sexta-feira, fevereiro 26, 2010

IDAS E VINDAS DO AMOR (Valentine's Day)


Com um puta cansaço mental, como se estivesse prestes a gripar ou algo assim. Estou com a mente mais nublada do que o normal. Então, vamos gastar o dia com um post sobre um filme que não merece muitas palavras de carinho: a comédia romântica IDAS E VINDAS DO AMOR (2010), de Garry Marshall.

Um elenco estelar e um resultado medíocre num desses filmes-painel cheios de pequenas e superficiais histórias. Isso está ficando cada vez mais comum, mas o dinheiro fala mais alto. IDAS E VINDAS DO AMOR é claramente feito para capitalizar em cima do Dia dos Namorados americano, o Valentine's Day. Nada contra. Mas podiam ao menos fazer um trabalho mais caprichado - SIMPLESMENTE AMOR seria o melhor exemplo do tipo - para que o programa dos casais não termine de maneira constrangedora. A não ser, claro, que o casal não esteja exatamente com a intenção de ver o filme. Nesse caso, talvez seja mesmo um programa perfeito.

IDAS E VINDAS DO AMOR é cheio de historinhas envolvendo relacionamentos amorosos. Ashton Kutcher está apaixonado pela namorada (Jessica Alba) e a propõe em casamento. Acontece que a moça não está assim tão resolvida. A melhor amiga de Kutcher é Jennifer Garner, que está, sem saber, relacionando-se com um homem casado. Anne Hathaway é uma garota que presta serviço de sexo por telefone sem que o namorado (Topher Grace) saiba. Bradley Cooper e Julia Roberts são dois estranhos que se conhecem num voo internacional. Há também o garotinho que quer entregar flores para a garota por quem é apaixonado no dia de São Valentim e um casal de velhinhos que entram em crise - Shirley MacLane e Hector Elizondo.

E que gracinha que é Emma Roberts, hein! Ela é a jovem que pretende perder a virgindade com o namorado e sai espalhando isso pra todo mundo. Já andei vendo os próximos projetos dela e vi que ela está encabeçando o elenco do novo trabalho de Joel Schumacher. Pelo visto, a menina precisa de um novo agente urgente.

Algumas tramas até que são simpáticas e o filme melhora um pouco do meio para o final, mas é tudo embrulhado em clichês manjados. Quem não se incomodar pode até gostar.

Bem mais divertidos foram os episódios de Dia dos Namorados de THE OFFICE e THE BIG BANG THEORY.

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

PRECIOSA - UMA HISTÓRIA DE ESPERANÇA (Precious: Based on the Novel 'Push' by Sapphire)


Fazer filme sobre pessoas sofredoras não é pra qualquer um. É preciso ter o mínimo de classe. E isso passa longe de PRECIOSA - UMA HISTÓRIA DE ESPERANÇA (2009), que mais parece um desfile grotesco de desgraças, pintado com muito mau gosto. E parece que Lee Daniels é o novo queridinho de Hollywood. Até Quentin Tarantino escolheu PRECIOSA como um dos melhores filmes do ano. Talvez por ser amigo do diretor ou por ter gostado de sua obra anterior, MATADORES DE ALUGUEL (2005). Que eu não cheguei a ver, mas que parece resgatar um pouco do clima dos blaxploitations dos anos 70, a julgar pela violência da trama e pela presença de destaque de atores negros como Cuba Gooding Jr, Macy Gray e Mo'Nique. Inclusive, no tal fime, Mo'Nique faz uma personagem de nome Precious. Confesso que mesmo não tendo gostado de PRECIOSA, fiquei um pouco curioso para conferir esse primeiro trabalho de Daniels.

Quanto a PRECIOSA, pouca coisa se salva no filme. Talvez a performance de Mo'Nique, como a mãe perversa de Precious (Gabourey Sidibe), a jovem negra, obesa e pobre que sofre rejeição na escola, tem dificuldades de aprendizado, engravida duas vezes do próprio pai (um dos filhos nasce com síndrome de down) e ainda come o pão que o diabo amassou nas mãos da mãe. Toda essa desgraça é complementada com os sonhos escapistas de Precious, quando o filme adota aquela fotografia cheia de filtros e coloca Precious vestida como quem vai para uma festa de gala. Se os momentos mais crus de sofrimento da garota já incomodam, esses momentos sem-noção chegam a ser constrangedores.

Muitos que viram o filme nos Estados Unidos chegaram a dizer que Lee Daniels mostra os negros americanos com uma imagem nada boa. E, por mais que a gente saiba que o filme não é feito por nenhum branco racista, essa impressão não deixa de passar pela cabeça ao ver tanta miséria e tanta falta de consideração pelo próximo na família de Precious. Quem, curiosamente, está bem no filme é Mariah Carey, no papel de uma assistente social. Por mim, ela largava logo a carreira de cantora. Muita gente ia ficar feliz com isso, tenho certeza.

PRECIOSA - UMA HISTÓRIA DE ESPERANÇA foi indicado a seis Oscar: filme, direção, atriz, atriz coadjuvante, roteiro adaptado e montagem.

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS (Mujeres al Borde de um Ataque de Nervios)



Que beleza de filme que é este MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS (1988), hein! Na minha lembrança, o filme não era tão bom, da primeira vez que o assisti, em vhs. E na minha confusa memória o filme era mais cômico, histérico e mais distribuído nos vários personagens. Desta vez, eu quase não consegui ver o filme como uma comédia. Isso, aliás, tem acontecido com quase todos nessa minha revisão da obra de Pedro Almodóvar. Excetuando PEPI, LUCI, BOM E OUTRAS GAROTAS DE MONTÃO (1980), que é bem anárquico e divertido, todos os demais filmes do diretor parecem impregnados de uma forte melancolia, que às vezes se esconde em interpretações espalhafatosas e personagens caricaturescos. E outra coisa que eu percebi melhor com a revisão de MULHERES À BEIRA... foi a chamada "overdose de Carmen Maura", como assim comentou o diretor na entrevista contida no livro "Conversas com Almodóvar". Trata-se do melhor desempenho de Carmen Maura. O filme marca também sua última parceria com Almodóvar, até o seu retorno em VOLVER (2006).

Ela se destaca muito em relação às demais personagens. Por isso, acho o título do filme, de certa forma, até enganoso, já que não destaca tanto assim as coadjuvantes. Ao nos aproximarmos de Pepa (Carmen Maura), já a partir do começo do filme, com voz em off, todas as demais se tornam menos importantes. Até porque o filme não lhes dá o mesmo espaço. O fato é que os problemas das outras não parecem tão interessantes ou importantes quanto o problema de Pepa. Quem nunca ficou louco tentando falar com alguém pelo telefone, não conseguir e ficar muito mal com isso que atire a primeira pedra. Por isso que é até fácil se identificar com Pepa. Ainda mais nos dias de hoje, onde o estresse é maior e o uso de pílulas calmantes ou antidepressivas é cada vez mais comum.

Uma das coisas que primeiro salta aos olhos no filme são os belíssimos créditos de abertura, ao som de "Soy infeliz", de Lola Beltrán. A canção mexicana é carregada de dor e a beleza das imagens em papel acetinado são encantadoras. A bela colagem lembra algumas aberturas de filmes de James Bond. Depois, vemos a beleza dos cenários, lindamente realizados em interiores. Depois de usar muitos cenários externos nos trabalhos anterioers, Almodóvar se esbaldou no estúdio, onde pôde trabalhar melhor sua paleta de cores, dessa vez com o diretor de fotografia José Luis Alcaine. Dentro do estúdio, Almodóvar teve maior liberdade para transformar o ambiente da maneira que bem queria. E mostrou o quanto era dedicado a cada detalhe, como as roupas das atrizes, a decoração de ambientes e até mesmo os variados rostos das intérpretes. Destaque para Rossy de Palma e seu enorme nariz e a cara de doida de Julieta Serrano.

