sábado, abril 10, 2004

LEGIÃO INVENCÍVEL (She Wore a Yellow Ribbon)



Em vez de pegar um Anthony Mann, como pretendia, acabei saindo da locadora com um John Ford. A capa do DVD da Warner está lindona, assim como a imagem do filme, em belíssimo technicolor. O filme faz parte de uma trilogia sobre a cavalaria americana que inclui FORTE APACHE (1948) e RIO GRANDE (1950).

Mas deixa eu dizer logo o que me incomodou nesse filme. Eu já sabia que os índios nesses filmes de Ford e contemporâneos são sempre tidos como uma ameaça aos brancos colonizadores. Até aí tudo bem. Nunca achei nenhum problema ver os filmes pelo ponto de vista dos brancos, que queriam se estabelecer no lugar e tinham mesmo que se defender do ataque dos índios. Mas o que eu achei covardia foi ver John Wayne liderando um grupo de homens para atacar de surpresa uma tribo indígena à noite. Engraçado que eu tinha visto em WINCHESTER 73 que os índios não costumavam atacar à noite com medo de morrer e de não ter suas almas encontradas por seus ancestrais. Isso torna a ação ainda mais covarde.

Mas é isso. É o velho oeste, onde os brancos conseguiram se livrar de milhões de índios. Um verdadeiro massacre. Aqui no Brasil também aconteceu o mesmo, mas parece que os índios americanos deram bem mais trabalho aos brancos do que os índios brasileiros. (Se bem que eu não sei muito sobre os nossos bandeirantes).

Deixando de lado essa questão, LEGIÃO INVENCÍVEL (1949) é um espetáculo de belas imagens e planos abertos. Várias tomadas foram feitas de longe, mostrando que esse filme poderia ser bem melhor apreciado se visto no cinema.

Na história, John Wayne é um oficial da cavalaria na última semana de serviço, antes de se aposentar. Ele já havia lutado na Guerra Civil contra os sulistas e é respeitado por seus subordinados e por todo o fronte. Paralelamente há a história da garota que está na flor da idade e tem de escolher entre dois rapazes. O título original se refere ao laço amarelo que ela usa como sinal de que está a fim de namorar. (Que coisa, hein.)

O filme não está entre os meus favoritos do Ford. Continuo considerando O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA (1962) e RASTROS DE ÓDIO (1956) as obras máximas de sua carreira.

Pra fechar, deixo um fato engraçado, contado no livro “Afinal, Quem Faz os Filmes”, do Bogdanovich. A história envolve o doido do Raoul Walsh, e vou transcrever aqui um depoimento dele sobre Ford:

“Certa ocasião, num jantar chique, estávamos sentados – Jack Ford, eu e mais algumas pessoas -, e ele reclamava do seu olho ruim, aquele com tapa-olho.” Disse-me Raoul Walsh, que também usava tapa-olho, mas não havia olho sob a peça. “Ah, reclamava das dores e de tudo o mais, e assim peguei um garfo e disse: ‘Bem, vamos lá, Jack, deixe-me consertar isso e arrancar esse olho para você.’ Ele me deu a olhada mais feia do mundo, mas pelo menos parou de reclamar.”

Nenhum comentário: