terça-feira, novembro 26, 2002

NETTO PERDE SUA ALMA

Esse me decepcionou bastante. Estava esperando um filme vigoroso e com boas cenas de batalha. Que nada. O diretor evita mostrar cenas de batalha (só tem uma), por causa das limitações de direção e orçamento, e apresenta um filme tedioso. Achei pretensioso o uso da separação por capítulos, dos flashbacks que vêm e vai e que só servem pra esconder os defeitos do filme. Perdi a conta de quantas vezes olhei pro relógio. E percebi que na sala eu não era o único. Quanto à parte político-histórica da narrativa, achei mais interessante o drama dos negros (eternos excluídos e prejudicados) do que dos brancos separatistas. E por mais que digam que o filme não seja uma ode à separação do Rio Grande do Sul do Brasil, aquelas cenas pretensamente épicas de batalha ao som de música sacra dá a entender isso muito bem.

O VIOLINO VERMELHO (Le Violon Rouge/The Red Violin)

Filme ousado do canadense François Girard sobre um violino que passa de mão em mão desde o século XVII. O filme é falado em várias línguas (inglês, italiano, alemão, francês e até chinês). Interessante as várias histórias em torno do violino, as diferentes culturas mostradas, a maldição que o violino traz a quem o carrega. No elenco tem gente de todo o mundo. Os mais conhecidos são os americanos Samuel L. Jackson e Greta Scacchi. Filme bacana do mesmo diretor de GLENN GOULD EM 32 CURTAS. Gravado do SBT.

DUAS MULHERES (La Ciociara)

Filme emocionante de Vittorio De Sica e que deu o oscar histórico de melhor atriz para Sophia Loren nos anos 60. O filme mostra Sofia como uma viúva comerciante que vive com a filha na Roma da 2a Guerra Mundial. Por causa dos bombardeios, ela viaja com a filha para um vilarejo distante onde conhece pessoas, entre elas o personagem de Jean-Paul Belmondo, um intelectual no meio de gente simples. O filme mostra a difícil situação naquele período, com pessoas lutando pra conseguir pão e água. Porém, a cena mais forte é reservada para o final. Excelente. Gravado da Globo.
DRAGÃO VERMELHO (Red Dragon)

Sábado finalmente fui conferir DRAGÃO VERMELHO, de Brett Ratner. É a tal história: quando um monte de gente malha o filme, o que a gente vê e gosta já é lucro. Mas deixa eu contar o que houve antes da exibição do filme. Era a sessão de 18h20 e na hora que vai passar aquela propaganda de segurança contra incêndio, anterior aos traillers, falta energia. Foi um blecaute em todo o estado. E todas as salas do North Shopping ficam na mais completa escuridão. Na sala onde passava Harry Potter, a molecada gritava histérica. Gente corria de sala em sala. Um caos. Foi uma hora de espera. E eu ficava pensando se valia a pena esperar tanto. Na hora que eu já tinha decidido ir embora, chega a luz. E na tal propaganda do Grupo Severiano (que eles copiaram do UCI) dizia: "em caso de falta de energia elétrica, luzes de emergência acendem-se automaticamente". Mentira! Um monte de gente grita: "onde é que tem isso?". Propaganda enganosa.

Bom, o filme começa e eu gostei da primeira cena com o Edward Norton e o Anthony Hopkins se pegando. Bom prelúdio pro filme. O elenco é a melhor coisa, ainda que todos estejam mal aproveitados. Ralph Fiennes, o tal dragão vermelho do título, está bem, e já serve como prévia para seu papel em SPIDER, do Cronenberg. Emily Watson é que parece estar no filme errado. Hollywood está fazendo mal pra moça. (Adoro ela em ONDAS DO DESTINO, HILARY & JACKY e O PODER VAI DANÇAR).

Gostei do final com aquele gancho para O SILÊNCIO DOS INOCENTES. Tem isso na versão do Michael Mann? Porém, em se tratando de suspense, aí a coisa fica ruim. O suspense é quase inexistente. Não dá pra torcer pra ninguém. Pelo menos o filme entretém - olhei pouco para o relógio. Diferente do filme que eu iria ver no domingo: NETTO PERDE SUA ALMA. Chato perde.

segunda-feira, novembro 25, 2002

LUCIA E O SEXO (Lucía y el Sexo)



Esse ano de 2002 está uma beleza em se tratando de cinema. No sábado fui ver o sensacional LUCÍA E O SEXO, do Julio Medem e fiquei babando. Depois de ter visto FALE COM ELA, do Almodóvar, mais um filme espanhol vem causar boa impressão por aqui. Aliás, os dois filmes têm mais algo em comum: Paz Veiga é a garota do filme mudo dentro do filme do Almodóvar e Javier Cámara, o Benigno de FALE COM ELA é coadjuvante de LUCIA.... Além disso os dois filmes têm em comum o fato de serem perfeitos.

