segunda-feira, agosto 22, 2005

2 FILHOS DE FRANCISCO



No começo eu fiquei com o pé atrás. Até mesmo quando um amigo, cuja opinião eu respeito muito, falou que o filme prometia ser ótimo, eu ainda não acreditei. Zezé di Camargo e Luciano não é, digamos, o tipo de coisa que me interessa. Eu só fui acreditar no potencial do filme quando vi o trailer. Um dos melhores já feitos no Brasil. Foi quando eu tive a certeza de que o filme devia ser, no mínimo, muito bom.

Depois de todas as emoções que senti ontem, posso dizer que 2 FILHOS DE FRANCISCO (2005) é com certeza um dos melhores filmes do ano. Poucos filmes me emocionaram tanto esse ano. E não há nada no filme que eu possa dizer que não gostei, a começar pelo elenco, encabeçado pelo ótimo Ângelo Antonio no papel de Francisco, o homem que enfrenta muitos obstáculos para alcançar seu sonho. Ele não quer que seus filhos sejam faxineiros ou pedreiros como ele. "Filho meu tem que ser alguma coisa na vida." E como ele gosta muito de música sertaneja, investe o pouco que ganha na carreira dos seus filhos.

Não tem como não sentir um profundo respeito por essa gente. Gente trabalhadora, que não espera pela providência divina para tomar a iniciativa de perseguir os seus sonhos. Dira Paes como a esposa de Francisco representa o lado pé-no-chão. "Enquanto você sonhava, eu estava muito acordada", diz ela para o marido, quando seus filhos estão sumidos há meses, em viagem com o empresário Miranda (José Dumont). Miranda é na verdade uma fusão de dois empresários que Camargo e Camarguinho tiveram.

Todas as liberdades tomadas pelos roteiristas para tornar uma história real numa obra de ficção foram muito bem acertadas. É impressionante o talento do diretor Breno Silveira, em sua estréia na direção. Até parece um veterano, tal a segurança que o filme nos passa. E pra ele, esse filme foi um risco muito grande. Afinal, quem teria a coragem de começar a carreira fazendo um filme sobre uma dupla sertaneja de sucesso, que muita gente acredita ser de gosto duvidoso? Dinheiro, com certeza, poderia render, mas prestígio e longevidade, ele teria? Silveira, porém, acreditou no projeto. Não só ele, como todos os envolvidos.

Muito acertada também a escolha de atores desconhecidos para interpretar a dupla sertaneja na fase adulta. A opção foi pela semelhança física e pela capacidade de representar. Mas elogiar o elenco é chover no molado. O que posso fazer é lembrar de alguns dos momentos que mais me emocionaram no filme: a primeira vez que Zezé e seu irmão ganham dinheiro cantando, depois de ver a família passando fome; a morte de Emival; o romance com a personagem de Paloma Duarte (adorei quando tocou "Como Vai Você", do Roberto Carlos, no baile); o final, com uma multidão cantando junto as canções da dupla e a participação do seu Francisco no palco, lembrando toda a tempestade de emoções, alegrias e tristezas, que acabamos de presenciar. Lágrimas rolaram. E nasceu um profundo respeito e admiração por um homem corajoso. Junto com a alegria de ver um cinema genuinamente popular e de qualidade no Brasil.

P.S.: Tem uma ótima crítica para o filme que foi escrita por Marcelo Miranda para o Canal Cinefilia. Renato Doho também fez ótimas considerações sobre a questão da ausência da religiosidade no filme em seu blog.

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