segunda-feira, abril 29, 2013

E SE VIVÊSSEMOS TODOS JUNTOS? (Et Si on Vivait Tous Ensemble?)























Ver filmes que fazem refletir sobre a velhice e sobre a proximidade da morte, mesmo os que tendem mais para a comédia do que para o drama, pode ter um efeito diferente em cada pessoa. Aquelas que têm uma visão mais pessimista da vida podem achar uma lástima ter que passar por toda aquela decadência física que o passar dos anos tende a trazer; os otimistas podem ver em filmes como E SE VIVÊSSEMOS TODOS JUNTOS? (2011), de Stéphane Robelin, uma maneira leve de ver o quanto os últimos anos de vida de muitos podem ser especialmente agradáveis. Afinal, morrer nem é privilégio dos idosos mesmo.

No filme, temos um grupo de cinco velhos amigos que pensam na ideia de morarem todos juntos como uma possibilidade de passar os seus últimos dias de vida. Essa possibilidade se concretiza quando um deles, Claude (Claude Rich), tem um infarto e é levado pelo filho para um lar para idosos. O infarto surgiu justo quando ele ia transar com uma prostituta, hábito que ele conservava com prazer. Não por acaso, o filme faz uma citação direta à novela de Gabriel García Marquez, Memórias de Minhas Putas Tristes.

Os amigos casados resolvem, então, tirá-lo da casa de repouso para que morem todos juntos. Todos têm os seus problemas: Jane Fonda é Jeanne, uma mulher diagnosticada com câncer em estado terminal, mas que resolve não contar a ninguém. Ela é casada com Albert (Pierre Richard), que sofre com o Alzheimer e costuma anotar coisas que julga importantes em um caderninho. Completa o grupo Jean (o humorista Guy Bedos), que sente saudades de seus tempos de militância política, e a esposa Annie (Geraldine Chaplin). O jovem Daniel Brühl é Dirk, o etnólogo alemão que se junta ao grupo para estudar o comportamento e os hábitos dos idosos para uma tese de doutorado.

Trata-se mais de um filme de personagens do que de enredo. A não ser pelo passado galanteador de Claude e pela doença grave de Jeanne, o principal interesse do filme é ver como esse grupo de amigos tenta se virar harmoniosamente dentro de uma casa, sem a ajuda de enfermeiros ou nada do tipo. Pelo menos, dentro do recorte que o filme lhes dá. E uma das qualidades de E SE VIVÊSSEMOS TODOS JUNTOS? está justamente em saber a hora de terminar. Ou pelo menos, em criar um final bonito sem precisar apelar para um sentimentalismo piegas.

Poderia-se dizer que isso seria uma falha do filme ou uma incompetência do diretor em lidar de forma mais pungente com as tristezas e frustrações da chamada "melhor idade". Mas não se pode cobrar de um filme aquilo a que ele não se propõe. E uma coisa que já fica clara desde o início é que o segundo longa-metragem de Stéphane Robelin não se propõe a ser algo pesado, como AMOR, de Michael Haneke, para citar um caso recente que também lida com a questão da velhice, mas que é totalmente oposto em suas intenções.

O que se poderia cobrar talvez fosse uma maior ambição estilística por parte do diretor, mas também não se pode buscar em cada exemplar da comédia (ou "dramédia") francesa uma obra de arte superior que figurará nos cânones do cinema mundial. Há filmes pequenos como este que têm a sua importância e o seu valor.

domingo, abril 28, 2013

JUBIABÁ























Depois de um filme lindo como MEMÓRIAS DO CÁRCERE (1984), a expectativa em torno de um novo trabalho de Nelson Pereira dos Santos era grande. Talvez por isso até foi fácil conseguir mais uma vez coprodução com os franceses para a sua segunda adaptação de um romance de Jorge Amado, JUBIABÁ (1987). O filme, inclusive, chegou a ser exibido no Festival de Veneza, e só não passou na mostra competitiva porque Nelson estava no júri. Quer dizer, NPS estava com a bola toda, mas não por causa de JUBIABÁ, mas ainda pelo seu passado glorioso e pelo impacto ainda sentido por MEMÓRIAS DO CÁRCERE.

Isso porque JUBIABÁ é desses filmes que quase estragam a filmografia de um diretor, que, no caso de NPS, já é um tanto irregular. É uma obra que até começa bem, mesmo prometendo uma história de amor aos moldes tradicionais: a história de um menino negro e pobre que é recebido na casa de burgueses brancos e que se apaixona pela garotinha branca de sua idade que mora na casa. Ele já não é bem visto pela empregada da casa, uma espécie de segunda mãe para a jovem Lindinalva. E é a empregada a principal responsável para que o garoto abandone a casa e passe por várias experiências na vida, de mendigo a lutador de boxe.

O filme tem um elenco de rostos conhecidos de nós brasileiros, mas boa parte dos papéis é de atores franceses. Dentre os rostos conhecidos, temos os de Ruth de Souza, Betty Faria, Zezé Motta, Jofre Soares e Grande Otelo, como o personagem-título Jubiabá, um pai de santo que dá suporte ao jovem Bauduíno, o herói do filme. O curioso é que, apesar do título, a participação de Jubiabá é mínima no filme, o que sugere que a adaptação deve ter retirado algo de importante em relação ao personagem, já que a impressão que fica é que ele não ajuda coisa nenhuma quando o rapaz está passando por dificuldades.

Mas ter Grande Otelo ali dá um ar de ligação com a obra de NPS, já que remete diretamente a um de seus primeiros trabalhos, RIO, ZONA NORTE (1957). Inclusive, há uma cena de um sambista cantando um samba melancólico que pode ser vista como uma alusão à bela obra que uniu Nelson e Grande Otelo. Outra coisa que o filme se liga é com o candomblé, que já foi mostrado de maneira até bem mais forte e enfática em filmes como O AMULETO DE OGUM (1975) e TENDA DOS MILAGRES (1977).

Mas, em vez de se concentrar nas questões sociais e políticas, como em TENDA DOS MILAGRES, Nelson preferiu deixar de lado esse elemento, que é fortemente presente no romance de Jorge Amado, para se concentrar na história de amor de Bauduíno e Lindinalva. Seria uma escolha boa se a história não desandasse tão cedo. Impressionante como um dos nossos maiores cineastas também consegue ser tão fraco com frequência.

sábado, abril 27, 2013

HOMEM DE FERRO 3 (Iron Man 3)























E a fase 2 da Marvel não começou com o pé direito. Infelizmente a troca de diretores em HOMEM DE FERRO 3 (2013) resultou num filme de tom híbrido, sem conseguir se equilibrar entre a comédia e o drama. As sequências que supostamente contariam com o já famoso humor peculiar de Tony Stark/Robert Downey Jr. dessa vez não funcionam. Além do mais, o filme vende um produto diferente do que apresenta. O que se imagina ao ver o trailer e os cartazes de divulgação é que o filme penderá para o drama, deixando um pouco de lado o tom leve dos dois anteriores.

E, de certa forma, fica a impressão de que o roteiro até deseja isso, mas a direção de Shane Black não consegue encontrar esse elemento no meio de tanta ação ininterrupta, a partir do momento em que a mansão de Tony Stark é bombardeada pelos seus inimigos, chefiados supostamente pelo Mandarim, vivido por Ben Kingsley. Falando em Mandarim, creio que muito fã do Homem de Ferro (e de seu arqui-inimigo) pode se sentir ofendido com o modo como o vilão é mostrado.

De qualquer maneira, já se esperava que várias ideias apresentadas nos quadrinhos fossem aproveitadas de maneira diferente no filme, como o vírus Extremis e o Patriota de Ferro, que nos quadrinhos é vivido pelo maior inimigo do Homem-Aranha, Norman Orborn, em uma situação totalmente diferente. Em HOMEM DE FERRO 3, quem veste a armadura é James Rhodes (Don Cheadle), ex-Máquina de Combate, que agora é um leão-de-chácara do Presidente dos Estados Unidos.

A vantagem do filme é que ele mostra um Tony Stark fragilizado (a ideia dos ataques de pânico até foi boa), mas sem nunca perder o bom humor. Isso acaba rendendo alguns bons momentos, como o encontro com um garoto que o ajuda. A armadura que ele utiliza em caráter experimental raramente funciona, mas ele acaba dando um jeito de se livrar das diversas situações perigosas que aparecem pela frente. Assim, dos três, é o filme que mais aposta no talento de Downey Jr., que, não resta dúvida, é o ator perfeito para viver o herói.

Do elenco de apoio, destaque para a sempre bem-vinda presença de Rebecca Hall e, claro, de Gwyneth Paltrow, cada vez mais bela e mais à vontade como Pepper Pots, a namorada de Stark. E destaque-surpresa para Guy Pearce, que acaba sendo mais importante para a trama do que se imaginava, embora isso não chegue a ser necessariamente bom para o filme.

Uma pena que tudo isso seja desperdiçado em um filme de ação vazio e que não gera empolgação, a não ser que a única intenção do espectador seja admirar os ótimos efeitos especiais milionários. Por isso, talvez HOMEM DE FERRO 3 funcione melhor com o 3D, ainda que convertido. Assim, dá para encarar como uma atração de parque de diversão, com sua ação contínua mas tediosa e seus vilões ruins com motivações rasas. Melhor sorte para os filmes do Thor e do Capitão América, os próximos da chamada fase 2 da Marvel no cinema a estrear.

sexta-feira, abril 26, 2013

A CANÇÃO PROMETIDA (A Song Is Born)























É raro eu não gostar de um filme de Howard Hawks, um dos meus cineastas favoritos. Por isso, quando digo que não gosto de OS HOMENS PREFEREM AS LOURAS (1953) muita gente fica admirada. Enquanto não o rever, continuarei achando o filme vulgar. A CANÇÃO PROMETIDA (1948) é outro desses filmes menores do diretor, mas que aos poucos foi me ganhando até chegar ao bonito, ainda que ingênuo, final. Que combina com o personagem do estudioso de música que se apaixona por cantora de boate ligada com gângsteres da pesada.

A história é praticamente a mesma à do superior BOLA DE FOGO (1941), mas tem um diferencial: a música. Que, aliás, foi outra coisa que não me agradou a princípio, pois achava que aquilo que aqueles músicos pensavam que sabiam sobre a música do mundo – e que pretendiam incluir numa enciclopédia – era numa visão bem estereotipada.

Até mesmo a visão simplificada como eles tentam resumir a história da música negra nos Estados Unidos me pareceu fraca. Outra coisa: entre tantos cantores de jazz e blues e outras correntes da música negra daquele período, por que justamente trouxeram uma cantora branca para ser a cantora de blues (é blues mesmo o que ela canta?) e ser o interesse amoroso do protagonista?

Falando assim, até parece que eu quero dar uma de Spike Lee, mas ficou essa impressão de que os negros ficaram como meros coadjuvantes, apesar de serem vitais na construção da música americana. Inclusive, numa cena em que um dos trabalhadores negros toca umas notas no piano, o que ouvimos ali é uma espécie de proto-rock’n’roll. Mas temos que ver o ano em que foi produzido o filme: se até os anos 60, os negros eram colocados sempre em posição subalterna, imagine naquela época.

Na trama, professor e pesquisador de música (Danny Kaye) sai em boates e casas de música da cidade depois de perceber que ficou muito tempo afastado do que estava acontecendo na música contemporânea. Conhece uma cantora em uma boate (Virginia Mayo), apresenta-se em seu camarim, mas logo é deixado de escanteio pela moça. Acontece que ela passa a ser perseguida por um grupo de gângsteres e o seu grupo, entre eles o seu namorado, acha por bem aceitar a ideia de ela ficar na casa desse músico, que vive com mais seis amigos mais velhos, enquanto a poeira assenta. Ela não fala nada sobre quem é realmente e, aos poucos, o sensível, tímido e ingênuo professor começa a se apaixonar por ela.

Como se trata de uma comédia (com alguns momentos musicais) mais ou menos convencional, é de se esperar que haja um final feliz. E felizmente Hawks faz com que o final saísse divertido e bonito, ainda que fique no ar aquela sensação de que acabamos de ver um Hawks bem abaixo da média. Na entrevista para Bogdanovich, tanto o entrevistador quanto ele acharam o filme fraco. Hawks chegou a dizer que nunca o viu montado e só o fez por causa do valor exorbitante que o produtor Samuel Goldwyn lhe ofereceu. Para ver como às vezes dinheiro só estraga as coisas.

quinta-feira, abril 25, 2013

MÁQUINA MORTÍFERA (Lethal Weapon)























Às vésperas da estreia de HOMEM DE FERRO 3, nada melhor do que (re)ver MÁQUINA MORTÍFERA (1987), de Richard Donner, o filme que conta com o primeiro roteiro de Shane Black. Tudo bem que MÁQUINA MORTÍFERA depois virou uma franquia bem família e com muito humor, o que não é ruim, mas, quando começou, era um filme com um teor sombrio bem acentuado, e que ganhou aqui no Brasil a classificação 18 anos.

No filme, o ator/autor Mel Gibson, hoje apelidado de "Mad Mel", interpreta Martin Riggs, um policial psicótico e suicida. Como não tem coragem suficiente para puxar o gatilho, usa os perigos da atividade de policial para jogar uma roleta-russa diferente. Mais adiante, veríamos, na carreira de Gibson, que esse personagem atormentado por um passado seria recorrente em outros trabalhos seus, como SINAIS, O FIM DA ESCURIDÃO e UM NOVO DESPERTAR, para citar os mais recentes.

Contrabalançando, temos o personagem de Danny Glover, Roger Murtaugh, um detetive veterano que tem que lidar com as loucuras do parceiro jovem, mas que aos poucos se torna um grande amigo. Até pela solidão e necessidade de um ambiente familiar, por parte de Riggs, Murtaugh o ajuda. Na trama, eles precisam aprender a lidar um com o outro, enquanto lutam para pegar uma gangue de traficantes de drogas e assassinos de moças.

O filme, aliás, começa com a apresentação de uma dessas moças seminua, prestes a cometer suicídio, pulando de um edifício. Parece um prelúdio bem pouco comum de se ver em filmes policiais produzidos nos dias de hoje. Na década de 80, havia uma vontade maior de mostrar nudez do que hoje. Outra coisa que é bem diferente e que eu achei bem curioso: na cena da luta física de Riggs com o vilão (Gary Busey), Murtaugh, torcendo pelo amigo diz, na frente de um monte de outros policiais, que também assistem à briga: "quebra o pescoço dele, Riggs!". Uma fala dessas, nos dias de hoje, raramente passaria pelos novos "censores".

Além do mais, a desculpa para o vômito de balas e violência que ocorre durante a caça aos bandidos, especialmente depois que eles sequestram a filha de Murtaugh, parece muito justa. Os detetives agora têm que trabalhar à maneira de Riggs, isto é, bala na cabeça de bandido sem fazer muita pergunta. No fim das contas, apesar de o diretor Richard Donner ser um dos mais populares e "família" dos anos 80, na série MÁQUINA MORTÍFERA, especialmente nos dois primeiros trabalhos, que contaram com roteiro (ou apenas história, no caso do segundo) de Shane Black, a violência imperou.

Será que Black conseguirá mudar o tom leve e festivo dos primeiros dois filmes do Homem de Ferro, levando em consideração o seu passado?

quarta-feira, abril 24, 2013

ALVO DUPLO (Bullet to the Head)























Não deixa de ser irônico o título brasileiro que o novo filme de Walter Hill recebeu no Brasil. Se tivessem optado pela simples tradução do original, o título seria "Bala na Cabeça", mesmo nome dado a um filme de John Woo. No entanto, optando por ALVO DUPLO (2012), acabaram batizando-o com o nome de outro filme de Woo. Teria sido proposital? Uma brincadeira? De todo modo, isto não é o mais importante. O importante é o retorno de Walter Hill à direção, depois de mais de dez anos fora da função, pelo menos no cinema.

E o retorno veio em parceria com Sylvester Stallone, homem que já se nota ser um saudosista. Seu maior alter-ego é o sensível Rocky, mas ele tem preferido fazer personagens mais casca-grossas ultimamente, como em RAMBO IV, em OS MERCENÁRIOS e sua continuação e principalmente neste ALVO DUPLO, em que a violência aparece sem dó nem piedade. Até mesmo o som dos tiros é mais bem mais alto neste filme, o que pode incomodar quem tiver hipersensibilidade auditiva.

Não se trata de um trabalho perfeito. Não é dos melhores de Stallone, nem de Hill, mas cumpre bem a sua função. Stallone está muito bem no papel, o que não dá para dizer o mesmo de seu parceiro, vivido por Sun Kang, de NINJA ASSASSINO. Talvez o roteiro não tenha dado mais espaço para Kang brilhar ou o ator tenha ficado intimidado com a persona de Stallone, mas o fato é que a química entre os dois não deu muita liga.

Outro problema do filme está no roteiro e na construção da trama envolvendo os vilões. É um roteiro mal formulado e já se nota que a trama é uma mera desculpa para a ação. O que não chega a ser um problema. Mas o ruim é que, para que esse tipo de situação funcione, os vilões precisam ser convincentes e minimamente bem construídos em sua carga de maldade. Daí vemos papéis beirando o ridículo para Christian Slater e Adewale Akinnuoye-Agbaje. Pelo menos, o papel de Jason Momoa, o novo Conan, é valorizado. No fim das contas, com a luta final entre ele e Stallone, vemos que a ação é o que importa.

Aliás, na cena da batalha entre os dois, vemos o senso de humor do personagem de Stallone ao perguntar se agora é luta de viking. O senso de humor no que se refere à violência também beira ao humor negro, especialmente quando o personagem de Stallone, o matador de aluguel, dá um tiro na cabeça de um sujeito sem a menor cerimônia. Isso não é novidade em filmes de ação, principalmente os vindos de Hong Kong e adjacências, mas acaba sendo algo novo dentro dos filmes de ação exibidos nos cinemas atualmente. Então é isso: ALVO DUPLO é filme que vai direto ao ponto, cheio de testosterona e que mostra que Stallone continua em forma. 

terça-feira, abril 23, 2013

CHOPPER – MEMÓRIAS DE UM CRIMINOSO (Chopper)























Andrew Dominik é um cineasta que ainda é um mistério para mim. Seus filmes são todos sobre a violência ou contém elementos bem violentos, mas cujos tons que ele usa são sempre dúbios. Em O HOMEM DA MÁFIA (2012), por exemplo, aquela cena do tiroteio em câmera lenta parece ser ao mesmo tempo um elogio e uma crítica à violência. Em O ASSASSINATO DE JESSE JAMES PELO COVARDE ROBERT FORD (2007), a figura de Jesse James parece ser elevada ao status de um herói, o que não é nenhuma novidade dentro da cinematografia americana, mas parece que nesse filme em especial o diretor parece dar espaço para que o espectador pense numa outra possibilidade.

E isso faz com que as obras de Dominik, por mais que deixem uma sensação de WTF no ar, convidem o espectador a refletir. Ou não: podem simplesmente causar repulsa. Tive a oportunidade nesta semana de ver o primeiro trabalho de Dominik, CHOPPER – MEMÓRIAS DE UM CRIMINOSO (2000), que chegou a ser lançado direto em vídeo no Brasil. A primeira coisa que chama atenção no filme é a interpretação de Eric Bana, que além de tudo, engorda uns bons quilos para viver o personagem depois de passados alguns anos na cadeia.

CHOPPER é baseado em fatos reais e no verdadeiro Chopper, um homem que tinha uma atração pela violência, que gostava de se impor, e que também, logo depois, mostrou talento como escritor, reinventando sua própria vida em um livro. Desde pequeno ele sonhava em entrar para a história como uma lendária figura do crime. E é curioso como isso é comum. Eu mesmo tive um colega de escola que costumava dizer que queria ser ou bandido ou policial. Acabou se tornando policial militar, mas depois foi expulso da corporação, depois de ter matado um homem. Esse tipo de desejo realmente acontece.

