quinta-feira, abril 29, 2004

CAÇADO (The Hunted)



Quentin Tarantino disse numa entrevista à revista BRAVO que, pra ele, "as seqüências de ação são as que mais se aproximam do cinema em seu estado puro". Tarantino está promovendo uma revalorização dos filmes de ação e mostrando que eles podem ser mais do que mero entretenimento. O que William Friedkin fala durante os comentários em áudio do dvd de CAÇADO é mais ou menos parecido. Ele diz que o que é mais difícil de se fazer no cinema é filme de ação e comédia. Fazer uma seqüência de ação não é moleza. É preciso dar ritmo não apenas com a montagem, mas com a imagem em si. Se forem cenas de perseguição, então, é muito difícil. Tanto, que aqui no Brasil não temos um diretor que saiba fazer um filme de ação sem parecer amador.

William Friedkin é um dos mestres do gênero nos EUA. Em CAÇADO (2003), ele faz o terceiro de uma trilogia involuntária de filmes que tem o Tommy Lee Jones numa caçada a um fugitivo. Os outros filmes com Tommy - O FUGITIVO (1993) e US MARSHALS (1998) - também são muito bons. Nesse tipo de filme, as razões, o porquê da perseguição não é tão importante quanto a perseguição em si. Sabendo disso, Friedkin não aprofunda detalhes do passado do personagem de Benicio Del Toro. Deixa tudo no mistério.

Com os extras do dvd, a gente fica sabendo que o personagem de Tommy Lee Jones foi inspirado num sujeito que Friedkin conheceu. Assim como o personagem de Lee Jones, esse sujeito ensinava a matar, mas nunca tinha matado ninguém na vida. E esse homem foi quem deu assessoria ao diretor para elaboração de algumas cenas de luta e de alguns detalhes no comportamento dos personagens.

As melhores cenas são as externas: o encontro na floresta entre Lee Jones e Del Toro, e o clímax final, com a luta de facas. A luta de facas é crua e sangrenta, sem coreografias influenciadas pelo kung fu. (Se bem que eu prefiro a luta de facas de Uma Thurman com Vivica Fox em KILL BILL.)

Friedkin continua em ótima forma. E os dois atores principais são ótimos, ainda que estejam interpretando mais economicamente nesse filme. Destaque também para Connie Nielsen, que é bem sexy em papel de militar, como se pôde ver também em VIOLAÇÃO DE CONDUTA, do McTiernan.

O DVD do filme está muito bom, com imagem em widescreen 1.85:1, linda fotografia, comentários em áudio do diretor (legendados), mini-documentários sobre as filmagens e algumas cenas deletadas, também muito boas.

terça-feira, abril 27, 2004

BEGOTTEN



Ver BEGOTTEN (1991) não é uma tarefa das mais fáceis. Tive de ver por partes e lá pelo meio do filme já não estava entendendo bulhufas. O problema é que além de você ter que entender o simbolismo das imagens, às vezes, é preciso decifrar as próprias imagens. Como se fosse um teste de Rorschach. Isso porque o filme foi fotografado em 16 mm, em preto e branco invertido, e depois refotografado em filme negativo. O resultado é uma fotografia em preto e branco lavado, praticamente sem tons de cinza e que em alguns momentos fica a critério do espectador dizer qual é a imagem que está na tela.

O começo do filme é interessante: uma figura estranha (Figura de Deus) rasga a própria barriga entre espasmos de dor e uma tremedeira dos diabos. Depois, de dentro dele, sai uma mulher (Figura da Mãe Terra). Essa mulher começa a masturbar e a chupar o pênis do tal deus. E depois que ele goza, ela passa o esperma com suas próprias mãos dentro de si. Aí nasce um outro ser que fica se tremendo no chão o tempo todo. A partir daí eu perdi a noção do que estava acontecendo. Pelo que eu li na internet, um grupo de três canibais devoram tanto a mãe quanto o filho. Mas é preciso certa paciência para chegar até o final do filme.

O diretor é E. Elias Merhige, diretor de A SOMBRA DO VAMPIRO (2000). Entre BEGOTTEN e seu filme mais famoso ele só dirigiu um videoclipe para Marilyn Manson. Provavelmente porque depois de ver BEGOTTEN, um filme totalmente anti-comercial, ninguém nos EUA teria coragem de convidá-lo para dirigir um filme mais comercial. Mas Nicolas Cage teve e resolveu produzir um filme para Merhige dirigir. Agora ele está até fazendo um filme mais comercial. Está saindo do forno agora SUSPECT ZERO. Será que Hollywood já domesticou o homem?

BEGOTTEN é um filme que tem fãs ilustres. Além de Nicolas Cage, a escritora Susan Sontag é fã do filme. Depois de vê-lo, ela falou que se tratava de um dos filmes mais importantes da história. Pra mim, vê-lo foi uma experiência diferente e BEGOTTEN é mais um título para engrossar a minha lista de estranhos e bizarros.

Filme visto em divx.

segunda-feira, abril 26, 2004

MADRUGADA DOS MORTOS (Dawn of the Dead)



Esse final de semana foi especial pra quem gosta de cinema. Além da obra-prima de Quentin Tarantino, um puta filme de horror estreou em circuito nacional. É o melhor filme de terror que eu vi no cinema desde SINAIS, de M. Night Shyamalan (se bem que eu me lembrei agora de PREMONIÇÃO 2, que também é um filmaço). MADRUGADA DOS MORTOS, do diretor estreante em longa-metragem Zack Snyder, já conquista o respeito do espectador na seqüência inicial, em que se vê a enfermeira Sarah Polley tendo de lidar com uma desgraça: sua filha e seu marido transformados em zumbis. Em seguida, em sua fuga de carro, a câmera oferece ao espectador uma visão de cima, mostrando toda a destruição que está acontecendo na cidade - carros esbarrando, centenas de zumbis atacando as pessoas, outros recebendo tiros na cabeça, explosões. Essa seqüência é espetacular e lembra de imediato uma cena da obra-prima OS PÁSSAROS (1963), de Alfred Hithcock. Começam, a seguir, os créditos, ao som de "The Man Comes Around", maravilhosa canção apocalíptica do grande Johnny Cash. Essa foi a segunda vez que ouvi essa canção em um filme num curto espaço de tempo (a primeira vez foi em CAÇADO, de William Friedkin).

Logo quando se começou a falar desse remake do clássico de George Romero (ZOMBIE: O DESPERTAR DOS MORTOS, 1978), muito fã do filme original torceu o nariz e achou logo que iam fazer porcaria e mexer em coisa "sagrada". Mas pelo visto, esse novo filme agradou tanto que foi até selecionado para ser exibido no Festival de Cannes. Aliás, há um preconceito tão grande com filmes de terror que o crítico Luiz Carlos Merten, do Estado de São Paulo, ficou se perguntando porque escolheram um sanguinolento filme de zumbis no meio de tantos filmes de cineastas prestigiados. Parece que isso aconteceu por força do Presidente do Júri, Quentin Tarantino. Ainda bem que Tarantino existe para mostrar ao povo mais preconceituoso o valor de certos filmes mais marginais.

MADRUGADA DOS MORTOS difere do original em vários aspectos. O que há de parecido com o filme de Romero na trama - além dos zumbis, claro - é que boa parte da história se passa no interior de um shopping center. Diferente dos zumbis de Romero, esses têm movimentos rápidos, como os de EXTERMÍNIO, de Danny Boyle. São os zumbis do novo milênio, bem mais perigosos e fatais.