Apesar de bem menos ousado do que suas obras anteriores, no quesito sexo, MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS alcançou lugar privilegiado no meu ranking de favoritos de Almodóvar.

terça-feira, fevereiro 23, 2010

POR UMA VIDA MELHOR (Away We Go)


Cada um de nós tem o seu problema. Ou problemas. Felizmente, na maioria das vezes, eles não são tão trágicos assim. Mas não é por isso que o sofrimento deixa de ser legítimo. E é desse sofrimento de pessoas que estão aparentemente numa situação um pouco mais confortável que lidam os principais trabalhos de Sam Mendes. POR UMA VIDA MELHOR (2009) segue essa linha.

No começo do filme, quando os personagens de John Krasinski e Maya Rudolph se perguntam se eles são perdedores, se estão fadados ao fracasso, já que têm mais de trinta anos e ainda não resolveram direito suas vidas, eu me peguei pensando: "eles devem estar brincando, hein?". E é já no começo do filme que se nota o quanto a sociedade americana - e a nossa também, ainda que em menor intensidade - se importa demais com o "vencer", com o ser bem sucedido financeiramente e até sentimentalmente. É uma sociedade que exige muito e transforma em losers pessoas de vida modesta.

Sam Mendes, já em seu trabalho de estreia, BELEZA AMERICANA (2000), fazia uma reflexão sobre o american way of life. Mas é com FOI APENAS UM SONHO (2008) que POR UMA VIDA MELHOR guarda mais semelhanças. Pode-se dizer que são "filmes irmãos". Se o anterior mostrava um casal lidando com as limitações da vida, que frustram os seus sonhos, o novo filme do diretor mostra outro casal, dessa vez atravessando os Estados Unidos em busca de um lugar melhor para viver e poder dar início à formação de uma família. A peregrinação dos dois por várias cidades americanas e uma do Canadá é mostrada com elegância e sensibilidade por Mendes, que parece temer cair no melodrama, preferindo um registro mais contido. E quase sempre ele é bem sucedido nesse filme injustamente esnobado pelo Oscar.

POR UMA VIDA MELHOR ainda tem o mérito de manter uma unidade, mesmo utilizando uma estrutura episódica. Cada cidade que o casal visita parece um episódio. O melhor episódio, por assim dizer, é o que mostra o casal que adota vários filhos e parece viver muito bem. Esse segmento atinge o seu momento sublime na cena do bar, quando o casal de protagonistas sai com esse casal de amigos e são surpreendidos por Melanie Lynskey dançando melancolicamente ao som de "Oh! Sweet Nuthin'", do Velvet Underground. Eu imediatamente quis saber que canção linda era aquela. E fiquei surpreso ao saber que era do Velvet e era a voz do Lou Reed. E, puxa, como a canção casou com a cena!

Vale destacar também o segmento em que Maggie Gyllenhaal brilha, no papel da mãe de família que foge do convencional, com ideias um tanto radicais de como se deve constituir uma família.

POR UMA VIDA MELHOR, que passou na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com o título "Distante Nós Vamos", será lançado diretamente em dvd no Brasil. Uma pena. Merecia um tratamento melhor.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

UM OLHAR DO PARAÍSO (The Lovely Bones)























Quem ou o que é o culpado pela safra tão ruim de filmes produzidos em Hollywood atualmente? Culpemos o espírito da época. Se nem um cineasta que quase sempre acerta como Clint Eastwood foi bem sucedido, não seria Peter Jackson que faria a diferença. Ainda assim, seria interessante saber por que razão Jackson quis dirigir um filme sobre uma menina que é assassinada e fica assistindo o que acontece em nosso plano. Bem a cara de livros espíritas e sem o mesmo impacto de GHOST - DO OUTRO LADO DA VIDA. O problema é que Jackson quis tornar o limbo no qual a garotinha fica depois de morta numa espécie de paraíso colorido, parecido com o mostrado em AMOR ALÉM DA VIDA, de Vincent Ward. Aí ficou aquela coisa brega. Ainda mais com aquela música meio new age para dar um clima "angelical" à coisa.

Tem também o problema da indefinição de gêneros, que eu nem vejo como algo tão grave e que pode torna algumas obras até mais interessantes, mas que não funciona de jeito nenhum em UM OLHAR NO PARAÍSO (2009). E isso eu já havia percebido desde o trailer, que está sendo veiculado de forma insistente nos cinemas, o que já cria uma antipatia para o espectador que costuma ir com mais frequência ao cinema. No trailer, já se nota a mudança do registro "melodrama espírita" para o de "filme de suspense" ao mostrarem a sequência da irmã da menina assassinada invadindo a casa do assassino à procura de evidências.

Porém, nem tudo são espinhos em UM OLHAR NO PARAÍSO. É possível encontrar aspectos positivos no filme. Nota-se que é um trabalho de um cineasta talentoso e com domínio da técnica. Algumas tomadas lembram alguns dos melhores momentos dos filmes da saga O SENHOR DOS ANÉIS (2001-2003), com closes em destaque, imagens como numa moldura e grandes objetos mostrados em primeiro plano. Há também uma boa reconstituição de época (anos 1970), mas isso é mais do que obrigação para um diretor como Peter Jackson numa produção classe A.

E quando o filme naufraga, acaba levando junto seus intérpretes, por melhores que eles sejam. Caso de Susan Sarandon, no papel da avó beberrona, ou de Mark Wahlberg, como o pai obcecado por pegar o assassino da filha. O mesmo valendo para Stanley Tucci, no papel do serial killer. Nem parece que estamos diante de um filme do mesmo diretor de ALMAS GÊMEAS (1994), que acertava tanto na construção dos personagens quanto na reconstituição de uma tragédia brutal. Talvez Jackson tenha ficado careta ou simplesmente tenha percebido que pisou na bola quando já estava no meio da filmagem. De uma forma ou de outra, não dá mais para voltar atrás e temos que aguentar mais de duas horas de um filme que, quando não incomoda por suas "qualidades", causa sono e desinteresse.

domingo, fevereiro 21, 2010

NIRVANA – LIVE AT READING



Parece que foi ontem quando um amigo chegou aqui em casa e trouxe uma fitinha contendo o álbum de uma banda que era a sensação do momento. Foi o mesmo amigo que me apresentou ao Metallica, ao Iron Maiden, ao Helloween, ao Anthrax, ao Pantera. De vez em quando ele trazia alguma novidade. Era 1991 e o disco tinha saído há pouco tempo. Ele botou pra tocar a primeira faixa, "Smells like teen spirit" e eu fiquei maravilhado com aquela energia, com aquele riff inicial seguido das porradas da bateria e de guitarra e baixo distorcidos. Mas se não fosse a veia pop, talvez o Nirvana não tivesse me conquistado.

Aos poucos é que a gente vai sabendo que por trás daquela banda que estava conquistando o mundo e passando como um furacão por todo o cenário do rock da época havia uma pessoa extremamente sensível e deprimida chamada Kurt Cobain. Ele faria 43 anos ontem, se estivesse vivo. Mas a sua morte parecia tão inevitável que fica até difícil imaginar o Nirvana ainda em atividade hoje. A trajetória de drogas, depressão e tendência ao suicídio de Cobain estava numa curva ascendente. Ia chegar uma hora que aquilo ia mesmo explodir. Só que por ele ser muitas vezes irônico, ninguém sabia que ele estava falando sério naquelas letras. Embora IN UTERO (1993) já fosse um prenúncio.