Uma das coisas legais do filme é que ele também é narrado do ponto de vista de Lorenzo, o homem que Lucía ama. Sendo assim, imagine só você estar num bar quando chega uma mulher como a Paz Veiga e diz que o ama e quer viver com você. Aí você aceita (não é tão idiota) e sai com ela, vai a uma danceteria, toma umas e depois tome sexo em casa. Uhhh!! Um sonho. Inclusive, o próprio Lorenzo em certa parte do filme fala que ele achava que mulheres como Lucía não eram pra caras como ele.

A história é bem mais complexa do que se imagina, mais personagens aparecem no decorrer do filme, flashbacks entrecortam a narrativa presente, outras possibilidades surgem no final. Nesse sentido, o filme é bastante parecido com OS AMANTES DO CÍRCULO POLAR, outra obra-prima de Medem, de 1998. Só que esse é ainda melhor. E não apenas por ter cenas de sexo, ainda que elas sejam fundamentais para o filme, mas por ser mais intenso, em todos os sentidos.

Uma cena, entre várias, me chamou a atenção: Lucía está na ilha e a câmera desce e mostra uma tomada dela com a lua ao fundo (a lua é uma constante no filme e personagem da história). Sublime.

LUCÍA E O SEXO mexe com a cabeça, com o pau, com os poros e com o coração. É um turbilhão de sentimentos e sensações que intoxica o corpo e nos faz querer estar vivos.

Quem ainda não viu, não deixe de ver por nada. A não ser que você conheça alguma Lucía pelo caminho. Aí tá perdoado.

segunda-feira, novembro 18, 2002

TRUFFAUT E ETC.

Apesar de ter sido um final de semana um pouco mais prolongado, não tive muito tempo ou disposição pra ver filmes em casa. Só no cinema. No feriado, fiz algo diferente: churrasco com cerveja, volêi na piscina e até futebol. Imagina, logo eu, tão perna de pau. Mas foi legal, diferente. O ruim é a dor de cabeça da cerveja depois, mas faz parte.

DOMICÍLIO CONJUGAL (Domicile Conjugal)

O final de semana ficou histórico no sábado pela manhã, quando fui conferir DOMICÍLIO CONJUGAL, de François Truffaut. O filme é o quarto do ciclo de filmes da saga de Antoine Doinel. Antes de entrar, dei uma lida num texto do Hugo Suckman (é esse o nome?) do jornal O Globo que gostou bastante do filme e comentou que este é considerado o mais fraco dos filmes "Antoine Doinel". Qual não é minha surpresa quando me deparo com não apenas o melhor filme do ciclo, mas o melhor do Truffaut, so far. Claro que pra mim, né? Caramba. Até então, o meu preferido era JULES ET JIM, e não OS INCOMPREENDIDOS, que também amo. Mas DOMICÍLIO CONJUGAL me fez chorar. Tá, eu sei que não é novidade eu chorar no cinema, mas dessa vez, o meu lado cerebral também está fascinado pela obra.

Em DOMICÍLIO CONJUGAL (1970), Antoine (o clone de Truffaut, Jean-Piérre Léaud) já está casado com Christine (a bela Claude Jade). Só de olhar pras pernas de Claude Jade dá uma inveja de Antoine... O começo do filme é cinema puro e o retrato do cotidiano da vizinhança remete aos filmes de Jacques Tati e a JANELA INDISCRETA, do Hitch. Truffaut parece ter um carinho imenso por todos os personagens, até os de papel pequeno. O clima inicial é de rotina, mas uma rotina gostosa, com o casal lendo livros antes de dormir, Antoine trocando de empregos (como em BEIJOS ROUBADOS), jantar com os pais de Christine etc. Por falar na cena do jantar, quem não viu BEIJOS ROUBADOS não vai poder curtir tanto a cena em que o belo casal vai buscar uma garrafa de vinho e se beijam, lembrando os tempos de namorados.

Mas todo essa rotina desaba quando Antoine conhece uma japonesa e começa a trair Christine. Aí o filme adquire outros tons, mais dramáticos. A cena que me fez verter lágrimas foi uma em que Antoine e Christine estão esperando um táxi. Não vou comentar mais sobre isso pra não estragar quem for ver o filme. (Não sei como, já que ele não está disponível em VHS/DVD no Brasil.) Mas, pôrra, quem já teve um namoro que acabou e foi doloroso vai igualmente se sentir tocado pelo filme.

E lembrei até de uma vez quando comentei na outra lista que não tinha gostado de APRILE e o Aguilar respondeu falando da paixão que tem pelo filme do Nanni Moretti, principalmente por ter sentido a mesma emoção pelo nascimento do filho. Mas o que eu não senti no filme de Moretti, eu senti com a cena do nascimento do filho de Antoine. E olha que eu nunca fui nem sei se vou ser pai um dia.

Eu teria mais um monte de coisas pra comentar sobre esse filme que faz o dia da gente valer a pena, mas vou ficar por aqui, esperando alguém se manifestar ou tomar iniciativa e ir conferir o ciclo Antoine Doinel, onde Truffaut faz mais cinema voltado para a vida. Aliás, nesse ele faz até uma auto-crítica: Christine, ao saber que Doinel está fazendo um livro de memórias, falando mal dos pais, fala que arte não é prestação de contas. Será que Truffaut acredita mesmo nisso? hehehe.

POR UM SENTIDO NA VIDA (The Good Girl)

É até covardia ver um filme que exalta a vida como DOMICÍLIO CONJUGAL e ver outro que trata de personagens miseráveis, que não tem o mínimo prazer em viver. Esse filme com a Jennifer Aniston é interessante, mas poderia ter sido um pouco mais realista. Os personagens são caricatos. Até lembra um pouco o ótimo OS EXCÊNTRICOS TENEBAUMS, do Wes Anderson, só que menos inteligente e inspirado. No filme, Aniston é uma mulher que trabalha numa loja e acha a vida um saco. O marido é John C. Reiley, pintor de paredes que gosta de fumar uns baseados depois do trabalho. As coisas mudam quando ela conhece uma cara esquisito que lê O APANHADOR NO CAMPO de centeio e toma para si o nome do protagonista do livro. Vale a conferida.

MADAME SATÃ

- E o cú? Já deu hoje?
- Não. Mas dei ontem.

Acharam de mal gosto ou engraçado esse diálogo? Ele faz parte de MADAME SATÃ, do cearense Karim Ainouz. Eu fiquei um pouco decepcionado já que esperava algo tão bom quanto CIDADE DE DEUS. No fim das contas, nem a história de João Francisco dos Santos, o cara corajoso, homossexual e negro do Rio de Janeiro dos anos 30, é tão grande assim. As apresentações dele lembram um pouco o Ney Matogrosso. Só que mais bizarro. E as cenas de sexo entre homens nem chegam perto da ousadia de A LEI DO DESEJO, do Almodóvar. Legal, por ser mais um filme de destaque na cada vez mais rica cinematografia brasileira, mas pra mim, decepcionante.

terça-feira, novembro 12, 2002

DÍVIDA DE SANGUE (Blood Work)

Clint Eastwood parece vinho bom. Quanto mais velho, melhor. Nos últimos filmes ele já estava brincando com o fato de estar velho (OS IMPERDOÁVEIS, COWBOYS DO ESPAÇO e NA LINHA DE FOGO, esse não dirigido por ele). Mas com esse ele levou a situação ainda mais longe. Ele é um detetive aposentado que sofreu um enfarte e fez transplante de coração. A irmã da moça que morreu, e de quem Clint recebeu o coração, pede a ele para voltar à ativa e pegar o safado que matou a irmã dela. É uma pena que pouca gente está indo prestigiar essa maravilha. O filme é uma delícia de assistir. É um prazer ver Clint pegando um trabuco e chutando bundas. Mesmo estando velhão. Tem uma cena belíssima que é quando a moça mexicana fala pra ele não esconder a marca da cirurgia, e os dois transam e tal. Muito bom. Só o final que eu matei (ou pelo menos suspeitei) logo na segunda vez que aparece o personagem. Ainda assim imperdível.

O ARTICULADOR (People I Know)

Se Al Pacino não está tão velho quando Clint, ele parece bem mais cansado. Mas isso é porque no filme ele é um cara que tá fudido da saúde, se enche de drogas pra dormir ou acordar. Isso porque sua profissão o escraviza. Ele é um assessor de eventos. Em sua profissão ele tem que contatar pessoas importantes para vários eventos políticos ou artísticos. Numa noite, ele conhece a personagem de Téa Leoni, uma junkie que o leva para lugares onde ricaços usam ópio. Pena que ela aparece pouco. Outra que aparece pouco é Kim Basinger, a personificação da salvação para Pacino. O final me fez lembrar a obra-prima O PAGAMENTO FINAL, do DePalma. O problema do filme é ser um pouco cansativo, mas vale a pena dar uma conferida. Principalmente por ele ser bem perturbador.

FUGA PARA A VITÓRIA (Victory / Escape to Victory)

Filme curioso de John Huston. A curiosidade vem do fato de o filme ter no elenco Pelé e Sylvester Stallone jogando futebol. Engraçado que quando eu era criança ouvia falar muito desse filme, pela turma que curtia futebol. Aí ele foi exibido em junho desse ano no canal Mundo e só agora eu vim assistir. Não é lá um grande filme (John Huston fez outros beeem melhores), mas mantém o interesse até o fim. Principalmente porque a trama envolve fuga de prisioneiros de um campo de concetração. E eu normalmente gosto de "filmes de prisão". No filme, Michael Caine é o treinador do time dos aliados que vai competir com os nazistas num jogo de futebol. Pelé está ridículo no filme. E cada vez que ele aparece e fala alguma coisa, dá vontade de rir. Heheheh.. Mas Stallone está bem. Outro destaque do filme é o final surpresa.

PALÁCIO DOS ANJOS

E finalmente o melhor filme do fim de semana: PALÁCIO DOS ANJOS (1970), do grande Walter Hugo Khouri. O Aguilar quando gravou a fita pra mim falou que considera esse o melhor filme de Khouri. Eu acho que concordo com ele, mas quando penso em NOITE VAZIA(1964) e EROS - O DEUS DO AMOR(1981), fico em dúvida. Mas esse é realmente um filme especialíssimo. Se Khouri já capricha no elenco feminino naturalmente, nesse filme, então, é uma coisa de louco. A atriz principal, linda, é a francesa Geneviève Grad. Fiquei fã dela. (Alguém sabe de algum outro filme fácil de achar em que ela participa?) Mas o elenco ainda tem as beldades Adriana Prieto e Rossana Ghessa. Elas são as amigas de Geneviéve (no filme, Bárbara), que é demitida depois de ser assediada pelo patrão e, com as amigas, começam a ganhar dinheiro fazendo "programas". Esse é o melhor filme que eu vi que trata do assunto da prostituição. Mostra desde o começo: a idéia, as dificuldades, o negócio. E tem sempre aquela coisa bem autoral do Khouri - jazz, closes olhando para o vazio indicando flashback, delicadeza em compor os personagens e diálogos e, é claro, sexo. Obra-prima. Grande Khouri. E valeu, Aguilar!!!

segunda-feira, novembro 11, 2002

O PRÍNCIPE

Começarei a comentar os filmes do fim de semana. Muita coisa boa. Pra começar, o novo filme de Ugo Giorgetti, O PRÍNCIPE. Êta filmezinho amargo. Mas como eu também aprecio uísque, apesar do amargor, porque não apreciaria esse filme?

Na história, Gustavo (Eduardo Tornaghi) é o homem que volta ao Brasil depois de um auto-exílio de 20 anos. Ao chegar, ele encontra o país em decadência e vê que o destino de seus amigos foi bem cruel. Um deles, um professor de história, ficou doido ao tentar mudar os livros de história. Ele queria uma história de glória para o Brasil, nem que fosse na base da mentira. Outro, o personagem de Ewerton de Castro, trabalha com marketing, e vê as coisas com olhos estranhamente otimistas. O pior é o amigo que está paralítico depois de um acidente. Memorável a cena em que ele olha para a pele e as "penugens" das mulheres no bar e diz que o que sente mais falta na vida dele é o pau. Pra completar, tem a personagem de Bruna Lombardi, o amor da vida de Gustavo, que diz que lamenta ter "feito tudo errado" na vida. Isso tudo contado num Brasil cheio de assaltos, crimes, miséria e em plena era do apagão.