A atmosfera apocalíptica do filme é tão boa quanto a do original, mas assim como aconteceu com PÂNICO NA FLORESTA, o diretor optou por um ritmo alucinado de filme de ação. Também não há aqui uma metáfora da sociedade de consumo, não há crítica social, como no filme do Romero. Talvez porque nos novos tempos, acabaram-se as utopias. Talvez por isso que o final do novo filme também é diferente do original: aqui a esperança pode até nascer, mas morre em questão de segundos.

sábado, abril 24, 2004

KILL BILL – VOL. 1



Não tenho palavras pra descrever o prazer que foi ver esse novo filme de Quentin Tarantino. Posso dizer que digo que valeu a espera, mas também manifesto a minha revolta com a Lumière, com sua estratégia de lançamento ridícula. Todo o mundo já viu o filme e só agora ele estréia no Brasil.

Mas o que dizer dessa primeira parte de KILL BILL? Que é genial, emocionante, divertido e uma aula de cinema todo mundo já sabe; que a seqüência de animação da equipe de BLOOD: THE LAST VAMPIRE é um espetáculo todo mundo também já ta careca de saber; que as cenas de luta são milimetricamente planejadas e maravilhosamente coreografadas todo mundo também já sabe.

O que eu faço aqui é só engrossar a turma dos admiradores desse cara genial que é o Tarantino. Esse homem merece todo o hype em torno dele. Se bem que o filme não está tão popular aqui no Brasil não. Havia pouca gente na sala em que eu fui ver. Mas acredito que quem saiu do cinema, deve ter no mínimo saído com a certeza que viu algo único. Pode até ter alguém ridicularizando certas passagens fora da realidade. Mas isso é o filme. E é um filme que tem consciência que é filme, que nasce do amor por filmes e do conhecimento e paixão de seu diretor por filmes. É cinema que nasceu do cinema.

Adorei a divisão por capítulos. Adorei a fotografia colorida que enche os olhos. Adorei a Uma Thurman, que merece uma estátua em sua homenagem por representar tão bem o papel de uma mulher em busca de vingança. Numa entrevista que li com ela, Uma disse que uma das melhores coisas pra ela foi ter aprendido a lutar e a manejar uma espada de samurai. Isso, ninguém vai tirar dela.

Ah, a trilha sonora. Que é que isso? Que belíssima utilização da música, hein. Aqueles temas de western spaghetti deixando um clima de melancolia no ar...aquilo é puro deleite. A faixa de abertura enquanto passa os créditos – “Bang, Bang (My Baby Shot Me Down)” – já denuncia que estamos diante de uma obra-prima - difícil conter o sorriso no rosto.

KILL BILL se equipara a PULP FICTION e supera CÃES DE ALUGUEL e JACKIE BROWN. Principalmente se você levar em consideração o número de seqüências memoráveis. Quantas cenas memoráveis há em KILL BILL? Todas são. Cada uma é especial. Cada uma mereceria um comentário à parte.

Agora é procurar aprender mais com as várias referências contidas no filme e ir atrás de alguns títulos que ele homenageia. (Acho que vou ver agora um do Ringo Lam, na falta de um dos Shaw Brothers.)

KILL BILL. Melhor filme do ano.

quinta-feira, abril 22, 2004

DOMINGO SANGRENTO (Bloody Sunday)



Já faz algum tempo que eu vi esse filme. Depois que baixei da internet foi que percebi que a cópia estava numa versão dublada em português, o que diminuiu um pouco o impacto que ele deveria ter pra mim. Tanto que nem tinha muito o que falar sobre ele e estava pretendendo deixar pra comentar junto com algum outro filme histórico. (Tenho GANDHI pra ver em fita, mas só Deus sabe quando vou ter tempo de vê-lo.) Então, resolvi comentar logo, ainda que não tenha muito o que falar a respeito. Engraçado que tem filmes que são muito bons, como esse, mas que não puxam tanta discussão. Fica aquela coisa óbvia. É óbvio, por exemplo, que o que os soldados ingleses fizeram com os irlandeses durante aquela passeata foi, no mínimo, covardia.

Uma das maiores falhas de DOMINGO SANGRENTO é mostrar os soldados do exército britânico como extremamente malvados e sedentos de sangue. Dessa forma, a tentativa de mostrar os dois lados da história acaba ficando comprometida pela falta de realismo.

Mesmo assim, o filme é importante para mostrar às novas gerações essa barbaridade que aconteceu na Irlanda do Norte, e que é uma situação que não mudou muito nos dias de hoje, já que há tempos o país quer se libertar do julgo do Império Britânico e não consegue. Foi a partir desse acontecimento, em 30 de janeiro de 1972, que o IRA começou a aterrorizar com todo gás a Inglaterra. E talvez com toda a razão.

Fernando Veríssimo fez uma crítica muito boa na Contracampo, que questiona a utilização da violência como espetáculo a fim de provocar catarse e revolta. Acredito que a revolta seja despertada mais pela canção do U2, que toca quando os créditos sobem, do que pelo que o filme mostra, ainda que depois de ver o filme, a mensagem de "Sunday Bloody Sunday" fique mais clara. E foi decisão acertada terem escolhido a versão ao vivo, com o discurso político e cheio de revolta de Bono.

quarta-feira, abril 21, 2004

SOB O SOL DE TOSCANA (Under the Tuscan Sun)



Não estava nos meus planos ir ao cinema hoje. A idéia era me contentar com o DVD de CAÇADO que tinha alugado e passar o feriado em casa. O problema é que comecei a me sentir bastante inquieto e quis sair de casa. Não estava nem conseguindo me concentrar no filme do Friedkin, que, aliás, é muito bom. Tentei ligar pra Aleksandra (faz tempo que a gente não se vê), mas não consegui falar com ela em nenhum dos telefones. Aí tive a idéia de ligar para o Clauber pra gente tomar umas cervejas pra espantar o calor e botar o papo em dia, mas ele disse que tinha que ficar em casa estudando pra concurso e que cortou definitivamente as farras e bebedeiras. Tomara que ele consiga mesmo.

Antes de levar outro “fora”, ligando pra mais alguém, achei que a solução seria ver um filme no cinema, lugar perfeito para se esquecer das neuras e de mais difícil dispersão mental. Saí de casa pensando – mais uma vez - que não sou dono do meu destino coisa nenhuma: sou só uma marionete nas mãos do acaso, dos astros, dos deuses ou de outras forças superiores. De repente o verso “Fate / up against your will” da canção “The Killing Moon”, do Echo and the Bunnymen, fez todo o sentido pra mim.

No jornal O Povo de hoje saiu um texto animador sobre SOB O SOL DE TOSCANA, falando das citações a Fellini, além da capacidade de entretenimento e de encantamento que o filme provoca, mesmo se tratando de uma obra despretensiosa.

O engraçado é que o filme traz como protagonista uma mulher que se encontra sozinha e deprimida, depois de um difícil divórcio, e que se esforça para mudar o seu destino, para encontrar a alegria perdida. É quando ela ganha uma passagem aérea para um cruzeiro para Toscana, na Itália. As coisas começam a mudar na vida dela quando ela decide abandonar o ônibus da excursão e comprar uma casa caindo aos pedaços na cidade italiana.

A atriz principal é a linda Diane Lane, que já tinha me encantando com sua beleza madura em INFIDELIDADE. Uma pena ela só ter conseguido o seu pico de estrelato já com os seus quarenta anos, mas antes tarde do que nunca para Hollywood descobrir o talento e o encanto dessa mulher.

A sala do Espaço Unibanco estava lotada, acho que com 70% do público composto de mulheres, várias delas na faixa de quarenta a cinqüenta anos. Fiquei surpreso com a lotação pra um filme com tão pouco apelo comercial.

Voltando ao filme, SOB O SOL DE TOSCANA tem momentos radiantes como a cena em que Frances (Diane Lane) conhece um rapaz em Roma e eles têm um bonito affair. A cena dos dois se beijando na praia é bem bonita. Mas, diferente do que possa parecer, o filme não é bem um conto de fadas. Há lugar para o desencanto e a decepção também. A única coisa que desgostei foi do final. Achei que o diretor (ou roteirista) fez concessões que não deveria, deixando o final com cara de fim de novela das oito. Mas tudo bem. Não chega a estragar o filme todo.

terça-feira, abril 20, 2004

O RETORNO DO TALENTOSO RIPLEY (Ripley's Game)



Eu quase deixei de ver esse filme. Ainda bem que vi, porque O RETORNO DO TALENTOSO RIPLEY (2002) é bem prazeiroso. Não é perfeito, claro, mas é entretenimento de primeira, além de oferecer um colírio para os olhos, com tantas paisagens belas da Itália. Como eu não tinha gostado de O TALENTOSO RIPLEY (1999), de Anthony Minghela, saí no lucro.

Assim como O TALENTOSO RIPLEY é refilmagem de O SOL POR TESTEMUNHA (1960), de René Clément, esse novo filme é remake de O AMIGO AMERICANO (1977), de Wim Wenders, título que desde a aurora de minha cinefilia (final dos anos 80) tenho vontade de assistir e nunca consegui encontrar a fita.

A principal diferença entre o Ripley interpretado por Matt Damon e o Ripley de John Malkovich é que Malkovich mostra um personagem difícil de ser odiado, mesmo sendo desprovido de caráter, totalmente amoral e que mata pessoas a sangue frio. (No filme do Minghella, Matt Damon era repulsivo, asqueroso.) O Ripley de Malkovich está mais próximo da sofisticação de Alain Delon em O SOL POR TESTEMUNHA. Ajuda o fato de haver um momento, no filme, em que Ripley age de maneira até camarada, mostrando de certa forma, certo senso ético, alguma bondade dentro daquela alma negra.

Uma das coisas que incomodam um pouco no filme é o personagem de Dougray Scott, que é muito ingênuo e burro. Não sei se no romance de Patricia Highsmith o personagem era assim mesmo. Mas esse problema pode ser relevado diante de uma trama muito bem orquestrada. A cena do trem é muito boa. A diretora Liliana Cavani optou pelo humor negro e pouca tensão. Funcionou bem.

Fui procurar no IMDB pelos filmes com o personagem Tom Ripley e advinhem: tem um filme novo dele saindo do forno. Chama-se WHITE ON WHITE, dirigido por Roger Spottiswoode. Quem interpreta o novo Ripley é Barry Pepper. Com esse, agora são cinco os filmes com o célebre personagem.
TORRENTE (Torrente, El Brazo Tonto de La Ley)



Fazia tempo que eu não assistia um filme com tantas situações absurdas e engraçadas. TORRENTE (1998), de Santiago Segura, é um filme inacreditável.

O "herói", interpretado pelo próprio Segura, é um sujeito asqueroso, que não tem dinheiro e almoça fiado nos restaurantes e não paga, tem um velho pai aleijado em casa e bota o velho pra pedir esmola na rua pra garantir o seu sustento, e, ainda por cima, traz para o velho restos de comida do restaurante que iam para o lixo - ele diz que é pros cachorros. José Luis Torrente é um ex-policial que foi expulso da corporação e vive de extorquir pessoas, em nome da lei, de encher a cara pra ir pra "ronda" e acha que combustível para o corpo é uísque com refrigerante.

O filme é cheio de cenas engraçadas. E nem adianta eu ficar falando das cenas do filme aqui. O legal é ver mesmo. Quem viu o filme não vai esquecer do nosso herói roubando uma calcinha, levando Javier Camara para um bordel, convidando garotos para investigar um restaurante japonês, agindo de maneira "exemplar" quando um supermercado é assaltado.

O senso de humor do filme é bem politicamente incorreto e tem uma cena de tortura bem pesada pra uma comédia. É desses filmes que você pode passar em reuniões de amigos, tomando cerveja e rindo das palhaçadas.

Ah, e a seqüência em que Javier Camara fica de frente para o espelho imitando o DeNiro de TAXI DRIVER é impagável.

Dizem que a continuação - TORRENTE 2 (2001) - é ainda melhor. E vi agora no IMDB que o Santiago Segura está fazendo uma participação especial em HELLBOY, do Guilhermo Del Toro, que vai estrear nos cinemas brasileiros em maio.

Gravado da FOX.

segunda-feira, abril 19, 2004

ANJOS DA NOITE - UNDERWORLD (Underworld)



De tanto dizerem que esse filme era ruim ou péssimo, até que eu me surpreendi com as qualidades que ele têm. Tudo bem que assim que o filme começou eu fiquei logo impaciente e achando que iria odiar as próximas duas horas. Mas a partir do aparecimento do humano na trama, o filme ganha pontos com a história que vai se formando. Inclusive, até valorizei mais o filme, depois que eu percebi que o roteirista não entregou a trama de bandeja para o espectador logo de início, fazendo ele pensar um pouquinho.

A trama é sobre uma disputa entre vampiros e lobisomens pelo domínio do submundo. Essa briga começou há muito tempo e nem mesmo Selene (Kate Beckinsale) sabe como tudo começou. O interessante do filme é que ele não toma partido de nenhum dos grupos. Inicialmente, o filme enfatiza mais o grupo dos vampiros. Aliás, tem uma vampirinha loira que é gatíssima. Até me dei ao trabalho de pesquisar no IMDB o nome da moça: chama-se Sophia Myles. Ela é inglesa e esteve no elenco de DO INFERNO num papel pequeno.

Ainda sobre o elenco, gostei da performance de Bill Nighy (o cantor de SIMPLESMENTE AMOR) como o vampiro chefão. Por outro lado, a performance da Kate é bem ruim. Ela fica bem esteticamente no papel de vampira, mas cada vez que ela fala, a gente percebe o equívoco que foi terem-na convidado para o papel.

Os efeitos estão acima da média, mas está pra aparecer melhor transformação de lobisomem do que a vista em O LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES, do John Landis. Hoje em dia com essa coisa digital, tudo fica mais artificial. O filme deixa de lado um pouco algumas das características vampirescas, como o medo da cruz ou o fato de não aparecer o reflexo deles no espelho.

No final, tem um gancho até interessante para a continuação, que já está certa.

domingo, abril 18, 2004

AMOR E PAIXÃO (Capriccio)



Desde 1989, quando li na revista SET um texto de Adilson Nunes sobre a première desse filme em Paris, que eu tinha vontade de assisti-lo. (Na época, a revista era ótima, com textos de gente boa como José Geraldo Couto, Luiz Nazário, Dílson Gomes, Antonio Querino Neto, Eugenio Bucci...) Por isso, enchi o saco do Renato pra gravar pra mim o filme, que passou na MGM, em troca de uns cd´s de filmes.