Comprei o dvd NIRVANA – LIVE AT READING (2009) impulsivamente. O preço ainda está um pouco salgado, mas a possibilidade de ver um show importante da banda com qualidade de imagem e som boas falaram mais forte. Assim que cheguei em casa, já despejei um bocado de energia com mais da metade do show. A primeira parte do show é mais cheia de hits; a segunda é cheia de lados B e experimentações loucas, quase que com o objetivo de mostrar para a plateia que aquilo era rock and roll, mas nem sempre precisava ser bonito.

Kurt Cobain entra no palco com uma peruca de velho, usando uma roupa de hospital e sentado numa cadeira de rodas. As fotos desse show, inclusive, foram parar no encarte de IN UTERO. Algumas faixas do disco, ainda com as letras cantadas de forma diferente, são usadas no show. O destaque vai para "All apologies", faixa que até pouco tempo eu não curtia muito, mas de uns tempos pra cá passou a ser uma das minhas favoritas; sei lá por quê. No show, antes de tocar essa canção, ele fala sobre Courtney Love e sobre o quanto as pessoas a odeiam. Ele pede para a plateia dizer em coro: "Courtney, we love you". Até hoje estou pra entender o sentimento que ele tinha por ela, a relação estranha que rolava. Parecia haver ao mesmo tempo algo de desapego e dependência, por mais opostos que os dois termos sejam.

O show, gravado em 30 de agosto de 1992, flagra a banda no auge, poucos meses antes de chegar ao Brasil para a memorável apresentação no Hollywood Rock 93. Até acho que o show apresentado no Brasil, apesar de não ser tão redondinho quanto o de Reading, traz momentos mais impactantes e que mereceria uma edição em dvd caprichada. O show de Reading começa com "Breed", depois vem com "Drain you", duas faixas energéticas do NEVERMIND (1991), para depois emendar com a lado B "Aneurysm". O final do show, com a destruição dos equipamentos, pode até parecer clichê hoje, mas no caso do Nirvana aquele ritual parece significar algo mais.

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

TOP 100 ANOS 2000
















1. CIDADE DOS SONHOS, de David Lynch
2. ANTES DO PÔR-DO-SOL, de Richard Linklater
3. A VILA, de M. Night Shyamalan
4. KILL BILL VOL. 1, de Quentin Tarantino
5. FALE COM ELA, de Pedro Almodóvar
6. COISAS SECRETAS, de Jean-Claude Brisseau
7. A ESPIÃ, de Paul Verhoeven
8. A PAIXÃO DE CRISTO, de Mel Gibson
9. AMOR EM JOGO, de Peter e Bobby Farrelly
10. ELEFANTE, de Gus Van Sant
















11. PONTO FINAL - MATCH POINT, de Woody Allen
12. KILL BILL VOL. 2, de Quentin Tarantino
13. ESPIONAGEM NA REDE, de Olivier Assayas
14. GUERRA DOS MUNDOS, de Steven Spielberg
15. CÃO SEM DONO, de Beto Brant e Renato Ciasca
16. TERROR EM SILENT HILL, de Christophe Gans
17. O LABIRINTO DO FAUNO, de Guillermo Del Toro
18. O CLÃ DAS ADAGAS VOADORAS, de Zhang Yimou
19. MIAMI VICE, de Michael Mann
20. O HOSPEDEIRO, de Bong Joon-ho
















21. BASTARDOS INGLÓRIOS, de Quentin Tarantino
22. AMANTES, de James Gray
23. O SOBREVIVENTE, de Werner Herzog
24. ANTES QUE O DIABO SAIBA QUE VOCÊ ESTÁ MORTO, de Sidney Lumet
24. O AVIADOR, de Martin Scorsese
26. ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ, de Joel e Ethan Coen
27. CANÇÕES DE AMOR, de Christophe Honoré
28. SANGUE NEGRO, de Paul Thomas Anderson
29. MENINA DE OURO, de Clint Eastwood
30. O CÉU DE SUELY, de Karin Aïnouz
















31. GRAN TORINO, de Clint Eastwood
32. CARANDIRU, de Hector Babenco
33. MILLENNIUM ACTRESS, de Satoshi Kon
34. A MISTERIOSA MORTE DE NATALIE WOOD, de Peter Bogdanovich
35. PRO DIA NASCER FELIZ, de João Jardim
36. MUNIQUE, de Steven Spielberg
37. ORGULHO E PRECONCEITO, de Joe Wright
38. CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS, de Marcelo Gomes
39. A CASA DO LAGO, de Alejandro Agresti
40. FALSA LOURA, de Carlos Reichenbach
















41. OS DONOS DA NOITE, de James Gray
42. ARRASTE-ME PARA O INFERNO, de Sam Raimi
43. A INGLESA E O DUQUE, de Eric Rohmer
44. PACTO DE JUSTIÇA, de Kevin Costner
45. ELEIÇÃO 2: A TRÍADE, de Johnnie To
46. NA CIDADE DE SYLVIA, de José Luis Guerín
47. GUERRA AO TERROR, de Kathryn Bigelow
48. SENHORES DO CRIME, de David Cronenberg
49. O SENHOR DOS ANÉIS - AS DUAS TORRES, de Peter Jackson
50. LOKI - ARNALDO BAPTISTA, de Paulo Henrique Fontenelle
















51. CLEÓPATRA, de Júlio Bressane
52. CACHÉ, de Michael Haneke
53. O ÚLTIMO BEIJO, de Gabrielle Muccino
54. DESEJO E PERIGO, de Ang Lee
55. VICKY CRISTINA BARCELONA, de Woody Allen
56. O LUTADOR, de Darren Aronofsky
57. DEPOIS DO CASAMENTO, de Susanne Bier
58. DÉJÀ VU, de Tony Scott
59. BAIXIO DAS BESTAS, de Cláudio Assis
60. A VIAGEM DO BALÃO VERMELHO, de Hou Hsiao-hsien
















61. AS FERAS, de Walter Hugo Khouri
62. GANGUES DE NOVA YORK, de Martin Scorsese
63. O INVASOR, de Beto Brant
64. 4 MESES, 3 SEMANAS E 2 DIAS, de Cristian Mungiu
65. BODAS DE PAPEL, de André Sturm
66. À PROCURA DA FELICIDADE, de Gabriele Muccino
67. FIM DOS TEMPOS, de M. Night Shyamalan
68. OS EXCÊNTRICOS TENENBAUMS, de Wes Anderson
69. ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO, de José Mojica Marins
70. O PASSADO, de Hector Babenco
















71. A SÉTIMA VÍTIMA, de Jaume Balagueró
72. SOBRE MENINOS E LOBOS, de Clint Eastwood
73. OS OUTROS, de Alejandro Amenábar
74. BOM DIA, NOITE, de Marco Bellocchio
75. DEIXA ELA ENTRAR, de Tomas Alfredson
76. O FIM E O PRINCÍPIO, de Eduardo Coutinho
77. MÁRTIRES, de Pascal Laughier
78. ENCONTROS E DESENCONTROS, de Sofia Coppola
79. LÚCIA E O SEXO, de Julio Medem
80. UM BEIJO ROUBADO, de Wong Kar-wai
















81. GOTAS D’ÁGUA EM PEDRAS ESCALDANTES, de François Ozon
82. A.I. – INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, de Steven Spielberg
83. O HOMEM SEM PASSADO, de Aki Kaurismäki
84. AS INVASÕES BÁRBARAS, de Denys Arcand
85. O SONHO DE CASSANDRA, de Woody Allen
86. OS ANJOS EXTERMINADORES, de Jean-Claude Brisseau
87. A HISTÓRIA DE MARIE E JULIEN, de Jacques Rivette
88. A DAMA DE HONRA, de Claude Chabrol
89. UM FILME FALADO, de Manoel de Oliveira
90. MALDITO CORAÇÃO, de Asia Argento
















91. O CASTELO ANIMADO, de Hayao Miyazaki
92. A TROCA, de Clint Eastwood
93. GOZU, de Takashi Miike
94. A ÚLTIMA NOITE, de Spike Lee
95. TROPA DE ELITE, de José Padilha
96. CLOSER – PERTO DEMAIS, de Mike Nichols
97. SICKO - $O$ SAÚDE, de Michael Moore
98. AS PANTERAS DETONANDO, de McG
99. COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ, de Peter Segal
100. FÉRIAS FRUSTRADAS DE VERÃO, de Greg Mottola

Difícil fazer comentários de cem filmes, mesmo que sejam rápidos. A lista foi um desafio e com certeza devo ter esquecido um grande e importante filme no processo. Os favoritos da década, os cinco primeiros da lista, daria para dizer de supetão. Mas depois fica tudo nebuloso e não dá pra dizer que acho tal filme melhor do que outro se um está na 40ª posição e outro está na 44ª, por exemplo. O meu grande favorito dos anos 2000 coincidiu com o da Cahiers du Cinéma. Sinal de que a revista ainda tem bom gosto. :)

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

O HOMEM QUE ENGARRAFAVA NUVENS





















Não sei onde estava com a cabeça por ter demorado tanto tempo a assistir esse filme nos cinemas, em cartaz há um mês. O HOMEM QUE ENGARRAFAVA NUVENS (2010) é um dos melhores representantes da safra de documentários brasileiros que tratam da história da nossa música. O resgate da vez é do compositor Humberto Teixeira, mais conhecido como o parceiro de composição de algumas das mais famosas canções do repertório de Luiz Gonzaga, como "Estrada de Canindé", "Asa Branca" e "Assum Preto". Ele era o intelectual da dupla, enquanto que Luiz Gonzaga se aproximava mais da simplicidade do povo. O documentário, dirigido por Lírio Ferreira e produzido pela filha de Teixeira, a atriz Denise Dummont, assume vários papéis, mas no final constrói um todo harmonioso.

O filme traça um painel da história de sucesso do baião, que surgiu no Sudeste, inventado por nordestinos, e se espalhou por todo o país. Há interessantes curiosidades histórico-culturais, contadas numa narrativa gostosa de acompanhar e com imagens de arquivo que nos situam no clima da época (décadas de 40 e 50). Se Luiz Gonzaga era o "Rei do Baião", Humberto Teixeira era o "Doutor", termo usado tanto pelo fato de ele ser formado em Direito como por ele ser o erudito da dupla. Além do registro histórico, o documentário tem o seu lado de busca da identidade do homem, realizada pela própria filha, que não conheceu o pai muito bem. E essa relação complicada, tanto de Denise Dummont com o pai quanto com a mãe rendem alguns dos momentos mais emocionantes do filme. A cena da conversa de Denise com sua mãe, nos Estados Unidos, é de arrepiar.

E é dos Estados Unidos também que vem outro dos momentos mais empolgantes do filme: David Byrne cantando sua versão em inglês de "Asa Branca". Não faltam nomes famosos da música brasileira no documentário, que até poderia ser maior, se as canções fossem ouvidas todas na íntegra. Quem sabe numa edição especial em dvd isso acontece. Mas acho que foi um decisão acertada cortar as canções. Assim o documentário fica com a metragem ideal e não cansa a plateia. Alguns nomes famosos que participam do filme: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Betânia, Cordel do Fogo Encantado, Fagner, Belchior, Otto, Lenine, entre outros. Inclusive, há um detalhe interessante de movimentação de câmera quando vemos o reflexo de Caetano, enquanto ele canta uma composição sua ("Terra"), que cita Humberto Teixeira. Adorei também ver as imagens de Gal Costa nos anos 70 e ouvir um trecho de sua gravação de "Assum Preto". Dói no coração sempre que escuto essa versão, do disco A TODO VAPOR.

Dessa maneira, O HOMEM QUE ENGARRAFAVA NUVENS trafega o difícil caminho de ser ao mesmo tempo um documentário musical, histórico, investigativo e sentimental e sendo bem sucedido em todas as suas facetas. Alguns momentos até parecem pouco relevantes, mas são tão bons que seria injusto retirar, como o depoimento do homem que conserta sanfonas. A parte de Raul Seixas também pareceu um pouco deslocada do jeito que foi incluída, perto do final, mas também é de grande importância. Há uma cena que mostra Raul emendando um rock and roll e um baião sem mudar o ritmo no violão para provar a semelhança dos dois gêneros musicais. Talvez também as rápidas imagens no final de Denise em alguns filmes que fez nos anos 80 não fossem necessárias, mas como sou fã da atriz (até escrevi sobre ela uma vez para o site Mulheres do Cinema Brasileiro), não sou eu quem vai reclamar. Inclusive, adoraria ver um documentário sobre a carreira da atriz, sua infância com um pai distante e uma mãe ausente e a série de filmes picantes que realizou. E que casarão aquele onde ela morava com o pai, hein! Chamava-se Mandalay, em homenagem à mansão do filme REBECCA - A MULHER INESQUECÍVEL, de Alfred Hitchcock. Também achei muito bonito ver que ninguém arredou o pé do cinema quando os créditos subiram. Demonstra respeito e amor pelo filme e pela música.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

PREMONIÇÃO 4 (The Final Destination)























Hoje à tarde perdi um tempão tentando ver o que fazia com o blog, agora que o haloscan está expirando e foi me dado um ultimato de alguns dias para eu ficar ou não com o novo sistema de comentários. Por causa disso, venho cogitando a possibilidade de mudar de endereço, por mais doloroso que isso seja pra mim, já que estou aqui há mais de sete anos e é um endereço já bem conhecido. A outra possibilidade é assinar o tal Echo e ter menos trabalho, mesmo não estando totalmente satisfeito com os serviços deles. Isso seria menos trabalhoso, pelo menos.

Falando de coisas boas, ontem rolou um dos shows mais legais dos últimos anos aqui em Fortaleza: o da Nação Zumbi, na Praia de Iracema. Não vou dedicar um post exclusivo aqui ao show, já que não acompanhei a carreira pós-Chico Science da banda, mas sei o quanto eles são elogiados pela crítica e se mantêm firmes e fortes aos seus princípios. E têm se firmado como uma das grandes bandas do país, independente de estarem ou não na moda - os anos 2000 não foram fáceis para as bandas que trabalham com cruzamento de estilos. Ouvir "Da Lama ao Caos", entre outras, foi uma experiência maravilhosa. Voltei no tempo e me reabasteci de energia. Tenho o disco em casa, mas a gravação nem chega aos pés do que é o som ao vivo, de tão pulsante que é.

E falando novamente de coisas não muito boas, mas também não tão irritantes quanto o tópico do primeiro parágrafo, ontem fui ver PREMONIÇÃO 4 (2009), em 2D mesmo, já que 3D dublado não rola. Aliás, quando será que vai aparecer outro 3D legendado, hein? Enfim, não era também um filme que valesse tanto a pena ver em 3D. Ainda que seja melhor que a terceira parte, parece que David R. Ellis já não é mais aquele diretor ágil e meio que discípulo de Larry Cohen, na melhor tradição dos filmes B, de filmes como PREMONIÇÃO 2 (2003) e CELULAR – UM GRITO DE SOCORRO (2006).

