sábado, outubro 30, 2010

PIRANHA 3D / PIRANHA



O que dizer de PIRANHA 3D (2010), de Alexandre Aja? Que é bem divertido, mas que também é esquecível e raso? Posso adiantar que o 3D do filme é bem picareta. Fica claro, depois de ter visto a ótima produção RESIDENT EVIL 4: RECOMEÇO, feito com a tecnologia de James Cameron e não convertido para capitalizar nas bilheterias, como parece ser a grande maioria. Sinceramente, não lembro de nenhuma cena de destaque do tridimensional no filme. Mas também não incomoda. A opção pela diversão pura e simples ajuda a tornar o novo PIRANHA num passatempo dos mais divertidos.

O filme já começa com uma espécie de homenagem a TUBARÃO, de Steven Spielberg. Richard Dreyfuss está pescando quando, com um pequeno mas danoso ato contra a natureza, acaba trazendo de volta piranhas pré-históricas e bem violentas. A cena do redemoinho é bem interessante e uma bela maneira de abrir o filme. No PIRANHA de Aja os peixinhos feiosos não são feitos a partir de experiências científicas como no exemplar de Joe Dante, de 1978. Ele preferiu simplificar. Afinal, isso pouco importa.

O que importa é que ver PIRANHA de Aja é uma das raras oportunidades que temos de ver um autêntico “bezão” (claro que feito com milhões de dólares, mas ainda assim um “bezão”), um exploitation que não esconde o fato de que quer mostrar um monte de mulheres com os peitos de fora e dezenas de cenas de violência gráfica, graças aos efeitos de maquiagem de Gregory Nicotero e mais dezenas de profissionais encarregados dos efeitos visuais de última geração.

A trama é bem simples: jovem, sem que a mãe saiba, deixa seus dois irmãos pequenos em casa para ajudar um diretor desses programas da madrugada que tentam explorar a diversão do ponto de vista sexual, mostrando os hormônios em ebulição da juventude em festas regadas a muito álcool e sexo. No caso, o filme se passa numa colônia de férias onde jovens de várias partes dos Estados Unidos vão passar o verão. Os programas exploram a nudez das moças, fazem brincadeiras como a da camiseta molhada (participação pequena de Eli Roth). Enfim, quem já viu um desses programas exibidos na madrugada no canal E! Entertainment Television deve saber do que estou falando.

Como o tempo passa e a gente não vê, Elisabeth Shue agora é mãe do adolescente protagonista do filme e uma policial da cidade, deixando a tarefa de tirar a roupa e fazer cenas mais picantes com as mais jovens. Destaque para a cena das duas moças fazendo uma espécie de balé submarino nuas, num dos momentos mais bonitos do filme. Aliás, interessante o fato de Aja equilibrar o belo e ao mesmo tempo grotesco da sociedade americana, com a violência e as sequências de membros decepados e outros horrores efetuados pelas piranhas. Humor negro não falta, como na memorável cena do pênis. No mais, diferente de PIRANHA de Joe Dante, estamos pouco nos lixando para os personagens desse novo filme. Mas nada que estrague a diversão.

quinta-feira, outubro 28, 2010

AS CARIOCAS - A VINGATIVA DO MÉIER



Os episódios de AS CARIOCAS (2010) têm trazido belas surpresas. Não chegam a ser tão importantes assim dentro da história da televisão brasileira, mas das últimas produções televisivas da Rede Globo essa é uma das poucas que me deixou animado para assistir. Deve ser por causa do elenco de beldades, alguém diria, mas também tem a confiança que eu tenho no Daniel Filho. A VINGATIVA DO MÉIER foi outra boa surpresa. Se não tem a Alinne Morais para me deixar encantado e atrapalhar o meu senso de julgamento, o episódio tem uma agilidade e um timing que provocam bons risos.

A trama envolve Celi (Adriana Esteves), uma mulher frustrada com o marido Djalma (Aílton Graça), que só quer saber de trabalhar. Sexo que é bom, nada. Ele chega do trabalho diurno e vai logo para o seu quarto preparar próteses dentárias, seu segundo trabalho. Ela fica suspeitando que ele tem outra mulher. Para completar, a vizinha (Bárbara Paz) a deixa morrendo de inveja, fazendo sexo selvagem com o namorado no quarto ao lado, de paredes finas, enquanto ela leva as mãos à cabeça de desgosto, na cama. Completando o time no bom elenco, Agildo Ribeiro faz o papel do pai de Celi, que incentiva a filha a passar logo um par de chifres no marido. Mas a pergunta principal é: qual o segredo de Djalma?

Achava que todos os episódios seriam dirigidos por Daniel Filho, que é o diretor geral, mas a direção de A VINGATIVA DO MÉIER ficou a cargo de Chris D'Amato, assistente de direção de Daniel em SE EU FOSSE VOCÊ 2 (2009) e em CHICO XAVIER (2010). Ela se saiu muito bem e o episódio tem uma leveza que agrada. Só não tem aquele tempero erótico que ainda me faz preferir A NOIVA DO CATETE. Os créditos de encerramento de cada episódio anunciam quem será a estrela do seguinte. E na semana que vem teremos Paola Oliveira. Oba!

quarta-feira, outubro 27, 2010

HOMENS EM FÚRIA (Stone)



Não deixa de ser interessante o fato de que num filme em que Robert De Niro e Edward Norton são os protagonistas é justamente Milla Jovovich quem se destaca. E não falo isso apenas pelo fato de ela ser bonita e sensual, mas me refiro à sua interpretação mesmo. Se HOMENS EM FÚRIA (2010) é apenas mais um veículo para comprovar a decadência de De Niro em filmes dramáticos e mostrar que Norton também pode não render muito quando o filme não é tão bom, Milla nos oferece sua melhor interpretação. Ela vive a esposa de um presidiário que está prestes a conseguir a liberdade condicional, mas antes precisa passar por uma pedra em seu caminho, o oficial de condicional vivido por De Niro.

Aliás, não deixa de ser interessante o fato de o título original do filme ser "Stone" (pedra). É o nome do personagem de Norton, mas também pode ter outros significados, como o já visto acima. De Niro, pelo menos inicialmente, seria aquele oficial chato que poderia, se quisesse, impedir a tão almejada liberdade de Stone, depois de oito anos cumprindo pena. E depois que a esposa de Stone começa a provocar o velho oficial prestes a se aposentar com sua beleza e sensualidade, no fim, é ela que parece ser a pedra no caminho de Jack (De Niro).

Se o filme sofre com um ritmo que não faz jus à sua intenção de provocar tensão e suspense com a situação de Jack, é pura falta de competência do diretor John Curran, que se saiu bem melhor com o drama TENTAÇÃO (2004), que não precisou dos clichês do gênero para mexer com o espectador. HOMENS EM FÚRIA (que titulozinho horrível, naõ?), por outro lado, não consegue sair da mediocridade, com seu policial perturbado e encurralado e sua mulher fatal. Falando em mulher fatal, os fãs de Milla devem curtir as cenas de sexo e nudez da atriz, ainda que ela seja magra demais para provocar a volúpia de muito espectador. Outro problema do filme talvez esteja no fato de que, em nenhum momento, conseguimos nos identificar com o personagem de De Niro, já que ele se revela um sujeito odiável já nos instantes iniciais. Aí fica difícil torcer por ele.

terça-feira, outubro 26, 2010

IMMAGINI DI UN CONVENTO (Images in a Convent)



No começo da minha cinefilia, eu tinha por volta de 16 anos. E ficava frustrado quando passava algum filme com censura 18 anos e eu não podia assistir. Vi, por exemplo, a fila de A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO e fiquei só na vontade. Certa vez, fui com uma turma para o extinto Cine Diogo a fim de assistir o italiano nunsploitation MONJAS PECADORAS. Infelizmente, fui barrado. Não adiantou nada eu dizer que tinha 17 e ia fazer 18. Nem lembro se cheguei a ser ressarcido do valor pago. Fomos todos ver outro filme no Cine Fortaleza. Não lembro qual. Acho que foi COCOON. Pois bem. O fato é que até hoje eu não vi esse MONJAS PECADORAS, que dizem ser muito ruim. Hoje em dia, de vez em quando eu pego pela internet algum filme desse subgênereno que tanto desperta a atenção dos fetichistas de plantão. Tive a sorte de ver no ano passado, por exemplo, o belo LOVE LETTERS OF A PORTUGUESE NUN, de Jess Franco.

IMMAGINI DI UN CONVENTO (1979) é supostamente uma adaptação do clássico "A Religiosa", de Denis Diderot, como afirmam os créditos iniciais. Mas vindo de Joe D'Amato não é de se estranhar que seja pura picaretagem e o enredo tenha muito pouco a ver com a obra de origem. Tive o prazer de assistir a maravilhosa adaptação de Jacques Rivette, A RELIGIOSA, e seria covardia comparar o filme de D'Amato com a obra-prima de Rivette. Até porque são propostas totalmente distintas.

A única coisa em comum entre os dois está no fato de haver uma jovem moça que é levada contra a sua vontade para um convento. No mais, a moça não tem muito de pureza e se revela logo ousada e maquiavélica. O enredo é bem confuso e inventaram de colocar a figura do diabo no meio dos jardins do convento. Na verdade, suspeito ser uma imagem do deus chifrudo Baco. E esse tal diabo fica aparecendo no meio do convento, à medida que as "sem-vergonhices" das freiras vão aumentando. Há também uma relação de sadomasoquismo entre uma das freiras e sua superior.

O filme tem duas sequências de sexo explícito, sendo que uma delas é de estupro, quando uma das freiras sai pela floresta e é alvejada por dois homens. Outra cena XXX envolve duas freiras e um pênis de madeira. A protagonista, que faz a ousada e perversa Isabella, é a bela Paola Senatore, que participou de alguns exploitations na época (comédias eróticas, ciclo canibal, terror erótico etc.). Eram bons tempos.

segunda-feira, outubro 25, 2010

ATIVIDADE PARANORMAL 2 (Paranormal Activity 2)



Envolta em muito mistério, a continuação do sucesso lançado no ano passado estreou no Brasil (assim como em vários outros países do mundo) no mesmo dia que nos Estados Unidos. Uma forma de evitar pirataria imediata e não deixar vazar informações sobre a trama tão cedo. Assim como o primeiro filme, ATIVIDADE PARANORMAL 2 (2010) não tem créditos iniciais, já começando com os já famosos letreiros que dão aquele ar de que a coisa toda foi verídica e que chega até a enganar alguns. A utilização desse recurso de câmera na mão ou presa em lugares estratégicos é um modo de usar a suspensão da descrença por meio de um registro documental. E que já se mostrou bem eficiente em outros filmes.

A continuação veio com tanto segredo que apenas duas fotos promocionais foram mostradas. Inclusive, alguns sites colocaram fotos do primeiro ATIVIDADE PARANORMAL (2009) como se fossem do segundo. O mistério surge logo nas primeiras sequências, já que Katie, a moça parecida com a Jenna Fisher e protagonista do primeiro filme, também aparece no segundo. Ela é a irmã da nova protagonista, que conta com um marido e sua filha adolescente e mais um bebê, que tem a habilidade de ver algo que os adultos não vêem, como se pode ver na cena em que a mãe do garoto, com a câmera na mão, tenta chamar a atenção da criança e ela fica olhando para outro lugar. Há também a figura de uma empregada doméstica latina, que tem conhecimentos de ocultismo e que percebe que a casa está carregada com algum tipo de energia negativa. Mas ela é logo demitida quando o dono da casa a vê fazendo umas preces usando fumaça, uma espécie de ritual talvez de origem indígena.

Assim como no primeiro filme, é sempre o homem da casa o mais cético, enquanto as mulheres se mostram mais sensíveis a esses eventos. No caso deste segundo filme, a adolescente da casa também sente os fenômenos. Algumas sequências são mesmo de arrepiar e eu até diria que o novo filme é melhor que o primeiro, apesar de perder no quesito originalidade, repetindo o mesmo formato. A diferença agora está no fato de que há também mais câmeras pela casa. Não apenas uma no quarto e também utilizada na mão, como no primeiro filme. O formato ajuda a criar uma espécie de familiaridade com o espectador, ao mesmo tempo que as surpresas vão surgindo a partir do entrelaçamento com os eventos do primeiro filme. Há que se dar o devido crédito às mentes criativas, que fizeram mais do que uma simples continuação ou uma prequela do anterior.

ATIVIDADE PARANORMAL 2 conquistou o primeiro lugar nas bilheterias americanas no último fim de semana, sendo o filme de terror mais rentável lançado próximo ao Halloween desde O GRITO (2004), de Takashi Shimizu. O diretor, Tod Williams, é mais famoso pelo bom drama PROVOCAÇÃO (2004).

sexta-feira, outubro 22, 2010

AS CARIOCAS – A NOIVA DO CATETE



Daniel Filho é um cara que conquistou o meu respeito há poucos anos, mas com uma série como AS CARIOCAS, cheia de beldades abrilhantando cada episódio, já posso dizer que sou fã do cara. Não vi no dia da exibição, mas como o A NOIVA DO CATETE (2010) caiu na rede, é claro que eu não ia perder essa oportunidade. Até porque os brasileiros agora também estão entrando nessa de HDTV, o que é ótimo!!

AS CARIOCAS é um projeto em dez episódios independentes protagonizados por dez musas. Algumas mais, outras menos atraentes, mas todas dignas de atenção. São elas: Angélica, Sônia Braga, Adriana Esteves, Fernanda Torres, Alessandra Negrini, Paola Oliveira, Deborah Secco, Cíntia Rosa, Alinne Morais e Grazi Massafera. Algumas delas são grandes atrizes; outras são excelentes colírios para os nossos olhos. E acredito que eles acertaram em cheio em começar a série com a Alline Morais, uma das mulheres brasileiras mais lindas e sensuais da atualidade. Lembro que na última novela das oito, eu sempre dava uma olhadinha quando ela aparecia em cena.

Claro que uma bela mulher não é garantia de um belo filme, ou no caso, de um episódio independente de cerca de meia hora. Mas Daniel Filho sabe o que faz e, ainda que não esteja trazendo de volta para a televisão um pouco da "sem-vergonhice" dos anos 1980, a temperatura sobe sempre que Alline está em cena, com um dos três homens de sua vida. Principalmente, claro, quando ela está nua ou com pouca roupa. Tem um vestidinho verde, então, que é coisa de louco quando ela usa.

Ela interpreta Nádia, a mulher gostosíssima e lindíssima que adora enfeitiçar os homens e que tem um noivo paralítico (Ângelo Antônio). Que ficou assim depois de tentar defendê-la de um assalto e de ter levado um tiro. Ao mesmo tempo em que cuida do noivo, aceita as investidas de um rapaz surfista e de um coroa que a patrocina. As histórias são baseadas na série de contos de Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo de Sérgio Porto), que fizeram sucesso na década de 1960. Inclusive, "A Noiva do Catete" já teve uma versão para cinema dirigida por ninguém menos que Walter Hugo Khouri, no filme em segmentos AS CARIOCAS (1966). Na época, quem fez a protagonista foi Jacqueline Myrna. Nem lembro direito dela, mas a julgar pelo bom gosto do Khouri devia ser gatíssima.

quinta-feira, outubro 21, 2010

ETERNAMENTE SUA (Sud Sanaeha / Blissfully Yours)



E finalmente chegou o dia de eu ver um filme de Apichatpong Weerasethakul, esse cineasta tailandês de nome impronunciável para a maioria dos terrestres, mas que tem se tornado um dos mais queridos diretores da nova geração. E não foi nenhum dos mais badalados - MAL DOS TRÓPICOS (2004) ou SÍNDROMES E UM SÉCULO (2006) - que eu escolhi para ver. Foi o seu segundo longa-metragem, o romance erótico-idílico ETERNAMENTE SUA (2002). E não vou dizer que fiquei extasiado ou que me tornei um fã do homem logo de início. Talvez seja o caso de eu ainda me acostumar com o estilo do diretor ou de ver os seus filmes no cinema, onde há uma maior imersão. Inclusive, mesmo tendo visto em casa, dá para notar a importância que Joe (apelido que o diretor usa para facilitar a vida da gente) dá ao som ambiente.

Antes de mais nada, não deixa de ser um filme bem especial, bem diferente. Afinal, que diretor, num filme de duas horas de duração, só colocaria os créditos iniciais passados 45 minutos? O primeiro ato, que consiste das sequências pré-créditos, até lembra um pouco o cinema de diretores como Hou Hsiao-hsien ou Tsai Ming-Liang. Mas depois desses créditos, ao som de uma versão tailandesa de "Samba de Verão", ETERNAMENTE SUA só cresce. Vai ficando mais interessante, principalmente quando centra as atenções no casal de jovens que resolve fazer um piquenique num lugar bem reservado de uma floresta. A jovem está bem a fim do rapaz, um birmanês que se faz de mudo no começo do filme para ajudar uma senhora picareta. O local aonde eles vão fica na fronteira entre a Tailândia e a Birmânia.

O lugar é paradisíaco e a moça está querendo bem mais do que só beijinhos. Ela toma a iniciativa. Ele, só usando um calção, faz o tipo passivo da história. E como sexo é algo que acorda o espectador nas horas de sono, eu destaco os momentos de atração entre os corpos e de contemplação da natureza quase orgasmático como os melhores. Por outro lado, senti dificuldades de gostar da personagem da senhora do filme. Talvez o drama dela no final seja o de mais difícil identificação por parte do espectador. E eu ainda estou para saber o que são aqueles desenhos e caracteres estranhos que aparecem no meio das cenas, como fantasmas. Mas sei que isso não é a única coisa que deixei de apreender de ETERNAMENTE SUA.

O filme foi ganhador da mostra paralela Un Certain Regard, em Cannes. E falando no festival, fico na torcida para que o último filme do cineasta, o vencedor da Palma de Ouro UNCLE BOONMEE WHO CAN RECALL HIS PAST LIVES (2010), estreie no circuito comercial brasileiro.

terça-feira, outubro 19, 2010

CHUMBO GROSSO (Hot Fuzz)



Não sou exatamente um fã de TODO MUNDO QUASE MORTO (2004), filme que colocou Edgar Wright no panteão dos cineastas mais queridos da crítica pop. Apesar de achar o filme simpático, não achei assim tão divertido ou "genial", como alguns dizem. Tampouco fiquei impressionado com suas ousadias ao espalhar gore por todo lado. Tanto é que ainda prefiro o ZUMBILÂNDIA. Talvez seja falta de sintonia com o senso de humor do diretor. Por isso que demorei tanto para ver este CHUMBO GROSSO (2007), que estava há um tempão em cima do hack, supostamente entre as prioridades. Mas eu sempre furava a fila e colocava outro na frente, conforme me dava na telha. A forcinha pra ver o filme agora veio do que andam dizendo por aí do mais novo filme do diretor, SCOTT PILGRIM CONTRA O MUNDO (2010), previsto para estrear no Brasil ainda neste mês de outubro pela Universal. E como cheguei a ler o volume 1 dos quadrinhos lançados pela Companhia das Letras e gostei bastante, não duvido que seja o melhor trabalho de Wright. Mas falemos de CHUMBO GROSSO.

Gosto muito do começo do filme e do desenvolvimento, mas não gostei muito do final, que me pareceu tão chato quanto a grande maioria dos filmes de ação mais convencionais produzidos em Hollywood. Provavelmente por sua vontade de satirizar os americanos - BAD BOYS 2 e CAÇADORES DE EMOÇÃO são citados explicitamente por um dos personagens. O filme traz a mesma dupla de TODO MUNDO QUASE MORTO: Simon Pegg e Nick Frost. Pegg é um policial que não dá mole para os bandidos em Londres. Ele dá tudo de si pelo seu ofício e até perde a mulher por causa disso. Ele vê o seu trabalho como mais importante do que qualquer coisa. Depois de ter sido esfaqueado por um bandido vestido de Papai Noel, ele recebe a triste notícia de que será transferido para uma cidadezinha pacata do interior. Chegando lá, porém, ele vê que a tranquilidade do lugar, a princípio, se deve à falta de competência das autoridades. Menores de idade bebendo em pub é algo que ele não aceita. E antes mesmo de assumir o posto, ele já está prendendo um sujeito dirigindo embriagado, entre outros contraventores.

Lá pela metade, o filme vai ganhando ares de suspense, quando surge um assassino misterioso. Seus colegas da delegacia não acreditam que exista tal coisa, que tudo não passa de acidente. Enquanto isso, os casos vão se tornando mais e mais sinistros. Algumas coisas só são percebidas por quem entende um pouco de língua inglesa, como os sobrenomes que são quase todos nomes de ocupações ou atividades, como Porter (porteiro), Messenger (mensageiro), Butcher (açougueiro), Shooter (atirador), Merchant (comerciante), Tiller (lavrador) etc. Alguns coadjuvantes se destacam (há vários rostos conhecidos), mas sem dúvida o que mais rouba a cena é Timothy Dalton, o dono do principal supermercado da cidade e principal suspeito dos crimes.

Agradecimentos ao amigo Zezão que me emprestou o dvd e teve a paciência de esperar todo esse tempo.

segunda-feira, outubro 18, 2010

CEARÁ MUSIC 2010 – NOITE DE SÁBADO



Já fazia um tempão que eu não ia para o Ceará Music. A última vez foi em 2004. São sempre as mesmas bandas e o motivo de eu ter ido naquele ano foi justamente o show do Los Hermanos com os Paralamas. Os agora meio reclusos Hermanos foram novamente o motivo de eu ter comparecido a essa décima edição, que finalmente contou com uma atração internacional, os Black Eyed Peas. Que eu não fiz questão de ver - eles tocaram na sexta-feira. Outro motivo de eu ter ido dessa vez foi o fato de eu não ter visto em nenhum outro dia da história do festival um mix de bandas tão decente: Pitty, Los Hermanos, Natiruts, Capital Inicial e Paralamas do Sucesso e convidados. Alguns, eu gosto um pouco menos, mas respeito todos.

O festival abriu com a Pitty. Uma pena ter chegado atrasado para o seu show, que já era curto - ouvi dizer que foi apenas 50 minutos. Se bem que, no site do festival, um sujeito indignado falou que durou apenas 30 minutos!! Justo no momento em que eu estava curtindo - era a primeira vez que eu via a banda ao vivo -, ela avisa que estava terminando o show, ao som de "Me adora". O som estava tecnicamente perfeito e quando penso que anos atrás, quando ela surgiu com o hit "Máscara", eu odiava, e hoje acompanho a sua carreira e gosto de suas canções, vejo o quanto as coisas podem mudar. Gostaria de poder ver um show "de verdade" dela um dia.

Em seguida, é hora de arranjar um lugar mais pertinho para acompanhar o som da banda que marcou os anos 2000 e agora se encontra em recesso por tempo indeterminado. De vez em quando eles aparecem com shows como esse. O Los Hermanos foi a banda mais votada para o festival. Acredito que se não fosse por isso, talvez a organização do evento nem se preocupasse em trazê-los. Lembro que na primeira vez que eles vieram, ficaram no "palco nativo", o palco reservado para bandas pequenas e independentes, fazendo shows menores ainda. Foi frustrante, mas foi o primeiro contato ao vivo com a banda. Dessa vez, havia expectativa da minha parte em relação à força deles. Teria diminuído por ocasião do recesso? O público teria esfriado o fervor? Bom, se a coisa não é tão empolgante quanto nos tempos da turnê de VENTURA, ainda assim é um caso de deixar qualquer não-fã ou desconhecedor do trabalho da banda sem entender o grau de entusiasmo do povo, até numa canção arrastada como "Primeiro andar", do disco 4. Alguns momentos memoráveis do show: dobradinha que o Camelo fez com "Pois é" e "De onde vem a calma" e Amarante fez com "Sentimental" e "Último romance". Amarante também contribuiria com a única canção alegre do repertório da banda: "Deixa o verão", que é uma festa e mostra o quanto a dupla de compositores ainda se entende e se completa no palco. Outros momentos especiais: "Cara estranho" (Camelo quase falha a voz no final, pois a canção exige muito mesmo) e "Além do que se vê", que ganhou um final mais modernoso. Não rolou nenhuma do primeiro disco, mas tudo bem.

Na hora do show do Natiruts foi o momento para descansar as canelas, comer um kalzone e relaxar um pouco. Tanto o Zezão quanto a Vera estavam de total acordo com aquela pausa. Reggae não é bem a minha praia e não conheço direito o repertório da banda de Brasília, mas tenho especial carinho pela canção "Não chore meu amor", que ouvi de longe. A intenção era recarregar as baterias para o show do Capital Inicial.

A banda de Dinho e dos irmãos Fê e Flávio Lemos está em turnê de divulgação do disco novo, DAS CAPITAL. As caixas de som estouram os ouvidos da audiência ao som dos acordes iniciais de "Smells like teen spirit", do Nirvana, e eles entraram com uma faixa do álbum novo. Mas alguma coisa me incomodava: o público não pulava ensadecidamente como no show de 2004, principalmente no momento em que eles tocaram "Veraneio Vascaína". Dinho continua em sua luta em não tentar envelhecer, mesmo com os baques que a vida lhe deu recentemente, quando ele caiu do palco e teve um longo período para se recuperar. Mesmo assim, fiquei pensando: foi a idade que chegou para todos, o povo já estava cansado ou o show foi mesmo fraco? Tentativas de agradar a plateia com uma cover de "Mulher de fases", dos Raimundos", e de uma versão com arranjos bem ruins de "Que país é esse?", da Legião Urbana/Aborto Elétrico, só aumentaram em mim essa impressão. Melhor momento do show: "À sua maneira".

O cansaço batia e a vontade de ver o show dos Paralamas era apenas pelo fato de ter os tais convidados. Não lembro com que música eles abriram o show, já que o repertório da banda é vasto e são poucas as faixas que realmente me agradam, que falam algo para mim. Mesmo canções tristes, como as que eles fizeram para o álbum NOVO CAMINHO, o disco que trouxe o trio de volta após o acidente que deixou Herbert Vianna paralítico, parecem despidas de real sentimento. Bi Ribeiro estava particularmente carrancudo, com cara de poucos amigos, como se estivesse ali à força. E Herbert, sempre com aquelas palavras otimistas, soava bem pouco espontâneo. A chegada dos convidados foi totalmente sem graça. Camelo e Amarante chegam e cantam umas duas faixas, mas é como se eles não estivessem lá. A Pitty chega, mas os duetos dela com o Herbert também não animam - foi até um pouco constrangedor. Quem fez a diferença e deu um gás no show foi, curiosamente, Roberto Frejat, que fez um belo duelo de guitarras com Herbert, tocou e cantou "Exagerado", parceria dele com Cazuza e melhor momento do show. Ele ainda ajuda a compor uma versão melhorada (em comparação com a tocada pelo Capital, claro) de "Que país é esse?", com um arranjo bem mais decente, parecido com a do disco acústico dos Paralamas. Depois ainda teve Toni Garrido, mas a vontade era mesmo de ir embora.

A festa terminou pra mim com eu me perdendo dos amigos, depois de ter trocado as fichas de cerveja e levando um pacote com 12 latas, já em plena luz do dia. Tinha trocado pelo que sobrou dos vales que eles dão para quem compra pacote frontstage. Na verdade, eu tinha trocado por 13 latas, mas um bêbado me confundiu com um vendedor e eu dei a outra lata para ele, que deve ter ficado feliz da vida.

Quem quiser dar uma conferida em algumas das fotos, é só dar uma clicada aqui.

sexta-feira, outubro 15, 2010

ELES (Ils)



Na época da estreia de OS ESTRANHOS - aquele suspense com a Liv Tyler - muito se falou sobre ELES (2006), dirigido por David Moreau e Xavier Palud. Comentava-se sobre as similaridades entre os dois filmes. E realmente há, mas a produção franco-romena parece apostar mais na construção da atmosfera de terror do que na violência gráfica. OS ESTRANHOS, ainda que aposte no mistério, já mostra logo no início a presença física dos invasores, enquanto que ELES prefere enfatizar a presença quase sobrenatural do grupo.

Na trama de ELES, jovem casal vivendo pacificamente numa casa de campo é aterrorizado por pessoas que perturbam a sua paz durante a noite. No início, são apenas barulhos, alguns bem sutis, depois coisas mais agressivas, como o carro da personagem de Olivia Bonamy aparecendo afastado do lugar de origem. A partir daí, as coisas só vão piorando. Demora bastante para que os agressores sejam apresentados ao público e o filme vai criando uma interessante aura de mistério. O mérito também está na elegância das movimentações de câmera, principalmente quando ela segue Bonamy pela casa e por outros lugares escuros.

Vale lembrar que a dupla de diretores do filme já foram pegos pelos olheiros de Hollywood e dirigiram o remake do chinês THE EYE - A HERANÇA, que aqui no Brasil se chamou O OLHO DO MAL (2008), estrelado pela Jessica Alba. Não cheguei a vê-lo, mas as críticas não foram muito generosas.

A cópia que consegui pela internet veio com um making off e outros extras, que no total dão uns 45 minutos.

quinta-feira, outubro 14, 2010

FRIDAY THE 13TH: FAITH HEALER



Na peregrinação pela obra de David Cronenberg, dei de cara com este episódio da série que aqui no Brasil ganhou o título de SEXTA-FEIRA 13 - O LEGADO (1987-1990), que capitalizou em cima do sucesso dos filmes do psicopata duro de matar Jason Voorhees, mas que não tinha nenhuma relação com o universo dos filmes. Não lembro em que canal passou no Brasil, só lembro de ter visto algumas fitas vhs com alguns episódios soltos nas locadoras.

Trata-se de mais uma série fantástica no estilo de ALÉM DA IMAGINAÇÃO, que tem como único ponto comum entre os episódios uma loja de antiguidades, sendo os episódios praticamente independentes. Esperava bem mais dessa incursão de Cronenberg na série. Ainda que se possa ver alguns traços do diretor, como a transformação física, por exemplo, talvez o fato de não ter um roteiro escrito pelo próprio e de ele não ter levado muito a sério o trabalho tenham prejudicado o resultado final.

FAITH HEALER (1988) mostra um pregador de igreja que engana seus fiéis, simulando milagres. Logo no começo, um sujeito o desmascara, vendo que os olhos supostamente cegos de um homem eram lentes de contato prestes a serem retiradas pelo pastor picareta. Ele foge imediatamente e é perseguido por um punhado de doentes e velhinhas com muletas em becos escuros. Até que ele encontra no lixo uma luva branca, como aquela que o Michael Jackson usava na época, e quando tenta se defender de uma velhinha doente e cheia de feridas, ela é instantaneamente curada. O efeito colateral é que a doença passa para ele, a não ser que ele passe para outra pessoa, que morre de imediato. Não deixa de ser um argumento interessante e que poderia ter rendido bem mais, principalmente nas mãos de Cronenberg.

terça-feira, outubro 12, 2010

LILIAN M: RELATÓRIO CONFIDENCIAL



Excelente a iniciativa da Lume Filmes em lançar em dvd dentro de seu já glorioso catálogo uma série de filmes do chamado Cinema Marginal brasileiro. Os primeiros a surgirem nessa leva foram BANG BANG, de Andrea Tonacci; SEM ESSA ARANHA, de Rogerio Sganzerla; METEORANGO KID, de André Luiz de Oliveira; e HITLER DO 3º MUNDO, de José Agrippino de Paula. Até chegar a vez do tão aguardado LILIAN M: RELATÓRIO CONFIDENCIAL (1975), de Carlos Reichenbach.

Trata-se de um filme de múltiplas faces, mudando de tom à medida que a protagonista vai conhecendo outros homens. Assim, é até natural, de acordo com o gosto do freguês, gostar de determinadas partes do filme e não gostar tanto assim de outras. Eu, pelo menos, tenho como sequência favorita o momento quase bergmaniano, ou khouriano, da conversa entre Lilian (Célia Olga Benvenutti) e a personagem de Maracy Mello, vivendo a irmã do funcionário público que leva Lilian do bordel para viver em sua casa. Eu diria que se o filme todo fosse daquele jeito, estaria entre os meus favoritos de todos os tempos. Ou talvez não. Talvez ficasse muito denso e opressivo.

E é longa a trajetória de Lilian. Deixa o marido na roça, ainda com o nome de Maria, para fugir com um caixeiro viajante, que logo morre num acidente de automóvel, num dos momentos mais interessantes do filme. Duas sequências se destacam: a do carro a toda velocidade como numa comédia muda e logo depois as duas versões da morte do sujeito, mostrando que o cinema marginal buscava referências fora do Brasil, como uma revolta contra o sistema.

O filme tem várias elipses, dando grandes saltos temporais, mas sem nunca deixar o espectador perdido. Uma das formas de unir os blocos é através de uma bem sacada entrevista de Lilian para um anônimo que não aparece, mas a voz é impossível não reconhecer: a do próprio Carlão. Que, aliás, também faz a dublagem de alguns coadjuvantes do filme, como o motorista de taxi e o alemão. LILIAN M também tem várias referências a torturas no regime militar, mas essas curiosamente passaram despercebidas pela censura da época, que preferiu cortar algumas cenas de sexo bem comuns. A versão que chega em dvd é a integral. Nas entrevistas, Lilian parece uma personagem saída de um thriller de espionagem. Interessante o quanto a atriz muda de expressão entre o começo e o final do filme.

LILIAN M foi todo feito de sucata da Jota Filmes e Carlão faz as vezes de diretor, roteirista, produtor, diretor de fotografia, operador de câmera e autor da trilha sonora. O amigo Inácio Araújo é o montador. No livro "Carlos Reichenbach – O Cinema como uma Razão de Viver", Carlão confessa suas principais influências para esse filme – Valerio Zurlini, Samuel Fuller, Jean-Luc Godard, Yasuzo Masamura e principalmente Shohei Imamura, destacando os filmes MULHER INSETO e SEGREDO DE UMA ESPOSA. Os dois títulos fiicam como dicas.

Os curtas presentes nesta edição de LILIAN M: RELATÓRIO CONFIDENCIAL são:

ESTA RUA TÃO AUGUSTA (1969) – Primeira experiência na direção de Carlão, incentivado por Luis Sergio Person. Trata-se de um belo documento da época. É bem irregular, mas gostei da narração em tom oficialesco, e as figuras curiosas que Carlão destacou, como o pintor que se veste de minissaia e faz quadros que misturam figuras cristãs com o visual moderno.

SANGUE CORSÁRIO (1979) – Se Carlão não fosse um grande cineasta, esse curta seria bem teatral, pois tem uma forte ênfase nos textos, na poesia de Orlando Parolini e na conversa com o amigo executivo, que lembra o passado da contracultura, citando inúmeros poetas canonizados. Destaque para os planos com o poeta recitando sobre uma Kombi em movimento.

O M DA MINHA MÃO (1979) – Foi o que eu menos gostei dentre os curtas, mas não deixa de ser um trabalho interessante e bastante pessoal de Carlão. Trata-se de um documentário sobre um acordeonista cego, Mario Gennari, e seu repertório que remete à infância do diretor. De vez em quando, flashes de cinemas e parques de diversões decadentes de São Paulo.

A edição conta com um libreto de 16 páginas com textos sobre os filmes constantes no dvd e um outro sobre o Cinema Marginal, brilhantemente escrito por Inácio Araújo. Além disso, há uma entrevista de mais de uma hora de duração com Carlão, onde ele fala sobre todos os filmes presentes no disco, num depoimento produzido e dirigido por Eugênio Puppo.

segunda-feira, outubro 11, 2010

GENTE GRANDE (Grown Ups)



Não é a primeira vez que o diretor Dennis Dugan faz parceria com Adam Sandler. Porém, seus filmes não são tidos como os melhores da carreira do astro que ganhou fama por ter um estilo de humor bem único. O PAIZÃO (1999), EU OS DECLARO MARIDO E...LARRY (2007) e ZOHAN – O AGENTE BOM DE CORTE (2008) são os tais filmes. GENTE GRANDE (2010), a julgar pelo elenco de apoio estelar, seria um projeto mais ambicioso de Dugan e Sandler. Além de o trailer vender o filme bem, ter Sandler, Chris Rock, Rob Schneider, David Spade, Kevin James e ainda atrizes como Salma Hayek, Maria Bello e Maya Rudolph não é pra qualquer um, não.

Pena que não souberam aproveitar e o resultado, se não é um desastre completo, vai causar decepção em muita gente que espera uma comédia de rachar o bico. O máximo que o filme consegue é alguns risos tímidos, dignos de uma sessão da tarde preguiçosa. Além do mais, aqueles que se incomodam com um humor de "mau gosto" é que vão odiar mesmo. A presença de Rob Schneider já denunciava o que poderia sair dali. E Chris Rock é famoso pela "boca suja" em seus shows solo, embora no filme até esteja bem comportado. Só Sandler parece um pouco mais adepto de um humor mais inocente.

Na trama, um grupo de cinco amigos que em 1978, ainda crianças, ganharam um campeonato de basquete se reunem por ocasião do enterro do treinador deles, o homem que fez com que eles prometessem que nas suas vidas, eles fossem tão bem sucedidos quanto foram naquele jogo. E muitos se tornaram mesmo ricos, como o personagem de Sandler, que se tornou um agente em Hollywood. Os outros um pouco menos, mas ao menos nas aparências, todos parecem ter se saído bem profissionalmente.

Alguns dos melhores momentos do filme: a chegada das filhas de Rob Schneider; o uso de copos para brincar de telefone; a cara de Chris Rock ao ver o menino de quatro anos sugando os seios da mãe (Maria Bello); a roleta russa em arco e flecha; a apresentação da esposa de Schneider. Na verdade, são bem poucos os momentos bons e a maioria deles está ligada a Schneider, o dono do humor mais grosseiro da turma. O negócio é ver o filme sem muita expectativa. Tem a opção também de não ver, claro, mas quem é que segura a teimosia de gente como eu, por exemplo?

sábado, outubro 09, 2010

TROPA DE ELITE 2



Uma das experiências mais intensas e provavelmente a mais catártica deste ano de 2010 é assistir a TROPA DE ELITE 2 (2010) no cinema, de preferência com um público mais popular, que se manifesta com palmas, gritos de empolgação e coisas do tipo. O filme vai bem mais fundo dessa vez nas nossas feridas. Faz a gente repensar o Brasil corrupto. A cena de Nascimento na Câmara Legislativa do Rio de Janeiro não me sai da cabeça, nem a cena do espancamento de um político, que naturalmente foi seguida por manifestações de aplausos por parte da audiência. É mais ou menos como Tarantino fez em BASTARDOS INGLÓRIOS: buscamos, ainda que através da ficção, uma forma de nos vingarmos daqueles que ofendem os nossos direitos, que vivem uma vida de luxo com dinheiro ilícito e que têm sangue em suas mãos.

O Capitão Nascimento, tão brilhantemente representado por Wagner Moura, é mais do que um Jack Bauer nacional: é o personagem do cinema brasileiro mais cultuado dos últimos anos. Em TROPA DE ELITE 2, Nascimento, depois de quinze anos que se passaram desde os acontecimentos do primeiro filme, sobe aos escalões e agora é Subscretário da Segurança Pública do Rio. Por outro lado, a coisa não fica muito boa pro lado do Capitão André Matias (André Ramiro), depois de uma missão mal sucedida numa prisão de segurança máxima. Imagina-se que o filme poderia se tornar até um pouco chato ou paradão com o protagonista dentro de um escritório, mas não é isso o que acontece. As sequências de ação e violência são empolgantes e Nascimento encontra antagonistas à altura, como o Fraga (Iradhir Santos), um ativista dos direitos humanos que considera Nascimento um fascista – depois vemos que nosso herói tem outro motivo para não gostar do sujeito. Mas o grande vilão da história, ou pelo menos aquele que mais tem espírito de porco, está dentro da polícia.

José Padilha, assim como o já citado Tarantino, é capaz de matar até personagens queridos para dar mais realismo à trama, para tornar a experiência ainda mais impactante. Assim, cada bala dos tiroteios é perigosa e de deixar o público tenso e ao mesmo tempo entusiasmado. Afinal, não é todo dia que temos o prazer de ver um filme policial feito com tanto talento por parte de nossos realizadores. Padilha, seu montador Daniel Rezende e o roteirista Bráulio Montalvani são as grandes mentes criativas por trás deste que é desde já um dos melhores filmes do ano. Ao sair do cinema, ficamos com um misto de orgulho pelo trabalho que um dos nossos fez tão bem, mas ao mesmo tempo tristes por saber que estamos rodeados de políticos ladrões, que nós mesmos escolhemos para nos representar.

quinta-feira, outubro 07, 2010

BENEATH THE VALLEY OF THE ULTRA-VIXENS



Tenho pouco contato com a obra de Russ Meyer, mas isso não quer dizer que não tenho interesse pelos seus filmes. Afinal, sexploitations são quase sempre atraentes. Os únicos filmes de Meyer que vi foram FASTER, PUSSYCAT! KILL! KILL! (1965), talvez a sua obra-prima, e DE VOLTA AO VALE DAS BONECAS (1970), lançado no Brasil em dvd duplo pela Fox e provavelmente a sua única produção classe A. Meyer sempre foi um diretor de bordas e que deve se sentir mesmo mais à vontade em produções de baixo orçamento, como este BENEATH THE VALLEY OF THE ULTRA-VIXENS (1979), seu último trabalho, tangenciando o pornográfico. Uma evolução para um diretor que começou a carreira fazendo comédias sobre nudismo - THE IMORAL MR. TEAS (1959) - e fez um famoso mockumentary chamado MONDO TOPLESS (1966), que eu bem que gostaria de ver.

Desnecessário dizer que ele é um fã de mulheres de peitos enormes. E em BEANEATH THE VALLEY... nota-se que ele nem sempre faz questão que essas mulheres sejam bonitas, caso da mulher negra e de aspecto gigantesco, que é motivo de fuga do protagonista, sempre que ela o "convida" para entrar em seu quarto. O protagonista, no início do filme, enquanto trabalha em casa, sua mulher (Kitten Natividad) espera na cama, morrendo de tesão. Quando finalmente ele resolve fazer sexo, quer partir logo para a variedade anal. O que deixa a mulher indignada, chamando-o de pervertido. O que é uma ironia, pois, insaciável que é, ela costuma traí-lo com frequência, fazendo sexo com outros homens em barcos, carros e até em sua própria casa.

Bonita mesmo é a atendente do consultório do dentista, que é ao mesmo tempo analista, mas que não é nada disso, mas um tarado gay que dá em cima do protagonista. Na cena de sexo entre as duas mulheres é usado um daqueles pênis de borracha com duas cabeças, já visto em vários pornôs para satisfazer duas mulheres ao mesmo tempo e servir de fetiche para os tarados de plantão.

Com esse filme, que em alguns momentos até lembra desenhos animados, dado seu tom cartunesco, Meyer tira sarro, não só do american way of life, mas também da hipocrisia religiosa dos americanos, ao mostrar uma radialista evangélica peituda e com trajes transparentes, completamente tarada, dizendo mensagens de duplo sentido. E quando digo "peituda", me refiro às peitudas "originais", não às siliconadas dos dias atuais. Inclusive, existe essa tradição de os americanos gostarem de peitões, enquanto que os brasileiros preferem as mulheres de bundonas e peitos menores. Mas essa preferência hoje em dia tem mudado, tanto para americanos quanto para brasileiros, com a facilidade que se tem de se modificar o corpo através de cirurgias plásticas.

terça-feira, outubro 05, 2010

O MILAGRE DE ANNE SULLIVAN (The Miracle Worker)



O ano de 2010 está sendo cruel para o cinema. Já perdemos Eric Rohmer, Claude Chabrol, Satoshi Kon e agora Arthur Penn, falecido na última quarta-feira, dia 28, aos 88 anos. Tudo bem que ele já estava praticamente aposentado, mas a notícia da morte de um diretor importante acaba por abalar os cinéfilos. No meu caso, eu conheço muito pouco de seu trabalho. Mais conhecido como o diretor do clássico BONNIE E CLYDE - UMA RAJADA DE BALAS (1967), filme considerado divisor de águas entre a velha e a nova Hollywood, Penn não era exatamente da nova Hollywood. Antes de seu famoso filme do casal de gângsters, ele já havia ganhado reconhecimento da indústria cinematográfica com o seu segundo longa para o cinema, O MILAGRE DE ANNE SULLIVAN (1962), que deu o Oscar de melhor atriz para Anne Bancroft. A garotinha Patty Duke também ganhou prêmio da academia: melhor atriz coadjuvante.

O filme trata da difícil tarefa de Anne Sullivan (Bancrof) de fazer com que uma garota surda, muda e cega (Patty Duke) consiga aprender a se adaptar ao mundo ao seu redor. Segundo Sullivan, a menina foi prejudicada por excesso de pena por parte da família. Assim, ela não tinha nenhum senso de disciplina, como acontece com qualquer criança mimada. A tarefa de Sullivan é difícil e o filme é muito físico, ao mostrar a dura luta da professora querendo ganhar a confiança e talvez o amor da garotinha, tirando dela todos os mimos e ensinando a linguagem de surdos para comunicar coisas básicas. Há uma sequência de cerca de dez minutos só da "luta" entre as duas.

O filme teve duas refilmagens para a televisão, uma em 1979, outra em 2000, sendo que na primeira delas, foi Patty Duke quem intepretou Anne Sullivan. Anne Bancroft já havia interpretado o mesmo papel na peça teatral na qual o filme é baseado. Ao contrário de outros filmes baseados em peças, até que O MILAGRE DE ANNE SULLIVAN disfarça bem suas origens, tendo vários momentos com poucos diálogos, além de algumas sequências em exteriores. No fundo, eu fiquei um pouco desapontado, por esperar mais cargas melodramáticas, mas ainda assim o final é bem terno e bonito.

segunda-feira, outubro 04, 2010

COMER, REZAR, AMAR (Eat Pray Love)



A adaptação do best-seller homônimo de Elizabeth Gilbet acabou rendendo um filme bem água-com-açúcar nas mãos de Ryan Murphy, mais conhecido como o criador das séries NIP/TUCK (2003-2010) e GLEE (2009-2010). COMER, REZAR, AMAR (2010) é sua segunda incursão como diretor de longas para cinema e não se pode dizer que ele foi bem sucedido, ainda que o filme tenha lá os seus momentos. Curiosamente, os melhores deles são ao som de Neil Young. Duas das mais belas canções de Young comparacem: "Heart of Gold" e "Harvest Moon". São dessas canções que enchem o coração de um sentimento que não dá direito para explicar. E ouví-las no cinema é muito bom.

Como muita gente já deve saber, mesmo aqueles que não leram o livro, a trama de COMER, REZAR, AMAR lida com uma mulher (Julia Roberts) que resolve fazer uma viagem para três lugares (Itália, Índia e Bali), depois de ter se desiludido com o marido (Billy Crudup) e com o namorado (James Franco). A ideia é passar um ano viajando, a fim de encontrar um sentido para sua vida, ter um encontro consigo mesma. E ir para a Índia acabou virando moda de quem adere ao esoterismo como fuga ou simplesmente por achar chique - apesar de não ser nada chique cruzar as ruas fedorendas e ser picado por mosquitos gigantes naquele caótico país. Inclusive, os próprios indianos talvez não gostem muito da cena em que um guia avisa a Julia Roberts que na Índia não se deve fazer algo como beber um refrigerante direto da boca da garrafa.

O ponto de partida do filme não deixa de ser atraente, como é praticamente todo road movie - se é que dá para categorizar COMER, REZAR, AMAR assim. Mas é no desenvolvimento que Ryan Murphy e sua equipe se perdem, despediçando o talento de bons atores, como Richard Jenkins, que é um dos poucos que escapam ilesos. Julia Roberts apenas segue o papel mal construído para ela e não faz milagres. Mesmo caso de Javier Bardem, um dos melhores e mais versáteis atores da atualidade. No filme, ele está bem canastrão, vivendo um brasileiro com um sotaque que só engana os gringos mesmo e que esculta João Gilberto e Bebel Gilberto. Uma caricatura só. O romance entre os dois, que constitui o último ato do filme, não convence e era justamente esse momento que poderia salvar o filme, causando alguma comoção, mesmo que com clichês manjados. Mas nem isso o filme consegue.

Salvam-se as belas locações, especialmente Itália e Bali, que são cenários de cartão postal e enchem os olhos, dando uma vontade enorme de passear por aqueles lugares, de fazer uma viagem dessas. O visual é caprichado graças ao sempre ótimo trabalho do diretor de fotografia Robert Richardson (mais conhecido por seus trabalhos com Martin Scorsese e Quentin Tarantino).

sexta-feira, outubro 01, 2010

A MOSCA (The Fly)



Sei que extras são ótimos atrativos para se comprar dvds, já que há uma facilidade para se conseguir o filme por meios alternativos. Se não fosse por isso, eu mesmo não teria comprado o dvd de A MOSCA (1986). Mas alguns extras enchem o saco, falando de coisas que não me interessam muito, como detalhes mais técnicos da produção. Sabe o que eu mais senti falta no enorme documentário presente no segundo disco do dvd duplo? Da presença do próprio David Cronenberg. Apenas técnicos que participaram do filme dão as caras e comentam. Cronenberg só aparece em imagens de videotape, dirigindo os atores ou testando uma técnica para ser usada no efeito visual do Brandon Mosca andando pelas paredes. Também gostei das cenas deletadas. Há também algumas críticas da época que merecem um tempinho extra para serem lidas com calma.

O hoje clássico de David Cronenberg, provavelmente o seu filme mais famoso, perdeu um pouco do impacto que teve em sua estreia. Pelo que se conta no documentário, as exibições eram catárticas, com o público gritando e sentindo asco em diversas cenas e ao mesmo tempo gostando de ver aquilo. Afinal, A MOSCA é também uma história de amor. Lembro da primeira vez que vi o filme, numa sessão noturna na Rede Globo. Foi fantástico. Como gosto de filmes sobre doenças, encarei A MOSCA como sendo mais um deles, só que bem mais especial e diferente. Na época, nem lembro se sabia quem era David Cronenbeg. Deve ter sido o primeiro dele que eu vi.

O filme mantém a ideia fixa do diretor de lidar com transformações físicas radicais. E provavelmente A MOSCA é o que leva isso às últimas consequências. Mais do que um remake de um filme B dos anos 50 (A MOSCA DA CABEÇA BRANCA, 1958), Cronenberg pega o conto original que foi adaptado com mais fidelidade pelo diretor Kurt Neumann - e com resultados muito bons, é bom que se diga - e o transforma quase que totalmente em outra coisa. Ficou apenas a premissa básica: cientista inventa uma máquina de teletransporte e tem o seu corpo fundido com o corpo de uma mosca durante uma experiência. Tudo o mais é diferente.

O fato de Cronenberg lidar com detalhes horrendos do processo de transformação, como as unhas, os dentes e as orelhas caírem, além de toda aquela gosma que sai da boca quando Jeff Goldblum passa a se alimentar como uma mosca, tudo isso contribui para que o filme se torne bem mais do que um horror convencional. Trata-se de uma obra inédita e feita com seriedade. Havia uma preocupação de Cronenberg para que o público não achasse que os resultados do filme fossem vistos como engraçados. Por isso ele teve que pegar pesado. O diretor gosta de dizer que o seu filme seria uma espécie de horror metafísico. Disse ele em entrevista contida no livro "Cronenbeg on Cronenberg": "Me agrada fazer isso, mostrar o que o gênero pode fazer, especialmente numa época em que para a maior parte das pessoas filme de horror era SEXTA-FEIRA 13 ou HALLOWEEN."