sexta-feira, dezembro 31, 2021

TOP 20 2021 E O BALANÇO DO ANO







1. O SAL DAS LÁGRIMAS, de Philippe Garrel
2. MALIGNO, de James Wan
3. PAJEÚ, de Pedro Diógenes
4. ALL HANDS ON DECK, de Guillaume Brac



5. RODA DO DESTINO, de Ryûsuke Hamaguchi
6. LES CHOSES QU’ON DIT, LES CHOSES QU’ON FAIT, de Emmanuel Mouret
7. A PRAIA DO FIM DO MUNDO, de Petrus Cariry
8. A VIRGEM DE AGOSTO, de Jonás Trueba



9. MÁ SORTE NO SEXO OU PORNÔ ACIDENTAL, de Radu Jade
10. MEU PAI, de Florian Zeller
11. PIECES OF A WOMAN, de Kornél Mundruczó
12. MARIGHELLA, de Wagner Moura



13. ENQUANTO VIVO, de Emmanuelle Bercot
14. SOZINHA, de John Hyams
15. TITANE, de Julia Docournau
16. CRY MACHO – O CAMINHO PARA REDENÇÃO, de Clint Eastwood



17. DESERTO PARTICULAR, de Aly Muritiba
18. SR. BACHMANN E SEUS ALUNOS, de Maria Speth
19. UM FASCINANTE NOVO MUNDO, de Mona Fastvold
20. ENORME, de Sophie Letourneur

Menções honrosas

21. DUNA, de Denis Villeneuve
22. ASSIM COMO NO CÉU, de Tea Lindeburg
23. ATAQUE DOS CÃES, de Jane Campion
24. MADALENA, de Madiano Marcheti
25. VAL, de Ting Poo e Leo Scott
26. A CASA SOMBRIA, de David Bruckner
27. BELA VINGANÇA, de Emerald Fennell
28. PARTIDA, de Caco Ciocler
29. A LENDA DE CANDYMAN, de Nia DaCosta
30. DEPOIS A LOUCA SOU EU, de Julia Rezende

Chega ao fim 2021, talvez um dos piores anos que passei. Minha maior tristeza foi ter perdido meu melhor amigo para a COVID, mas as coisas também não estão nada bem no plano familiar para mim. Nem reclamo das questões afetivas, pois já acho isso um luxo, diante da escassez de coisas básicas na vida de muitos. Viver no Brasil de Bolsonaro é para os fortes. Sinto no ar esse desânimo, mas quero acreditar que há de passar.

Por isso sou tão grato em ter o cinema como refúgio, como religião, como objeto de reflexão. Não só o cinema, mas também a literatura, a música e os quadrinhos. A arte tem me salvado tanto que nem sei como agradecer a todos os envolvidos: cineastas, atores, atrizes, críticos de cinema, escritores, músicos, amigos que compartilham do mesmo amor pelo cinema.

Em 2021 seguimos com o caminho para o interior, para dentro de nossas casas, uma continuação do que o ano passado havia nos ensinado. Dos 20 filmes que selecionei como favoritos, 14 deles foram vistos em casa e não na telona. E não foi por falta de amor pela telona, não. Esse amor segue inabalável. Acho que foi um somatório da pandemia com deficiências na distribuição mesmo.

Essa coisa de ranquear filmes é uma tarefa inglória, pois o intervalo de um ano parece longo e a memória confunde nossos afetos. Porém, desde que vi O SAL DE LÁGRIMAS, de Phillipe Garrel, não consegui pensar em outro que tenha me pegado de maneira tão forte. Neste ano até tive contato com outros filmes de linha ainda mais pessimista do cineasta e talvez, pelo espírito desse ano, esses filmes estejam caindo como uma luva.

A cinematografia francesa entrou forte, com filmes que abordam de maneira muito delicada os relacionamentos afetivos, sem parecer julgar seus personagens. Outro cineasta querido, Emmanuel Mouret, conta, em LES CHOSES QU'ON DIT, LES CHOSES QU'ON FAIT, mais uma história de cirandas amorosas com uma habilidade no trato com a narrativa ficcional que faz parecer que a literatura nasceu para servir ao cinema - perdoem-me o exagero.

Há um tema que, curiosamente, aparece em pelo menos três produções (não vou incluir o filme do Mouret, que também tem, de maneira mais branda), que é a questão da gravidez. Poderia fazer uma associação meio torta com o período em que vivemos, pensar em passar por ele como se fosse um parto. Um parto que pode dar muito errado, como em PIECES OF A WOMAN, de Kornél Mundruczó, e que consequentemente nos fará lidar com o luto; um parto polêmico, mas visto de maneira inusitadamente cômica, caso de ENORME, de Sophie Letourneur; e até um parto que promove uma transformação física aterradora, caso de TITANE, de Julia Docournau.