Ainda assim, é possível se divertir com o novo filme da franquia, que a julgar pelo "The" no título original parece ser o último. Ainda que seja divertido e despretensioso, faltam ao filme cenas memoráveis. A violência gráfica do segundo filme também foi atenuada nesse novo. A cena de abertura acontece numa pista de corridas, quando o pneu de um dos carros fura e provoca um efeito dominó trágico, matando dezenas de pessoas. O fio narrativo é o mesmo dos demais. O que pode ser divertido são as situações apresentadas, das várias maneiras que a morte pode surgir. No fim da sessão, vi que muita gente saiu reclamando, mas ao mesmo tempo nota-se que deu pra se divertir com os absurdos da trama. O que não deixa de ser um ponto positivo para o filme.

David R. Ellis fez um horror B que não passou nos cinemas e que talvez seja até interessante: ASYLUM – NÃO ESTAMOS SOZINHOS (2008), lançado direto em dvd no Brasil.

terça-feira, fevereiro 16, 2010

GRADIVA (C'est Gradiva qui Vous Appelle)






















Não tinha conhecimento da obra de Alain Robbe-Grillet até vários meses após a sua morte. Além de ter baixado GRADIVA (2006), também peguei outro filme seu que talvez seja mais conhecido, LA BELLE CAPTIVE (1983), que a julgar pelo título deve mostrar também as obsessões do diretor pelo fetiche de se estar acorrentado. GRADIVA fez um "estrago" tão grande em mim que me inspirei a escrever um conto pornográfico, coisa que não fazia há vários anos.

O erotismo do filme é ligado ao sonho. E o desejo parece ainda mais forte quando está no universo onírico. Pois ele se liberta das amarras. Amarras morais e lógicas. Quando se sonha, não há necessidade de lógica, embora ainda se consiga encontrar alguma, através de ligações com o mundo "real". Como Robbe-Grillet é um intelectual moderno, as referências à arte e à filosofia pontuam o seu trabalho. O próprio nome do protagonista (John Locke) já diz isso, como também sua obsessão pelo trabalho do pintor romântico Eugène Delacroix. Incialmente, a preocupação de John Locke era com seus estudos sobre a mulher como objeto. Ele está muito bem acompanhado numa casa em estilo rústico em Marrakesh. Tem ao seu lado uma assistente que também lhe serve como amante – ou escrava do prazer, pois ela aceita se deixar amarrar na cama para satisfazer as fantasias de seu mestre a quem é devotada.

A jornada surreal de John Locke em Marrocos se dá com mais intensidade quando ele conhece um clube proibido, onde jovens são sequestradas para rituais de sadomasoquismo e tortura. E tome cenas de mulheres sendo sangradas, chicoteadas, acorrentadas. E tudo isso é estranhamente belo. O filme mostra a incrível capacidade do ser humano de ver a beleza não apenas no corpo nu feminino, mas também no sangue e nas marcas do sofrimento. Mas essa é apenas uma das discussões que o filme provoca, pois há também todo o jogo temporal envolvendo Gradiva. Passado, presente e sonhos se confundem e o melhor é mesmo se deixar levar. Até porque com um grau tão elevado de temperatura erótica, nem dá pra pensar direito. Nossos pensamentos ficam tão nublados quanto os do protagonista, que chega a tomar qualquer líquido que lhe dão, seja veneno ou remédio para dor de dente.

Pra quem ainda não sabe, Robbe-Grillet foi o roteirista de O ANO PASSADO EM MARIENBAD (1961), clássico de Alain Resnais, além de autor de vários romances. GRADIVA foi seu filme-testamento.

Para os afortunados que estarão em São Paulo, GRADIVA será exibido amanhã na Sessão Dupla do Comodoro junto com SZMANKA, de Andrzej Zulawski.

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

O MUNDO (Shijie / The World)























Ontem estava num daqueles dias em que nada me agradava. Sentindo-me como o protagonista da canção "Stay (Faraway, So Close)", do U2; ou como o John Lennon em "Yer Blues", dos Beatles. Nem o rock and roll nem o cinema me animavam. Era uma situação preocupante. Durante dois dias eu acordava à uma da tarde. E por isso resolvi me obrigar a sair ontem à noite, ainda que Zeca Baleiro esteja longe de ser um dos meus artistas favoritos. Mas a companhia dos amigos e a chuva que caiu na Praia de Iracema fizeram eu me sentir um pouco mais vivo novamente. E ainda bem que existe o dia depois do outro, trazendo a possibilidade de ver a vida por outro prisma. Mas vamos ao filme em questão, que até combina com esse estado de espírito de solidão, desamparo e desesperança.

O MUNDO (2004) é a minha segunda experiência com o cinema de Jia Zhang-ke, cineasta chinês recebido pela crítica como uma das maiores revelações dos últimos anos. Tinha visto antes apenas EM BUSCA DA VIDA (2006), se eu não me engano, o único de seus trabalhos a ser lançado comercialmente no Brasil. Lembro de quando O MUNDO passou na Mostra Internacional de São Paulo e do quanto eu fiquei curioso para vê-lo, depois de tantos comentários elogiosos dos blogueiros cinéfilos que acompanham as mostras.

Diferente de Hou Hsiao-hsien, que com apenas dois filmes já me conquistou, não sei se posso dizer o mesmo de Jia Zhang-ke. Mas não dá pra ficar indiferente a O MUNDO, até porque é um filme de uma beleza plástica especial. A impressão que temos é que se trata de um dos filmes mais caros já produzidos na China, tal a suntuosidade com que é mostrado o parque temático que reproduz alguns dos cartões-postais de várias partes do mundo, com réplicas da Torre Eiffel, da Torre de Pisa, das Torres Gêmeas (que continuam de pé no parque), da Estátua da Liberdade, do Taj Mahal. Zhang-ke mostra um mundo falso e ostentoso que esconde tanto a pobreza que ronda as demais regiões da China como os sentimentos gerados pela insegurança nos relacionamentos dos personagens.

O filme começa com Tao andando pelo camarim e gritando por um band-aid, um início que já aponta um forte simbolismo. Os dois protagonistas do filme são Tao (Tao Zhao, de EM BUSCA DA VIDA) e Taisheng (Taisheng Chen), que curiosamente ganharam o nome de seus intérpretes. Os dois levam uma vida aparentemente boa, trabalhando no parque. Mas há algo de errado na relação dos dois. E que pode levar a uma conclusão trágica. Tao diz ao namorado que o mataria se soubesse que ele a traiu. Outro personagem de grande importância para a trama, ainda que apareça pouco, é "Irmãzinha", um amigo de infância de Taisheng que chega ao parque temático de Pequim para conseguir emprego. A conclusão da história de "Irmãzinha" é uma das mais tocantes de todo o filme, até pelo recurso estilístico que Zhang-ke adota para mostrar o bilhete deixado pelo rapaz, numa das cenas mais dolorosas do filme.

E O MUNDO não seria o que é se não fosse a sofisticação da direção de câmera de Zhang-ke, da beleza das cores da fotografia, das animações que reproduzem a comunicação pelos celulares dos personagens e que servem para mostrar os seus estados de espírito, da opção pelos lentos planos-sequência com a câmera nem sempre colocada numa posição confortável para o espectador. Foi uma experiência um pouco difícil pra mim. Tanto que larguei o filme já passando da metade e resolvi ver dias depois, do começo. É o tipo de filme que necessita mais do espectador. Visto em circunstâncias não muito favoráveis pode levar à dispersão. De uma forma ou de outra, a angústia é um sentimento quase que inevitável durante a apreciação.

sábado, fevereiro 13, 2010

O LOBISOMEM (The Wolfman)























Uma coisa que eu não entendi enquanto comprava o ingresso para O LOBISOMEM (2010) foi a censura para menores de 18 anos. Não achei o filme tão violento a ponto de merecer tal classificação. Na verdade, o lobisomem rasga as pessoas e arranca fora suas cabeças e membros, mas tudo isso é mostrado de maneira que não choca. Funciona mais como entretenimento. O referencial do filme é mesmo o cinema de horror que a Universal fazia nos anos 30 e 40 e de onde veio a sua inspiração. O LOBISOMEM, de George Waggner, aliás, não é apenas inspiração, mas a espinha dorsal do novo filme, que faz algumas modificações bem vindas.

A melhor delas é a presença do investigador do caso de Jack, o Estripador, o inspetor Abberline, personagem histórico que só foi chamar a minha atenção mesmo quando li "Do Inferno", de Alan Moore e Eddie Campbell. Como resolveram ambientar a trama numa cidade próxima a Londres e no fim do século XIX, a aparição de Abberline foi uma boa sacada. Ele é interpretado por Hugo Weaving, que, a julgar pelo final, pode ser que volte numa possível continuação, caso o filme se saia bem nas bilheterias.

O filme é dirigido por Joe Johnston, cineasta por quem eu nutro simpatia desde que me deliciei com QUERIDA, ENCOLHI AS CRIANÇAS (1989) e depois com o divertido JURASSIC PARK III (2001). O seu O LOBISOMEM faz uma interessante atualização da trama do filme original, que trazia Lon Chaney Jr. como o homem mordido por um lobisomem e que passou a carregar a maldição. No novo filme, Benicio Del Toro encarna o homem amaldiçoado, que se vê apaixonado pela bela noiva do irmão assassinado pelo monstro (Emily Blunt). A presença de Anthony Hopkins ao elenco adiciona mais luxo à produção.

Seu personagem é, ao mesmo tempo, um dos mais problemáticos e um dos mais interessantes do novo filme. Ele é mais um elemento novo à trama. E se no filme dos anos 40, a relação problemática entre pai e filho não foi bem aprofundada, pode-se dizer que o novo filme aproxima um pouco mais na tentativa. O que eu senti falta foi de momentos realmente aterrorizantes e de uma atmosfera de horror mais eficiente. A impressão que fica é que houve um cuidado excessivo com a direção de arte e os efeitos especiais e um certo desleixo na parte dramática. Ainda assim, e apesar da estranha classificação que o filme recebeu, é diversão para toda a família.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

SEM SAÍDA (Eden Lake)

Nada como um bom filme de horror para relaxar e tirar um pouco o peso dos ombros. Andei vendo uns filmes muito densos ultimamente e senti que estava precisando maneirar um pouco. Já faz tempo que consegui uma cópia deste SEM SAÍDA (2008), que saiu direto em dvd no Brasil no ano passado com esse título genérico. Trata-se de um filme com uma grande carga de tensão, desses de gelar o sangue e exercitar a nossa raiva e desespero, herdeiro do horror rural americano dos anos 70, de filmes como ANIVERSÁRIO MACABRO, O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA e QUADRILHA DE SÁDICOS. Eu diria que uma dieta baseada nesse tipo de filme faria com que muitas pessoas desistissem de viajar para lugares paradisíacos ou longe das cidades. Em SEM SAÍDA, quando a gente pensa que as coisas não podem mais piorar, elas pioram.

E o inimigo do filme não é um vilão invencível como Jason Voorhes ou algum canibal. São pessoas normais, garotos malvados, desses que merecem uma bela surra dos pais. E é isso que aumenta ainda mais a sensação de impotência e raiva. Na trama, um casal de namorados vai até um belo lugar da costa britânica para aproveitar a natureza e o clima romântico. Ao chegarem na praia, porém, um grupo de garotos começa a perturbar a paz dos dois. A princípio, o sujeito reclama apenas do som alto e é hostilizado pelos pirralhos, mas isso não é nada perto do que virá.

O filme, produzido na Inglaterra, faz parte dessa safra de filmes de horror sanguinolentos que possuem um estilo de direção sofisticado, com algumas belas tomadas de cima, como se Deus estivesse presenciando tudo e não fizesse nada. É também um interessante estudo sobre a natureza da maldade, do quanto ela é forte na sociedade. Vendo o filme, ficamos com a certeza de que o mal é muito mais forte e influente que o bem. Dentro do grupo de rapazes, por exemplo, aqueles que não querem participar dos atos cruéis não conseguem ser fortes o suficiente para dizerem não ao líder do grupo, o mais sádico de todos.

A protagonista, Kelly Reilly, pode ser vista no recente SHERLOCK HOLMES, em papel menor. Se eu não me engano, ela é a namorada de Watson. Em SEM SAÍDA ela dá tudo de si num papel que exige muito da atriz. Por mais que digam por aí que horror é um gênero menor e que muito pode ser relevado no campo das interpretações, uma boa intérprete pode fazer a diferença. E Kelly dá o sangue no papel da heroína que se vê numa situação desesperadora. Quanto a Michael Fassbender, ele é um tenente britânico que se junta ao grupo dos bastardos inglórios na obra-prima de Quentin Tarantino, o que é algo que qualquer ator gostaria de ter no currículo.

Agradecimentos ao Alex pela cópia.

P.S.: Saiu o resultado final do Alfred 2010. Confiram no blog da Liga dos Blogues Cinematográficos.

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

ERVAS DANINHAS (Les Herbes Folles)


Alain Resnais é um dos poucos sobreviventes da turma que revolucionou o cinema francês nos anos 1960. Embora eu prefira Chabrol e Rivette entre os vivos (Godard é um caso à parte), Resnais tem grande e inegável importância e um séquito de seguidores fiéis que festeja a cada filme seu lançado nos cinemas. Mas tenho que confessar que achei BEIJO NA BOCA, NÃO! (2003) aborrecido e não me entusiasmei tanto assim com MEDOS PRIVADOS EM LUGARES PÚBLICOS (2006). Para completar, vou ao cinema assistir ERVAS DANINHAS (2009) na cópia adulterada digital que está circulando pelo país e sinto sono. Cochilei em vários momentos, mas foi por causa de minha crise alérgica. Mesmo assim, é o filme que eu mais gostei dentre os três, por suas ousadias formais e seu final maluco. Nem parece a obra de um senhor de 87 anos.

O filme começa com uns movimentos de câmera sinuosos e belos, como se à procura de algo e ao mesmo tempo se deliciando com o que vê. As primeiras aparições dos personagens trazem certo suspense. Marguerite, a personagem de Sabine Azéma, por exemplo, é mostrada primeiro de costas, acentuando seus cabelos vermelhos e volumosos, bem parecido com o mostrado no belo cartaz. Já Georges (André Dussollier), por exemplo, não é apresentado com tal expectativa, mas é um personagem dos mais interessantes. Ele é um senhor neurótico que tem vários problemas, mas um deles é pensar demais. E essa é uma das razões para que seu mundo interior seja um inferno.

