domingo, abril 04, 2021

SERVANT - SEGUNDA TEMPORADA (Servant - Season 2)



No mesmo dia da estreia de WANDAVISION pelo Disney+, a Apple TV+ lançou a segunda temporada de SERVANT (2021), que infelizmente passou longe de ter a mesma repercussão popular da série da Marvel. O que era até previsível, mas eu não encontrava, por exemplo, vídeos feitos por youtubers brasileiros sobre a série sobre as tantas possibilidades e teorias que a série de terror com produção de M. Night Shyamalan e Tony Basgallop (seu criador) tem. O que é uma pena, levando em consideração que trata-se de um trabalho de excelência do ponto de vista cinematográfico, com um extremo cuidado com composições visuais, design de produção etc, coisas geralmente também atribuídas aos trabalhos de Shyamalan.

No final da primeira temporada, Jericho, o bebê misterioso dos Turners, havia sido sequestrado ou desaparecido. Para quem não sabe, esse bebê surgiu como que um passe de mágica quando o casal contratou a babá Leanne (Nell Tiger Free) para cuidar do que na verdade era apenas um boneco. A mãe do bebê, Dorothy (Lauren Ambrose), havia ficado tão traumatizada com a morte do bebê de verdade, ocasionada por um descuido seu, que o marido Sean (Toby Kebell) e o irmão dela Julian (Rupert Grint) optaram por usar um boneco para que Dorothy começasse a aceitar aos poucos a perda. O problema é que ela não percebeu quando, no lugar do boneco, apareceu um bebê de verdade, graças a habilidades de feitiçaria de Leanne, uma moça gentil e muito estranha.

A segunda temporada tem um tom ainda mais claustrofóbico, ainda mais centrado no ambiente da casa dos Turners. O que funcionou muito bem nesses tempos de pandemia, em que as situações mais importantes têm acontecido mais dentro dos lares do que fora deles. Além do mais, se pensarmos nas dificuldades deste ano ainda pandêmico, acreditar em uma terceira temporada para o próximo ano é mais fácil, levando em consideração o elenco reduzido e com poucos coadjuvantes surgindo de forma pontual.

A segunda temporada de SERVANT tem como principal mistério e objetivo descobrir onde está Jericho, quem o sequestrou. Vale dizer que seu sumiço também se deu junto com o sumiço de Leanne. Mas Leanne é encontrada nos primeiros episódios trabalhando na casa de outra família e é colocada por Dorothy como sua prisioneira até que diga onde está a criança e coopere. 

A série tem um senso de humor muito afiado, até porque lida com uma situação em que uma das protagonistas, Dorothy, age em certo ponto como uma psicopata, enquanto o marido e o irmão tentam auxiliá-la, mas ainda tomando muito cuidado para não contar coisas que ela não pode ou não deveria saber. E há um clima de mistério que uma boa obra de ficção envolvendo bruxaria deve ter. Felizmente, muitas perguntas são respondidas na season finale, mas outras ficam no ar, assim como fica também uma abertura para imensas possibilidades de mudanças na futura terceira temporada.

Vale destacar os diretores envolvidos nesta segunda temporada. Além de Shyamalan, que dirige o quarto episódio, o excelente e tenso "2:00", há duas diretoras que chamam a atenção: a francesa Julia Ducournau (do ótimo GRAVE, 2016) dirige os dois primeiros episódios, enquanto a filha de Shymalan, Ishana Night Shyamalan, contribui com a direção de dois dos melhores episódios, "Pizza" e "Josephine", o último. Há ainda outras duas diretoras convidadas, a suíça Lisa Brühlmann e a sueca Isabella Eklöf. Esse maior espaço para cineastas mulheres tem tudo a ver com o espaço fechado de uma casa e também com uma maior aproximação com a psicologia das duas personagens femininas fortes da série. São elas que ditam os rumos da trama, por mais desorientadas ou confusas que se sintam. Os dois homens, Sean e Julian, parecem estar em estado de inércia.

Além do mais, o brilho de Leanne nesta temporada foi ainda maior, em sua jornada de auto-aceitação, sua luta gradual contra suas origens de repressão e o maior apego aos “prazeres da carne” (sexo, música, paladar), em oposição à sua costumeira autoflagelação. Agora fica a dúvida: será Leanne uma bruxa do bem ou alguém que definitivamente vai tornar a vida dos Turners ainda pior no futuro?

+ TRÊS OBRAS DE TERROR

SOB O PODER DA MALDADE (The Sorcerers)

Depois de ler uma excelente história em quadrinhos do Dylan Dog que tratava do cineasta Michael Reeves, fiquei muito animado para ver este segundo longa-metragem do realizador. Ainda que não seja tão brilhante quanto O CAÇADOR DE BRUXAS (1968), este filme tem um charme muito especial, seja por trazer Boris Karloff em um de seus últimos papéis, seja por mostrar a juventude londrina animada com as festas rock. Como Reeves só tinha vinte e poucos anos, tinha uma aproximação mais direta com o espírito de sua geração. Na trama de SOB O PODER DA MALDADE (1967), Karloff é um hipnólogo que, junto com a esposa, consegue trazer um jovem para sua casa, de modo a experimentar o controle de todos os atos do rapaz. Cada sensação que o rapaz sentia, o casal de velhinhos também sentia. Mas como o filme aqui é de terror, é de se imaginar que esse controle será direcionado para o mal. Filme presente no box Obras-Primas do Terror 4.

LA LLORONA

Incrível ver um filme de horror abrindo caminho entre os títulos indicados a melhor filme internacional da temporada de premiações, no caso, do Globo de Ouro. Não é um simples e direto filme de fantasma ou da lenda da chorona, mas uma obra que fala inclusive para nós, brasileiros, que tivemos um passado de ditadura militar nascida com a desculpa de combater o comunismo. Resultado: genocídio, "desaparecimentos". A história de LA LLORONA (2019), de Jayro Bustamente, acompanha o drama da família de um general que agora está tendo que responder pelos crimes do passado. Sua vida e de sua família (formada basicamente por mulheres) sofrem a pressão da população enfurecida (e com razão), mas também há a pressão do sobrenatural, que surge de maneira bem intensa. Excelente uso da janela scope! No mais, fiquei pensando se certo presidente frequentemente tido como genocida também terá a sua vez.

CATÁSTROFE NUCLEAR (Threads)

Interessante saber que um dos melhores filmes sobre os estragos causados por uma bomba nuclear foi feito para a televisão. Este CATÁSTROFE NUCLEAR (1984), que nos créditos é atribuído mais a seu roteirista Barry Hines do que ao diretor Mick Jackson, é impressionante no grau de realismo que impõe, muitas vezes parecendo um documentário ou a dramatização de uma situação real. Ainda considero BLACK RAIN - A CORAGEM DE UMA RAÇA, de Shohei Imamura, o mais impactante sobre o assunto, até por tratar de um acontecimento real, a bomba de Hiroshima; mas aqui, o medo do que a Guerra Fria poderia ocasionar acabou inspirando os criadores a fazerem um retrato de puro horror, principalmente os momentos que mostram os sobreviventes, submetidos a radiação, lutando pela vida, a todo custo. E pensar que eu não sabia da existência deste filme até outro dia. Mais um exemplo do quanto uma curadoria é essencial. Filme presente no box Clássicos Sci-Fi Vol. 7.

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