Na última segunda-feira resolvi tirar um dia de folga do meu trabalho diurno. É sempre bom poder dormir até às onze da manhã pra colocar um pouco em dia o sono atrasado. Pena que quando se acorda tarde, perde-se metade do dia. Mas, por outro lado, se ficarmos preocupados com o que se perde durante o dia, não se dorme mais. Pois bem. Nesse meu dia de folga, aproveitei, claro, para ir ao cinema. As opções não andam lá tão interessantes, mas filmes de terror e suspense sempre são atraentes para mim. Como tinha chegado atrasado no domingo para a sessão de QUANDO UM ESTRANHO CHAMA (2006), aproveitei a oportunidade para ir vê-lo na segunda. Mas não foi uma tarefa tão fácil. Antes, passei no Centro para fazer uma transferência no banco. Retirar dinheiro de um banco e depositar no outro. Na fila do depósito do Banco do Brasil, vivi um momento de pesadelo. Estava apressado para pegar logo o ônibus pro Iguatemi e uma mulher estava usando a fila de depósito da agência para fazer um monte de pagamentos. Ela ficava o tempo inteiro brigando com um menino que insistia em botar a mão na máquina, impedindo a leitura do código de barras. Pior do que o menino, só mesmo a voz irritante da mulher, que gritava para a agência inteira ouvir: "Tiago, não mexe, Tiago. Tu tá me atrapalhando..." E eu ficava fazendo careta, prestes a desistir da fila. Mas como não sou de desistir fácil - pelo menos para certas coisas - consegui chegar na máquina e efetuar o depósito. Agora era sair dali correndo e com sorte estar em meia-hora no Iguatemi.
Ir do Centro para o Iguatemi de ônibus não é nenhuma maravilha. Ainda mais quando se está atrasado. Nem vou contar do micro-ônibus de linha lotado e da menina que passou mal. Resultado: cheguei atrasado dez minutos para ver o filme. Contrariando meus princípios, e me recusando a ir embora "com as mãos abanando", comprei o ingresso assim mesmo. Na pressa, não passei no banheiro para lavar o rosto e ainda comprei uma garrafa de água mineral daquelas bem caras que eles vendem nos bombonieres do UCI. Depois de toda essa maratona, quando cheguei na sala, só havia um senhor assistindo ao filme e a tela estava com uma tarja preta em cima e embaixo. Como eu já estava bastante irritando, saí imediatamente da sala puto da vida pra reclamar lá. "A sala 7 tá com problema. Uma mancha preta em cima e embaixo. Não dá pra assistir. Não tem como voltar o filme, não?". Aí o rapaz que recebe o ingresso, muito gentilmente, e ignorando o meu mau humor, ligou lá para o projecionista. E não é que eles voltaram o filme mesmo? Desde o começo? Que sorte a minha, hein. Senti como se tivesse uma espécie de anjo da guarda ou santo protetor dos cinéfilos do meu lado. Ou então, eles já estão me reconhecendo de tanto eu ir lá e acham que eu sou algum jornalista. Mas sabe o que foi mais legal? Ao contrário do que a crítica em geral anda dizendo, eu gostei muito do filme. Assisti do começo ao fim com prazer e interesse. Entre os blogueiros cinéfilos, o único que eu vi elogiando o filme foi o Tobey.
Apesar de, para as novas gerações, parecer mais um prolongamento do prólogo de PÂNICO, de Wes Craven, QUANDO UM ESTRANHO CHAMA é uma refilmagem de MENSAGEIRO DA MORTE (1979), de Fred Walton. Inclusive, dando uma olhada na filmografia de Walton no IMDB, vi que ele chegou a dirigir para a televisão WHEN A STRANGER CALLS BACK (1993), que a julgar pelo título deve ser uma espécie de continuação do filme original. A nova produção foi dirigida por Simon West, de CON AIR (1997) e LARA CROFT: TOMB RAIDER (2001). Nesse suspense modesto, ele pôde mostrar melhor seus dotes como diretor, caprichando nos travellings, na ambientação, na construção da atmosfera, na escolha da atriz principal. Quer dizer, nem sei se foi ele quem escolheu a atriz, mas a gente agradece assim mesmo. Camilla Belle é um colírio para os olhos. Ela está em O MUNDO DE JACK E ROSE (2005), de Rebecca Miller. Camilla lembra um pouco a Elisha Cuthbert, só que morena.
O filme tem uma estrutura bem simples. No começo, ficamos sabendo de um serial killer. O que ele faz com as vítimas não é mostrado. Em seguida, conhecemos a personagem de Camilla, uma jovem que está de castigo por ter exagerado na conta do celular. Seu castigo é ficar sem carro, sem celular e ainda servir de baby sitter numa casa super-luxuosa. A casa, aliás, é uma atração à parte do filme. Fiquei tão fascinado com a casa quanto a protagonista. É uma mansão enorme situada à beira de um lago. O lugar, além de belamente mobiliado e iluminado, é todo equipado com aparelhagem eletrônica, alarme eletrônico, essas coisas. A jovem recebe ligações de um sujeito de voz ameaçadora e que parece estar cada vez mais perto dela. A tensão vai se criando aos poucos até chegar ao clímax e ao belo e meio abrupto final.
Os melhores filmes de terror podem ser comparados a uma noite de tempestade. A gente se sente bem porque está protegido, mas ao mesmo tempo se assusta um pouco com os trovões e os relâmpagos. Claro que alguns filmes conseguem transcender essa característica e nos levar para outros territórios. Um Lynch ou um Shyamalan, por exemplo, são casos à parte dentro desse universo do horror. QUANDO UM ESTRANHO CHAMA é um exemplo mais convencional, que utiliza os clichês do gênero sem inovar muito, mas que faz isso com muita competência e elegância. Levando em consideração a atual safra dos lançamentos no circuitão, é um filme muito bem vindo e que merece ser conferido.
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