Alguns acusaram Giorgetti de exagerar no pessimismo, mas outro dia eu me peguei vendo o mundo bem ruim. Eu fiquei sabendo que uma menina por quem eu era apaixonado aos 18 anos está agora com 3 filhos de pais diferentes. E uma das crianças é paralítica. Quando eu soube disso eu fiquei arrasado. Principalmente quando eu me lembrava da glória dos seus 15 anos, quando ela era a garota mais bela e desejada do bairro. E lembro do longo beijo em frente ao portão. E de repente, vê-la assim, tão maltratada pela vida é de doer.

=============================

Música amarga para o momento:

"You can't always get what you want
You can't always get what you want
But if you try sometimes you just might find
You just might find
You get what you need "

Rolling Stones

==============================

terça-feira, novembro 05, 2002

O final de semana foi marcante graças principalmente ao filme novo do Almodóvar, que já comentei por aqui, mas parece que ninguém viu ou teve a mesma experiência chapante que eu tive. Só sei que esse filme eclipsou outros filmes ótimos que eu também vi. Pra vocês terem uma idéia eu me peguei pensando o quanto é bom estar vivo pra ver essa obra de arte e me perguntando se no paraíso tem cinema. Heheheh.

Bom, deixando um pouco o Almodóvar de lado, mas sem esquecer tão cedo da emoção de sábado, eis os comentários dos ótimos filmes eclipsados pelo filme espanhol:

A COMILANÇA (La Grande Bouffe)

Filme de 1973 de Marco Ferreri sobre quatro caras que vão pra uma casa comer até morrer. Literalmente. Do Ferreri eu já tinha visto A CARNE, de 1991, filme que nos brinda com a voluptuosidade de Francesca Dellera. Esse, se não tem uma mulher tão bonita, tem um encontro de quatro dos maiores atores do cinema italiano e francês: Marcello Mastroianni, Michel Piccoli, Phillippe Noiret e Ugo Tognazzi. Os quatro se entregaram tão bem ao papel que emprestaram até os nomes próprios (Marcello, Michel, Phillippe e Ugo). Inclusive, até a própria atriz principal, a gordinha Andréa, também é o primeiro nome de Andréa Ferreol. O filme causou furor na época, e realmente em alguns momentos ver aquele povo empurrar comida goela abaixo é meio desagradável. Interessante que os personagens do filme são bem delineados:

- Marcello é o garanhão, o cara que não aguenta passar os dias na casa sem sexo. Por isso contratam prostitutas.
- Michel é o mais "sensível", usa camiseta colante cor-de-rosa, pratica ballet, e sofre de prisão de ventre.
- Philippe é um sujeito que tem uma relação doentia com a ama-seca. É meio estranho ver uma velha masturbando um marmanjo.
- Ugo é o cozinheiro e brincalhão. Legal vê-lo imitando Don Corleone. O PODEROSO CHEFÃO deve ter feito um sucesso enorme na Itália.
- Andrea é a professora gulosa fundamental para a história. Mais rodada do que as prostitutas. Heheheh..

Quando termina o filme, a primeira coisa que me veio à cabeça foi aquela frase de William Blake: "O caminho dos excessos leva à sabedoria."

PEQUENOS ESPIÕES 2: A ILHA DOS SONHOS PERDIDOS (Spy Kids 2: Island of Lost Dreams)

Arrisquei ver esse filme na única sala que não dizia se o filme era dublado ou legendado. Como o shopping ficava perto da locadora onde aluguei os filmes, foi lá mesmo que eu fui ver o novo filme de Robert Rodriguez. Pra minha raiva, o filme também era dublado. Grrr.. Passada a raiva, restou apenas tentar curtir o filme como se estivesse vendo uma sessão da tarde. (O que na verdade era mesmo.=) O filme é legal, a garota (Alexa Vega) está mais crescidinha. Está uma gracinha. Imagina daqui a dois anos, quando ela tiver 16. Hehehe. O filme é diversão pra criançada, mas os adultos também curtem. Vale ver e levar a molecada. Ah, e é melhor esperar até o fim dos créditos. Tem uma surpresinha.

