terça-feira, agosto 23, 2005
O CINEMA BRASILEIRO DOS ANOS 60 EM TRÊS FILMES
Aproveitando o entusiasmo gerado por 2 FILHOS DE FRANCISCO, além de ter uma quantidade razoável de filmes acumulados que ainda não comentei no blog, aproveito para falar de forma rápida e rasteira - até porque minha memória é fraca - sobre três importantes filmes brasileiros da década de 60. ASSALTO AO TREM PAGADOR (1962) e MINEIRINHO VIVO OU MORTO (1967) são bem parecidos - os dois se aproximam do que se chama de filme policial -, mas EDU, CORAÇÃO DE OURO (1968) faz parte de um outro tipo de cinema, mais ligado à nouvelle vague, especialmente ao cinema de François Truffaut.
Nos anos 60, enquanto Hollywood estava numa quase decadência e precisando de um rebuliço, que só iria surgir perto do final da década, o cinema produzido na Europa e no Brasil estava fervilhando de criatividade e invenção. Lembro que quando li o livro "Um Filme é um Filme", de José Lino Grünewald, ele deu a entender que o cinema brasileiro pré-anos 60 era de qualidade duvidosa. Antes do advento do cinema novo, ele considerava apenas LIMITE, de Mario Peixoto, como uma obra brasileira digna de louvor. As chanchadas da Atlântida e os filmes produzidos pela Vera Cruz parece que não eram bem vistos por alguns críticos, ainda que fossem sucessos de público. O cinema da década de 60 conseguiu agradar crítica e público. Essa época é hoje considerada uma das mais gloriosas do cinema nativo.
ASSALTO AO TREM PAGADOR
Um dos grandes filmes do cinema nacional, ASSALTO AO TREM PAGADOR, de Roberto Farias, acompanha a vida de um grupo de pessoas que vive na favela, depois de um grande assalto. Reginaldo Farias é o único rico do grupo. Depois do assalto, o trato é não gastar o dinheiro para não dar na vista. "Quem já se viu, favelado comprando carro do ano?", diz o loiro. Acho que hoje em dia, com tanto traficante ganhando rios de dinheiro, a história ia ser diferente. Mas o filme é também um retrato das classes pobres do Rio de Janeiro dos anos 60. ASSALTO AO TREM PAGADOR foi baseado num caso real ocorrido em 1960. Inclusive, o vagão do trem usado nas filmagens foi o mesmo do assalto real. Diferente do que muita gente imagina, o protagonista não é Reginaldo Farias, mas Eliezer Gomes, que nunca tinha feito cinema antes. Ele interpreta o antológico Tião Medonho. No elenco estelar, ainda constam os saudosos Grande Otelo e Wilson Grey (esse estava em todas, participou de quase 200 títulos). Um dos méritos do filme é ter uma carga de suspense até o final, com a gente torcendo para que os ladrões não sejam pegos pela polícia. Agora eu tou torcendo é pra que façam um filme sobre o assalto no Banco Central daqui de Fortaleza, considerado o maior assalto do Brasil.
MINEIRINHO VIVO OU MORTO
Assim como ASSALTO AO TREM PAGADOR, esse filme de Aurélio Teixeira nos deixa apreensivos por conta do personagem principal, interpretado por Jece Valadão. MINEIRINHO VIVO OU MORTO é desses filmes empolgantes. Começa com Valadão num bar tomando uma cerveja. Chega uma mulher e pede pra ficar com ele. Uns homens a estavam perseguindo e ela precisava de alguém para protegê-la. O coitado do mineirinho (que é como ele passa a ser chamado pela imprensa), como não é de deixar mulher na mão, acaba brigando com os caras e matando um deles. Ele passa, então, a ser perseguido tanto pelos bandidos quanto pela polícia, já que matou um homem, ainda que em legítima defesa. Ele consegue abrigo nos morros e se transforma numa lenda por lá. Tinha feito um texto bem maior sobre esse filme para o Projeto 365, mas perdi o texto e não sei se o site vai voltar a funcionar de novo. Adivinhem quem também está nesse filme? Sim, ele mesmo: Wilson Grey.
EDU, CORAÇÃO DE OURO
Interessante ver essas experimentações de Domingos de Oliveira no início de carreira. Seu Edu, interpretado pelo ótimo Paulo José, parece inspirado no Antoine Doinel de Truffaut. Ao mesmo tempo que também tem um quê do Marcelo de AS AMOROSAS, de Walter Hugo Khouri, do mesmo ano. Só que Edu é mais alegre. Até demais, eu diria. Ele é eufórico. Não importa o quão liso esteja, ele sempre está de bom humor para viver a vida, de preferência, sem precisar de trabalhar. A montagem do filme tem aqueles cortes bruscos dos primeiros filmes de Truffaut, causando uma agradável sensação de estranheza. Leila Diniz, que tinha feito TODAS AS MULHERES DO MUNDO (1967) com o diretor, também aparece esbanjando charme nesse filme. Outras figuras conhecidas são Norma Bengell e Joana Fomm. O final do filme também é bem diferente. Parece uma obra inacabada. Mas não deixa de ser bem interessante.
Os três filmes foram gravados da Globo.
P.S.: Uma pena que seja tão difícil encontrar fotos de filmes brasileiros - principalmente os mais antigos - na internet. Vejam essas fotos mixurucas aí de cima. Uma pobreza, né? Seria bom que alguém disponibilizasse na rede cartazes antigos e fotos grandes e de boa qualidade. Mas pra isso é preciso que esse alguém tenha material sobre cinema brasileiro (livros, revistas, cartazes) para escanear e botar na internet.
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