Enfrentar a dúvida sobre fazer ou não coisas simples como ligar para uma pessoa e informar que encontrou seus documentos é para ele um suplício. Mas isso porque ele começa a fantasiar sobre a mulher, a acreditar que ela pode ser a mulher da sua vida ou algo do tipo, a fazer conjecturas sobre o que poderia acontecer. Eu, que também acabo pensando demais, fantasiando demais, e costumo hesitar se não agir logo de impulso, sei bem o que é isso e até me identifiquei um pouco com o personagem, nesse sentido. Poucas vezes esses embates interiores foram tão bem mostrados no cinema. No cinema americano, isso talvez fosse mostrado sem a voice-over, sem o fluxo de pensamentos do personagem, mas no cinema francês, que já tem essa característica mais verborrágica, é completamente compreensível que isso ocorra. E eles são muito bons nisso, no filosofar, no refletir, no teorizar. E sabemos o quanto esses pensamentos podem levar a momentos de iluminação, mas também podem levar a lugar nenhum, ao atraso na ação.

Eu, sinceramente, não saberia interpretar o filme. E provavelmente uma das intenções de Resnais é mesmo fundir a cuca do espectador. Mas mesmo que seja um trabalho de difícil compreensão na busca de seus significados, trata-se de uma obra envolvente e fora dos padrões a que estamos acostumados a ver. O que inclui ERVAS DANINHAS numa categoria especial de cinema. Pena que, como eu disse, a cópia da Rain não respeite a janela correta do filme, que era para ser em scope. E apesar de a cópia estar melhor do que a maioria, menos escura, o filme, com sua fotografia exuberante, seria certamente muito mais valorizado se exibido da maneira correta.

P.S.: Como trabalho do curso de especialização que estou fazendo, preparei uma tradução de um artigo recente publicado no New York Times. Escolhi, claro, um tema relacionado ao cinema. É um artigo sobre ILHA DO MEDO, o novo trabalho de Martin Scorsese, que eu estou disponibilizando aqui pra vocês conferirem. Eu gostei do texto original. Quanto à tradução, estou aceitando críticas construtivas, correções etc. :)

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

NOVA YORK, EU TE AMO (New York, I Love You)

Tendo a gostar de filmes-antologia, mesmo já sabendo que eles serão inevitavelmente irregulares. É praticamente impossível ser regular tendo tantos diretores diferentes juntos. O barato é mesmo perceber o estilo de cada cineasta num pedacinho de filme, que pode ser banal, insignificante ou até mesmo irritante, mas também pode ser adorável e até genial. O que eu senti falta em NOVA YORK, EU TE AMO (2009) foi da discriminação dos nomes dos diretores antes ou depois de cada curta. Depois eu vi que isso tem uma razão de ser, já que aos poucos vamos percebendo que quase todos os curtas são costurados para formarem uma espécie de filme-painel e ganharem alguma unidade.

Também senti falta de grandes nomes. Até o mais pobrinho BEM-VINDO A SÃO PAULO teve um nome de peso como Tsai Ming-Liang, por exemplo. PARIS, TE AMO teve vários. E o que NOVA YORK, EU TE AMO tem? Confesso que fui ao cinema sem me lembrar dos nomes dos envolvidos e não sabia que teria que esperar até o final, quando todos já estão se levantando das cadeiras, para saber quem dirigiu o quê. E o curioso é que um dos melhores curtas do filme é dirigido por Brett Ratner! Quem diria. É aquele do rapaz que leva uma garota de cadeira de rodas pra uma festa. A menina é adorável e a cena da árvore é a que mais fica na memória de todo o filme.

Mas o meu trecho preferido é de longe o dirigido por um cineasta desconhecido pra mim: o israelense Yvan Attal. Mas isso se deve principalmente à presença de Ethan Hawke, meio que reprisando o seu papel em ANTES DO AMANHECER e ANTES DO PÔR-DO-SOL. Ele não é um ator lá muito versátil, por isso papéis como esse funcionam como prolongações do personagem da sua vida: Jesse. No curta de NOVA YORK, EU TE AMO, ele tenta dar uma cantada numa mulher que encontra na rua (Maggie Q).

Alguns filmes seguem um andamento mais lento e ainda que não sejam tão bons se destacam visualmente. Penso no segmento de Shekhar Kapur, que tem um jogo de espelhos que embeleza a tela. Mas beleza plástica não é tudo. Interessante notar a pluralidade de culturas e de pessoas de diferentes nacionalidades que compõem o filme. Tem gente de praticamente todos os lugares do mundo. Só não lembro de ninguém do Brasil – em PARIS, TE AMO tinha o Walter Salles. E sem querer dar uma de Spike Lee, onde estão os curtas sobre os negros, que representam uma parcela tão grande e importante da cidade?

Como não vou ter tempo nem vontade de falar sobre cada curta, deixo registrado aqui os nomes dos cineastas que contribuíram para o filme: Fatih Akin, Yvan Attal, Allen Hughes, Shunji Iwai, Wen Jiang, Shekhar Kapur, Joshua Marston (que dirigiu o segmento da foto acima), Mira Nair, Natalie Portman (estreando na direção) e Brett Ratner.

E no youtube, tem o curta excluído do projeto, dirigido pela multi-talentosa e gostosa Scarlett Johansson.

domingo, fevereiro 07, 2010

O FIM DA ESCURIDÃO (Edge of Darkness)

Mel Gibson, também conhecido como "Mad Mel", por seus projetos malucos na direção e por sua vida pessoal conturbada, está de volta às telas como ator. Embora seu último trabalho creditado como ator tenha sido em CRIMES DE UM DETETIVE, de 2003, filme que quase ninguém viu, desde SINAIS (2002), de M. Night Shyamalan, que eu não o via. É muito interessante ver que até os projetos não dirigidos por ele têm um caráter autoral. Como se fossem escritos exclusivamente para ele, como se ele escolhesse os papéis. É, definitivamente, o caso de ator-autor. Martin Campbell, ainda que um artesão competente, e ele mesmo diretor da premiada série britânica que deu origem ao filme – NO LIMITE DAS TREVAS (1985) -, é Mel Gibson quem brilha em O FIM DA ESCURIDÃO (2010).

O filme tem um jeitão daqueles dramas noir violentos dos anos 40 e 50, inclusive pela utilização de uma fotografia escura. E a violência é parte importante do filme. As duas sequências mais impactantes de O FIM DA ESCURIDÃO são de uma violência brutal. No começo do filme, não sabemos muito sobre o personagem de Gibson. A princípio, ele é um pai que vem buscar a filha no aeroporto. Ela veio visitá-lo e, pela conversa no carro, durante uma chuva torrencial, sentimos que a relação dos dois não é exatamente aberta. Não leva muito tempo e já vemos que há algo de errado com a filha. Seu brutal assassinato é ainda mais rápido, mas é a base para a alma do filme, que é a busca do pai, policial de Boston, pelos sujeitos que fizeram aquilo com sua filha.

O catolicismo está presente em pequenos detalhes, como no crucifixo que o personagem de Gibson carrega no pescoço, na valorização do sangue inocente e na própria jornada de sacrifício e culpa do protagonista. Como é de costume, Campbell entrega um filme competente. Tem os seus grandes momentos, mas também momentos pouco interessantes. Mas o saldo final é positivo. Gosto de alguns coadjuvantes, como o vilão, vivido por Danny Huston, e o misterioso Jedburgh, interpretado por Ray Winstone, representante da parte britânica da produção. Gosto também do jeito violento que o policial vivido por Gibson tem de resolver as coisas, bem coerente com a carreira do ator/diretor.

Quanto a Campbell, ele será o diretor de LANTERNA VERDE, previsto para estrear nos cinemas no ano que vem. Apesar de um projeto bem mais arriscado (trata-se de um herói complicado para o cinema), acredito que o diretor mais uma vez se sairá bem.

sábado, fevereiro 06, 2010

UMA VIAGEM PESSOAL ATRAVÉS DO CINEMA AMERICANO (A Personal Journey with Martin Scorsese through American Movies)





















Já faz algumas semanas que eu tive o prazer de rever este documentário de Martin Scorsese. Tinha visto pela primeira vez quando foi exibido na televisão – acho que na extinta Rede Manchete. Era uma série de documentários sobre as cinematografias de diversos países em comemoração aos 100 anos de cinema. Apenas o cinema americano ganhou um doc tão longo. Mas, levando em consideração a grandeza do cinema produzido nos Estados Unidos, quatro horas de filme ainda é pouco. E Scorsese mostra tanto entusiasmo e amor pelos filmes que nos sentimos contagiados. Está um pouco cansado do cinema e quer revitalizar a sua fé e o seu amor? Basta rever UMA VIAGEM PESSOAL ATRAVÉS DO CINEMA AMERICANO (1995). Como ainda falta eu ver mais da metade dos filmes citados por Scorsese, vejo que ainda tenho uma longa e deliciosa jornada pela frente. Graças ao documentário, vi recentemente AURORA, de F.W. Murnau, e CIDADE TENEBROSA, de André De Toth, e baixei outros. Que infelizmente ainda não tive tempo de ver devido à vida tão cheia de trabalho e tão pouco espaço para os prazeres.

O fato de o documentário ser bem pessoal torna-o muito gostoso de ser visto. Da primeira vez que assisti, lembro que o filme que mais me deixou com muita vontade de ver foi SANGUE DE PANTERA, de Jacques Tourneur. Só pude vê-lo anos depois, quando foi lançado em dvd no Brasil. Hoje em dia, está muito mais fácil conseguir qualquer um dos filmes citados. Chamou-me a atenção a memória que Scorsese tem de quando ele tinha quatro anos de idade e foi levado para o cinema. O filme era DUELO AO SOL, de King Vidor, e ele ficou impressionado com aquilo, com aquele colorido, com a violência e a sexualidade. Nas cenas violentas, ele disse que tapava os olhos. E para que alguém lembre, de maneira tão viva, de algo que aconteceu tão cedo em sua vida, só pode mesmo ser algo extremamente marcante. Como sabemos que foi. E quem sabe não veio daí a sua obsessão pela violência?

Scorsese procura não abordar os filmes de sua geração, que tomou de assalto a velha Hollywood. Ainda assim, podemos ver uma cena de BONNIE AND CLYDE – UMA RAJADA DE BALAS, de Arthur Penn, e até mesmo um trecho de OS IMPERDOÁVEIS, de Clint Eastwood, produção dos anos 90. A exceção ao clássico de Clint se dá ao fato de que o filme representa o último suspiro dos westerns.

O interessante do documentário é que Scorsese faz questão de enfatizar as produções B, filmes que não alcançaram tanta popularidade. Não entram obras tão populares como E O VENTO LEVOU, CASABLANCA ou O MÁGICO DE OZ. Talvez também porque não sejam tão especiais para Scorsese. Mas como sempre a regra tem as suas exceções e obras como UM CORPO QUE CAI, de Alfred Hitchcock, CIDADÃO KANE, de Orson Welles, SANSÃO E DALILA e OS DEZ MANDAMENTOS, ambos de Cecil B. De Mille, 2001: UMA ODISSEIA NO ESPAÇO, de Stanley Kubrick, e RASTROS DE ÓDIO, de John Ford, são mencionadas com destaque. Mas isso porque esses filmes se encaixam na divisão que Scorsese faz entre os diretores: o contador de histórias, o ilusionista, o contrabandista e o iconoclasta. Orson Welles, com seu longa de estreia, por exemplo, seria um iconoclasta que não poderia ficar de fora. Ele atacou de frente o sistema. E pagou muito caro por isso.

Não dá pra falar de tudo o que impressiona no documentário, pois levariam muitas linhas, mas algumas cenas de filmes que eu ainda não vi me marcaram tremendamente. Caso de ALMAS EM FÚRIA, de Anthony Mann (a sequência do enforcamento é de dar um aperto no peito), A IMPERATRIZ GALANTE, de Josef Von Sternberg (um dos filmes onde o diretor paga tributo à sua estrela Marlene Dietrich), e ALMAS PERVERSAS, de Fritz Lang (a sequência do ataque com faca de Edward G. Robinson a Joan Bennet ainda tem um grau de violência impressionante, mesmo com os banhos de sangue explícitos do cinema contemporâneo). Enfim, são muitos filmes e é até uma boa deixar o livro na cabeceira para de vez em quando lembrar que tem várias obras-primas o esperando enquanto você está num programa meia-boca num cinema de shopping.

Demorei a escrever sobre o documentário, pois estava querendo terminar o livro baseado nele antes. Ainda que não acrescente nada de novo, recomendo o livro pela beleza da encadernação e das fotos (se bem que algumas poderiam ser coloridas) e pelas transcrições de diálogos.

Agradecimentos especiais a Carol Vieira.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

(500) DIAS COM ELA ((500) Days of Summer)

Todo homem já deve ter tido uma Summer na vida. Não me refiro à cerveja, mas àquela garota com quem atingimos certo grau de proximidade e intimidade, por quem nos apaixonamos, mas que nunca nos amou da mesma maneira nem quis assumir um compromisso. Isso vale também para as mulheres, claro. E numa relação de mão única sempre quem sofre mais é aquele que ama (mais).

(500) DIAS COM ELA (2009) aposta na narrativa não-linear para mostrar diferentes momentos da vida do jovem Tom (Joseph Gordon-Lewitt) desde o momento em que Summer (Zooey Deschanel) surge como um furacão. A estrutura do filme obedece à lógica de nossas memórias, que selecionam aleatoriamente momentos que julgamos especiais, sejam de prazer, sejam de dor.

O filme já começa dizendo que não é uma história de amor. Mesmo assim, muita gente sai da sessão frustrado por ter testemunhado uma situação um pouco mais realista. Summer, mesmo sem querer, despedaça o coração de Tom. E não é só porque ela é linda e charmosa. Tom, ao ser picado pelo veneno da paixão, sente tudo o que uma pessoa apaixonada sente, para o bem e para o mal. E por mais que esse sentimento já tenha sido tão explorado em livros, filmes, músicas etc. é preciso sentir na pele para entender de verdade.

(500) DIAS COM ELA mostra vários estágios de um relacionamento com começo, meio e fim. A alegria, por exemplo, de quando ele faz amor com ela pela primeira vez é tanta que o filme pega emprestado o registro musical para enfeitar ainda mais esse momento. Marc Webb, vindo dos videoclipes, dirige o seu primeiro longa-metragem. E mostra talento. Uma das sequências mais inventivas do filme é quando a tela se divide ao meio e vemos de um lado a expectativa positiva do protagonista e de outro o que realmente ocorre. E é curioso – e também doloroso – ver o quanto a realidade no final espreme e destrói a fantasia.

Webb foi recentemente escolhido para dirigir o próximo filme do Homem-Aranha. Não duvido que saia coisa boa daí.

P.S.: E hoje saíram os indicados ao Oscar 2010. Sabe que eu não gostei desse negócio de dez longas concorrendo ao prêmio principal? Diminui ainda mais a importância da indicação. E no fim das contas a gente já sabe que pelo menos cinco filmes da lista não têm a mínima chance de ganhar.