quinta-feira, junho 02, 2011

A HORA DA ESTRELA



Mais uma lacuna preenchida nestes dias, A HORA DA ESTRELA (1985), baseado na obra de Clarice Lispector e estreia na direção de Suzana Amaral, é desses filmes adoráveis, um dos melhores produzidos no Brasil na década de 1980. Trata-se de uma tragédia com toques de humor que contribui para conquistar o espectador, que encantado com a inocência de Macabéa (Marcélia Cartaxo) acompanha as suas desventuras.

A personagem é uma jovem alagoana semianalfabeta que tenta sobreviver trabalhando como datilógrafa num depósito comercial. Logo no começo do filme, ela recebe reclamações de seu trabalho. Entrega as folhas manchadas de comida e com erros de ortografia. Mas o que ela apenas sabe dizer é "desculpe". Sua colega de trabalho é Glória (Tâmara Taxman), uma mulher que usa de esperteza e que é muito mais interessada em namorados e em dinheiro, mesmo que para isso precise chantagear os amantes e mentir para o patrão.

Macabéa aprende um pouco com ela e num desses dias em que ela falta ao trabalho dizendo que vai ao dentista, conhece um sujeito, também nordestino, com quem passa a ter uma relação próxima de um namoro. O tal sujeito é vivido por José Dumont e a sua entrada em cena torna o filme ainda mais interessante, já que ele é um homem que se faz de inteligente e confiante, mas não sabe responder às perguntas de Macabéa, o que acaba rendendo os momentos mais engraçados do filme. Não há nenhuma relação de carinho entre os dois, embora ela até tente se aproximar fisicamente dele. Porém, como Macabea só conhece a brutalidade do mundo, não se recente tanto. A felicidade para ela é algo muito distante e que nem faz parte de seus planos. "Ser feliz pra quê?", ela pergunta a certa altura.

Fernanda Montenegro aparece num papel pequeno mas impressionante. Ela interpreta uma cartomante inescrupulosa, cuja presença torna o ambiente carregado de expectativas negativas. E é nesse clima de desesperança que se constrói A HORA DA ESTRELA, que hoje também funciona como registro de uma época em que os pobres assistiam televisão pela janela do vizinho.

A HORA DA ESTRELA ganhou vários prêmios no Festival de Brasília, incluindo filme, atriz, ator, direção e fotografia. Marcélia Cartaxo foi premiada no Festival de Berlim com o Urso de Prata de melhor atriz.

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