Um dos méritos do filme de Dominik é que a violência apresentada é realmente visceral, de intoxicar o sangue. Ao mesmo tempo, ficamos intrigados com a figura de Chopper, um sujeito que é capaz de mandar cortar as próprias orelhas só para provar que é capaz de sair de uma ala da prisão. Seus atos contraditórios, como o de apunhalar um inimigo de cela, para depois ficar arrependido e oferecer a ele um cigarro, enquanto o homem se esvai em sangue, torna-o quase simpático. Mas ele é estranho demais para ser admirado.

O que é de admirar é a performance de Eric Bana, que até então eu sempre via como um bom rapaz, mesmo quando faz papel de vilão, como no recente A FUGA. Quanto a Dominik, ainda vou ter que ver mais filmes dele para chegar a uma conclusão se gosto ou não. Ainda fico com um pé atrás em relação a seus filmes. Deve ser um tipo de diretor como Michael Haneke, que demora um pouco para ser reconhecido como um dos grandes.

Agradecimentos especiais ao amigo Osvaldo Neto

segunda-feira, abril 22, 2013

UM PORTO SEGURO (Safe Haven)























Em geral, os filmes adaptados de obras de Nicholas Sparks são bem fáceis de serem esquecidos, mas também são obras cuja boa parte do público já sabe o que esperar quando entra na sala de exibição. No entanto, eu diria que este UM PORTO SEGURO (2013) tem uma carta na manga, que fez com que ele crescesse um pouco no conceito para mim.

Oitavo filme adaptado de um romance de Sparks, UM PORTO SEGURO guarda muitas semelhanças com UM HOMEM DE SORTE (2012): em ambos, o protagonista sai em direção a uma cidadezinha e encontra um amor que coincidentemente perdeu o seu parceiro para a morte. O que há aqui é uma inversão dos gêneros: a moça, vivida por Julianne Hough (de ROCK OF AGES – O FILME), é que vai parar numa cidadezinha costeira. Ela está fugindo da polícia, pega um ônibus com destino a Atlanta e resolve ficar em Southport, na Carolina do Sul.

A trama só revela alguns flashes do que aconteceu na noite em que ela fugiu de casa e nem o espectador sabe direito o que houve. Mas sabemos que há um policial que não cansa de persegui-la. No entanto, o mais importante, embora essa ameaça esteja no ar, é o romance que ela terá com um jovem viúvo (Josh Duhamel, da série LAS VEGAS), dono de uma mercearia e pai de um casal de filhos pequenos, que é o objeto de maior importância da trama.

UM PORTO SEGURO é carregado de uma doçura que pode incomodar quem tem problema com açúcar. Mas é Nicholas Sparks. O que se deveria esperar? Assim, por mais que Hough e Duhamel formem um belo casal, os diálogos são superficiais e as cenas dos dois juntos parecem saídas de algum comercial de televisão. A luz que emana do sol naquela cidade paradisíaca e captada pela cinematografia também contribui para esse embelezamento.

O diretor sueco Lasse Hallström há tempos perdeu a identidade, mas tem se especializado em melodramas. Algumas vezes dá certo, como foi o caso mais recente de SEMPRE AO SEU LADO (2009) e lá atrás, de REGRAS DA VIDA (1999), mas boa parte de seus filmes, especialmente depois que foi para Hollywood, é composta por dramas vazios.

De qualquer maneira, o modo como UM PORTO SEGURO termina não deixa de ser interessante, fugindo das duas vertentes que o filme até então mantinha: a do romance do belo casal e a do thriller, com alguém tentando estragar a festa de paz e amor em família dos dois naquela cidade.

domingo, abril 21, 2013

A MORTE DO DEMÔNIO (Evil Dead)























O que dizer do novo A MORTE DO DEMÔNIO (2013), dirigido pelo uruguaio Fede Alvarez? Em seu cartaz, já convida o espectador para ver o “filme mais apavorante que você verá nesta vida”. Não é bem isso o que acontece. A não ser que a vida do espectador seja bem curta e que ele tenha visto bem poucos filmes de horror. Aliás, o que mais depõe contra o remake é justamente essa incapacidade ou dificuldade de realmente assustar. Talvez porque o cineasta tenha optado por um registro cada vez mais sangrento e esses excessos tenham tornado banais as cenas de violência. Automutilação e coisas do tipo acabam perdendo o impacto, se a intenção for mesmo chocar.

Por outro lado, é um filme que resgata a beleza do gore, tão exaltado no horror oitentista. E o que parece feio acaba ficando bonito e poético, principalmente no momento da chuva de sangue, que banha não só a personagem, mas todo o cinema. Definitivamente, um dos grandes momentos, não só do horror, mas do cinema mesmo em 2013. Mas até lá, o filme se ressente do suspense, que era um elemento muito presente no A MORTE DO DEMÔNIO (1981), de Sam Raimi.

A minha lembrança de ver o primeiro filme da trilogia de Raimi, quando foi lançado nos cinemas com o título UMA NOITE ALUCINANTE – PARTE 1 – COMO TUDO COMEÇOU, é bem divertida. Lembro do medo, seguido do susto, seguido de risadas, por ver tanta gente pulando da cadeira ao mesmo tempo. Curiosamente, ao rever anos depois, em DVD, senti que o filme perdeu um pouco desse impacto de quando o vi no cinema duas vezes.

O novo filme tem um esqueleto bem parecido com o original, embora traga um prólogo muito interessante, que por algum motivo fez eu me lembrar do início do sensacional A MALDIÇÃO DO DEMÔNIO, de Mario Bava. Mas logo depois, vemos o que já se espera: cinco jovens em uma cabana no meio de uma floresta. Há agora uma intenção: tratar o vício das drogas de Mia, vivida por Jane Levy, da série SUBURGATORY. E o que pareceria um inferno relativamente tranquilo vira um inferno com convite de entrada para um demônio, depois que um dos rapazes do grupo, o curioso Eric (Lou Taylor Pucci), resolve abrir um estranho livro de bruxaria e ler em voz alta certas passagens. São portas abertas para que o demônio se aposse do corpo de Mia.

Interessante notar que Alvarez não faz muita questão de tornar mais complexa a trama simples de Sam Raimi. Embora, depois do filme, possamos pensar num senso de humor todo particular, ele parece quase ausente durante a projeção, ainda que fique presente no estado de espírito prazeroso que A MORTE DO DEMÔNIO resgata de um bom filme de horror cheio de excessos, que havia sido complicado de maneira bem saborosa por Drew Goddard em O SEGREDO DA CABANA, também uma homenagem ao clássico de Raimi.

De todo modo, o filme abriu as portas não só para um cineasta então desconhecido como Fede Alvarez, mas também para a franquia A MORTE DO DEMÔNIO, que já ganhará uma continuação. Além do mais, boatos surgiram de que o próprio Sam Raimi também fará uma continuação de UMA NOITE ALUCINANTE 3 (1992), o menos cultuado da trilogia. Vejamos o que o futuro reserva.

sábado, abril 20, 2013

ANNA KARENINA























Eis um belo exemplo de um filme claramente imperfeito, mas que é também fácil de ser admirado e amado. ANNA KARENINA (2012) mostra mais uma vez o talento de Joe Wright quando ele envereda pelo drama de época, mas aqui podemos ver também um diretor experimentando cada vez mais. No uso da referência forte ao teatro, na movimentação dinâmica e em certo momento inebriante da câmera. Pena que essa experimentação vai diminuindo e quase desaparecendo ao longo do filme, que vai partindo para um registro mais convencional, como se Wright tivesse desistido da ideia inicial.

É também um filme que passa uma impressão de que sofreu inúmeros cortes na edição final, já que os saltos temporais são feitos de maneira bem arbitrária. Especialmente quando o filme parte para a conclusão. Mas é também um filme de grandes momentos, que compensam a irregularidade. Como não se encantar, por exemplo, com a cena do baile, em que podemos estranhar tanto a dança quanto os efeitos especiais utilizados? De uma beleza impressionante e auxiliado pela música, esse momento é também perturbador, tanto para o espectador quanto para os personagens envolvidos – Anna Karenina (Keira Knightley), Kitty (Alicia Vikander) e Vronsky (Aaron Taylor-Wood).

Aliás, Kitty é uma personagem que não se apaga no filme, ao contrário da versão de 1935. Ela ganha força e algumas cenas bem comoventes, especialmente perto do final. Joe Wright correu o risco de incluir essa subtrama, que poderia atrapalhar a trama principal, envolvendo Anna, o marido Karenin (Jude Law) e Vronsky, o amante. A história já é conhecida de boa parte da audiência, seja pelo livro, seja pelas outras versões cinematográficas. Então, o que é mais importante para o espectador é ver as opções estéticas de Wright.

A cena, por exemplo, dos amantes em um campo verdejante é bonita e sensual, com destaque para o close nas línguas dos dois, no momento do beijo, o que não é nada comum em filmes do gênero, a não ser os que têm definitivamente a intenção de mostrar cenas de sexo, como as adaptações de O Amante de Lady Chatterley.

Aliás, uma das coisas que são muito comuns nesses romances de época, principalmente os do século XIX, que tratam do adultério, é que neles, sempre a mulher é a figura que sai mais prejudicada, para dizer o mínimo. Penso em O Primo Basílio, de Eça de Queiroz; em Madame Bovary, de Gustave Flaubert; em A Letra Escarlate, de Nathaniel Hawthorne; e em Anna Karenina, de Liev Tolstói. Ao que parece, o preço que esses escritores pagavam para que pudessem falar de adultério defendo suas heroínas frágeis, naquela época, era mostrar os seus calvários.