SCARFACE - A VERGONHA DE UMA NAÇÃO (Scarface)

Já tinha visto o ótimo SCARFACE, do DePalma, de 1983. Essa primeira versão do filme (1932) talvez até seja melhor que a mais nova. Foi dirigido por Howard Hawks, sujeito que transitou com sucesso por vários gêneros: western, musical, filme de gangster, comédia. O cinema falado mal tinha começado e nota-se que naquele tempo os filmes não tinham muita música. Se eu não me engano, a partir dos anos 40 foi que os filmes noir começaram a se utilizar constantemente de trilha sonora. Corrijam-me se eu estiver errado. Enquanto estava vendo o filme, achei o personagem de Tony Camonte bem parecido com o Joey da série Friends. Tem um jeitão meio boboca. E haja tiroteio, metralhadoras detonando casas e bares. Mas o forte do filme são os personagens - Tony Camonte, a irmã, a amante, o chefe de Camonte. Teria que ver o filme do DePalma novamente pra ver até que ponto ele mudou na sua versão. Sei que ele mudou Chicago pra Miami. O resto não lembro.

O ENIGMA DE OUTRO MUNDO (The Thing)

Filmaço de John Carpenter que eu nunca tinha visto. Infelizmente vi gravado do SBT, mas no futuro verei na glória de um DVD e com som original e de qualidade. Mas deu pra perceber o brilhantismo dos efeitos especiais fora de série e da direção segura do homem. Música característica dos filmes dele. Ouvindo aquela música lembramos na hora de HALLOWEEN e de ASSAULT ON THE 13TH PRECINCT. Muito legal. Dos filmes mais importantes dele ainda falta eu ver THE FOG. Mas eu chego lá.

Na mesma fita da gravação do SBT gravei na carona dois episódios de Night Visions. Um deles, dirigido por Tobe Hopper. O episódio chama-se O LABIRINTO(The Maze) e tem a Thora Birch como uma garota arredia e que encontra um outro mundo ao atravessar um labirinto. Mas o legal mesmo foi o outro episódio - HARMONIA (Harmony), sobre um forasteiro que chega numa cidade, onde se é proibido ouvir música. Bizarro. E o final surpreendente.

No site http://www.tvtome.com/tvtome/servlet/EpisodeGuideSummary/showid-39/ tem o guia de episódios da série.

segunda-feira, novembro 04, 2002

FALE COM ELA (Hable con ella)

"El cerebro de las mujeres es um misterio, y en este estado más..."
(Benigno)

Caros amigos, como acabei de ver um dos filmes mais belos da minha história de cinéfilo, preciso compartilhar essa experiência com alguém. Antes de tudo: FALE COM ELA é o melhor filme de Pedro Almodóvar. Olha que eu já tinha babado pelos dois anteriores (CARNE TRÊMULA e TUDO SOBRE MINHA MÃE), mas esse é ainda melhor. Portanto, antes de eu falar qualquer coisa sobre o filme, sugiro vocês irem correndo conferir esse belo trabalho.

Interessante que geralmente antes de ver um filme eu leio as criticas. Às vezes, diversas críticas para um mesmo filme. Dessa vez eu só li algumas linhas de algumas delas. É até melhor mesmo você ir ver o filme sem saber de muito da história. E essa história é contada com uma delicadeza e um carinho tão grandes que a gente acompanha esse ballet com os olhos bem abertos. E em alguns momentos bem úmidos. Os personagens principais, o enfermeiro e o escritor de livros de viagem, formam uma amizade muito bonita. E filme que trata sobre a amizade e amor do jeito que FALE COM ELA trata é artigo raro.

A comparação com o ballet que eu mencionei é feita pelo próprio Almodóvar durante o filme. A primeira cena do filme se passa num teatro, durante a exibição de um espetáculo de ballet. E a última cena também. Aliás, nessa última cena, quando eu vi estampado na tela os nomes de dois personagens da história, eu pensei que o filme iria continuar, eu queria mais, eu queria compartilhar mais da vida dessas criaturas do Almodóvar, que parece que ganham vida própria. Parecem reais. E não seria uma má idéia o diretor retomar a história dos sobreviventes do filme.

E por falar em compartilhar, essa é a palavra chave do filme. Quantas vezes a gente não vê algo que nos deixa tão impressionado ou emocionado que a gente quer mostrar isso pra mais alguém? É por isso que eu estou aqui escrevendo isso pra vocês. É por isso que os personagens do filme, que pra mim são quase reais, sentem fortemente essa vontade de compartilhar os momentos mágicos com alguém que ama.

Longa vida a Pedro Almodóvar!!!!!!!!

Ah, e a cena do Caetano Veloso também é linda!!!!!