quinta-feira, agosto 04, 2005

HATARI!



Sempre que ouvia falar da excelência de HATARI! (1962) tinha minhas dúvidas se iria gostar tanto assim do filme, já que não sou fã de ONDE COMEÇA O INFERNO (1959), um dos mais incensados e citados filmes de Howard Hawks. O meu interesse e o meu entusiasmo pela obra de Hawks veio há poucos meses, com a obra-prima RIO VERMELHO (1948). E obra-prima é pouco para qualificar HATARI!, essa maravilha que só o cinema é capaz de produzir.

O adjetivo "hawksiano" sempre me deixava meio confuso. Afinal, um homem que fazia filmes de todos os gêneros teria mesmo uma característica comum dentro de tão diversa filmografia? Lendo o interessante dossiê sobre o diretor publicado no site Senses of Cinema foi que eu aprendi sobre algumas de suas características. Uma das mais curiosas é o constante uso de apelidos em seus personagens. Isso se dá porque nos filmes de Hawks não há uma reverência pela família tradicional. Até mesmo os nomes de batismo podem ser deixados de lado. Em HATARI!, vemos isso com a chegada da personagem Anna Maria D'Allessandro, que, por causa do nome estrangeiro, sugere que a chamem de Dallas. Ela é uma típica mulher hawksiana, isto é, está envolvida numa grupo predominantemente masculino e desempenha um papel bastante ativo na relação com o personagem de John Wayne.

HATARI! me conquistou logo na seqüência inicial, que mostra o grupo de Wayne dirigindo jipes e caçando um rinoceronte. Essa seqüência é emocionante. Imagina-se de início que o tom geral do filme vai ser de tragédia, mas logo a alegria toma conta dos personagens e do espectador. Quando vi o rinoceronte atacando ferozmente os jipes, me senti como se aquilo fosse real. (E pensar que se fosse feito nos dias de hoje, teríamos que nos contentar com computação gráfica.) HATARI! é o tipo de filme que nos pega em todas as direções, seja nos momentos de humor, de ternura, de medo, ou de romance. Acho que não seria exagero dizer que o filme já está entre os meus favoritos de todos os tempos. Impressionante ele ter uma duração de 157 minutos e não cansar em momento algum.

As interações entre os personagens são entrecortadas pelas sempre interessantes cenas de capturas dos animais. Legal é que os animais capturados não são maltrados, mas levados para uma espécie de pequeno paraíso cheio de outros bichos. Destaque para os filhotes de elefante que Dallas insiste em cuidar, apesar dos protestos de Sean (John Wayne), que dizia que daria muito trabalho alimentar os bichos.

Curioso que Hawks nem gostava tanto de HATARI!, como pude ver na entrevista do livro "Afinal, Quem Faz os Filmes", de Peter Bogdanovich. Ele lamentava o fato de a Paramount não ter permitido um segundo protagonista por razões financeiras - ele queria Clark Gable. Hawks dizia que Wayne sempre tinha melhores performances quando trabalhava com outro grande astro. Com dois protagonistas, o filme seria bem diferente. Outra curiosidade é que as cenas de captura dos animais estavam sujeitas às reações dos bichos. Nas palavras do próprio Hawks: "não se pode ficar sentado num escritório e escrever o que um rinoceronte vai fazer."

HATARI! é do mesmo ano de O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA, de John Ford. Duas obras-primas irretocáveis de dois mestres da mesma geração que ainda teimavam em continuar na ativa.

Gravado da BAND.

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