Quanto ao calvário de Anna Karenina, ele é sentido de certa forma à distância, até pelo modo teatral com que Wright escolhe compor seus personagens, principalmente no início, quando Vronsky aparece todo cheio de pose num cavalo. Por isso é preciso comprar essa teatralidade que o filme impõe e que usa de maneira muito bonita em algumas sequências bem memoráveis. Destaco o momento em que Anna resolve contar para o marido que é amante de Vronsky, uma sequência carregada de intensidade.

E se não foi desta vez que Wright conseguiu superar sua excelência vista em ORGULHO E PRECONCEITO (2005) e DESEJO E REPARAÇÃO (2007), foi bom o cineasta ter usado pela terceira vez o seu amuleto de sorte: Keira Knightley. Além do mais, ANNA KARENINA é um dos filmes visualmente mais belos dos últimos anos. Definitivamente, uma obra para se ver na telona.

sexta-feira, abril 19, 2013

O CARTEIRO























A trajetória de Reginaldo Faria como diretor é mais extensa do que muita gente imagina. Começou com OS PAQUERAS (1969), estrelado por ele mesmo, Walter Forster e mais duas belas estrelas da época, Irene Stefânia e Adriana Prieto. E seu trabalho anterior a O CARTEIRO (2011) foi AGUENTA, CORAÇÃO (1984), estrelado também por ele e por Christiane Torloni. O CARTEIRO seria o seu oitavo filme, segundo dados do IMDB, que nem sempre são confiáveis no que se refere a cinema brasileiro.

Remontei a seus trabalhos do passado, que atravessam agora várias décadas, para dizer que O CARTEIRO não é obra de diretor estreante ou inexperiente. E, no entanto, sai um trabalho desses, tão ruim, com um roteiro tão mal cuidado. Aliás, eu cheguei a discutir algumas vezes quando diziam que o problema do cinema brasileiro eram roteiros ruins, mas ultimamente eu estou tendo que concordar, embora eu ainda acredite que uma boa direção - e também uma boa edição – são capazes de salvar um filme.

Mas não é o caso de O CARTEIRO, que estraga uma trama que tinha tudo para ser no mínimo agradável: a de um carteiro de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul que tem o hábito de violar as cartas dos habitantes para saber das vidas das pessoas. Para ele, a cidade era pequena demais e esse seu ato criminoso a tornava interessante. Até que chega o dia em que ele conhece uma garota recém-chegada à cidade e se apaixona por ela. Descobre, porém, que ela tem namorado, mas é um namoro à distância, por cartas. Que ele trata de ler e até de esconder ou inventar cartas para benefício próprio.

A ideia é boa, mas é impressionante como o filme trata de jogar tudo no ralo. A começar pelo protagonista, o jovem carteiro (Carlos André Faria), que tem um amor platônico pela bela moça (Ana Carolina Machado), mas que só faz bobagem. Tudo bem que quem está apaixonado pode cometer muita besteira, mas esse rapaz e seu melhor amigo conseguem ser tão idiotas que chega a incomodar. E o filme vai seguindo com um enredo que antes da metade vai se tornando cada vez mais insuportável. Caso mesmo de desejar que acabe logo para ir embora.

Quem quase consegue salvar o filme, ainda que por alguns momentos, é a viúva fogosa dona da pensão, que tem desejos fortes pelo carteiro, e é bem sexy. Trata-se de Fernanda Carvalho Leite, que já trabalhou com o Carlão Reichenbach como a personagem Lucineide na dobradinha GAROTAS DO ABC e FALSA LOURA. Dá até pra imaginar a diferença que seria se fosse o Carlão dirigindo. O quanto ele aproveitaria da sensualidade dessa mulher e do enredo como um todo.

Reginaldo Faria, porém, preferiu voltar no tempo e fazer um filme ingênuo, ensaiou uma espécie de saudosismo do ato de escrever cartas, com flertes com a literatura, especialmente com Machado de Assis, mas que infelizmente só serviu para deixar o espectador aborrecido ou, pior, constrangido. O CARTEIRO foi filmado na bela cidade de Santa Maria, que foi palco recentemente de uma triste tragédia. Pode-se dizer que as paisagens do lugar ajudam o filme a dar um pouco de respiro ao desapontado espectador.

quinta-feira, abril 18, 2013

CHAMADA DE EMERGÊNCIA (The Call)























O trailer de CHAMADA DE EMERGÊNCIA (2013) passa a impressão de ser um desses filmes de suspense bem toscos, com um psicopata mal feito e cenas de suspense que não funcionam. Bom, o filme pode até não ser um grande thriller, mas é eficiente que é uma beleza na construção dos momentos de suspense. O vilão também não é dos melhores, mas como o filme esconde o rosto dele durante boa parte de sua duração, o que interessa mesmo é a relação que se estabelece entre a atendente do 911 (Halle Berry), o número de emergência dos Estados Unidos, e a garota que foi sequestrada (Abigail Breslin).

O mérito do filme é conseguir manter a atenção e o interesse do espectador durante as cenas em que a garota está presa dentro do porta-malas do carro do psicopata (que já havia feito uma vítima no prólogo do filme). Brad Anderson, o diretor, andava meio sumido do cinema, depois de ter até sido eleito "mestre do horror", por causa de filmes como SESSION 9 (2001) e O OPERÁRIO (2004). Daí ele foi chamado para dirigir episódios de duas antologias de terror: "Sounds Like" para MASTERS OF HORROR (2006) e "Spooked" para FEAR ITSELF (2008). Assim, ele acabou caindo nas garras da televisão e dirigindo episódios de outras séries. Não que isso seja ruim (boa parte das séries são de qualidade), mas isso acabou quebrando o que seria uma boa carreira como diretor dos gêneros horror e suspense para cinema.

Sorte que em CHAMADA DE EMERGÊNCIA ele conta com duas boas atrizes. Halle Berry, depois do Oscar por A ÚLTIMA CEIA desandou um pouco na carreira, mas de vez em quando faz bons filmes. Além do mais, nunca deixou de ser boa atriz. Que o diga as cenas em que ela mostra fragilidade e pânico ao ter que lidar novamente com um assassino que pode matar uma garota inocente e trazer de volta o sentimento de culpa por não ter conseguido dar o melhor de si. Aliás, o filme também serve como uma ótima apresentação de como funciona a "colmeia", que é como ela denomina o local em que trabalha, com várias pessoas, a maioria, mulheres, procurando ajudar alguém em perigo. O filme, de certa forma, presta tributo a essas pessoas, que são tão importantes quanto os bombeiros ou policiais.

O que pode causar certo incômodo no espectador são os momentos finais. Não no sentido da violência, mas nos atos da protagonista e, posteriormente, da garota sequestrada. Haveria centenas de opções para o filme terminar, mas creio que se a escolhida fosse uma mais realista talvez não tivesse o impacto que o filme tem, apesar dos clichês e de uma certa cena perto do mastro da bandeira dos Estados Unidos. Uma bandeira que, aliás, pode ter um sentido dúbio. Quanto às motivações do assassino, o filme até inventa, mas talvez nem fosse necessário. Além do mais, quem curte FAMÍLIA SOPRANO vai gostar de ver a participação de Michael Imperioli.

quarta-feira, abril 17, 2013

HITCHCOCK























É a tal história: se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé. (Falar nisso, nunca entendi esse ditado popular e só agora me dou conta disso.) Resolvi, enfim, ver HITCHCOCK (2012), já que o filme não vem mesmo pra cá. E se vier, já era. E como alguns amigos disseram, o filme é mesmo decepcionante, embora seja interessante, por se tratar dos bastidores de um dos melhores filmes de todos os tempos, dirigido por um dos mais geniais cineastas de todos os tempos.

Aliás, quanto à qualificação de Alfred Hitchcock, o diretor Sacha Gervasi não deixa dúvidas, mas também acaba fazendo um trabalho muito bobo, a respeito dos sentimentos de ciúme do velho Hitch por sua esposa Alma, que ele acredita estar lhe traindo com um outro sujeito mais jovem. É mais um filme sobre as inseguranças de Hitchcock, a exemplo de THE GIRL, embora eu ainda ache o telefilme mais curioso e que tem a vantagem de colocar mais lenha na fogueira sobre a persona sádica do mestre do suspense.

HITCHCOCK não. É um filme que se apropria do nome do mestre para o título e de um elenco muito bom (Anthony Hopkins, Helen Mirren, Scarlett Johansson, Danny Huston, Toni Colette, Jessica Biel, James D’Arcy) para fazer uma obra que nada diz. E a culpa nem é de Anthony Hopkins, que até se esforça para se assemelhar ao mestre, ainda mais com aquela maquiagem pesada. No fim das contas, quem acaba brilhando mesmo é Helen Mirren, cheia de charme, mas que deve ser um tantinho mais bonita e mais atraente que a Alma.

Algumas coisas são curiosas, como o juramento de não entregar nada sobre a realização do filme, as dificuldades de Hitchcock em conseguir apoio dos executivos da Paramount, o corte final com a ajuda fantástica de Alma, Scarlett vivendo uma Janet Leigh muito simpática e dizendo que Hitch é muito mais fácil de lidar do que Orson Welles, entre outros detalhes. De todo modo, melhor ler o livro Alfred Hitchcock e os Bastidores de Psicose, de Stephen Rebello, que ainda é fácil de encontrar nas livrarias.

terça-feira, abril 16, 2013

FAZIL























Convenciona-se dizer que o melhor filme da fase muda de Howard Hawks é A GIRL IN EVERY PORT (1928). E talvez seja mesmo. Mas confesso que fui pego de surpresa com FAZIL (1928), que ele fez logo em seguida, e que é uma espécie de filme de transição entre a fase muda e a falada. Já havia música própria e som sincronizado em algumas partes do filme, o que torna o resultado bem interessante. Até porque a trilha sonora solene é de uma beleza impressionante.

Agora, é um filme que destoa bastante do tom menos carregados dos trabalhos de Hawks, que nunca foi de chorumelas nem em seus filmes mais dramáticos. Ainda assim, FAZIL é como se fosse o outro lado da mesma moeda de PAID TO LOVE (1927), embora esses filmes sejam de gêneros opostos. No lugar de uma comédia romântica, uma tragédia romântica. O que há de comum no filme dentro da filmografia de Hawks é a figura feminina, independente, não importando as circunstâncias.