E falando em cinema de horror, tive a incrível experiência de ver MALIGNO, talvez a obra-prima de James Wan, nos cinemas. Gostei tanto que me deliciei duas vezes com o filme. O cinema brasileiro também soube usar o horror de maneira muito sensível, como foi o caso de A PRAIA DO FIM DO MUNDO, de Petrus Cariry, filme que certamente – pelo menos quero acreditar nisso – ainda será muito comentado em seu lançamento comercial. Outro filme de horror, seguindo a linha de suspense com psicopata, que deixou meu sangue intoxicado foi SOZINHA, de John Hyams.

O ano de 2021 também nos pediu para que refletíssemos sobre a memória e sobre o esquecimento. Há o caso de PAJEÚ, de Pedro Diógenes, que fala sobre isso de maneira delicada, poética e filosófica. Há o caso de MARIGHELLA, de Wagner Moura, que nos convida a trazer à tona a memória do lendário guerrilheiro de esquerda como um grito de resistência para estes tempos obscurantistas. E a memória também é tema triste e forte de MEU PAI, de Florian Zeller. Dessa vez é angústia do desaparecimento da memória, em uma história contada do ponto de vista de quem está tendo seu "HD" esvaziado pela doença.

E falando em doença, difícil não se comover com ENQUANTO VIVO, de Emmanuelle Bercot, sobre a chance que a vida dá a um homem de meia idade de se despedir das pessoas que ama e lidar com seus arrependimentos.

Seguindo por caminhos mais agradáveis da vida, pois, afinal, nem só de dor vive o homem, dois exemplares me deixaram com um quentinho no coração, o francês ALL HANDS ON DECK, de Guillaume Brac, e o espanhol A VIRGEM DE AGOSTO, de Jonás Trueba. Ambos são filmes de verão, filmes que trazem influências rohmerianas para contar histórias de encontros com pessoas durante um momento em que os protagonistas se encontram abertos ao novo. Poderia incluir neste grupo o mais novo exemplar do mestre Clint Eastwood, CRY MACHO – O CAMINHO PARA REDENÇÃO, uma espécie de road movie existencial, que mais uma vez reflete sobre o crepúsculo da vida. Dessa vez, o velho e querido Clint foi um pouco mais generoso conosco e com seus personagens.

Falando em personagens fascinantes, é impressionante o quanto Ryûsuke Hamaguchi constrói com naturalidade vários deles em seu RODA DO DESTINO, contendo três histórias que lidam com coincidências ou desígnios. Também são fascinantes os personagens (reais) de SR. BACHMANN E SEUS ALUNOS, de Maria Speth. Foi talvez o filme mais gentil e amoroso que eu vi neste ano, do ponto de vista do que podemos contribuir para a educação de outros seres humanos.

O ano também contou com alguns filmes de temática LGBTQI+, sendo que destaco dois deles, ambos lindamente filmados e muito românticos: o encontro de duas pessoas de realidades e perfis muito distintos deste Brasil enorme em DESERTO PARTICULAR, de Aly Muritiba, e a paixão entre duas mulheres em UM FASCINANTE NOVO MUNDO, de Mona Fastvold, esse em chave de tragédia.

Para encerrar o top 20, o vencedor do Urso de Ouro em Berlim e o único dos 20 filmes que não ignorou a pandemia: MÁ SORTE NO SEXO OU PORNÔ ACIDENTAL, de Radu Jade. Máscaras convivem com o negacionismo, com a hipocrisia em uma história sobre o vazamento de um vídeo íntimo de um casal, que provoca o "cancelamento" de uma professora. Sorte de quem não passou pela crueldade de experimentar algo do tipo nos dias de hoje.

Top 5 – Piores do ano

Sem comentários. Apenas os títulos. 

1. VENOM – TEMPO DE CARNIFICINA
2. A FESTA DE FORMATURA
3. A MENINA QUE MATOU OS PAIS
4. RUA DO MEDO: 1666 – PARTE 3
5. O MENINO QUE MATOU MEUS PAIS

Top 5 – Musas do Ano

A seção mais polêmica do balanço segue viva e agora com uma tetra-campeã, Gal Gadot. Daqui a pouco, não vou mais incluí-la, será hors concours. No mais, temos quatro musas estreando. 

