quinta-feira, abril 01, 2021

OITO CURTAS-METRAGENS INDICADOS AO OSCAR 2021



FEELING THROUGH

Começando a ver os curtas do Oscar e já me perguntando: será que os curtas indicados seguem essa linha "filme de mensagem", como este FEELING THROUGH? Não nego que é simpático e louvável, do ponto de vista humanista, mas do ponto de vista formal perde para muitos curtas brasileiros exibidos em festivais daqui. De todo modo, é um trabalho bonito que apresenta um jovem negro pobre que ajuda um senhor branco cego e surdo a pegar um ônibus. É interessante o jogo de comunicação que se estabelece. Direção: Doug Roland. Ano: 2020. Indicado ao Oscar de curta-metragem (live action).

THE LETTER ROOM

Bacana este filme sobre um agente penitenciário que passa a trabalhar na sala de correspondências, devendo ficar atento se nas cartas enviadas para e pelos presos havia algo suspeito. Acaba ficando muito interessado em certas cartas que chegam para um rapaz condenado à pena de morte. Oscar Isaac está muito bem no papel e talvez o fato de ele ser uma pessoa acostumada com a solidão o leve a entender também o alto grau de solidão dos presos, especialmente aqueles que nem mesmo cartas recebem. Direção: Elvira Lind. Ano: 2020. Indicado ao Oscar de curta-metragem (live action).

THE PRESENT

Mais do que um filme sobre a vontade de um homem de comprar uma geladeira nova para a esposa, este é um filme sobre abuso de poder. A situação se torna mais triste para o sujeito, pois ele está junto com a filha pequena, cruzando fronteiras entre a Cisjordânia e Israel. Sendo ele árabe, é humilhado pelos guardas israelenses. Acho importante que filmes como esse ganhem fama, pois vejo a causa do povo palestino ainda muito apagada. Por mais que seja um curta, ser indicado ao Oscar ajuda bastante a chamar a atenção das pessoas, especialmente nos Estados Unidos, que é de linha pró-Israel. Direção: Farah Nabulsi. Ano: 2020. Indicado ao Oscar de curta-metragem (live action).

WHITE EYE (Ayn Levana)

Até agora, dos curtas indicados na categoria ficção/live action, este é o que tem um tratamento formal mais sofisticado, com uso de plano-sequência único (se não me engano) e lidando com autoridades e burocracia versus senso de humanidade. A trama acompanha um sujeito que vê sua bicicleta trancada em uma esquina e tenta reavê-la, chamando a polícia, que impõe obstáculos. A situação acaba ficando ainda mais delicada com a entrada em cena de um outro personagem. Ótima movimentação de câmera e uma conclusão satisfatória e amarga. Direção: Tomer Shushan. Ano: 2019. Indicado ao Oscar de curta-metragem (live action).

UMA CANÇÃO PARA LATASHA (A Love Song for Latasha)

Filme dedicado a uma garota que foi assassinada aos 15 anos de idade em uma loja de conveniência pela proprietária do estabelecimento. O filme não se aprofunda muito nas questões raciais, mas elas ficam bem explícitas em pequenos detalhes e falas da narradora, uma amiga de infância de Latasha. O fato de o filme trazer à tona aspectos da personalidade da menina, assim como seus sonhos para o futuro, torna sua morte ainda mais triste. A diretora foge do lugar comum de documentário com depoimentos ao procurar emular tanto o uso do VHS da virada dos anos 80 para os 90 quanto os momentos vividos em comum entre a narradora e a garota assassinada. Direção: Sophia Lahli Allison. Ano: 2019. Indicado ao Oscar de curta-metragem documentário.

A CONCERTO IS A CONVERSATION

Uma conversa entre um jovem pianista virtuoso e seu avô de 91 anos de idade. Interessante a simplicidade do filme, do uso de campo-contracampo e imagens de arquivo para ajudar a nos situar em momentos da vida daquele senhor, que saiu da vida de morador de rua para proprietário de uma lavanderia num período de dois anos. Bonito o sentimento do rapaz, de como ele, ao saber do pouco tempo de vida do avô, pretende estar mais tempo com ele, conversar mais com ele, saber mais sobre suas memórias, e também se mostrar grato, pois o que ele é hoje se deve aos caminhos que o avô ajudou a preparar. Direção: Kris Bowers e Ben Proudfoot. Ano: 2020. Indicado ao Oscar de curta-metragem documentário.

GENIUS LOCI

Tenho dificuldade de me concentrar em filmes que usam poucos diálogos e muitos simbolismos. Como é o caso deste Genius Loci, então o que eu mais curti foi mesmo a beleza gráfica, o diferencial dos desenhos e da animação em si. Na trama, acompanhamos uma menina negra tendo de lidar com o caos urbano e um mundo que lhe parece hostil. A transformação dela em um cachorro (a) me pareceu bem representativa do quanto podemos nos embrutecer a partir das agressões do mundo. E nem todo mundo tem a alegria de ter alguém que possa lhe dar a mão. Direção: Adrien Mérigeau. Ano: 2020. Indicado ao Oscar de curta-metragem de animação.

OPERA

Depois de terminar de ver uma vez este curta de 8 minutos, resolvi ver uma segunda vez, já que há muitos detalhes acontecendo ao mesmo tempo na pirâmide onde acontece a narrativa. O que vemos é um jogo de perspectiva, começando pela parte mais rica da sociedade, que tem tempo para o lazer e ser bem alimentada e depois vamos descendo para a escala mais pobre da pirâmide. A música também ajuda a dar um tom épico e trágico ao filme, assim como acentua o pessimismo, já que o que vemos não é nenhum levante contra o sistema estabelecido, mas apenas uma constatação. Direção: Erick Oh. Ano: 2020. Indicado ao Oscar de melhor curta-metragem de animação.

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