Tinto Brass é o grande mestre do erotismo mundial. Ele trafega um caminho perigosíssimo entre o softcore e a pornografia. Mas faz filmes autorais, com personagens cheios de energia sexual, mulheres fogosas, adultério tratado de maneira leve. Ver os filmes de Brass é mais excitante do que ver muito filme pornô, com a vantagem de ter uma história muito bem contada.

Lembro que o primeiro filme de Brass que eu vi foi MIRANDA (1985). Aluguei a fita e botei pra rolar no videocassete da sala daqui de casa. O ruim é que, com o vídeo na sala, eu tinha sempre que interromper o filme cada vez que alguém passava. Na época, não tinha idéia de que os filmes de Brass eram tão cheios de closes da genitália feminina. Aí depois eu pude ver CALÍGULA (1979), TODAS AS MULHERES FAZEM (1992), O VOYEUR (1993), MONELLA, A TRAVESSA (1998) e A PERVERTIDA (2000). Saiu há pouco um filme mais recente do Brass em DVD, LUXÚRIA (2002), mas dizem que ele carrega bem pouco no erotismo e parece ser uma volta aos filmes que ele fazia na década de 70, menos eróticos. Nos EUA, saiu um box com três dvd´s do mestre, incluindo um que eu gostaria muito de ver: A CHAVE (1983).

CAPRICCIO (1987), quando foi resenhado pela SET nessa época recebeu o título em português de VÍCIOS E CAPRICHOS, mas acabou não sendo lançado nos cinemas, nem tendo lançamento em vídeo, no Brasil. O filme é da boa safra, com muito erotismo, mulheres gostosas, história envolvente. Conta a história do casal de americanos Fred e Jennifer (Nicola Warren), que voltam para a Itália, lugar onde se conheceram durante a 2a Guerra Mundial, para dar uma melhorada no seu relacionamento, que não anda muito bem. O problema é que tanto ele quanto ela estão pensando em rever os seus amantes italianos. Fred volta para dar umas com Rosa (Francesca Dellara), enquanto Jennifer quer mesmo é ver o cara que tirou a sua virgindade, Ciro. Francesca Dellara pode ser vista no filme A CARNE (1991), de Marco Ferreri.

Uma das melhores cenas do filme é a cena de Ciro pegando Jennifer à força e tirando sua virgindade. Quase um estupro. Tinto Brass não deixa por menos, mostrando o sangue em close na vagina da moça e a expressão de amor nos olhos dela. A câmera é bem safada e tenta, a todo momento, pegar os melhores ângulos dos corpos voluptuosos das meninas. O próprio diretor aparece de maneira surrealista numa cena de sexo entre Ciro e Jennifer, babando feito um tarado doido, olhando para o belo corpo de Nicola Warren. Outra cena famosa do filme é a cena do xixi no radiador.

Legal o final do filme, quando Jennifer usa a frase: “O amor é o encontro de duas liberdades”. Aqui não há lugar para a culpa no adultério. A culpa cristã é meio que deixada de lado e os italianos, nos filmes de Brass, revivem os seus momentos pagãos, quando os deuses eram tão tarados quanto os seres humanos.

sexta-feira, abril 16, 2004

ROMAN POLANSKI EM DOIS FILMES



Por ser um grande fã de obras-primas como O BEBÊ DE ROSEMARY (1968), CHINATOWN (1974) entre outros filmes de Polanski, incluindo os mais recentes, sempre tive vontade de conhecer os filmes que ele realizou na década de 60, antes da chegada do filho do demônio. No início do ano pude ver em dvd A DANÇA DOS VAMPIROS (1967) e agora tive a chance de ver ARMADILHA DO DESTINO(1966), em vhs, e REPULSA AO SEXO (1965), numa linda cópia em divx fornecida pelo amigão Fábio Ribeiro. Pode ser que esses filmes anteriores ao "bebê" não provoquem o mesmo impacto dos filmes subseqüentes, mas com certeza, eles trazem prazer estético para quem os assiste, com sua bela fotografia em preto e branco, enquadramentos caprichados e mulheres bonitas.

REPULSA AO SEXO (Repulsion)

Na trama, Catherine Deneuve é uma mulher que, como já diz o título, tem repulsa ao sexo oposto. Ela tem nojo dos homens e começa a apresentar um comportamento violento e psicótico que vai desencadear em morte e violência. O filme tem um andamento bem lento e vê-se que Deneuve é uma mulher de coragem para aceitar papéis como esse. Depois desse filme ela ainda faria filmes ousados com Luis Buñuel (A BELA DA TARDE e TRISTANA). Eu gosto bastante das cenas externas, com a Catherine andando na rua e a câmera de frente pra ela. O que me fascina nessas cenas é o clima sessentista no ar. Lembrei na hora de uma cena de O CORPO ARDENTE, do Khouri. O clima do filme também lembra BLOW UP, do Antonioni. A parte de terror é bem diferente. As alucinações da protagonista são, de início, rápidas. E quanto mais rápida, mas chance tem de assustar. Vendo esse filme, eu vi de quem o Aronosfy copiou para fazer as cenas de loucura em RÉQUIEM PARA UM SONHO. Para as seqüências de esfaqueamento e violência, Polanski resolveu utilizar o mesmo recurso da cena do chuveiro de PSICOSE, do Hitch. Com esse recurso, o espectador meio que se torna um participante (e vítima) do assassinato, não apenas uma testemunha.

ARMADILHA DO DESTINO (Cul-de-sac)

Nesse filme, vemos um triângulo inusitado: um homem de negócios (Donald Pleasance) que vive com uma mulher bem mais jovem que ele numa casa afastada da cidade, a mulher (a bela Françoise Dorléac, irmã mais nova de Catherine Deneuve e que aparece nua várias vezes no filme) e o intruso, um gângster que fugiu com o parceiro depois de sobreviver a um tiroteio. A presença de Françoise no filme é forte e atraente. Lembrei na hora da gostosíssima Emanuelle Seigner em LUA DE FEL (1992). Polanski deve curtir mulheres fatais e provocantes. Outra cena que me fez lembrar de uma obra recente do diretor foi a cena do gângster invadindo a casa e checando o que tinha pra se comer na cozinha. Parecido com o que Adrien Brody faz quando tem que sobreviver na Guerra em O PIANISTA (2002). Será que Polanski teve experiência em invadir cozinhas no tempo da Guerra? O final do filme é brusco e com uma montagem intrigante. Deu impressão de que foi cortada alguma cena. Será que o filme é assim mesmo ou é problema da cópia da Globo Vídeo?

quinta-feira, abril 15, 2004

VERDADES E MENTIRAS (F for Fake / Vérités et Mensonges)



Andava meio relapso com os filmes de Orson Welles. Há tempos não via nada dele. O problema é que freqüento pouco as videolocadoras. Estou com uma pilha de fitas gravadas da tv, uma outra pilha de filmes em divx, bem como alguns dvd's ainda não vistos. A minha vontade era arranjar um emprego decente (por decente, digo para ganhar pelo menos uns 1.200 por mês) de regime de 6 horas para eu ter tempo de ver os filmes que tenho vontade, ouvir os discos que eu quero, ler os livros e revistas que se acumulam sem eu ter tempo. Mas, em vez disso, estou cada vez mais sem tempo, tendo que trabalhar full time para conseguir pagar menos da metade das dívidas. Pelo menos, tenho como arranjar tempo aqui no trabalho pra escrever para o blog e para as listas, ainda que de maneira corrida, entre os afazeres da empresa e da escola.

Mas vamos a Welles. Minha relação com os filmes dele é bem variável. Vou comentar brevemente meus sentimentos e impressões com o que eu pude ver de sua filmografia.

*CIDADÃO KANE (1941), eu assisti duas vezes, mas nunca consegui ver o filme todo de uma só sentada. Acho cansativo, ainda que genial. Pretendo revê-lo nessa edição dupla em dvd um dia.
*SOBERBA (1942) é o meu preferido. E não tô nem aí se o próprio Welles quase renega o filme, dizendo que ele foi mutilado pelos produtores. O fato é que o filme desce melhor pra mim.
*A DAMA DE SHANGAI (1947) não gostei muito, achei confuso. Vi no Senses of Cinema que o filme ficou essa bagunça toda por culpa da montagem. E isso, em se tratando de filme de mistério, pode ser fatal. Mas gostaria de revê-lo um dia.
*OTHELLO (1952) é o meu segundo favorito. Na minha opinião, é simplesmente a melhor adaptação de uma peça de Shakespeare de todos os tempos. A tragédia do final do filme é avassaladora, sentimos na pele o sofrimento do mouro. É quase como se arrancassem o nosso coração.
*A MARCA DA MALDADE (1958) é sensacional. Aquele travelling no começo do filme é foda, hein.
*O PROCESSO (1962) é um dos filmes mais angustiantes que vi. Tem algo nesse clima kafkiano que me deixa perturbado. A sensação que tive vendo O PROCESSO é similar ao que senti com THE NAKED LUNCH, do Cronenberg. Uma sensação muito ruim, equivalente a uma tortura psicológica.

Com isso, chegamos a esse VERDADES E MENTIRAS (1973), o filme-ensaio de Welles, que foi lançado em dvd no Brasil numa cópia tosca pela Continental. A imagem está ruim, mas o filme é ótimo. O cara que bancou o filme, o francês François Reichenbach, deu liberdade para Welles realizar esse tratado sobre a arte da mentira, da falsificação. O próprio Welles conta no filme um pouco sobre sua famosa experiência no rádio, quando apavorou o país inteiro com a mais célebre das pegadinhas.

Mas o filme centra, principalmente, na história de Elmyr D'Hory. O cara era um falsificador de quadros de primeira linha. Ele fazia cópias tão perfeitas de quadros de pintores consagrados, que nem mesmo os experts sabiam distinguir se o quadro era falso ou não. O que ele fazia colocava em xeque a real competência dos especialistas em arte.

Agora, vejam só: fui procurar saber no IMDB se o Elmyr já tinha morrido e soube que ele foi encontrado morto em sua casa, em 1976. Aparentemente, foi suicídio por ingestão de pílulas. Mas o barato da coisa é que, na época de sua morte, estavam especulando que seu funeral era uma farsa, que ele tinha fingido sua própria morte. Que coisa, hein.

No filme, há também a história de Clifford Irving, que criou uma biografia falsa para o milionário excêntrico e produtor e diretor de Hollywood, Howard Hughes. (Bastou falar em Hughes que me deu uma vontade de saber como ficou/ficará a biografia que o Scorsese fez dele, com Leonardo DiCaprio no papel do milionário.) Uma seqüência das mais belas é aquela em que Welles, contrastando com o tom alegre do filme, faz uma triste reflexão sobre a vida. (Droga, devia ter gravado pelo menos essa cena pra mim.)

Precisaria rever o filme pra entender melhor aquela história da mulher que seduziu Picasso (me dispersei nessa hora), mas no geral, esse é um dos mais agradáveis filmes de Welles que eu tive o prazer de assistir. Fiquei querendo ver agora o TUDO É VERDADE, que mostra o homem visitando o Ceará. Recentemente Firmino Holanda, um dos mais respeitados críticos de cinema de Fortaleza, lançou o livro "Orson Welles no Ceará". Deve ser um bom título, que vai engrossar a longa lista de livros que estudam Welles.

O nosso Rogério Sganzerla ficou tão obcecado por Welles, que chegou a dirigir vários filmes em sua homenagem. NEM TUDO É VERDADE (1986), o curta A LINGUAGEM DE ORSON WELLES (1990), TUDO É BRASIL (1997) e o seu último filme O SIGNO DO CAOS (2003), todos têm ligação com Welles. Quer dizer, quando um diretor de gabarito como o Sganzerla, em vez de fazer outros trabalhos pessoais, se debruça sobre a obra de outro cineasta durante tanto tempo, é sinal de que Welles é realmente merecedor de todo esse culto.

terça-feira, abril 13, 2004

SLEEPLESS (Non ho sonno)



Assim que SLEEPLESS (2001) começou a rodar no meu dvd player, eu fiquei bem entusiasmado. No prólogo, vemos um confuso incidente que aconteceu em 1983 envolvendo um garoto, sua mãe morta e um policial (Max Von Sidow), que promete ao garoto pegar o assassino de sua mãe. Depois disso, salto para os dias atuais, onde uma prostituta, sem querer, descobre que acabara de fazer sexo com um serial killer. A sequência do trem é fantástica, com a mulher desesperada, com medo de que o assassino a encontre, correndo pelos vagões. O trem é de dar arrepios, já que é escuro e está praticamente vazio. O clima da chuva à noite remete à atmosfera de SUSPIRIA (1977). E Argento não poupa o espectador mostrando o assassino cortando com a faca os dedos da mulher.

Infelizmente, depois dessa excelente cena, o filme cai numa história ridícula difícil de engolir e, ainda por cima, tediosa. Salvam-se as cenas de assassinato (destaque para a cena em que uma mulher morre a golpes de clarinete), mas isso não chega a compensar as deficiências da trama. E olha que eu sei que roteiro não é a coisa mais importante do mundo num filme, ainda mais num horror gótico italiano ou num giallo.

O filme passou na Mostra de Cinema do Rio e foi recebido com gargalhadas de escárnio pela platéia, o que irritou bastante os fãs de Argento presentes na sessão. O Renato estava lá e testemunhou o ocorrido.

Quem gostou do filme fala que é uma volta por cima do diretor, quando ele retorna ao festejado giallo, depois do fracasso retumbante do horroroso UM VULTO NA ESCURIDÃO (1998). Tanto que ele chamou de novo o pessoal do Goblin pra fazer a trilha sonora, o que ajudou bastante o filme. O Goblin já tinha trabalhado com o Argento em PRELÚDIO PARA MATAR (1975), TENEBRE (1982) e PHENOMENA (1985). Lembro que quando vi as cenas de morte com a trilha do Goblin em PRELÚDIO PARA MATAR, tive um sentimento misto de terror e prazer, como se eu estivesse liberando o meu lado sádico.

O que diferencia os thrillers de Argento dos outros é que, nos filmes dele, sempre há um elemento sobrenatural, deixando o mistério muito mais forte. É só lembrar da cena da sessão espírita em TRAUMA (1993) e dos espelhos cobertos em PRELÚDIO PARA MATAR. (Eu, particularmente, até prefiro os filmes de horror puro do Argento, como SUSPIRIA e A MANSÃO DO INFERNO (1980), do que os filmes de assassinos.) Esse mistério que se aproxima do sobrenatural está pouco presente na atmosfera de SLEEPLESS, mas pode ser visto na possibilidade de os crimes serem cometidos pelo fantasma do anão, ainda que isso seja algo bem pouco provável.

Uma pena que o primeiro filme de Dario Argento lançado em dvd no Brasil tenha sido logo um dos mais fracos. Mas ainda bem que a edição dupla do maravilhoso SUSPIRIA está aí para contra-balançar. Vamos torcer por uma volta por cima de verdade do maestro em IL CARTAIO. E torcer também para que os clássicos de sua filmografia sejam lançados em dvd em edições de respeito.

segunda-feira, abril 12, 2004

ONDE ANDA VOCÊ



Estava sentindo falta de ver filme brasileiro no cinema. Os últimos exibidos por aqui não eram muito animadores. Os únicos nacionais que vi no cinema em 2004 foram NARRADORES DE JAVÉ e ÔNIBUS 174. E isso foi em janeiro. Aí, depois veio o Oscar e os filmes brasileiros ficaram esperando vaga nesse tão concorrido e injusto espaço no mercado.

Talvez por isso - pela falta que estava sentindo dos filmes - que curti tanto ver esse ONDE ANDA VOCÊ, do Sérgio Rezende. Depois que o diretor terminou a sua trilogia de filmes históricos, formada por LAMARCA (1994), GUERRA DE CANUDOS (1997) e MAUÁ: O IMPERADOR E O REI (1999), ele tem se voltado para filmes pequenos e mais intimistas. Mas, pelo visto, a receptividade do público e da crítica não tem sido das melhores. Não cheguei a ver QUASE NADA (2000), o filme anterior dele, mas soube que a obra foi esnobada e fizeram até trocadilho infame com o título.

ONDE ANDA VOCÊ é um filme cheio de problemas. Alguns diálogos ruins, interpretações equivocadas e situações pouco convincentes, pra dizer o mínimo. Mas o prazer que eu senti vendo esse filme supera todos os seus problemas. Boa parte desse prazer, eu sei, foi por ter visto a minha cidade, Fortaleza, na telona. Sorri ao ver a velha rodoviária, lugar onde eu costumava ir todas as sextas-feiras dar aula numa cidade do interior; ri de satisfação ao ver a Ponte dos Ingleses (ou Ponte Metálica, como é chamada aqui). Um detalhe: enquanto Fortaleza é mostrada como um lugar paradisíaco, Teresina só recebeu imagem ruim: chamaram o lugar de fim de mundo, mostraram só gente feia, lugar feio e um calor daqueles de rachar o chão.

O tom do filme é saudosista e melancólico, mas sem ter aquela amargura de O PRÍNCIPE, do Giorgetti. Nesse sentido, o filme se aproxima mais de COPACABANA, de Carla Camurati, por causa do carinho pela vida, que é sentido no ar. Há a dificuldade de se desapegar do mundo, mesmo com a morte sempre à espreita.

O personagem de Juca de Oliveira é um lutador. Ele se recusa a se entregar; quer voltar a ser um humorista popular e ter de novo a glória que teve no passado. Lembrei na hora da dupla Renato Aragão e Dedé Santana. O personagem de Juca era do tipo "escada", como o Dedé. E, no filme, ele está à procura de outro parceiro para reiniciar a sua carreira. Ele vai em busca de um tal de Boca Pura, que dizem ser um grande humorista e que mora em algum lugar do Nordeste do Brasil. É quando ele faz uma viagem à Teresina e, em seguida, Fortaleza.

Um dos destaques do filme é a presença de Regiane Alves, numa gloriosa cena de nudez nas dunas. Tem crítico por aí com viadagem, dizendo que a nudez é gratuita. E daí? Uma das razões de o cinema existir não é mostrar o belo? Logo, nada mais justo, não?

Também gostei de ver, no elenco, gente que já prestou muitos serviços ao nosso cinema e à televisão, como Paulo César Pereio, Castrinho, José Dumont, José Vasconcelos, José Wilker... Inclusive, José Wilker meio que repete um pouco o papel de Vadinho em DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS, filme que é explicitamente homenageado em ONDE ANDA VOCÊ. Outras homenagens incluem os filmes de Fellini e CIDADÃO KANE.

domingo, abril 11, 2004

FORÇA DIABÓLICA (The Tingler)



Na quinta-feira, já estava saindo da vídeo-locadora quando vejo esse DVD do mestre das picaretagens William Castle. E com o sempre elegante, e ícone maior do horror americano, Vincent Price, na capa. Não pude resistir.

FORÇA DIABÓLICA(1959) é um título nacional bem infeliz para o título original, que se refere a uma criatura que aparece na espinha das pessoas quando elas são submetidas ao pavor. O tal “tingler” só larga a espinha da pessoa, se ela gritar. Por isso que o lema do filme é “scream for your life!”.

A trama do filme é bem divertida. Price é o cientista que descobre a existência desse tal “tingler” e tem a idéia de remover o bicho da espinha de alguém. O ápice do filme é quando o bicho (mais parecido com uma lagosta) foge para dentro de uma sala de cinema. Aí a gritaria começa.

Esse filme é famoso também porque foi com esse filme que Castle inventou um dispositivo chamado “Percepto” que dá um leve choque na pessoa que está sentada no cinema. Dizem que ele instalou esse dispositivo em algumas poltronas de algumas salas nos EUA. Mas do jeito que Castle é picareta, até isso não pode passar de pura lenda. Na verdade, o cara era um marketeiro de mão cheia. E sabia fazer produções boas e baratas.

Recentemente tive o prazer de ver ALMAS MORTAS (1964), com a estrela decadente Joan Crawford matando gente a machadadas. Acabou de sair em DVD, também, outro clássico de Castle: A CASA DOS MAUS ESPÍRITOS (1959), mas infelizmente saiu pela London e os DVDs dessa companhia ainda não chegaram nas locadoras de Fortaleza.

No DVD há alguns extras interessantes. Destaque para um pequeno documentário sobre as filmagens de FORÇA DIABÓLICA e o próprio Castle tentando apavorar o público de um cinema drive in. É o seguinte: na cena do filme em que o “tingler” fica à solta, todo o cinema fica escuro. Mas como em cinema drive-in, os espectadores reagem acendendo os faróis dos carros, o diretor tinha que pedir para os motoristas desligarem.

Ah, se a nossa geração tivesse um diretor como Castle... As idas ao cinema seriam muito mais divertidas.

sábado, abril 10, 2004

LEGIÃO INVENCÍVEL (She Wore a Yellow Ribbon)



Em vez de pegar um Anthony Mann, como pretendia, acabei saindo da locadora com um John Ford. A capa do DVD da Warner está lindona, assim como a imagem do filme, em belíssimo technicolor. O filme faz parte de uma trilogia sobre a cavalaria americana que inclui FORTE APACHE (1948) e RIO GRANDE (1950).

Mas deixa eu dizer logo o que me incomodou nesse filme. Eu já sabia que os índios nesses filmes de Ford e contemporâneos são sempre tidos como uma ameaça aos brancos colonizadores. Até aí tudo bem. Nunca achei nenhum problema ver os filmes pelo ponto de vista dos brancos, que queriam se estabelecer no lugar e tinham mesmo que se defender do ataque dos índios. Mas o que eu achei covardia foi ver John Wayne liderando um grupo de homens para atacar de surpresa uma tribo indígena à noite. Engraçado que eu tinha visto em WINCHESTER 73 que os índios não costumavam atacar à noite com medo de morrer e de não ter suas almas encontradas por seus ancestrais. Isso torna a ação ainda mais covarde.

Mas é isso. É o velho oeste, onde os brancos conseguiram se livrar de milhões de índios. Um verdadeiro massacre. Aqui no Brasil também aconteceu o mesmo, mas parece que os índios americanos deram bem mais trabalho aos brancos do que os índios brasileiros. (Se bem que eu não sei muito sobre os nossos bandeirantes).

Deixando de lado essa questão, LEGIÃO INVENCÍVEL (1949) é um espetáculo de belas imagens e planos abertos. Várias tomadas foram feitas de longe, mostrando que esse filme poderia ser bem melhor apreciado se visto no cinema.

Na história, John Wayne é um oficial da cavalaria na última semana de serviço, antes de se aposentar. Ele já havia lutado na Guerra Civil contra os sulistas e é respeitado por seus subordinados e por todo o fronte. Paralelamente há a história da garota que está na flor da idade e tem de escolher entre dois rapazes. O título original se refere ao laço amarelo que ela usa como sinal de que está a fim de namorar. (Que coisa, hein.)

O filme não está entre os meus favoritos do Ford. Continuo considerando O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA (1962) e RASTROS DE ÓDIO (1956) as obras máximas de sua carreira.

Pra fechar, deixo um fato engraçado, contado no livro “Afinal, Quem Faz os Filmes”, do Bogdanovich. A história envolve o doido do Raoul Walsh, e vou transcrever aqui um depoimento dele sobre Ford:

“Certa ocasião, num jantar chique, estávamos sentados – Jack Ford, eu e mais algumas pessoas -, e ele reclamava do seu olho ruim, aquele com tapa-olho.” Disse-me Raoul Walsh, que também usava tapa-olho, mas não havia olho sob a peça. “Ah, reclamava das dores e de tudo o mais, e assim peguei um garfo e disse: ‘Bem, vamos lá, Jack, deixe-me consertar isso e arrancar esse olho para você.’ Ele me deu a olhada mais feia do mundo, mas pelo menos parou de reclamar.”

sexta-feira, abril 09, 2004

ROUBANDO VIDAS (Taking Lives)



Acabei de ver ROUBANDO VIDAS, thriller que traz Angelina Jolie como uma agente especial do FBI enviada a Montreal, Canadá, com a missão de investigar o caso de um serial killer que tem como modus operandi matar as vítimas e se apossar da identidade delas. Por isso as vítimas tinham que ser pessoas solitárias ou distanciadas da família.

O filme começa bem, com a canção “Bad”, do U2 (acabei de botá-la pra tocar agora), causando uma boa impressão inicial. E como é bom ouvir essa canção no cinema, com som dolby, hein! O início do filme é intrigante, mostrando o começo da carreira do serial killer.

O elenco de apoio do filme é bom, mas com interpretações limitadas por conta do gênero e da falta de uma maior pretensão em se criar um grande filme. Não dá pra falar muita coisa sobre os personagens de Ethan Hawke e Kiefer Sutherland sob o risco de estragar as surpresas que o filme reserva. Olivier Martinez continua um canastrão de primeira linha e Tchéky Karyo faz o mesmo personagem de vários de seus outros filmes, sempre como coadjuvante. Ah, e tem a Gena Rowlands no filme também, em papel pequeno e bem abaixo do seu potencial dramático.

Sobre as cenas de suspense e os tradicionais sustos, não há muito do reclamar: tem, inclusive, uma cena que faz todo mundo pular da cadeira. Há várias reviravoltas, mas isso já não é novidade nos atuais filmes de suspense. O filme de serial killer está ficando um pouco repetitivo, não tem mais aquele frescor de PSICOSE. Mas isso é normal.

ROUBANDO VIDAS é filhote de SEVEN, com fotografia estilizada, agentes federais inteligentes e assassinos psicologicamente perturbados, mas sempre agindo com segurança. Apesar de todos os clichês, eu gostei, especialmente dos closes nos olhos de Angelina em cinemascope. O filme valoriza mais os seus olhos do que sua boca exótica. E para os tarados de plantão, há sim uma cena, ainda que discreta, de sexo com a Angelina.

terça-feira, abril 06, 2004

WINCHESTER 73 (Winchester '73)



Como é prazeiroso ver esses westerns de Anthony Mann. Talvez mais até do que ver os westerns de Ford ou de Sturges. Mas deixando de lado essa coisa de quem é o mais fodão do gênero, todos esses diretores extraordinários merecem crédito pela sua grande contribuição à criação da mitologia do oeste selvagem. E ainda bem que os caras da Nouvelle Vague apareceram para dar o devido valor a eles.

Em WINCHESTER 73 (1950), temos a primeira parceria de Mann com James Stewart. A dupla se reuniria mais sete vezes depois desse filme. Recentemente tive a oportunidade de conferir a segunda união dos dois no magnífico E O SANGUE SEMEOU A TERRA (1952).

A história de WINCHESTER 73 é fascinante: fala sobre o tal rifle Winchester '73 do título, uma arma valiosíssima, que é motivo de disputa entre brancos e índios. Stewart ganha a arma num concurso promovido pelo xerife Wyatt Earp (outra lenda do oeste), mas o seu inimigo arma uma cilada e a toma de suas mãos. Seu destino agora é buscar a arma que lhe é de direito e se vingar do tal bandido. Mas durante a jornada, ele vai ter que enfrentar os índios sioux, loucos para escalpelar os brancos que aparecerem pelo seu caminho, entre outras aventuras. Pra completar a diversão, ainda vemos o destino da arma, passando de mão em mão durante o filme.

No site Senses of Cinema, há um texto muito bom sobre Mann, acentuando suas principais características e assuntos recorrentes na sua obra, além de trazer um pequeno histórico de sua carreira.

Se tudo der certo, ao sair daqui na quinta-feira, para homenagear o feriado da semana santa, saio daqui com a missão de pegar uns westerns do Anthony Mann pra ver. Vai ser um prazer.

segunda-feira, abril 05, 2004

ROMA DE FELLINI (Roma)



Federico Fellini sempre foi pra mim um cineasta difícil. Poucas vezes consegui gostar de fato de seus filmes. E até que eu vi vários. Minha experiência com 8 E 1/2 (1963), SATYRICON (1969), I CLOWNS (1971), E LA NAVE VA (1983) e GINGER E FRED (1986) foram dolorosas. O tempo não passava, não conseguia entrar no espírito da coisa. As exceções pra mim foram NOITES DE CABÍRIA (1957), por se aproximar mais do melodrama convencional, e CASANOVA (1976), por causa das cenas de sexo, que evitam que o espectador caia no sono. Por falar em sono, teve o caso de AMARCORD (1973), que gravei da tv e tive de assistir em pedaços porque sempre caía no sono. Era como se as imagens impregnadas de recordação do filme fossem um convite ao sono, já que as memórias e os sonhos são bem parecidos. Eu, como canceriano típico, tendo a valorizá-los bastante.