E no caso de FAZIL as circunstâncias são bem complicadas. Afinal, ele, o príncipe Fazil, é um árabe mulçumano com costumes bem distintos de uma parisiense dos loucos anos 1920, quando a Europa vivia um momento todo especial, de vanguardas e novas liberdades, inclusive para as mulheres. E Fabienne (Greta Nissen) era uma típica mulher daquela época. E, assim como o príncipe de PAID TO LOVE, o príncipe Fazil também não tinha interesse por nenhuma mulher de sua região. Até conhecer uma moça bem especial, em uma viagem de negócios que faz a Veneza.

Aliás, que cena linda aquela do primeiro beijo dos dois, na gôndola. A fotografia escura, acentuada pela cópia ruim, esconde o primeiro contato dos lábios dos dois,que fica totalmente na penumbra, para depois um pouco da luz da lua nos revelar. E é uma cena incrivelmente sentimental, com a música veneziana ao fundo. É até possível sentir as pulsações dos corações dos dois. E como é natural nos filmes de Hawks, as coisas acontecem muito rapidamente – não à toa ele tem um filme chamado VIVAMOS HOJE (1933). Os dois logo se casam, mas a diferença cultural torna tudo muito difícil.

Curioso notar que, mesmo nesse filme tão pesado e solene, Hawks ainda faz uma piada, dessa vez de humor negro: trata-se da cena em que um dos homens de Fazil é pego por ter fugido do exército. Quando o carrasco pega a lâmina para lhe decepar a cabeça, tudo para, pois é o momento de orar, ajoelhado de frente para Meca. Esse momento destoa do tom geral do filme, mas não atrapalha, até por ser uma das primeiras cenas.

segunda-feira, abril 15, 2013

ANGIE (Open Road)























Não deixa de ser corajosa a atitude de Marcio Garcia de sair do conforto de trabalhar como galã de novela ou apresentador de programa da Rede Globo para buscar o sonho de ser diretor de cinema. E em Hollywood. Não é nada fácil, especialmente para quem não tem um bom trabalho que sirva como cartão de visitas, como foi o caso de cineastas como Walter Salles, José Padilha, Hector Babenco, Fernando Meirelles e, mais recentemente, Afonso Poyart. Garcia, ao contrário, foi com a cara e a coragem, estreou com um longa-metragem que foi malhado pela crítica e ignorado pelo público (AMOR POR ACASO, 2010), mas não desistiu.

ANGIE (2013), seu segundo longa, provavelmente deve ter um resultado similar, embora seja um filme que tem os seus momentos. Principalmente por contar com o esforço da bela e talentosa Camilla Belle, que, embora tendo nascido em Los Angeles, tem fortes laços com o Brasil, já que sua mãe é brasileira e seu português é perfeito. Além da beleza especial que ela possui, a moça tem um histórico interessante: já contracenou com Daniel Day-Lewis (O MUNDO DE JACK E ROSE), já trabalhou com Steven Spielberg (O MUNDO PERDIDO: JURASSIC PARK), já protagonizou um ótimo thriller (QUANDO UM ESTRANHO CHAMA).

Em ANGIE, ela é uma moça que nasceu no Brasil, mas que está nos Estados Unidos à procura de alguém. Aos poucos, vamos sabendo quem é. Enquanto o mistério não é resolvido, ANGIE é um filme até fácil de ser curtido. Pela beleza de Camilla, pelo romance da personagem com o policial da cidadezinha (Colin Egglesfield), pelo relacionamento com o senhor que mora na rua, vivido por Andy Garcia, pelo caráter de road movie que em certo momento o filme parece ensaiar.

Mas ANGIE vai se mostrando cada vez mais frágil em sua construção do enredo. É um tipo de trama que se adequaria bem se bem dirigida por algum cineasta europeu com talento e sensibilidade. E é algo que Garcia ainda não exibiu e não se sabe se um dia exibirá. Talvez com um bom roteiro, quem sabe ele consiga. A roteirista de seu longa, Julia Camara, é uma das responsáveis pelo roteiro de ÁREA Q, outra parceria do Brasil com os Estados Unidos, mas com resultados um pouco melhores.

Outro rosto conhecido do cinema americano que ajuda a compor o elenco é o de Juliette Lewis, que na década de 1990 fez bastante sucesso em inúmeros filmes, mas que aos poucos foi se dedicando cada vez mais à sua banda de rock, Juliette and the Licks. No entanto, a banda saiu de atividade em 2009 e a atriz tem trabalhado principalmente como coadjuvante. John Savage é outro que está em decadência, mas que também teve os seus momentos de glória, nas décadas de 70 e 80. São atores que conferem ao filme de Marcio Garcia um status profissional. Um bom roteiro bem que cairia bem.

domingo, abril 14, 2013

OBLIVION























Não dá para negar que a carreira de Tom Cruise é uma das mais bem-sucedidas de Hollywood. Com a tendência a buscar quase sempre grandes diretores para dirigi-lo, nos anos 1990 e 2000, o ator aos poucos foi mostrando uma necessidade cada vez maior de controlar seus filmes, principalmente a partir do momento em que se tornou também produtor, com MISSÃO: IMPOSSÍVEL (1996), de Brian De Palma.

Talvez, por isso, nos últimos anos, tenha deixado de trabalhar com autores de grande calibre para poder ter ainda mais controle de suas produções, atuando em filmes de diretores pouco conhecidos, como é o caso de Joseph Kosinski, de TRON – O LEGADO (2010). O fato é que OBLIVION (2013), ainda que seja um filme que tenha o seu charme e que conte com mistérios que só aos poucos são desvendados, é um trabalho que cansa em sua duração. E 126 minutos hoje é duração até de certas comédias.

O trailer já denuncia que há algo de MATRIX na trama de OBLIVION. O início do filme, com imagens em preto e branco mostrando uma mulher (Olga Kurylenko) que insiste em aparecer nos sonhos do protagonista e sua voice-over dizendo que sua companheira de trabalho (e de sexo) (Andrea Riseborough) não compartilha de memórias similares, também denuncia que há algo de errado naquela rotina que ele leva.

Felizmente, a trama, baseada em uma graphic novel do próprio Joseph Kosinski com desenhos de Arvid Nelson, é intrincada o bastante para prender a atenção e o interesse, pelo menos até certo momento. A produção caprichada, com naves com design diferente, uma estação espacial em formato de pirâmide e armas arredondadas e furiosas, também conta pontos. Há também uma Terra devastada e cinza, como a mostrada em WALL-E, a animação da Pixar. Aliás, o trabalho de Jack Harper, o personagem de Cruise, é também parecido com o do robozinho: fazer a manutenção do planeta, enquanto o resto da humanidade está em Titã, a principal lua de Saturno.

Há sequências de ação interessantes, os momentos contemplativos (com direito a "Ramble On", do Led Zeppelin) são bonitos, assim como a nudez de Riseborough na piscina é algo a se apreciar, mas há problemas de ritmo no filme. E isso é uma de suas maiores falhas, embora haja algumas surpresas na trama, mesmo já se suspeitando do principal desde o começo.

Outro problema é a falta de mais emoção quando do surgimento da personagem de Olga Kurylkenko e quando o personagem descobre quem ele realmente é. Por isso o desfecho acaba sendo tão frio quanto o mundo asséptico no qual ele trabalha com sua companheira. Ainda assim, é um filme que merece ser visto, até para apreciar a bela fotografia de Claudio Miranda, o diretor de fotografia chileno ganhador do Oscar por AS AVENTURAS DE PI.

sábado, abril 13, 2013

PILOTO DE PROVAS (Test Pilot)























Se não fosse essa retomada de mais alguns filmes de Howard Hawks que resolvi fazer por "culpa" da Liga, não teria dado com esta belezura que é PILOTO DE PROVAS (1938), de Victor Fleming, cujo roteiro passou pela mão de Hawks e que não foi creditado. Uma pena, pois é a cara dele. Tanto a exaltação da amizade masculina, quanto a coragem deles de pilotar aqueles teco-tecos antigos, quanto a figura da mulher espevitada e encantadora, bem como o diálogo rápido que seria sua marca e que atingiria o ápice em JEJUM DE AMOR (1940), tudo isso é marca de Hawks. Sem querer negar o talento de Fleming, foi Hawks que imprimiu sua marca, não ele.

Mas pelo menos Fleming conduziu o filme muito bem, além de ter servido para aumentar a amizade que ele tinha com Clark Gable, que o chamaria para ser o diretor definitivo da dança de cineastas que foi a produção de E O VENTO LEVOU (1939). Gable, nos anos 30, era uma espécie de rei de Hollywood, e falam bastante de brigas de ego entre ele e Spencer Tracy, que reclamava que já estava cansado de fazer escada para os outros astros. E Tracy sabia que PILOTO DE PROVAS era mais um filme para abrilhantar a estrela de Gable.

O barato do filme é que ele equilibra bem a leveza das screwball comedies que Hawks soube fazer tão bem com a tensão dos filmes de aviação, já que trata de pilotos que faziam testes para os aviões que ainda seriam usados em caráter oficial por civis e militares. Assim, o perigo era tremendo. E há várias cenas bem tensas no ar, muito bem dirigidas e quase sem uso da música, o que só aumenta a tensão. A cena em que, por exemplo, um dos aviões perde as asas durante a descida forçada é perturbadora.

E assim como o filme lida tão bem com a amizade entre Jim (Gable) e Gunner (Tracy), o relacionamento amoroso de Jim e Ann (a adorável Myrna Loy, de OS MELHORES ANOS DE NOSSAS VIDAS) é o que torna a trama no início agradável e leve, mas que aos poucos acaba sendo motivo para mais preocupação, por causa do trabalho perigoso de Jim. Também é muito interessante a rapidez com que tudo é feito pelos personagens, como se a vida tivesse mesmo que ser vivida como se fosse o último instante. Assim, o casamento dos dois é rápido, a vida deles é delirantemente rápida e o próprio chefe de Jim, vivido pelo mais do que simpático Lionel Barrymore, entende perfeitamente as atitudes impulsivas de seu protegido.

A cena mais dramática provavelmente teria sido feita de maneira diferente se fosse dirigida por Hawks, como podemos comprovar em um filme de aviação que Hawks dirigiu no ano seguinte, a obra-prima PARAÍSO INFERNAL (1939). Mas isso não diminui a beleza e o vigor de PILOTO DE PROVAS.

sexta-feira, abril 12, 2013

EMANUELLE E OS ÚLTIMOS CANIBAIS (Emanuelle e gli Ultimi Cannibali)























Se o espanhol Jesús Franco, falecido recentemente, é chamado de "o homem dos 200 filmes", o mesmo pode ser dito do italiano Joe D’Amato, que, pelo menos no IMDB, consta com essa mesma quantia de títulos dirigidos. Alguns deles foram de filmes pornôs e pouco se conhece dos últimos trabalhos, provavelmente feitos sem o menor capricho. Nos anos 1970, porém, é possível encontrar obras bem interessantes de D’Amato, entre elas este EMANUELLE E OS ÚLTIMOS CANIBAIS (1977), que soube aproveitar duas coisas que estavam na moda: os filmes estrelados por Laura Gemser, a Emanuelle Negra, e o chamado ciclo canibal.

Sobre este último, vale dizer o quanto ele foi importante para o cinema de horror produzido na Itália e o quanto esses filmes eram convincentes na utilização dos efeitos especiais, em especial nas cenas em que os canibais arrancam pedaços dos corpos de suas vítimas. Para dizer o mínimo, já que um filme como CANIBAL HOLOCAUSTO, de Ruggero Deodato, foi capaz de muito mais, e é até hoje tido como um dos títulos mais violentos de todos os tempos.

Mas o curioso é que tanto este filme de Joe D’Amato quanto o primeiro filme de canibais de Deodato, O ÚLTIMO MUNDO DOS CANIBAIS, são do mesmo ano. E ambos os filmes exploram também a sexualidade, sendo que ainda prefiro o de Deodato, que conta com uma índia canibal linda de morrer. Já o filme de D’Amato é um exploitation descarado, com várias cenas em que a aventura para apenas com o objetivo de observarmos os corpos nus das atrizes ou de vermos alguma cena de sexo simulado. Inclusive, a cena de Laura Gemser tomando banho nua no rio com a loirinha Mónica Zanchi é de uma taradice adorável.

Na trama, a jornalista Emanuelle é chamada para cobrir uma reportagem sobre os índios canibais da Amazônia. Além de aceitar, ela ainda resolve dar umazinha com o especialista em canibais que a levaráa para a selva. Chegando na Amazônia, forma-se um grupo para adentrar a mata selvagem e a aventura começa logo cedo, quando Emanuelle é enlaçada por uma jiboia. E isso é só o começo, pois os canibais estão ao redor, prontos a pegá-los, um a um.

Quanto a Laura Gemser, impressionante como ela é sensual, ainda que o seu corpo, para os padrões de hoje, nem seja assim tão bonito. Mas ela tinha algo especial, que justificava seu sucesso num tipo de cinema que sobreviveu durante um bom tempo.

quinta-feira, abril 11, 2013

MAMA























Guillermo del Toro deveria receber uma medalha por ótimos serviços prestados ao cinema de horror e também por ter um bom olho para cineastas sem muita experiência e sem ainda um longa-metragem no currículo, como aconteceu antes com  Juan Antonio Bayona, de O ORFANATO (2007), e Troy Nixey, de NÃO TENHA MEDO DO ESCURO (2010). Ambos os filmes lidam com o universo infantil e embora del Toro não esteja na função de diretor, esse é um universo que lhe é particularmente caro, vide fortes trabalhos seus como A ESPINHA DO DIABO (2001) e O LABIRINTO DO FAUNO (2006).

E é seguindo esta linha que o diretor/produtor deu de cara com um curta-metragem de pouco mais de três minutos, mas que é impressionante na forma eficaz como constrói o horror. Trata-se de MAMÁ (2008), de Andy Muschietti. Seu curta de horror serviu não só como cartão de visita, mas como base para um longa-metragem que amplia o medo que o curta traz e acrescenta um elemento muito comum ao sangue latino: o sentimentalismo exacerbado.

Um diretor anglo-saxão, por exemplo, não teria conferido a MAMA (2013) tal grau de dramaticidade, principalmente em seu emocionante final. Assim, o longa de estreia de Muschietti (espero ouvir muitas vezes seu nome) vai além do jogo de sustos tão comum em filmes do gênero. Ao contrário, embora haja alguns poucos momentos de sustos e arrepio, há todo um cuidado para não banalizar a figura da Mama.

Na trama, duas garotinhas, uma de cinco anos e outra de um ano de idade, são levadas por seu pai para uma floresta. O pai está fugindo de alguém. Acabou de matar pessoas, inclusive a mãe das meninas. O prólogo mostra o seu destino nas mãos da Mama, um ser sobrenatural dono de uma cabana no meio da floresta. Anos depois, as crianças são encontradas e são levadas para serem cuidadas pelo tio, vivido por Nikolaj Coster-Waldau (o regicida Jaime Lanister, conhecido de quem acompanha a série GAME OF THRONES). Ele é casado com uma cantora de uma banda punk, vivida por Jessica Chastain.

A figura de Chastain será fundamental para a trama, para o sentimento das crianças em relação a ela e também para o sentimento da Mama em relação a ela. Sim, Mama, embora invisível e ainda um mistério para o psicólogo que tenta entender as meninas, foi para a casa junto com as crianças. A mais nova, inclusive, tem um carinho muito especial por ela, enquanto a mais velha, que já teve mais contato com seres humanos normais em sua existência, fica dividida e temerosa.

Embora o roteiro pareça ser um tanto comum, trazendo alguns clichês, eles parecem inevitáveis. E fazem parte da gostosura que é ver o filme. Há, nos bons filmes de horror, essa sensação de familiaridade que remete a uma gostosa noite de tempestade com trovoadas, debaixo de lençóis. O grande diferencial de MAMA é que o filme não tem medo de explicitar a até então escondida personagem em seus momentos finais, quando ela se torna um efeito de animação em CGI, porém com uma dramaticidade no olhar que é como se ganhasse de fato vida.

O ápice, no precipício, é o grande momento em que MAMA passa de filme de horror para um filme sobre o amor materno. Um amor muito estranho, é verdade, mas aí é que está a beleza goticamente romântica que o trabalho de Muschietti faz questão de enfatizar.

quarta-feira, abril 10, 2013

PAID TO LOVE























Não se engane com a boa qualidade da foto acima. A cópia de PAID TO LOVE (1927) está bem sofrível. E acho que foi a primeira vez que vi um filme mudo sem música alguma. Não deixa de ser uma experiência interessante. Até porque, ainda que esteja longe das obras-primas que Howard Hawks viria a dirigir no futuro, PAID TO LOVE é pelo menos mais bem resolvido em termos narrativos do que FIG LEAVES (1927), que tem momentos melhores mas que no todo é um tanto cansativo.

Já PAID TO LOVE, seu quarto longa-metragem, é uma simples história de amor, sem maiores ambições, que o próprio Hawks não gostou nada de ter feito. Só fez para cumprir contrato. Mas, como o diretor comentou em entrevista a Peter Bogdanovich, as inovações técnicas que o filme traz, como mais movimentação de câmera, influenciadas pela chegada de F.W. Murnau em Hollywood, com a obra-prima AURORA, fazem alguma diferença. Agora, claro que nem dá para comparar o pequeno PAID TO LOVE com o grandioso AURORA. (Aliás, já imaginaram o que teria acontecido se Murnau tivesse vivido mais tempo?)

Na trama de PAID TO LOVE, um príncipe de um pequeno reinado não costuma se interessar pelas mulheres do lugar e um negociante americano, conversando com o rei, diz que não é bom para os negócios ter um filho assim. Ele leva o pai do rapaz a Paris, em busca de uma mulher que possa acender a chama do amor no jovem. E, ainda que as coisas não tenham saído como eles programaram, os dois acabam se conhecendo numa noite de chuva. E o amor acontece.

Isso não é o fim da história, mas apenas o começo. PAID TO LOVE, já desde o início, quando vemos o comerciante americano procurando ajuda na estrada com o carro quebrado e sendo ajudado pelo príncipe, em trajes que não denunciam sua realeza, antecipa as ótimas comédias que Hawks faria com a chegada do cinema falado. Enquanto isso não acontece, é aproveitar para ver estes curiosos filmes mudos que sobreviveram ao tempo.

terça-feira, abril 09, 2013

UMA HISTÓRIA DE AMOR E FÚRIA























Não é sempre que temos a oportunidade de ver uma animação brasileira dirigida ao público adulto. Pelo que consta em alguns portais de cinema, inclusive, UMA HISTÓRIA DE AMOR E FÚRIA (2011) é um caso pioneiro. E, felizmente, é uma animação que só deixa a dever às produzidas nos Estados Unidos e no Japão, os dois maiores polos produtores do mundo, nos aspectos técnicos, já que traz uma narrativa fascinante, que talvez só peque por ser curta demais. Caberia mais uma história ali tranquilamente.

Mas sabemos o quanto é difícil produzir animação no Brasil, que ainda não tem uma tradição e uma equipe forte para dar conta de um longa-metragem tão ambicioso. Por isso UMA HISTÓRIA DE AMOR E FÚRIA levou seis anos para ficar pronto. E hoje podemos conferir com prazer uma história que, além de ter o seu viés didático, contando momentos importantes da História do Brasil, é também política, no sentido de que todas as histórias oferecem visões críticas da História oficial de nosso país.

O filme conta a história de um homem que tem cerca de 600 anos de idade em quatro momentos importantes da História do Brasil. Três delas no passado e uma no futuro, na chamada Guerra da Água. Sempre que ele morre, ele se transforma num pássaro e encontra séculos ou décadas depois a mesma mulher por quem ele é apaixonado desde os tempos em que ele era um índio da tribo tupinambá. Ele é vivido por Selton Mello; ela, por Camila Pitanga. Ela, curiosamente, sempre se chama Janaína, mesmo nascendo e morrendo em diferentes épocas. Como uma síntese da mulher brasileira, segundo Camila Pitanga.

Vale dizer que o primeiro processo de realização do filme foi capturar a interpretação dos atores dubladores (que também inclui Rodrigo Santoro), para só em seguida desenhar e animar a história. Como o diretor Luiz Bolognesi é fã tanto de histórias em quadrinhos, quanto de História do Brasil, ele achou ótimo poder juntar as duas coisas em uma única obra. Além do mais, uma animação tem a vantagem, principalmente em um país ainda com produções de pequeno porte como o Brasil, de poder trazer um visual futurista, com naves espaciais, sem parecer tosco ou algo do tipo.

Uma das histórias mais fascinantes é também uma que é pouca lembrada nos livros de História, que é a Balaiada, um momento em que escravos e descendentes de escravos do Maranhão conseguiram se libertar dos fazendeiros que os exploravam e tomaram para si a cidade de Caxias, que depois seria famosa por batizar o homem enviado pelo Imperador, o Duque de Caxias, da história oficial dos livros da época da ditadura.

E assim também vemos o protagonista passar pelos anos de chumbo da ditadura e logo em seguida para o futuro, no ano de 2096. Mas o mais importante, dentro da narrativa é a ideia de uma força antagonista e maligna, que acaba por destruir os sonhos dos mais nobres, o Anhangá, que aparece no conto dos tupinambás e continua sendo citado ao longo do filme pelo personagem de Selton Mello. O amor dos protagonistas está sempre comprometido pela intervenção dessa espécie de deus indígena que seduz para a morte. Quer dizer, apesar de terminar como uma produção futurista, UMA HISTÓRIA DE AMOR E FÚRIA nunca perde as raízes. Assim, nunca deixamos de ser um pouco tupinambás.

segunda-feira, abril 08, 2013

INVASÃO À CASA BRANCA (Olympus Has Fallen)























Que bela surpresa que é este INVASÃO À CASA BRANCA (2013). O diretor Antoine Fuqua impressionou meio mundo quando fez sucesso com DIA DE TREINAMENTO (2001), mas depois foi deixando-se perder pelo caminho. Filmes como REI ARTHUR (2004) e ATRAÍDOS PELO CRIME (2009), para citar os que vi, não são exatamente exemplos de grande cinema. Mas eis que ele faz um belo filme novamente em um trabalho que até tinha muito para dar errado, principalmente pela dosagem de patriotismo. Quando exacerbada, ela pode ser fatal.

Mas Fuqua também teve sorte que os Estados Unidos estão vivendo um momento particularmente delicado. E outra guerra com a Coreia do Norte pode estar iminente, se os norte-coreanos realmente cumprirem as ameaças. O fato é que INVASÃO À CASA BRANCA, se pode parecer mais um daqueles disaster movies que os americanos gostam de fazer, destruindo seus patrimônios históricos quase que de maneira masoquista, é, acima de tudo, uma obra que eleva os seus ânimos patrióticos. Se o público brasileiro é capaz de vibrar com o filme, como pude testemunhar na sessão deste domingo, imagine como é nos Estados Unidos, onde a bandeira listrada e com estrelas é tão mais respeitada.

O filme é carregado de tensão, tem um prólogo muito bonito plasticamente, e que já mostra a fragilidade do oficial do Serviço Secreto Mike Banning (Gerard Butler), depois de uma falha que resulta em morte e que tirará do serviço o agente. 18 meses depois, ele trabalha ainda na área de segurança e é casado com uma bela enfermeira vivida por Radha Mitchell. A chance de redenção vem de maneira ingrata: quando a Casa Branca é invadida por um grupo de terroristas norte-coreanos.

O elenco é grandioso. Além dos já mencionados, temos Aaron Eckhart, no papel do presidente; Dylan McDermott, como um assessor do presidente; Rick Yune, como o vilão Kang; Morgan Freeman, como o presidente em exercício durante a situação; Melissa Leo, como a Secretária de Defesa; Angela Bassett, como Diretora do Serviço Secreto; Robert Forster como um general de alta patente; e Ashley Judd, como a primeira dama. É muita gente boa envolvida, o que dá até para ficar desconfiado. Junte-se a isso uma produção bem cuidada no que se refere às cenas de ataque à Casa Branca e ao poderio militar dos Estados Unidos e dos coreanos. Porém, isso tudo não seria suficiente se Fuqua não dirigisse com competência.

O que INVASÃO À CASA BRANCA não consegue fugir é do velho tema do exército de um homem só, tão comum em filmes hollywoodianos, principalmente os da Era Reagan. Agora a moda parecesse estar voltando novamente, ainda que a sala do Serviço Secreto também tenha ajudado bastante o ex-oficial infiltrado e única esperança para salvar o presidente e seus subordinados.

O personagem de Butler é implacável com seus inimigos e o filme parece ter a intenção de mostrar força e selvageria por parte dos americanos. Ou pelo menos por parte deste homem em particular, que não hesita em quebrar pescoços ou enfiar facas na testa de seus inimigos. O que explica a classificação 16 anos que o filme ganhou no Brasil.

Por isso, o clima patriótico que o filme adota com força ao final pode até ser perdoado. Principalmente por ser rápido. Além do mais, por mais que os Estados Unidos sejam vistos como a grande nação imperialista da atualidade, eles ainda "representam boa parte da alegria existente no mundo", como bem disse Caetano Veloso. Estamos acostumados com seus filmes, com suas séries, com sua música, com seu consumismo, com seu estilo de vida, que penetrou em nossos lares há décadas. Para o bem e para o mal.

domingo, abril 07, 2013

A VIRGIN AMONG THE LIVING DEAD (La Nuit des Étoiles Filantes / Eine Jungfrau in den Krallen von Zombies / Una Vergine tra i Morti Viventi / Virgen entre los Muertos Vivientes / Christina chez les Morts Vivants)























Esta semana está sendo cruel para o mundo do cinema. No dia 2, morreu o diretor espanhol Jesús Franco; no dia 4, o crítico de cinema americano Roger Ebert. Neste sábado, dia 6, foi a vez do cineasta catalão Bigas Luna ser levado pelo ceifador. No dia da morte de Jess Franco, procurei mais um filme do diretor para prestar minhas homenagens. O último dele que havia visto fora DORIANA GRAY (1976), por ocasião da morte de sua esposa, Lina Romay, no ano passado.

Desta vez, o trabalho de Franco que eu tinha mais fácil à disposição era uma ótima cópia de A VIRGIN AMONG THE LIVING DEAD (1973), título internacional para uma produção que tem infinitos títulos, até por ser coproduzida por vários países (Bélgica, França, Itália, Liechtenstein). Existe uma versão deste filme com cenas de zumbi acrescidas por Jean Rollin, mas dizem que esta versão "estendida" não é das melhores. Que a melhor mesmo é esta versão "do diretor", com menos de 80 minutos.

Não vou dizer que foi o melhor dos filmes de Franco que vi, pois estaria mentindo. Mas também confesso que não sou de seus maiores fãs. Tenho como meu favorito ainda o clássico jazzístico VAMPYROS LESBOS (1971). Porém, se nesse que é um dos trabalhos mais festejados de Franco, há a beleza fenomenal de Soledad Miranda, em A VIRGIN AMONG THE LIVING DEAD, há também outra beldade de encher os olhos: Christina von Blanc.

Ela é a jovem que é chamada para ouvir o testamento deixado pelo seu pai, que morava num castelo afastado. Quem a leva até o castelo é um senhor com problemas mentais que só balbucia palavras sem sentido, interpretado pelo próprio Franco. Ao chegar no castelo, ela percebe que as pessoas de lá têm um comportamento um tanto estranho, mas todos parecem ser bastante atenciosos.

As coisas começam a ficar mais estranhas mesmo quando ela vê o corpo de seu pai (ainda com a forca no pescoço) pedindo para que ela fuja daquele lugar. Outro momento estranho é quando ela testemunha uma das residentes do lugar e ela está tomando um pouco do sangue de uma das empregadas da casa, usando uma faca, e não os dentes, como seria mais comum de se ver em filmes de vampiro.

Falta ao filme um mistério ou uma angústia que até mesmo uma obra considerada menor do diretor, como HISTORIA SEXUAL DE O (1984), tem. A VIRGIN AMONG THE LIVING DEAD se apoia muito na beleza de Christina von Blanc. E também de outra mulher linda, que passa o tempo quase todo seminua na casa, a portuguesa Britt Nichols, que já havia trabalhado com Franco antes em filmes como DRÁCULA CONTRA FRANKENSTEIN (1972), LA FILLE DE DRACULA (1972) e LES DÉMONS (1973). Quer dizer: estão todos em casa, mas nota-se uma tremenda preguiça de Franco em fazer de seu filme algo maior do que uma obra com elementos de terror e erotismo.

sábado, abril 06, 2013

NA TERRA DE AMOR E ÓDIO (In the Land of Blood and Honey)























Não dá para dizer que a estreia na direção de Angelina Jolie foi um desastre. Ela pegou um tema difícil e todo mundo sabe como nem sempre os norte-americanos conseguem se aproximar das realidades dos países de que eles ousam falar, gerando muitas vezes desconforto e até indignação nas nações. Quantas vezes eles conseguiram, por exemplo, mostrar o Brasil que não fosse através de uma visão estereotipada? Imagina o que não é, portanto, falar sobre uma região tão dividida e tão complexa como é a ex-Ioguslávia.

