Saindo de um mestre (Dreyer) e passando para outro (Bresson). Quem me dera ser um grande crítico para saber escrever bem sobre esses dois gigantes. Mas tem nada não: como sou adepto do lema punk ("do it yourself", "eu não sei fazer música mas eu faço" etc) e quero mesmo é aprender também, nada melhor do que me forçar a ler e a repassar o que eu aprendi, além, claro, de expressar minhas impressões, ainda que errôneas, sobre o filme.
Recentemente eu assisti a dois filmes de Robert Bresson.
Um deles foi DIÁRIO DE UM PADRE (1950), terceiro longa-metragem do homem, mas o primeiro verdadeiramente bressoniano. Foi a partir desse filme que Bresson estabeleceu sua estética: sua intenção de não mais usar atores profissionais, personagens que agem sem o uso da razão e que caminham sempre para uma evolução espiritual, dramaticidade oposta ao teatral, a fragmentação dos espaços, a importância daquilo que não é mostrado.
François Truffaut, se não me engano, falou que é preferível ver um filme fraco de um grande autor do que um bom filme de um diretor medíocre. E nisso eu só tenho a concordar. Falando isso, não estou querendo dizer que DIÁRIO DE UM PADRE seja um filme fraco, mas é que esse filme não é uma obra-prima, como UM CONDENADO À MORTE ESCAPOU (1956), PICKPOCKET (1959) ou O PROCESSO DE JOANA D'ARC (1962). É um filme complicado de se entender. O mais complicado de Bresson que eu vi até agora. Partes do enredo ficam meio sem razão de ser, parecem sem importância.
Acho que eu devo ter ficado mais interessado na saúde frágil do padre - ele tem um câncer no estômago e não come nada a não ser pão com vinho. Um dado interessante do filme é que de vez em quando falam para o padre de sua má fama. E, no entanto, o coitado não faz absolutamente nada de errado. Bresson esconde da gente certas coisas, talvez por preferir mostrar o filme sempre do ponto de vista do padre e de maneira bastante fragmentada, com elipses.
DIÁRIO DE UM PADRE foi a primeira adaptação que Bresson fez de um livro de Georges Bernanos - a segunda foi MOUCHETTE, A VIRGEM POSSUÍDA (1967). Assim como o escritor, Bresson era bem católico. Ao lado de Hitchcock, Bresson está entre os maiores cineastas católicos. O que não quer dizer que ele defenda sempre a Igreja, que é mostrada como passível de erros, que o diga a pobre Joana D'Arc. Como o catolicismo lida com a culpa, com o sofrimento e com a purificação da alma, é natural que seus personagens passem por uma grande provação até atingir a redenção no final. Valendo destacar que a tal redenção muitas vezes é a morte.
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