Por isso fui, ainda que com um pé atrás, assistir esse ROMA DE FELLINI (1972), com medo de, no futuro, me arrepender de ter deixado passar a oportunidade de ver um clássico do cinema, na telona - o filme está com cópia restaurada, imagem muito boa. E, exatamente por estar bem preparado psicologicamente pra ver um Fellini, acabei gostando bastante. Uma prova de que eu estou amadurecendo para ver os seus filmes.

Não há, no filme, uma narrativa no sentido clássico da palavra. Não há personagens principais ou uma estrutura de começo, meio e fim convencional. Engraçado que só com esse filme, que eu fui perceber a semelhança de Fellini com Woody Allen, um dos cineastas que eu mais gosto. Allen, ao contrário do que muita gente pensa, tem como seu cineasta preferido, Fellini, e não Bergman. De Allen, o filme me remeteu imediatamente a MEMÓRIAS (1980) e, principalmente, a A ERA DO RÁDIO (1987).

Pensei em tentar dividir o filme em partes, mas achei uma tarefa complicada. Há a parte da Roma dos anos 30/40, contando sobre a cidade que o jovem Fellini conheceu, a parte documental, mostrando a Roma dos anos 70, cheia de hippies, motos e trânsito maluco. Aliás, uma das partes mais impressionantes do filme é a que mostra as filmagens com uma grua, seguida de um acidente na estrada. Achei muito interessante Fellini ter tido a sorte de filmar aquele acidente. A sensação é a de que estamos nos anos 70, de que fomos jogados no tempo, no meio da chuva e do engarrafamento.

Do mesmo modo, ele trata a Roma de seu tempo como se fosse uma realidade presente, ainda que pintada com as tintas fortes e caricaturais que lhe são típicas. Estão lá as mulheres gordas, os tipos exóticos, as pessoas que falam alto, os palavrões, as partes surrealistas, a gula, as grandes famílias, a brincadeira com a Igreja Católica... Inclusive, a tal cena do desfile de moda de padres e freiras é um sarro, hein. Teve uma moça no cinema que teve uma crise de riso que só vendo.

Outra seqüência muito boa, e que parece um documentário (tenho minhas dúvidas quanto a natureza "acidental" da cena), é a cena em que a equipe de Fellini vai filmar as obras de construção do metrô na parte subterrânea e flagra uma casa cheia de afrescos de cerca de 2.000 anos de idade, escondida embaixo da cidade. Essa cena dá uma idéia de quão grande é a história de Roma.

Pra encerrar, deixo registrado as partes mais engraçadas do filme, que são as cenas no teatro, com um público bem mal-educado, que joga até um gato morto no palco quando não estão gostando do espetáculo. E a gente sente no ar o espírito moleque de Fellini, que deve ter se divertido pra caramba na infância.

sábado, abril 03, 2004

DOLLS



Minha experiência com os filmes de Takeshi Kitano não tinham sido das melhores. Só tinha visto dois filmes dele: SONATINE (1993) e HANA-BI: FOGOS DE ARTIFÍCIO (1997). Esse último me marcou por ter sido o único filme que eu vi no cinema sozinho. Pois é. Nesse dia, nem um gato pingado sequer tinha ido ver o filme. Só eu. Foi uma sensação estranha e que me causou um certo desconforto. Junta-se com a interpretação “cara de pedra” de Kitano, resultado: detestei o filme. O problema, pra mim, com alguns filmes japoneses é a dificuldade que eu tenho de entender as motivações dos personagens. Mas isso até que tem mudado. (Afinal, eu conheci o Takashi Miike. Hehehe)

Por isso, fiz questão de ir conferir esse belo filme. Ajudou o fato de a fotografia ser deslumbrante, lembrando as cores de HERO, de Zhang Yimou. Aliás, a beleza das árvores de folhas vermelhas ou brancas é um espetáculo para os olhos. (Será que existem árvores assim no Brasil?) Só as imagens de DOLLS (2002) já valem o preço do ingresso.

Mas ainda tem algo que não me deixou inteiramente satisfeito: não me emocionei com o drama dos personagens. Achei de difícil identificação. E olha que eu curto o ultra-romantismo de “O Morro dos Ventos Uivantes”, mas nesse filme essa loucura romântica é levada às últimas conseqüências. Ou vocês acham normal um sujeito furar os próprios olhos para ser aceito por uma moça? Ou dois namorados viverem o tempo todo amarrados por um cordão? Ou uma mulher que espera trinta anos num banco de uma praça pelo amor de sua vida?

Os tons do filme não são dos mais realistas e pelo que eu li numa crítica do Hugo Suckman, do jornal O Globo, são as mulheres que estão curtindo pra valer esse filme. Segundo ele, e o próprio Kitano, os homens torceram o nariz pelo fato de o diretor ter abdicado da violência gráfica nesse filme. Aqui as cenas de violência são cortadas. Mostra-se apenas o depois, a conseqüência dos atos, dos acidentes.

É um filme pessimista, em que o destino depõe contra a felicidade dos seres humanos. As pessoas, em DOLLS, são meras marionetes nas mãos dos deuses. Por isso, a comparação com o teatro de marionetes japonês não é gratuita.

quinta-feira, abril 01, 2004

CRIATURAS DAS TREVAS (Nightbreed)



Bem que me avisaram que esse filme era uma porcaria, mas sabe como é: direção do Clive Barker, baseado numa hq que eu já conhecia e com o diretor David Cronenberg fazendo um papel de destaque. Resultado: não resisti à curiosidade e resolvi gravar o filme quando passou na Globo.

Incrível como o mesmo cara que dirigiu o ótimo HELLRAISER (1987) acabou se perdendo em filmes fracos. Felizmente, o homem ainda continua sendo um dos melhores escritores do mundo, quando o assunto é literatura de horror. Eu por enquanto só li dois volumes de seus LIVROS DE SANGUE e gostei bastante. Alguns dos contos dele são geniais mesmo.

CRIATURAS DAS TREVAS (1990) é adaptado do conto "Cabal", que virou também uma mini-série em quadrinhos lançada pela Marvel no início dos anos 90. Lembro que na época que saíram os quadrinhos (no Brasil, saiu com o nome RAÇA DAS TREVAS), eu até tinha deixado de ler HQ, mas resolvi comprar, levado que fui pela propaganda maciça que a Marvel fez em tudo que era revista da Editora Abril, na época.

A exemplo do que eu senti com os quadrinhos, o filme começa bem e depois vai se perdendo e ficando mais e mais chato. Os monstros que moram na tal cidade de Midian (referência bíblica?) não têm um pingo de profundidade ou algo que cause interesse, os efeitos são gratuitos e os atores são todos ruins. Muito pouco se salva no filme. Eu diria que uma das melhores coisas é mesmo a presença do Cronenberg. Seu personagem é que tira um pouco o filme da categoria lixo completo.

Mesmo assim, ainda quero ver qualquer dia MESTRE DAS ILUSÕES (1995), apesar de todas as malhações.

Vi num site uma frase interessante do Clive Barker. Ele diz que "todo medo é um desejo". Imagina só. Essa frase por si só já é aterrorizante, não??

P.S.: Hoje ganhei o meu dia. Esse humilde blog recebeu elogios animadores do grande Carlão Reichenbach, em seu blog pessoal. Maravilha.