1. Gal Gadot (LIGA DA JUSTIÇA DE ZACK SNYDER)
                                           1. Gal Gadot (LIGA DA JUSTIÇA DE ZACK SNYDER)
                                             2. Léa Seydoux (A CRÔNICA FRANCESA e 007 - SEM TEMPO PARA MORRER)   
                                                                             3. Emilia Jones (NO RITMO DO CORAÇÃO)
                                                                          4. Tessa Thompson (O AMOR DE SYLVIE)
                                                                              5. Bella Camero (MARIGHELLA)

Clássicos revisitados ou vistos pela primeira vez na telona

CONTO DE VERÃO, de Éric Rohmer
O DINHEIRO, de Robert Bresson
AS COISAS DA VIDA, de Claude Sautet

Top 20 vistos pela primeira vez na telinha em ordem alfabética

A FONTE DA DONZELA, de Ingmar Bergman
A FRONTEIRA DA ALVORADA, de Philippe Garrel
CÉLINE, de Jean-Claude Brisseau
CHEGA DE SAUDADE, de Laís Bodanzky
COMPANHEIROS, QUASE UMA HISTÓRIA DE AMOR, de Peter Ho-Sun Chan
DE BARULHO E DE FÚRIA, de Jean-Claude Brisseau
LA FLOR, de Mariano Llinás
MIRACLE MILE, de Steve De Jarnatt
NEGÓCIO À ITALIANA, de Vittorio De Sica
NO SILÊNCIO DE UMA CIDADE, de Fritz Lang
SUPLÍCIO DE UMA ALMA, de Fritz Lang
RASTRO DE MALDADE, de S. Craig Zahler
O BÍGAMO, de Ida Lupino
O ESPELHO DA BRUXA, de Chano Urueta
O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, de Andrea Arnold
O RAPAZ QUE PARTIA CORAÇÕES / CORAÇÕES EM ALTA, de Elaine May
O TETO, de Vittorio De Sica
O TIGRE DA ÍNDIA + O SEPULCRO INDIANO, de Fritz Lang
O ÚLTIMO ÊXTASE, de Walter Hugo Khouri
VENENO PARA AS FADAS, de Carlos Enrique Taboada

As revisões

Continuando a tendência do ano anterior, foram muitas as revisões, mas isso se deveu principalmente ao fato de eu estar revisando a obra de Brian De Palma, algo que ainda não terminei. Ano que vem continuarei, com todo o prazer, e, se o tempo me permitir, escolherei outro cineasta para acompanhar com carinho filme a filme, em ordem cronológica, de preferência.

A ÉPOCA DA INOCÊNCIA, de Martin Scorsese
A FORÇA DOS SENTIDOS, de Jean Garrett
A FÚRIA, de Brian De Palma
A MULHER QUE INVENTOU O AMOR, de Jean Garrett
AMOR ESTRANHO AMOR, de Walter Hugo Khouri
ASAS DO DESEJO, de Wim Wenders
CARRIE, A ESTRANHA, de Brian De Palma
CONSCIÊNCIAS MORTAS, de William A. Wellman
DUBLÊ DE CORPO, de Brian De Palma
ELES VIVEM, de John Carpenter
FALE COM ELA, de Pedro Almodóvar
FIM DE CASO, de Neil Jordan
HARRY E SALLY – FEITOS UM PARA O OUTRO, de Rob Reiner
INCÊNDIOS, de Denis Villeneuve
INVOCAÇÃO DO MAL, de James Wan
INVOCAÇÃO DO MAL 2, de James Wan
IRMÃS DIABÓLICAS, de Brian De Palma
LAÇOS DE TERNURA, de James L. Brooks
LUA DE FEL, de Roman Polanski
MADAME BOVARY, de Claude Chabrol
MATRIX, de Lana Wachowski e Lilly Wachowski
MATRIX RELOADED, de Lana Wachowski e Lilly Wachowski
MATRIX REVOLUTIONS, de Lana Wachowski e Lilly Wachowski
NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS, de John Ford
NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA, de Woody Allen
O FANTASMA DO PARAÍSO, de Brian De Palma
O LAMENTO, de Na Hong-jin
O MISTÉRIO DA VIÚVA NEGRA, de Bob Rafelson
OLÁ, MAMÃE!, de Brian De Palma
PAIXÃO DOS FORTES / PAIXÃO DE FORTES, de John Ford
PÂNICO, de Wes Craven
PARAÍSO PERDIDO, de Monique Gardenberg
TRÁGICA OBSESSÃO, de Brian De Palma
UM CORPO QUE CAI, de Alfred Hitchcock
UM TIRO NA NOITE, de Brian De Palma
VESTIDA PARA MATAR, de Brian De Palma

As séries e minisséries - Top 5

2. MISSA DA MEIA-NOITE
3. SMALL AXE
4. SERVANT – SEGUNDA TEMPORADA
5. WANDAVISION

Fora de competição

CENAS DE UM CASAMENTO (1973), de Ingmar Bergman

Feliz ano novo!

Deixo aqui meus votos de um bom ano novo para os leitores do blog. Esse ano que passou não foi fácil, mas é sempre bom que estejamos preparados para tudo, para o melhor e para o pior, e sempre torcendo/orando pelo melhor. Pela saúde, pela alegria, pelo amor, pela paz...

Nenhum comentário: