terça-feira, novembro 30, 2010

HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE – PARTE 1 (Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1)



Não sei porque ainda me dou ao trabalho de ir ao cinema ver esses filmes do Harry Potter, já que eles dificilmente me agradam. Talvez por eu ainda guardar na memória o entusiasmo que senti quando vi HARRY POTTER E O PRISIONEIRO DE AZKABAN (2004). Talvez porque eu queira terminar algo que já comecei. Ou talvez porque o trailer desta vez tenha sido bastante atraente. Aliás, o mesmo pode-se dizer de Emma Watson, essa garota que cresceu, ficou linda e se tornou a melhor coisa da cinessérie, no papel da melhor amiga de Harry, Hermione.

Até mesmo na trama do novo HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE – PARTE 1 (2010), é ela quem se mostra mais forte em todos os sentidos. Tem uma bolsa que pode tirar todo tipo de coisas mágicas, não importando o tamanho e sabe como ninguém esvaziar a memória das pessoas. No início do filme, inclusive, ela esvazia a memória e todos os rastros de si mesma para que seus pais não sintam ou sofram com a sua ausência. É uma sequência triste e segue em paralelo com os preparativos de Harry e Rony para também se desfazerem de suas famílias e seguirem novos rumos. E dessa vez longe de Hogwarts, agora dominada pela turma do mal, encabeçada pelo Lorde Voldemort e seus Comensais da Morte.

Assim, a turma de Harry recebe a ajuda dos amigos mais fiéis e, depois de confundirem Voldemort com um soro que transforma vários de seus amigos em cópias idênticas do bruxinho, partem numa espécie de road movie mágico, no qual Hermione os teletransporta para lugares e épocas diferentes. Nenhum outro filme da série destacou tanto tempo para os três personagens. Apesar de já termos testemunhado o crescimento e maturidade da série, o andamento narrativo lento e mais adulto chega a surpreender.

Ainda assim, vejo a série mais como um veículo para os fãs mais fiéis, aqueles que leram os livros e sabem de cor o que está para acontecer e se interessam mais em ver o modo como o livro será transposto para as telas. Dessa vez, esses fãs terão menos do que reclamar, já que o último romance foi dividido em dois filmes, dando tempo para momentos mais contemplativos. Aliás, é o tipo de produção que tem inúmeras qualidades, mas que pouco me interessa. Ainda mais com uma duração tão longa. À medida que a cinessérie vai se aproximando do fim, mais eu me distancio de seu universo. Definitivamente, não é pra mim.

segunda-feira, novembro 29, 2010

UM HOMEM QUE GRITA (Un Homme qui Crie)



Não tem jeito: vou me lembrar sempre deste UM HOMEM QUE GRITA (2010), de Mahamat-Saleh Haroun, como o filme que assisti junto com a Alê Marucci, numa espécie de disputa para ver quem cochilava mais. O engraçado é que o filme tem tantos momentos de silêncio que era como se fosse a minha deixa para a cochilada. Acordava sobressaltado, com as falas dos personagens. O filme teve uma boa repercussão da crítica paulistana, foi bem recebido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e ganhou o Prêmio do Júri em Cannes este ano. Porém, nada disso importa se o filme não me toca. Além do mais, há problemas de dramatização. Como a própria Alê comentou ao sairmos da sessão para um café, a atriz que faz a mulher do protagonista é muito ruim. Tenho que concordar com ela, embora eu costume relevar esse tipo de aspecto em alguns filmes.

Ver UM HOMEM QUE GRITA é uma das raras oportunidades que se tem de ver um filme produzido no Chade. Aliás, são poucos os filmes africanos que são distribuídos comercialmente. Esse passou pela peneira por causa da premiação e pela coprodução com a França e com a Bélgica. Embora quase todo falado em francês, a língua do colonizador, alguns diálogos são ouvidos em árabe (idioma do outro "colonizador"). O filme retrata, do ponto de vista de quem está de fora, a guerra civil que tem abalado o país com frequência nos últimos anos.

Os personagens principais são Adam e seu filho Abdel. Ambos trabalham num hotel de luxo. Como tem acontecido em muitas empresas ao redor do mundo, devido à crise, os empresários e pessoas que trabalham na área de recursos humanos tendem a ver como uma solução o corte do número de empregados. E como o filme já começa mostrando pai e filho brincando na piscina do hotel, dá para se notar que dentro daquele país pobre, os dois são felizes com aquele emprego. O filho, inclusive, tem a mania de ficar tirando fotos com sua câmera digital, com o objetivo de registrar seus momentos felizes. A notícia de que um dos dois terá que sair da empresa cai como uma bomba, especialmente para o velho pai, que vê o seu posto como vitalício. Mas a tragédia começa mesmo quando o filho é levado à força para se unir a uma das milícias.

Sei que não sou a melhor das pessoas para julgar o filme, tendo em vista as condições em que o vi, mas acredito que UM HOMEM QUE GRITA tem o problema de explicitar demais a sua moral, principalmente usando de uma frase final que parece até subestimar a capacidade do espectador de pensar por si mesmo. Para completar, o sentimento de culpa do pai, em nenhum momento, me comoveu. O que restou foi a indiferença.

P.S.: Foi uma raras vezes que eu vi uma cópia digital de boa qualidade e em scope.
P.S.2: Tem edição nova da Revista Zingu! no ar, com Dossiê Francisco Ramalho Jr. e um especial sobre futebol no cinema brasileiro.

domingo, novembro 28, 2010

DEMÔNIO (Devil)



M. Night Shyamalan se tornou o diretor mais controverso dos últimos anos. Mais odiado do que amado pelo grande público, ele segue em frente em seus projetos. Desta vez, ele marca o início de sua produtora de filmes de terror. DEMÔNIO (2010) conta com argumento dele, mas roteiro e direção de outra pessoa, no caso John Erick Dowdle, que tem no currículo QUARENTENA (2008), remake americano e pouco respeitado de [REC]. Fui ao cinema sem nenhuma expectativa em relação a esse DEMÔNIO, mas com esperanças que fosse pelo menos competente. E, até certo ponto, até que o filme se sustenta. Pena que não faz o que um bom filme de horror deveria: assustar, produzir medo, ou pelo menos criar uma atmosfera de "aconchegante horror", digamos assim.

A trama é simples, mas tem um bom ponto de partida, como se pode perceber pelo trailer: cinco pessoas que não se conhecem ficam presas dentro de um elevador de um grande edifício. As pessoas que trabalham na empresa têm muita dificuldade de conseguir tanto comunicação com eles quanto de chegar até lá por outros meios. Policiais e bombeiros são acionados, mas quem sabe o que está acontecendo é um latino que trabalha na segurança, que vê o diabo numa imagem rápida na tela do computador e acredita que ele está ali, entre os cinco, já que outra pessoa havia pulado do prédio no mesmo dia. Ele tem outra teoria envolvendo a geleia cair virada para o chão, mas é melhor encarar isso com senso de humor. Afinal, estamos vendo apenas um filme de terror B, sem grandes pretensões, sem astros (Chris Messina é o rosto mais conhecido) e tendo apenas a intenção de causar um pouco de susto na plateia. Mas o problema é que a plateia fica apática ao filme. E isso não é nada bom.

O fato de não ser dirigido pelo próprio Shyamalan torna o filme menos especial, pois até os detratores do indiano não devem negar que ele capricha no visual em seus trabalhos. Talvez se houvesse um personagem mais interessante o filme ganhasse mais força, mas nem o detetive vivido por Messina, nem nenhum dos presos no elevador são personagens suficientemente bons para que a plateia se importe. De todo modo, o filme tem o mérito de entreter e até de enganar a plateia durante sua curta duração. O que já é alguma coisa, embora eu fique na torcida para um filme melhor da produtora de Shyamalan.

sábado, novembro 27, 2010

AS CARIOCAS – A INTERNAUTA DA MANGUEIRA



Essa viagem a São Paulo foi uma bênção, mas também teve os seus efeitos colaterais. A começar por uma gripe que me pegou já desde o último dia em que estive lá e que se manifestou com mais força no final desta semana, devido à falta de cuidados especiais e descanso. A quantidade de trabalho acumulado, tanto da minha especialização, quanto do programa de ensino a distância, estão exigindo mais atenção e pressa da minha parte. E os episódios ainda não vistos das séries que acompanho não param de crescer. Como estou me dando ao trabalho de escrever sobre AS CARIOCAS episódio por episódio, devido ao seu caráter de antologia, teremos posts sobre a série mais próximos um do outro.

A INTERNATURA DA MANGUEIRA (2010) traz Cíntia Rosa, a única das dez estrelas de AS CARIOCAS que passou por um teste, e o rosto menos conhecido do elenco de protagonistas. Felizmente, o episódio é um retorno à malícia que predominou o inicial, mas infelizmente a trama é bem boba e mal conduzida. Vemos Cíntia como uma mulher que gosta de ficar no chat enquanto o marido (Eduardo Moscovis) dorme. No início, ele não suspeita de nada, mas é um amigo seu quem mostra a ele a verdade. Não sem antes levar um baita de um soco na cara. A ideia, então, é procurar evidências da infidelidade da mulher.

Cíntia Rosa está muito bem e o episódio mostra suas formas belas e generosas em momentos sensuais. É isso que salva o episódio. Moscovis também está bem como o marido traído e a cena dele no estádio, com o revólver na mão, esperando o seu Mengo ganhar o jogo para resolver o assunto com a mulher, é também memorável. Estou esperando que o próximo episódio, estrelado pela Sônia Braga, seja bem melhor.

quinta-feira, novembro 25, 2010

PLANETA TERRA 2010



Encerrando a série de posts sobre a viagem a São Paulo que resultou numa maratona musical e numa celebração de amizades que a distância não tem mais tanto poder assim de separar, escrevo sobre o festival Planeta Terra deste ano. A razão de eu estar lá, todos já sabem: Smashing Pumpkins. E quem me conhece sabe também que eu sou meio que um órfão dos anos 90, o período em que eu descobri de fato o rock e o vivi e apreendi através de discos das mais diversas bandas e épocas, ainda que hoje eu ache que foram poucos os discos comprados. Desse modo, as duas bandas que de fato me interessavam no festival eram o Pavement e os Pumpkins, justamente as duas que encerrariam a festa. Detalhe é que há uma rixa entre as duas bandas, que não se bicam. Não sei se rolou algum fato desconcertante nos bastidores. Mas vamos por partes. E dessa vez, tentando botar um pouco de ordem temporal no texto.

Sábado à tarde, eu, Michel Simões e Tiago Superoito já estávamos às quatro horas em ponto, em frente ao palco principal. Para entrar, rolou um pouco pra mim de frio na barriga. Mas era mais pela possibilidade de eles não me deixarem entrar com minha carteira de estudante internacional, já que no dia anterior o Cinemark havia rejeitado. Por isso, rolou um "yes!" de triunfo ao passar pela última barreira e adentrar finalmente o festival. Fiquei feliz ao ver, sem nem mesmo precisar de ligar pra ele, o meu amigo Alex, outro que havia ido para São Paulo com o objetivo de ver os Pumpkins e outras bandas e que não perdeu a chance de ver o Paul McCartney.

O dia estava quente em São Paulo. Tão ou mais quente quanto um dia normal em Fortaleza. Mas o sol ajudava também a tornar o dia, de certa forma, mais festivo. Havia pouca gente no momento em que os pernambucanos do Mombojó abriram o festival, com um bom show. Só conheço o primeiro disco, que comprei nas bancas, pelo selo do Lobão, e um pouco do segundo. Não é exatamente uma banda que me empolga, mas algumas canções são bem fortes. A banda é um pouco esquizofrênica: tem aquele vocal de mpb, um som sofisticado com uso de flautas e uma guitarra quase punk. Às vezes a liga fica muito boa. Destaques: "Faaca", "Deixe-se acreditar" e "O mais vendido".

Quando o show terminou, fomos dar uma olhada rapidinho no palco menor, onde o Hurtmold estava exibindo seu show experimental. Não aguentamos cinco minutos e voltamos. O lugar era bom para passear também. Ainda que nenhum de nós tenha tido coragem de brincar nos brinquedos do Playcenter, foi bom ver aquela movimentação toda. A organização do festival foi impecável e quase não houve atrasos nos horários previstos. Tudo muito esquematizado. Havia muita gente com camisetas pretas escritas "Zero", que virou uma marca da fase áurea dos Pumpkins.

O segundo show do palco principal foi uma bela de uma surpresa: Os Novos Paulistas. O nome da banda é uma brincadeira em cima de Os Novos Baianos. A essa hora já haviam aparecido o Diego Maia e o Bruno Amato. Os Novos Paulistas fazem um som um pouco difícil de definir, mas que resgata o prazer de ouvir boa música cantada em português. Se bem que eles cantam em inglês também. Os nomes dos cantores: Tiê, Thiago Pethit, Dudu Tsuda, Tatá Aeroplano e Tulipa Ruiz. São vários cantores e vários guitarristas convidados. Nem sempre o som é possível de definir com palavras, mas as canções mais sentimentais me agradaram muito. É uma banda a descobrir. O Michel já conhecia a Tiê, a musa do grupo. Fiquei bem interessado nela. E em sua música também, claro.

Mas se o público pareceu meio blasé durante o show dos Novos Paulistas, o que apareceu de gente para ver o show do Of Montreal não estava no gibi. Pra mim, era uma banda que eu procurei conhecer um pouco por ocasião do festival, mas que apesar dos meus esforços para gostar, não vi nada demais. Porém, o show ao vivo tem a sua graça. É uma espécie de circo gay, com muitas bizarrices e referências pop. De certa forma influenciados pelo glam rock, os caras travestidos do Of Montreal fizeram a festa dos fãs. Diego Maia estava muito engraçado de tão ansioso para ver a banda. Mas eu acabei aproveitando a deixa das ligações dos amigos Pablo e Murilo, que estavam chegando, para cair fora dali e encontrá-los na praça de alimentação. Pra mim foi um alívio. Além de poder bater um papo com eles e com a amiga do Pablo, pude descansar um pouco as minhas pernas cansadas de quem não tem mais tanto gás pra tanta festa. Tanto que durante todo o show do Mika, outro que divertiu a valer o público GLS, ficamos os quatro passeando pelo Playcenter.

O próximo show de interesse foi o do Phoenix, banda nova, mas que já coleciona alguns hits. Eu, pelo menos, conhecia alguns e já havia baixado uns discos deles para saber qual é. A apresentação deles foi bem especial. Para muitos, a melhor da noite. O vocalista se jogou literalmente na multidão, que formou uma espécie de onda humana na parte da frente do palco. Vi o show mais de longe e um pouco disperso. Guardo poucas lembranças e acabei perdendo as poucas fotos que tentei tirar da banda.

Pouco depois do show do Phoenix, encontramos Michel, Tiago e Bruno. Mas resolvi acompanhar o Pablo e ir até a frente para ver o Pavement mais de perto. E foi mesmo muito bom. Dei bons e animados pulos durante algumas canções, como "Stereo" (bom demais pular com essa música), "Stop Breathing", "Elevate me later", "Silence Kid" e "Range life". Gostava particularmente quando o sujeito que faz os backing vocals tomava os vocais principais e deixava o som mais catártico e gritante, mais característico dos anos 90.

Depois do Pavement, nem me dei ao trabalho de voltar para onde a turma estava. Aproximei-me o mais perto possível do palco para esperar durante meia-hora a apresentação dos Pumpkins. Afinal, era a razão de eu estar ali. A disputa por metro quadrado estava acirrada e o Murilo mal conseguiu vencer a barreira para me encontrar lá na frente. Já sabia que Billy Corgan não é exatamente um cara generoso e faz o que bem entende. Quando quer, faz shows apenas com essas canções novas e sem inspiração de quando ele voltou com a banda, em 2007. E como ele não deve ser muito fácil de lidar, acabou perdendo também o único membro da formação inicial, o baterista Jimmy Chamberlain. Em seu lugar, havia um moleque de uns quatorze anos, que dá a entender que ele escalou como uma espécie de vingança para Chamberlain. Os outros membros são versões boas de James Iha e D’Arcy. E pelo menos a baixista, além de ser uma belezura, mandou muito bem.

O show começou com faixas novas e recepção morna do público. Por isso, quando os acordes iniciais de "Today" tocaram, o público arrepiou e pulou intensamente. Foi lindo ver todo mundo cantando e sorrindo em uníssono. Pena que esse foi um dos momentos realmente belos do show. As novas canções desanimam e tiram um pouco da graça da apresentação, por mais que estejamos com boa vontade de conhecê-las. "A song for a son", por exemplo, parece ter o seu valor entre as novas, mas não passa de sombra daquilo que de bom Billy Corgan compunha nos inspirados anos 90. Outros grandes momentos foram de MELLON COLLIE AND THE INFINITE SADNESS: "Bullet with butterfly wings", em que eu me juntei pulando selvagemente como "a rat in cage" do refrão. E não deixa de ser interessante ver Corgan cantando esse tipo de música num momento mais cristão dele. Essa e "Zero" também, que são quase como canções de desencanto, de negação de Deus.

Quando voltei lá para trás para me juntar ao restante da turma, já perto do final do show, testemunhei uma moça chorando muito ao ouvir "Stand inside your love" e fiquei refletindo sobre a importância dessa música para a vida dela. E pude presenciar o momento mais belo da noite: "Tonight, tonight". Foi de arrepiar. Até olhei para a lua, que estava cheia e de frente para o palco, como se assistindo aquele momento. Depois, ele voltaria apenas para um curto bis: "Heavy metal machine", bem mais longa e barulhenta. E embora não seja exatamente fã dessa música, a imagem no telão da guitarra em cima da caixa de som provocando uma zoeira infernal deve ficar gravada nas nossas retinas por um bom tempo.

Clique AQUI para ver algumas fotos do evento.

quarta-feira, novembro 24, 2010

VIAGEM A SAMPA 2010 - VERSÃO 2.0



Quem diria que eu estaria de volta a São Paulo no mesmo ano? Tudo começou com uma mensagem pelo celular do meu amigo Murilo alguns meses atrás. Dizia mais ou menos assim: "Smashing Pumpkins em Sampa dia 20.11. Vamos?" Eu, cada vez mais impulsivo que ando ultimamente, respondi que sim. Pumpkins era a minha banda do coração nos anos 90 e eu não queria perder essa oportunidade. Já havia me arrependido de não ter ido ao show do Radiohead.

E como eu não queria passar apenas um fim de semana em Sampa, dei uma esticadinha e fiquei um pouco mais. Com meus planos maquiavélicos muito bem arquitetados, graças às folgas da justiça eleitoral, eu conseguiria fazer uma espécie de miniférias. Resultado: fui premiado com muitos bônus. O primeiro deles: a já lendária festa de aniversário da querida Alê Marucci, que aconteceu na sexta-feira. Foi uma oportunidade também de bater um papo com o David Medeiros. Quando saímos de lá o dia já estava amanhecendo. No repertório, tudo de bom do pop rock, dos 1960 aos anos 2000. O segundo bônus foi bombástico: Paul McCartney fazendo show no período que eu estava lá! Essa viagem só podia ser muito abençoada.

E de fato foi, como deu para perceber no post sobre o show. Pra completar, eu e o Murilo ainda fomos a uma sessão de autógrafos do Lou Reed, que aconteceu na sexta. Apesar de ter sido frustrante, já que não pudemos tirar fotos dele ou com ele, ainda assim, valeu demais adquirir um livro que eu já estava a fim de comprar e com a assinatura de um dos maiores nomes do rock internacional. [Aliás, para quem gosta de rock, o fim de semana que passou foi o melhor do ano. Na quinta teve Stereophonics (a Alê foi); na sexta, Raveonettes (o Alex foi); no sábado, o Planeta Terra; e no domingo, fechando com chave de ouro, o show do Paul.]

Mas vamos tentar botar ordem nesse texto, que está ficando confuso. Antigamente eu escrevia textos obedecendo mais a ordem cronológica das coisas. Não sei o que está acontecendo agora. Pois bem. No dia seguinte ao aniversário da Alê, estávamos bem cansados, mas tínhamos ainda uma grande maratona pela frente. A novidade do sábado foi a chegada de Tiago Superoito, que também ficou hospedado na casa do Michel, que a essa altura já virou uma espécie de albergue, como ele mesmo costuma falar, com sua generosidade e hospitalidade. E o encontro com o Tiago foi muito legal.

Quase como se eu o conhecesse há muitos anos, quando na verdade, eu cheguei a entrar em contato com ele mais recentemente, na "era twitter", embora já fosse admirador de seus textos. Depois de um farto almoço e um papo delicioso, estávamos prontos para encarar uma cacetada de bandas. A maioria eu não conhecia. Mas sobre o festival Planeta Terra, falarei com mais detalhes no próximo post. Só quero enfatizar que eu saí de lá muito cansado.

Chega o domingo. Dia do tão aguardado show do Paul McCartney. Ainda conseguimos encontrar tempo para um almoço com Chico Fireman e seu amigo Mitchel. O tema, como era de se esperar, não podia ser outro: cinema. Ficamos tão entusiasmados com o papo que até esquecemos de pedir o prato principal. Tudo bem que 20% da conversa tenha sido sobre PRESSÁGIO (sim, aquele com o Nicolas Cage), mas talvez por isso mesmo tenha sido tão divertido.

Show do Paul. Altas expectativas. Eu e o Michel nos separamos da Alê e do Tiago, que haviam conseguido pista e eu e ele ficamos na arquibancada laranja. Mas sabe que eu gostei muito de ter assistido na arquibancada? Tinha gente de todas as idades, estava muito animado, não tinha problema de visibilidade (digo, de gigantes na minha frente) e o lugar era bem ventilado.

Depois do domingo emocionante, a segunda-feira era praticamente de ressaca. Estava com a garganta só o caco, dor no corpo e um pouco de febre. Ainda assim, tinha marcado almoço com Edu Aguilar e foi bom podermos botar os papos em dia. Desde abril praticamente que não papeava com ele nem por meio virtual. Em seguida, encontrei a Alê para vermos um filme no Reserva Cultural. Foi uma disputa de quem cochilava mais na sessão de UM HOMEM QUE GRITA. Os outros filmes vistos no período em que estive lá foram SCOTT PILGRIM CONTRA O MUNDO (já que é um filme de exibição exclusiva em São Paulo) e o ótimo VINCERE.

No fim da tarde de segunda, São Paulo estava com mais cara de São Paulo. A chuva tinha aparecido finalmente. Michel, esse cara que cada vez mais eu admiro, fez a gentileza de me deixar no aeroporto, mas não sem antes passarmos num restaurante especializado em esfirras. As melhores que eu já comi até hoje. Hora de despedida no aeroporto. Sentimento enorme de gratidão para com o Michel e todos aqueles a quem eu encontrei nesses dias. No avião, a maior parte dos tripulantes era de pessoas que foram para o show do Paul. Uma vibe boa no ar. O voo foi tranquilo e pontual. As aeromoças estavam bonitas, simpáticas e atenciosas. Na volta pra casa, de táxi, eu ia assinalar para o motorista que a casa era um duplex branco. Mas eu falei: é ali, onde está aquele cavalo. Pois é. Havia um cavalo cagando no portão da minha casa! Surreal. Espero que isso seja sinal de boa sorte.

Confira AQUI algumas fotos que eu tirei durante a viagem.

segunda-feira, novembro 22, 2010

PAUL McCARTNEY NO MORUMBI – 21 DE NOVEMBRO DE 2010



Fim de semana de muitas emoções aqui em São Paulo. Mas posso dizer que a maior delas foi ter podido ver ao vivo um dos artistas mais importantes do século XX, o sujeito que fez parte da banda que revolucionou o rock e a música que se fazia até então. Paul McCartney, já com seus 68 anos, exibiu uma disposição jovem num show impecável. As canções do começo foram só para aquecer para o que viria. Depois de "Jet", ele emenda uma "All my loving" tão bela quanto na fase inicial dos Beatles. Foi quando caiu a ficha, o arrepio veio e eu percebi que a noite seria ainda de muitas emoções. Depois veio "Drive my car", que foi mais linda ainda.

As que me fizeram chorar, a ponto de ficar com queixo tremendo e tudo, foram as duas homenagens aos Beatles mortos. Paul teve o cuidado e a disposição de aprender algumas falas em português para se comunicar melhor com o público e para deixar mais claro pra gente o que ele queria dizer. Quando ele falou em português que a próxima canção ele escrevera para o seu amigo John e inicia a bela "Here today" e todo mundo ficou respeitosamente quietinho ouvindo a linda letra escrita em 1982 e que eu até então não conhecia, aquilo foi um momento inesquecível. Enquanto isso, no telão, fotos dos dois amigos juntos. Saber que ambos passaram tanto tempo sem se falar e de haver um reconhecimento da parte de Paul da grande amizade que os dois tiveram e que foi importante para a história do rock e para os nossos corações foi assim de lavar a alma. Me fez aumentar ainda mais o respeito que eu já tinha por esse que é o mais talentoso dos Beatles. A outra homenagem, então, foi de deixar mais lágrimas rolando: "Something", de George Harrison, que começou com um arranjo estranho, mas quando entrou a guitarra, a explosão emocional foi intensa.

Mas antes de "Here today" e "Something", ele já havia subido aos teclados para tocar uma das suas mais belas e melancólicas canções: "The long and winding road", do disco LET IT BE, feita durante aqueles momentos tristes de encerramento da banda. Foi o primeiro grande baque para mim. Sabemos que Paul nunca foi muito de fazer canções deprimidas. Isso ficava mais a cargo de John Lennon, que desde o começo dos Fab Four já se mostrava um sujeito cheio de traumas e sentimentos de rejeição. Paul, não. Ele era o elemento de equilíbrio do grupo, fazendo canções mais alegres e positivas, como a já citada e positiva "All my loving".

Por isso, boa parte da apresentação foi uma espécie de celebração da vida. É pura alegria ouvir ao vivo "Mrs. Vandeblit" (com seu coro contagioso de "ho! hey-ho!") e a beleza de "Let me roll it" e "Band on the run". Mas sempre que ele se dirigia ao piano, eu ficava logo tomado por uma ansiedade, ao saber que sairiam dali faixas como "Let it be" e principalmente "Hey Jude". Aliás, por mais que o show tenha sido praticamente só de pontos altos, podemos destacar "Hey Jude" como um dos pontos mais altos, com uma plateia cantando em uníssono, tão belo de ver que os olhos ficavam marejados. Eis uma canção que não envelhece e não perde a sua força.

E o fato de ele ter centrado sua apresentação basicamente em clássicos dos Beatles tornou o evento ainda mais especial. Quatro faixas do Álbum Branco ("Obla-di obla-da", "Blackbird", "Helter Skelter" e "Back in the U.S.S.R.") foram para mim um presente extra, retiradas do meu álbum favorito de todos os tempos. E ainda teve "And I love her", "I’ve just seen a face", "Eleanor Rigby" e "A Day in the life" puxada ainda pelo hino-mantra de John Lennon "Give peace a chance", quando as pessoas que estavam com balões brancos os soltaram, resultando noutro momento extasiante. A sementinha que Lennon havia plantado estava ali de volta aos corações das pessoas, como se o fim das utopias não tivesse chegado ainda. E quando, perto do final, ele ainda tocou "Yesterday", eu fiquei admirado que havia me esquecido dessa canção tão importante.

E até uma das que eu disse não gostar, como "Live and let die", queimei a língua, porque ficou simplesmente maravilhosa ao vivo. Até porque ela teve direito a efeitos especiais, com fogo saindo do palco e depois fogos de artifício acima. Quase uma antecipação de reveillon. Com a diferença que o artista que estava ali na nossa frente era o grande Paul McCartney. Que se despediu dizendo "até a próxima". Que bom ouvir isso, mesmo sabendo que ao final do show, com "The end" no terceiro bis, eu já meio que lamentava que estivesse acabando. Foi bom demais. Como eu já devo ter falado em algum relato de viagem postado aqui no blog: algumas coisas na vida não têm preço.

Clique AQUI para ver fotos que tirei do evento.

quinta-feira, novembro 18, 2010

MUITA CALMA NESSA HORA



Já em Sampa, depois de uma noite mal dormida num avião apertado da Gol. É impressionante como eles têm a cara de pau de acordar a gente às três ou quatro da manhã pra oferecer batata Ruffles com refrigerante. Eu, com um puta sono, e parecendo um zumbi, derramei os copos de água e refrigerante na minha roupa, mas fui dormir assim mesmo. São Paulo amanheceu com um engarrafamento infernal, mas isso deve ser rotina por aqui. É que eu nunca tinha visto com tal intensidade. Enfim, ao menos cheguei são e salvo e estou aqui tranquilamente tentando escrever para o blog na casa do amigo de fé e irmão camarada Michel.

Por falar em citação musical, vamos fazer logo o link com este MUITA CALMA NESSA HORA (2010), que tem agradado bastante a molecada. Pelo menos, na sessão em que eu estava, o povo ria a valer. Já eu, um pouco mais ranzinza que sou, achei o filme apenas simpático. Pelo menos, o povo está indo ao cinema pra ver filme brasileiro, ainda que esse exemplar não seja essas maravilhas.

No filme, vemos alguma figuras conhecidas do humor televisivo brasileiro, incluindo Sergio Mallandro, que agora voltou à mídia, graças ao programa A FAZENDA. O Marcos Mion é que parece continuar o mesmo, mas não tenho acompanhado a sua carreira. A turma do Hermes e Renato comparece e continua engraçada, mas desde que sairam da MTV e foram obrigados a serem "domesticados" num canal aberto que eles não são mais os mesmos. Aqui eles são apenas coadjuvantes de luxo (ou de lixo) que ajudam a tornar o filme um pouco mais engraçado, na tentativa de conseguir um encontro com a personagem de Gianne Albertoni, que os engana, dizendo ser garota de programa. E a atriz e top model parece que ficou com as piores falas. Afinal, dizer que não tem pressa ao responder que fumar é morrer aos poucos é piada velha e manjada.

Na trama, as três jovens amigas (Gianne Albertoni, Fernanda Souza e Andréia Horta) resolvem fugir de suas rotinas por razões diversas ligadas ao desapontamento com os homens. Aproveitaram que uma delas estava já com uma casa de praia alugada em Búzios para uma lua-de-mel para fazerem aquela viagem. No meio do caminho, encontram figuras curiosas, como uma moça hippie que vai pra lá atrás de conhecer o pai. E há também o divertido Lúcio Mauro Filho, no papel de um fã da banda Chiclete com Banana. Já o pai, o bom e velho Lúcio Mauro, também comparece, em pequenos mas bons momentos.

O modo como o diretor Felipe Joffily constrói o seu filme pro público jovem é claramente esforçado, no sentido de fazer com que a edição seja rápida o bastante para que o público não ache o filme chato em momento algum. E eu até diria que ele cumpre bem o seu papel de entreter. Eu mesmo, que só vi o filme porque a sessão de RED - APOSENTADOS E PERIGOSOS era dublada, e não estava com muita boa vontade, até me diverti em alguns momentos. O negócio é relaxar. Afinal, o filme não tem grandes pretensões mesmo. E mesmo como obra cheia de defeitos, o maior deles é até bom: é fácil de esquecer logo que termina a sessão. Se bem que a imagem de Ellen Roche com uma camisinha na boca pode ficar fixada na memória fotográfica de muito marmanjo, hein.

quarta-feira, novembro 17, 2010

OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES (Män som Hatar Kvinnor)



O filme até já chegou às locadoras, mas dei preferência para vê-lo na ainda gloriosa telona do cinema. E não me arrependo nada disso, mesmo tendo pego uma fila monstruosa no feriado. OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES (2009) é um super thriller detetivesco produzido na Suécia que não faz feio frente às melhores produções do gênero feitas em Hollywood. Se bem que o filme – e dizem, o romance no qual ele é baseado também – é bastante devedor do estilo americano de fazer suspense.

Apesar da longa duração (152 minutos) e de um começo um pouco enfadonho e confuso, o filme pega o ritmo certo antes da meia-hora inicial e a partir daí é só alegria. Quer dizer, alegria para os espectadores, pois o filme trata de assassinatos e possui sequências de estupros e atos violentos que eu não se seu remake americano vá ter coragem de manter.

A trama inicialmente segue em paralelo dois protagonistas. O primeiro é o jornalista que é condenado por caluniar um grande magnata e pega seis meses de prisão. Mas antes de cumprir a pena, ele recebe um convite para investigar o desaparecimento da sobrinha de um rico homem idoso ocorrido há 40 anos. Como segundo protagonista, temos a interessante figura de uma hacker que anda em trajes góticos e tem um visual andrógino. Tudo indica que ela é a personagem principal do segundo longa da trilogia Millenium, tendo em vista os flashbacks que adiantam algo que pode ser o foco do segundo longa. OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES tem uma trama muito bem amarrada e prende a atenção até o final.

Gostaria de saber se o segundo e o terceiro filmes vão chegar nos cinemas brasileiros ou se vão direto para vídeo. Talvez os rendimentos do filme não tenham sido muito bons para a distribuidora brasileira, mas acredito que há uma boa parcela de pessoas interessadas numa nova e excitante experiência, como foi o primeiro da trilogia. Mas do jeito que as coisas andam, é mais fácil o remake do David Fincher estrear antes.

terça-feira, novembro 16, 2010

ATRAÇÃO SATÂNICA (Satanic Attraction)



Lembro de ter passado em frente a um cinema de rua que estava exibindo este ATRAÇÃO SATÂNICA (1989). A sala era especializada em exibir tranqueiras ou filmes que os cinemas mais chiques rejeitavam. Foi lá que eu havia visto um ano antes RAMBO III, naqueles bancos desconfortáveis. Mas o lugar tinha o seu charme. Infelizmente fechou as portas logo no início da minha cinefilia e não tive muita chance de desfrutar da programação.

ATRAÇÃO SATÂNICA, dirigido por Fauzi Mansur, mestre das pornochanchadas da Boca do Lixo e também com experiência em filmes de sexo explícito, foi produzido visando o mercado internacional. Daí o motivo de ser falado em inglês. No elenco, rostos conhecidos como os de Cláudia Alencar, Ênio Gonçalves e Vera Zimmerman. E como o gênero terror sempre teve uma boa aceitação, principalmente entre o público jovem, seria uma boa fazer essa tentativa. Não sei do resultado comercial no exterior, mas aqui no Brasil o filme ficou praticamente esquecido, como a grande maioria dos filmes do gênero produzidos no país.

O filme até tem os seus méritos, mas não consegue nem se aproximar de um slasher genérico. Na trama, radialista especializada em contar histórias de terror vê suas palavras sendo materializadas: um maníaco está à solta, matando mulheres para usar o sangue num ritual de ressurreição de outra mulher, como em HELLRAISER, só que tosco.

Há alguns sequências memoráveis do ponto de vista do gore, como a da mulher na banheira, passando no corpo um sabonete com duas giletes. Tem também a cena do maníaco vitimando uma pobre jovem que descansava numa rede. Ele atravessa o seu corpo com uma lança e até que a cena é bem caprichada em mostrar explicitamente os órgãos da vítima saindo. O problema é a falta de dinâmica, de suspense, elementos fundamentais para o sucesso de um filme do gênero. E o pior é que o filme dá sono. Tive que vê-lo "em fascículos".

(Texto escrito na enorme fila do UCI Iguatemi para comprar o ingresso de OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES.)

segunda-feira, novembro 15, 2010

MINHAS MÃES E MEU PAI (The Kids Are Allright)



O cinema independente americano já ganhou fama de mostrar com frequência famílias disfuncionais ou pessoas diferentes do padrão considerado normal. Mas é desse cinema que saem algumas das melhores crônicas sociais e foi desse estilo de produção menor que surgiu este belo e interessante MINHAS MÃES E MEU PAI (2010), que retrata um novo modelo familiar. Já sabemos que o modelo "pai, mãe e filho(s)" está cada vez mais fora da realidade. O número de famílias sem pai ou sem mãe é cada vez maior. As pessoas não se aturam mais como antigamente. E cresce também, ainda que em menor grau, o número de famílias criadas por homossexuais, tanto por homens quanto por mulheres. A mulher tem a vantagem de ainda poder utilizar o próprio corpo e ter apenas um doador de esperma para que possa surgir uma gestação. E o que vemos no filme é um exemplo de família que se utilizou desses fins com sucesso.

Anete Benning e Julianne Moore são casadas há mais de 18 anos. Tanto é que já têm uma filha com essa idade (Mia Wasikowska) e um adolescente de 15 (Josh Hutcherson). As coisas funcionam às mil maravilhas no ambiente familiar, os filhos amam suas mães, não existe tabu na sexualidade das mães e há muito respeito entre todos. Mas a química daquela família muda quando entra em cena outra pessoa. No caso, o pai biológico dos dois filhos, aqui vivido por Mark Ruffalo. Os meninos têm a ideia de ligar para o doador e ter uma conversa com ele, só por curiosidade. Acontece que o encontro foi bem sucedido e a personagem de Mia gostou muito da figura paterna e quer encontrá-lo mais vezes. E assim ele meio que invade o seio daquela família.

Embora as duas atrizes mais veteranas estejam muito bem no filme e Mark Ruffalo sempre ganhe destaque, quem rouba a cena é Mia Wasikowska. Essa garota, que foi revelada na primeira temporada da série IN TREATMENT e que tanto emocionou as pessoas, além de ter entrado para o primeiro time de Hollywood com ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS, de Tim Burton, agora está fazendo filmes independentes e o seu amadurecimento como atriz e como mulher é bem visível. Alguns dos melhores momentos de MINHAS MÃES E MEU PAI, momentos realmente tocantes, acontecem graças a essa garota.

Quanto às cenas mais cômicas, do relacionamento entre Ruffalo e Julianne Moore, elas funcionam mais para ganhar uma maior audiência. Tanto é que quem vê o trailer antes de ver o filme já sabe o que acontece entre os dois e é um chamariz para o público. Fica a questão da sexualidade, que pode ser bem mais complexa do que muita gente imagina. E o que surgirá dessa nova geração, criada com pais gays e desse novo modelo de sociedade para o futuro? Ao final, fica no ar, não necessariamente essa pergunta, mas, ao ver a personagem de Mia em seu próprio apartamento, finalmente se mudando para um lugar só seu, senti uma ponta de ansiedade diante do que há de vir.

domingo, novembro 14, 2010

VOCÊ VAI CONHECER O HOMEM DOS SEUS SONHOS (You Will Meet a Tall Dark Stranger)



Um Woody Allen é sempre motivo de festa pra mim, mesmo quando há aquela possibilidade de ver um filme menor. Mas afinal, o que é um filme menor desse homem que atravessa décadas e, ao mesmo tempo que se mantém fiel às suas tradições, consegue se renovar ao longo dos anos? A fase atual, que pode ser descrita como "fase europeia", que se iniciou com o excepcional MATCH POINT – PONTO FINAL (2005), foi uma sacada e tanto para dar uma revitalizada em sua carreira. E embora tenha voltado à Nova York no ano passado para dirigir TUDO PODE DAR CERTO (2009), considero esse filme uma espécie de interlúdio desse atual momento.

VOCÊ VAI ENCONTRAR O HOMEM DOS SEUS SONHOS (2010), ainda que não prime pela perfeição e tenha vários personagens rasos dentro da tradicional ciranda amorosa que Allen tanto aprecia, tem inúmeras qualidades. Entre elas, o uso da câmera em ambientes fechados. Não uma câmera tremida e excessivamente nervosa, como a do hoje distante MARIDOS E ESPOSAS (1992), mas uma câmera fluída, que passeia procurando espaço em lugares apertados para nos mostrar personagens estressados e problemáticos discutindo suas vidas. Esses momentos mais inspirados acontecem principalmente no apartamento onde mora o casal vivido por Naomi Watts e Josh Brolin. Os dois estão passando por problemas conjugais. Ele está escrevendo um livro, mas está tendo uma crise de inspiração e totalmente sem rumo na vida profissional. A inspiração só volta quando ele vê na janela do apartamento ao lado a indiana Freida Pinto (de QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO?), que conquista seu coração e a quem ele vai, ousadamente, chamar para sair.

Já Naomi Watts tem o problema de se sentir atraída pelo seu chefe, o dono de uma galeria de arte, vivido por Antonio Banderas. Para tranquilizar sua mãe, ela a encaminha para uma falsa vidente, que sempre lhe dá esperanças, dizendo que tudo vai melhorar e que ela vai encontrar um homem ideal e coisas do tipo. De modo que a pobre velhinha, abandonada pelo marido (Anthony Hopkins), consegue um pouco de consolo. As esperanças, ainda que sejam apenas esperanças, funcionam como um modo de ela continuar a viver. E viver melhor do que muitos outros personagens da trama. Há a interessante figura de uma prostituta (Lucy Punch), de quem o personagem de Hopkins contrata os serviços, mas que depois pede para que seja sua esposa. O que, como é de se esperar, dificilmente pode dar certo, principalmente pela diferença de idade.

Aliás, é interessante notar que tanto o personagem de Hopkins quanto a de sua ex-esposa (Gemma Jones) aparecem sempre em taxis antigos, como se viessem de uma outra época, de uma máquina do tempo, enquanto os demais aparecem em modernos e luxuosos carros. Isso destaca ainda mais a idade dos personagens e é um dos incômodos de Allen, conforme ele tem dito em entrevistas. Assim, a velhice e a expectativa de vida (ou de morte) tem se mostrado presente em seus últimos trabalhos. Ainda assim, não são os personagens mais velhos os mais interessantes do filme, ainda que Hopkins tenha os seus bons momentos. Diria que quem mais se destaca no filme é Josh Brolin, o escritor frustrado. Ainda que o filme não desperte muito interesse em sua relação com a personagem de Freida Pinto, o seu dilema moral acaba se tornando um elemento que, de certa maneira, até remete ao de O SONHO DE CASSANDRA (2007), embora os registros sejam totalmente diferentes. Por falar nisso, estou sentindo falta de outra obra mais dramática de Allen.

Para encerrar, vale destacar a habilidade do diretor em unir as pontas, principalmente no começo do filme, com o narrador contando os eventos que sucederam na vida de todos os personagens, utilizando-se de apresentação bem dinâmica, num primor de edição. A fotografia do húngaro Vilmos Zsigmond retrata muito bem Londres, que na maior parte do tempo parece ensolarada, mas que tem uma bela de uma cena de chuva. No fim das contas, o que parecia ser um filme sobre a esperança, ainda que falsa, acaba se tornando também um filme sobre uma expectativa ruim para alguns personagens. Afinal, a vida é cheia de altos e baixos para a totalidade dos mortais.

sexta-feira, novembro 12, 2010

AS CARIOCAS – A INVEJOSA DE IPANEMA



E a série AS CARIOCAS (2010) vai seguindo seu caminho descendente com este A INVEJOSA DE IPANEMA, que tem como diretores Daniel Filho e Amora Mautner. Esse episódio era um dos mais esperados, afinal, tem como protagonista Fernanda Torres, atriz das mais respeitadas do time e com experiência tanto em filmes sérios quanto em comédias bobas. A Fernanda Torres que se vê em A INVEJOSA DE IPANEMA é bem parecida com a de OS NORMAIS. Com um enredo tão ruim, ela não deve ter acreditado na bobagem que foi parar em suas mãos.

Na trama, ela é uma mulher cuja característica principal é essa aí do título, mas também tem a se acrescentar outro pecado capital: a cobiça. Casada com um homem rico (Luiz Gustavo), ela trai o marido com o cirurgião plástico vivido por Guilherme Fontes. Ao ver na coluna social que a esposa do amante estava usando um colar de esmeralda, quis ganhar um também. E consegue facilmente o que quer, aproveitando-se do desejo sexual do sujeito - e do dinheiro que ele tem para bancar, claro. Seu objeto de desejo passa a ser a certa altura uma caríssima Ferrari.

Em A INVEJOSA DE IPANEMA, nem a narração espirituosa inspirada em Stanislaw Ponte Preta salva. O que talvez fosse um vislumbre de um episódio que pelo menos primasse pelo prazer estético para o espectador masculino seria uma presença maior da beldade Fiorella Mattheis, conhecida por ser uma apresentadora do Vídeo Show, e que só aparece por alguns segundos. Apesar desses últimos episódios chinfrins, não deixo de ficar curioso para ver o resultado dos demais, principalmente os protagonizados por Sônia Braga, Grazi Massafera, Alessandra Negrini e Deborah Secco. A Globo também está investindo numa interessante minissérie que também aposta na beleza da mulher. Começou ontem e chama-se AFINAL, O QUE QUEREM AS MULHERES?, sob o comando de Luiz Fernando Carvalho.

quinta-feira, novembro 11, 2010

JOSÉ E PILAR



Uma das coisas mais intrigantes do documentário JOSÉ E PILAR (2010) é a imagem que é mostrada no início e no fim do filme. Talvez seja apenas fruto da edição pensada pelo diretor português Miguel Gonçalves Mendes e sua montadora, Cláudia Rita de Oliveira, mas ver José Saramago dizendo para uma câmera, numa mensagem para a esposa mais jovem que ele 26 anos, "Pilar, nos vemos em outro sítio", uma espécie de contradição diante das convicções do escritor, famoso por ser ateu, é emocionante. Segundo ele mesmo diz, para ele a morte é o deixar de estar. Logo, aquela imagem, ainda que acidental, fica parecendo uma mensagem do além do cineasta, falecido no dia 18 de junho de 2010.

JOSÉ E PILAR se destaca por fugir um pouco do modelo de documentário tradicional, não havendo depoimentos de diversas pessoas, como é comum. Até mesmo as cenas de noticiários só são mostradas quando Saramago e sua esposa Pilar Del Río estão assistindo televisão. O filme segue a rotina atarefada dos dois a partir de 2006, com a gestação do livro "A Viagem do Elefante" (2008). Muito bom ver Saramago em casa, no computador, jogando paciência, por exemplo, ou colocando um disco para tocar. Tanto o escritor quanto sua esposa parecem bem à vontade diante das câmeras. Quase nos esquecemos que elas estão ali presentes.

As dedicatórias que Saramago tanto prestou a Pilar em seus livros chegam a ser comoventes. A mais bela delas, "A Pilar, que não havia nascido e tanto tardou em chegar", mostra a diferença de idade dos dois e o quanto a vida do escritor mudou a partir do momento em que ele a conheceu. De fato, no filme, vemos o quanto os fatos digamos mais importantes da vida de Saramago aconteceram tardiamente. Ainda que seu primeiro livro tenha sido escrito quando ele tinha 25 anos, só em 1980, com "Levantado do Chão", que as características da prosa do escritor apareceriam. E só em 1986 ele conheceria Pilar, sua segunda esposa.

O filme mostra até mesmo aquela cena que já foi vista por tantos no youtube, a de Saramago vendo pela primeira vez ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, ao lado de Fernando Meirelles, e chorando de emoção. Ver essa cena no cinema, ainda mais depois de estarmos sabendo do quadro de saúde bastante delicada do escritor, faz com que a emoção seja ainda maior. E ainda que o filme tente tornar Pilar, com sua persona forte e dedicada, tão importante quanto Saramago, e por mais que ela tenha sido mesmo essencial para o trabalho e autoestima do escritor, é a figura carismática de Saramago o nosso alvo de interesse e quem nos conquista, tanto nos momentos de rabugice, quanto em seus momentos mais espirituosos.

P.S.: Meu amigo Renato Doho publicou em seu blog a lista (com pequenos comentários) dos cinco últimos livros que eu li em sua Pesquisa Literária.

terça-feira, novembro 09, 2010

UM PARTO DE VIAGEM (Due Date)



CAINDO NA ESTRADA (2000) continua sendo a melhor comédia de Todd Phillips, pelo menos no quesito fazer rir. Porém, foi depois de SE BEBER NÃO CASE (2009) que o diretor ganhou status de autor. Agora, então, com Robert Downey Jr. encabeçando o elenco é que ele conquista ainda mais o seu espaço. Mas embora Downey Jr. tenha um carisma inegável, quem rouba a cena em UM PARTO DE VIAGEM (2010) é Zack Galifianakis, o sujeito gordo e barbudo que foi revelado para o grande público em SE BEBER NÃO CASE.

UM PARTO DE VIAGEM é mais um a engrossar a lista dos "bromances", espécies de comédias românticas masculinas que estão na moda atualmente e que têm como principais representantes filmes como EU TE AMO, CARA e os dirigidos e produzidos por Judd Apatow, cujo maior sucesso ainda é LIGEIRAMENTE GRÁVIDOS. No caso de UM PARTO DE VIAGEM, a relação que se inicia entre os personagens de Downey Jr. e Galifianakis é de ódio por parte de um e de interesse em estabelecer um elo de amizade por parte do outro. O próprio espectador, vendo-se na pele do sujeito que quer voltar pra casa, para os braços de sua bela esposa que está prestes a ter um bebê (Michelle Monaghan é um belo de um motivo para se querer voltar pra casa o quanto antes, não?), sente um pouco de raiva daquele louco que vai metendo o personagem de Downey Jr. em enrascadas cada vez maiores.

Tudo começa antes mesmo do embarque, quando o rotundo barbudo e com um cachorro à tiracolo, troca seus pertences de mão, deixando Downey Jr. tendo que responder por um cachimbo usado para fumar maconha. Mas a gota d’água acontece no avião, quando o maluco começa a repetir as palavras "bomba" e "terrorista". Resultado: os dois ficam na lista de pessoas proibidas de ingressar em aviões. A luta agora é para voltar para casa. E ao aceitar a carona do maluco, aventuras virão, situações inacreditáveis acontecerão e personagens interessantes darão as caras no meio da trama, como a sumida Juliette Lewis, que interpreta uma traficante de maconha, que tem dois filhos que são uns pestinhas. Há também Jamie Foxx em papel pequeno.

UM PARTO DE VIAGEM, se não é aquela comédia para gargalhar o tempo inteiro – coisa que tem sido cada vez mais rara no cinema americano -, tem o mérito de ser muito bem conduzida. É provavelmente o filme mais redondo de Philips e que conta com um elenco que contribui e muito para que a diversão seja garantida.

sábado, novembro 06, 2010

CARTA DE UMA DESCONHECIDA (Letter from an Unknown Woman)



O meu primeiro contato com o cinema de Max Ophüls foi há quinze anos, através do documentário UMA VIAGEM PESSOAL ATRAVÉS DO CINEMA AMERICANO, de Martin Scorsese. Apesar de o diretor ter escolhido mais filmes violentos para comentar, lá estava o melodrama de Ophüls na seção "O diretor como contrabandista". Duas cenas ele destacou: a sequência do trem de parque de diversão, onde Stefan (Louis Jordan) e Lisa (Joan Fontaine) conversam enquanto paisagens passam pela janela; e a sequência da estação de trem, com a despedida de Stefan e sua promessa de que voltaria em duas semanas, encerrada com a triste Lisa chorando e indo embora de costas para a câmera.

Os melodramas mais trágicos não deixam de ser muito violentos, pois agem diretamente sobre o coração, sobre a alma dilacerada da pessoa apaixonada, como neste CARTA DE UMA DESCONHECIDA (1948). No caso de Lisa, ela é apaixonada pelo músico boêmio Stefan na Viena do início do século XX. Ela fantasia sobre ele; ele não sabe quem ela é. Ela dá um banho de loja, estuda a história dos músicos eruditos e faz até aulas de dança para ele; ele chega com uma mulher diferente a cada noite. Por causa dessa vida é que ele é "convidado" para um duelo. Havia mexido com a mulher alheia e teria que participar de um daqueles duelos com arma na mão. Mas Stefan é covarde demais para aceitar e sua solução é fugir pelos fundos. Naquela noite, o seu mordomo lhe entrega a carta de uma mulher desconhecida, que já começa dizendo que no momento em que ele estiver lendo esta carta ela já deverá estar morta. O filme é praticamente todo um flashback, onde vemos o ponto de vista de Lisa e todo o seu amor dedicado a alguém que sequer lembrava dela.

Algo que sempre se comenta no cinema de Ophüls é a sua habilidade singular com a câmera, seus travellings e panorâmicas de tal beleza que quase nos leva a um outro patamar espiritual. Conta-se que Stanley Kubrick adorava os travellings de Ophüls e que o homenageou em GLÓRIA FEITA DE SANGUE e em 2001: UMA ODISSEIA NO ESPAÇO. Outro diretor que também amava Ophüls era Rainer Werner Fassbinder, mas seu estilo era diferente, sem a mesma elegância do cineasta da valsa. A câmera de Ophüls atravessa paredes, sobe pelas escadas com desenvoltura e graça e transforma o que seria um melodrama banal numa obra-prima, ajudando a contar a trágica história de uma mulher que não vê outro homem a não ser Stefan e a de um homem que esteve com tantas mulheres, mas que nunca encontrou de fato a "verdadeira". E se encontrou, acabou de perdê-la.

quinta-feira, novembro 04, 2010

FEDERAL



Nunca saí da sessão de um filme com um público tão revoltado quanto o da última terça-feira. Com gritos de "vá tomar no cu" e de "quero meu ingresso de volta", a plateia indignada não acreditava no que estava vendo. E não é para menos. FEDERAL (2010), a estreia na direção de longas de ficção de Erik de Castro, é uma produção amadora e muito, mas muito picareta. No pior sentido do termo. E nem me refiro ao fato de eles estarem tentando comer pelas beiradas, seguindo o rastro do sucesso de TROPA DE ELITE 2, que pode ter deixado o público pensando que todo filme policial brasileiro agora é muito bom. E eis que nos deparamos com uma obra ruim em todos os aspectos.

O som estava tão ruim que não dava pra ouvir as falas de Selton Mello e mesmo os diálogos em inglês, aproveitando a boa vontade de Michael Madsen no elenco, são constrangedores. Detalhe é que o longa foi filmado em 2006 e só agora foi lançado nos cinemas. Talvez estivessem tentando arrumar a presepada que fizeram na sala de montagem. Em vão. Há certos momentos em que não se entende patavina do que está acontecendo, tal a falta de capacidade do diretor, dos roteiristas e do montador de saberem juntar os cacos e contar pelo menos uma história com algum sentido. Além do mais as cenas de ação - tiroteio, luta corpo-a-corpo, perseguição - são bem toscas.

Nem dá pra fazer uma sinopse do filme, pois é tudo uma confusão dos diabos. Carlos Alberto Ricelli é um policial veterano, daqueles que gostam de usar métodos dos tempos da ditadura. É casado, tem uma mulher grávida e carinhosa em casa. Selton Mello é o policial mais jovem, que não curte muito esse negócio de pegar informações usando sacos na cabeça das pessoas, mas que é adepto de cocaína de vez em quando. Os outros dois amigos que fazem parte do quarteto de federais acabam se tornando quase figuração. Eduardo Dusek é o sujeito corrupto, o líder do tráfico em Brasília e que faz negócios com o americano Michael Madsen. Pra não dizer que não gostei de nada, há uma beldade em duas cenas sensuais: a colombiana Carolina Gómez. Mas nada que justifique a ida ao cinema.

quarta-feira, novembro 03, 2010

AS CARIOCAS - A ATORMENTADA DA TIJUCA



Infelizmente a expectativa em torno do episódio de AS CARIOCAS protagonizado por Paola Oliveira era pura fixação de minha parte pela beleza da moça. A ATORMENTADA DA TIJUCA (2010) se por um lado tem um texto que se destaca mais do que os dois anteriores na voz do narrador, graças às inspiradas falas de Stanislaw Ponte Preta, não tem um enredo tão interessante quanto os anteriores e nem tampouco é generoso ao mostrar os atributos físicos da beldade. Até porque durante metade do episódio ela é uma mulher que tem horror a homens, frustrada que ficou desde a dramática separação com o violento ex-marido.

Assim, ela não pensa duas vezes antes de dar uma cotovelada em qualquer sujeito que queira se aproveitar dela num ônibus. No trabalho, então, como a moça é de uma beleza de parar o trânsito, ela é constantemente assediada pelo patrão e pelos demais empregados. Volta a morar com a mãe, vivida pela reaparecida Denise Dumont, que interpreta uma personagem que tem muito a ver com o passado da atriz, a de uma mulher que no passado foi uma estrela das pornochanchadas. Se bem que eu acho o termo bem perjorativo se pensarmos nos trabalhos da atriz. E eu nem sei se foi bom ter visto Denise de volta à ficção, fazendo papel de mãe agora. Gosto de lembrar dela como a garota sem frescuras e de corpo fantástico dos filmes oitentistas. Mas como já tinha visto a atriz no documentário O HOMEM QUE ENGARRAFAVA NUVENS, a surpresa não foi assim tão traumática.

Na trama de A ATORMENTADA DA TIJUCA, Clarissa (Paola) recebe a visita do seu melhor amigo de infância (Gabriel Braga Nunes). Como um companheiro gay, ele levanta a moral da moça, inclusive no ambiente de trabalho. O desfecho é bem previsível e não chega a empolgar, mas pelo menos somos brindados no final com imagens de Paola na cama. Tudo muito rápido, mas capaz de ficar grudado em nossas retinas durante mais tempo do que a maior parte do episódio. A ATORMENTADA DA TIJUCA foi dirigido por Amora Mautner, filha do compositor e poeta maldito Jorge Mautner.

terça-feira, novembro 02, 2010

A SUPREMA FELICIDADE



Acho que até entendo a rejeição que A SUPREMA FELICIDADE (2010) está tendo por parte do público e de boa parte da crítica. Arnaldo Jabor, principalmente depois que deixou de ser cineasta para ser comentarista político e colunista de jornal, ganhou a antipatia de muitos. Mas não é por causa disso que eu acredito que venha a falta de empatia do filme com o público mais jovem. O público mais idoso, imagino eu, talvez até tenha apreciado essa obra irregular, mas feita com o coração, pois trata-se de um filme cheio de saudosismo e no fim vemos que é uma bela homenagem a seu avô, aqui vivido por Marco Nanini. O problema é que o cinema que se faz hoje é mais naturalista, não dando muito espaço para esses arroubos poéticos e o tipo de dramaturgia que se fazia até os anos 80, que para muitos parece mal feita ou teatral.

O protagonista é Paulo, vivido por diversos atores durante várias fases da vida: da infância, vendo o seu pai (Dan Stubach) chegando da guerra; passando pela adolescência (Michel Joelsas), quando questiona a doutrina cristã do livre arbítrio e da onisciência divina; até chegar aos 19 anos (Jayme Matarazzo), quando se vê apaixonado por uma bela garota que faz striptease num inferninho. E por mais que eu saiba que o filme não é exatamente uma biografia da vida do cineasta, só de saber que é baseada em fatos de sua vida e de sua família já me senti mais próximo.

Seria o AMARCORD de Jabor. Até a fumacinha que aparece no filme de Fellini, representativa dos sonhos e das memórias, comparece também em A SUPREMA FELICIDADE. E assim como a aclamada obra de Fellini, o filme de Jabor não se preocupa muito com coesão. As idas e vindas no tempo e os vários episódios são mostrados com carinho. Alguns personagens devem ter mesmo saído da infância do cineasta, como o homem que compra livros e revistas usadas (Emiliano Queiroz) e o pipoqueiro da esquina (João Miguel). Aliás, são de João Miguel alguns dos momentos mais divertidos do filme, com as brincadeiras de duplo sentido, que fazem a alegria da turma.

Claro que há sequências que poderiam ter sido cortadas da edição final, mas eu nem saberia dizer quais. O fato é que alguns momentos foram capazes de fazer os meus olhos brilharem, como a cena dos pais de Paulo comentando sobre O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, de William Wyler, que estava em cartaz na época. A cena é carregada de força, tanto pelo poder ultra-romântico do filme quanto pelo fato de os dois estarem totalmente encantados um pelo outro.

A relação de Paulo com o pai, mesmo quando este está decadente e alcoólatra, é bonita. Vê-lo perguntando ao pai como ele conheceu a sua mãe é algo belo de ver, assim como sua relação de carinho com o avô, que é o exemplo perfeito de pessoa que sabe viver a vida. E é engraçado quando ele, ao falar de amor para o jovem Paulo, diz apenas, em vez da normalmente esperada verborragia dos filmes de Jabor, "o amor é foda".

P.S.: Deixo aqui para quem ainda não conhece um link para a crônica que eu mais gosto de Jabor, "Amor, sexo e um outro sentimento", publicada no Estadão e contida no livro "Pornopolítica".

segunda-feira, novembro 01, 2010

O PROFETA (Un Prophet)



Não sei se é porque eu estava com a cabeça cheia de problemas, mas o fato é que O PROFETA (2009), filme que tanto me interessava e que eu perdi na Mostra Varilux de Cinema Francês, acabou me causando um certo desapontamento. O filme de Jacques Audiard, que dirigiu anteriormente DE TANTO BATER, MEU CORAÇÃO PAROU (2005), foi considerado por muitos como "O PODEROSO CHEFÃO francês", o que é um grande exagero. Dizem isso porque é filme de máfia e porque é longo? Pra mim, o filme está bem distante da grandiosidade do épico familiar de Coppola. De todo modo, não deixa de ser uma obra de interesse.

Nos longos 155 minutos de filme, vemos a trajetória do presidiário Malik El Djebena. Francês de origem árabe, analfabeto, assim que chega à prisão, ele recebe logo uma proposta dos mafiosos córsicos. Ele deve matar um árabe recém-chegado ao presídio. Ou ele mata ou ele morre. Diante de tal fato, quase todo espectador iria entender a situação do sujeito. E do quanto ele sofreu para efetuar o mandado dos mafiosos. Todo o processo de preparação - a gilete no canto da boca, a chegada na cela do árabe até o momento do sangue jorrando aos litros na jugular da vítima, o que foi motivo para que um casal se ausentasse da sala -, todo essa sequência está entre os melhores momentos do filme.

O PROFETA tem alguns momentos bem curiosos, com a utilização de música que destoa do que é mostrado na tela, quase como uma maneira de tornar heróico todo e qualquer ato do protagonista, por pior que seja. Dá pra fazer comparação com alguns títulos brasileiros que se passam na prisão, como SALVE GERAL, CARANDIRU e o mais recente 400 CONTRA 1. A diferença que salta logo aos olhos é o quanto são mais equipadas as penitenciárias francesas, com uma cela individual e limpa. Diferente daquele emaranhado de homens presos e sujos, todos numa única cela no Brasil.

O filme é mais um a engrossar o painel de produções francesas que lidam com o aumento crescente de pessoas de diferentes nacionalidades vivendo no país. Há desde ENTRE OS MUROS DA ESCOLA, que trata do sistema educacional, até obras como A PEQUENA JERUSALÉM e CARAMELO. Ainda que a questão da xenofobia esteja sempre presente, O PROFETA não se preocupa tanto em lidar com os problemas sociais, dando mais ênfase no personagem e em sua trajetória, no quanto a prisão o modificou, para o bem e para o mal. E em procurar transformar a obra num thriller sempre que pode, principalmente nos momentos em que o personagem consegue dias de folga fora da prisão.