amor, com vontade própria. Ele estava mesmo era interessado em filmar logo COMO ERA GOSTOSO O MEU FRANCÊS (1972) e achava horrível a novela na qual FOME DE AMOR se baseava, chamada "História para se ouvir de noite", de Guilherme Figueiredo. Quem o convidou para dirigir o filme foi Paulo Porto, a pedido de Herbert Richers. Nelson não gostou do roteiro de Luís Carlos Ripper (cujo nome dos créditos de roteirista aparece bem pequeninho, enquanto o de Nelson aparece bem destacado) e começou a fazer improvisações, refazendo o roteiro dia a dia durante as filmagens.
O grande destaque do filme é a presença de Leila Diniz, que já era famosa por sua exuberância e ousadia. Nos anos 1960, aparecer grávida de biquíni numa praia, por exemplo, era um tabu. Sem falar nas entrevistas polêmicas em que ela se mostrava bem liberal ao falar de sexo dentro de uma sociedade machista e pouco acostumada a mulheres mais ativas. Tanto é que a cena em que ela tira a camisa e deixa os seios à mostra, com um sorriso de quem não está nem aí pra ninguém, é um dos momentos mais interessantes e representativos do filme.
Quanto à história, não interessa muito, mas resumindo bastante, há um casal vivido por Colasanti e Stefânia que se muda para uma casa numa ilha quase deserta. O sujeito, na verdade, é um picareta que só quer sugar o dinheiro da moça ingênua. Há outro casal, interpretado por Leila Diniz e Paulo Porto, vivendo na mesma ilha. Ela cuida dele, que é cego, surdo e mudo. Mas já havia uma amizade dela com o personagem de Colasanti e os dois preparam uma maneira de pegar todo o dinheiro da esposa dele, além de se livrarem de seus respectivos esposos. A história em geral é pouco envolvente e o que é mais interessante mesmo são as ousadias formais com um quê de Godard impregnando o filme, que conta com o lendário Dib Lutfi como diretor de fotografia.
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