Não é sempre que se tem a chance de conferir uma boa amostra da excepcional filmografia de Carl Theodor Dreyer. Devo isso à minha amiga Carol, que fez a gentileza de me emprestar a coleção da Magnus Opus do maior cineasta dinamarquês de todos os tempos. Pretendo ver os filmes com calma e aos poucos escreverei algumas linhas sobre os filmes vistos. Dentro da coleção, o filme mais antigo é A QUARTA ALIANÇA DA SRA. MARGARIDA (1920).
Esse é o segundo filme dirigido por Dreyer, sendo que o primeiro é THE PRESIDENT (1919).
Confesso que tenho alguma resistência a filmes mudos. Principalmente quando não são comédias de Charles Chaplin. Acabo achando que o filme vai ser chato e cansativo. Felizmente, esse não é o caso desse título de Dreyer, que chega a ser até empolgante e engraçado. Bastante interessante o uso dos tons de azul, sépia e verde em determinadas cenas.
A estória é das mais interessantes: Sofren, jovem aspirante a pastor, está noivo de Mari, mas o pai da moça só permite que os dois se casem quando o rapaz se tornar pastor da igreja. Ele consegue passar no "concurso" para pastor. O líder da congregação local havia morrido e deixado uma viúva - a Sra. Margarida do título. De acordo com os costumes locais, a viúva pode se casar com o novo pastor. No fim das contas, Sofren acaba se casando com a velha, apesar de ela ter idade para ser sua avó, de já ter enterrado três maridos e dos rumores que dizem que ela é uma bruxa. Ele leva Mari para a casa onde vive com a anciã, dizendo tratar-se de sua irmã. A fim de apressar a morte da velha, Sofren faz pequenas armadilhas.
A temática da morte, comum na filmografia de Dreyer, já aparece forte nesse seu segundo filme.
A qualidade do DVD está muito boa para um filme produzido em 1920. Isso se deve à masterização digital do negativo original.
O DVD traz dois curtas dirigidos por Dreyer da fase falada: A TRAVESSIA (1948) é o meu preferido dos dois. Um casal atrasado para pegar o navio tenta chegar de moto a uma balsa em tempo recorde. Impressionante as tomadas. Não dá pra falar mais sob o risco de estragar a surpresa final. O GRANDE ESCULTOR (1949) é um documentário sobre as esculturas de Thorvaldesen. Esse artista fazia esculturas de uma perfeição impressionante. Parece até que as estátuas se movem. Mas Dreyer não se limita a falar apenas das obras do escultor e a religiosidade e a morte acabam sendo fortes elementos desse belo curta.
Próximo Dreyer a ver: MIKAEL (1924).
P.S.: Amanhã, dia 28, vai haver exibição de OS ÚLTIMOS DIAS DE PAPAI NOEL, divertidíssimo curta-metragem de Eduardo Aguilar. A exibição vai acontecer no Alltv, das 15 às 16 horas. Esse curta, eu já tive a oportunidade de ver. O próprio diretor me enviou uma cópia numa fita. Quem acompanha esse blog há mais tempo deve saber que eu sou admirador do trabalho do Aguilar. Pra não perder.
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