Mas Jolie teve coragem de enfrentar a empreitada com o seu NA TERRA DE AMOR E ÓDIO (2011), preferindo falar contar uma trágica história de amor em tempos de guerra. Se é que dá para chamar o massacre dos bósnios pelo exército sérvio de guerra, de tão covarde que foi. A guerra da Bósnia é considerada a pior e mais sangrenta guerra acontecida desde a Segunda Guerra Mundial. Mulheres foram levadas para satisfazer as necessidades práticas e sexuais dos soldados, sendo maltratadas e estupradas. Os poucos homens bósnios membros da resistência procuravam atingir os sérvios, mas seu poderio de ataque era muito pequeno e eles foram executados e enterrados, depois de terem passado algum tempo em campos de concentração. Parecia uma reprise dos tempos do Holocausto.

NA TERRA DE AMOR E ÓDIO procura simplificar um pouco a situação, para fins de dramaturgia. Assim, o filme começa com o primeiro encontro em uma festa amistosa entre Ajla (Zana Marzanovic), uma bela moça bósnia mulçumana, e Daniel (Goran Kostic), um soldado sérvio. A dança romântica dos dois é interrompida por um bombardeio. A partir daí tudo muda: os sérvios passam a dominar a situação, levando embora incialmente mulheres para servi-los. E, por conveniência do roteiro, ela é levada justamente para o campo militar em que ele serve. Não demora para que ele tente ajudá-la, de alguma maneira.

Obviamente, é muito mais fácil o espectador ficar do lado dos oprimidos. Até porque os opressores são pintados como monstros. E na verdade não deveriam ser tão diferentes assim, para fazer o que fizeram. Assim, pequenos gestos de resistência dos bósnios são encarados como heroicos, embora quase vãos. Depois de mais de três anos da chamada limpeza étnica, as forças das Nações Unidas conseguem deter os soldados sérvios, que foram mortos ou presos como criminosos de guerra. Mas o estrago já estava feito.

Curiosamente, quando o filme foi lançado internacionalmente, a dublagem conservava as línguas sérvia e bósnia. Mas a versão que chegou ao Brasil e que talvez seja a mesma distribuída nos Estados Unidos e em diversos outros países foi a versão em língua inglesa. Porém, o inglês sincroniza bem com a fala dos atores, o que dá para entender que o filme foi de fato rodado em inglês, mas depois dublado para as línguas originais, possivelmente pelos próprios atores, quase todos nascidos na Bósnia, com exceção de Rade Serbedzija, croata, e rosto conhecido de filmes como X-MEN – PRIMEIRA CLASSE e BUSCA IMPLACÁVEL 2 e de séries como 24 HORAS e a recente RED WIDOW. Com a indicação que o filme de Jolie recebeu no Globo de Ouro para a categoria de melhor filme em língua estrangeira, fica a leve impressão de que a opção pelas línguas originais foi pura estratégia de marketing.

O filme também ofendeu a muitos bósnios por mostrar a guerra de maneira cruel, mas ainda assim de forma bastante limpa, com uma fotografia com filtros que atenuam a violência e cenas de guerra com a preferência pelo uso dos close-ups, muito provavelmente pela falta de experiência de Jolie na direção. Ainda mais de um filme de guerra. A seu favor, NA TERRA DE AMOR E ÓDIO tem um bom par de protagonistas, especialmente a bela atriz Zana Marzanovic, a que mais convence no papel.

sexta-feira, abril 05, 2013

G.I. JOE – RETALIAÇÃO (G.I. Joe – Retaliation)























O primeiro filme da franquia G.I. Joe não foi muito bem recebido pelos fãs. As razões são várias, algumas delas ligadas à suposta incompatibilidade do elenco escolhido para desempenhar certos personagens. Caso de Channing Tatum como Duke. Porém, depois de seu papel principal em G.I. JOE - A ORIGEM DE COBRA (2009) as coisas mudaram bastante com relação à popularidade do ator. Tatum fez sucesso em diversos filmes, desde dramas românticos como PARA SEMPRE e QUERIDO JOHN, até uma comédia de ação (ANJOS DA LEI) e um drama sobre strippers de clubes para mulheres (MAGIC MIKE).

O fato é que a popularidade do ator fez com que os produtores resolvessem mexer um pouco em sua participação no filme, que, a princípio, seria bem menor. Outro motivo para o atraso de um ano do lançamento foi a conversão para a tecnologia 3D, a fim de capitalizar nas bilheterias, já confirmada com a liderança no ranking do fim de semana nos Estados Unidos.

Assim, excetuando a participação do Duke, do presidente dos Estados Unidos (Jonathan Pryce), do ninja Storm Shadow (Byung-hun Lee) e de alguns poucos personagens secundários, praticamente todo o elenco principal de G.I. JOE - RETALIAÇÃO (2013) foi modificado. Os motivos devem ser vários, o principal deles, a já citada insatisfação do público com relação ao primeiro filme. O que é uma pena, pois deixamos de ter nesta continuação a bela ruiva Scarlett (Rachel Nichols) e o General Hawk (Dennis Quaid).

O problema é que, com astros como Dwayne Johnson e Bruce Willis no elenco principal, fica difícil dar espaço a tanta gente. E há, claramente, uma intenção de tornar este segundo filme um pouco mais sério do que o primeiro. Daí a necessidade de cortar um ator como Marlon Wayans, mais ligado a comédias. E a seriedade surge a partir do momento em que o sujeito que incorpora o corpo do presidente dos Estados Unidos manda matar todos os Joes.

Os poucos sobreviventes da chacina, chefiados agora por Roadblock (Johnson) se veem sozinhos, embora ainda possam contar com o ninja do grupo, o sujeito que nunca aparece com o rosto à mostra e nunca fala uma palavra, Snake Eyes, que estava do outro lado do mundo treinando uma jovem nas artes marciais. Com isso, o elenco ganha mais duas personagens femininas de peso, ainda que fiquem aquém de Sienna Miller e Rachel Nichols, as meninas do primeiro filme, em beleza e sensualidade.

Vários eventos e personagens do primeiro filme são esquecidos propositalmente, mas é interessante assistir, antes de ver este segundo filme, a G.I. JOE - A ORIGEM DE COBRA, de modo a se situar melhor na trama. As maquinações na Casa Branca continuam, graças principalmente a Cobra Commander e a Zartan, que é o sujeito que utiliza a nanotecnologia para ganhar a aparência do presidente e que deseja mostrar que pode destruir cidades inteiras com o toque de um botão.

Assim, o pequeno grupo chefiado por Roadblock procura a ajuda de um veterano dos Joes, o General John Colton (Willis), para conseguir um armamento pesado para conquistar a guerra contra seus grandes rivais terroristas e salvar o mundo. O curioso é o modo como o filme mostra a obsessão dos norte-americanos por armas pesadas. Principalmente aquelas de tamanho gigante, que um ator peso-pesado como Dwayne Johnson consegue carregar. É possível ver o filme sem pensar nesse aspecto já infiltrado no modo de vida americano, já que, desde a década de 1980, na era Reagan, os filmes de ação já utilizavam esse tipo de armamento pesado. O que diferencia G.I. JOE - RETALIAÇÃO desses filmes de ação tradicionais nem são seus elementos fantasiosos e suas armas gigantes, mas seus personagens exóticos.

Embora tenha o seu charme, G.I. JOE - RETALIAÇÃO não tem a graça do primeiro filme, nem sua ação non-stop. Provavelmente por causa da direção de Jon M. Chu, um sujeito que tem no currículo filmes como ELA DANÇA, EU DANÇO 2 e 3 (2008, 2010) e o documentário JUSTIN BIEBER: NEVER SAY NEVER (2011). De todo modo, para quem tem esse background, não deixa de surpreender a habilidade como Chu comanda o filme, ainda que o resultado não seja totalmente satisfatório. Pode não ser um grande épico de ação, mas fornece o entretenimento equivalente ao de um filme B lançado direto em vídeo.

quinta-feira, abril 04, 2013

OS CROODS (The Croods)























De certo modo, OS CROODS (2013) é uma evolução nas animações da Dreamworks, que costumam compensar sua pouca inspiração, em comparação com sua grande concorrente, a Pixar, com astros hollywoodianos famosos na dublagem. Isso, em alguns casos, quando o filme chega aos cinemas brasileiros, pode não significar tanto assim, mas em outros, como os de FORMIGUINHAZ (1998) e BEE MOVIE (2007), dublados respectivamente por Woody Allen e Jerry Seinfeld, ver o filme no idioma original é essencial. Isso para quem conhece os citados comediantes, claro.

Essa maior falta de capricho na parte técnica na comparação entre os dois estúdios de animação pode ser lembrada apenas ao pensarmos no extremo cuidado na confecção dos fios de cabelo da Princesa Merida, em VALENTE, da Pixar. Entretanto, deixando de lado comparações, e atentando para o filme, OS CROODS dá um passo à frente na história das animações da companhia, também por trazer entre suas mentes criativas um ex-Monty Python, John Cleese. Por isso em alguns momentos o filme tem um humor bem interessante e engraçado, levemente próximo ao do grupo britânico. A brincadeira com o desejo de que a velha sogra morra é talvez um exemplo.

Há também uma leve referência ao mito da caverna de Platão, já que a família fica presa à caverna durante dias por obediência ao patriarca (voz de Nicolas Cage, na versão original) e por causa das várias experiências perigosas que eles testemunharam e que mataram famílias vizinhas deles. A personagem da filha adolescente Eep (Emma Stone) é que vai desafiar a falta de coragem (ou necessidade de sobrevivência) do pai, já que é por causa dela que eles conseguem contato com um rapaz, Guy (Ryan Reynolds), que sabe que o "fim do mundo" está próximo e que oferece a ela uma espécie de apito para ser usado nos momentos em que ela estiver em perigo.

O tal fim do mundo seria a reconfiguração do Planeta Terra separando os continentes, como os conhecemos hoje. E nesse ponto a história guarda semelhanças com a de A ERA DO GELO 4, que também conta sobre esse importante momento em nosso planeta. Acontece que em OS CROODS, essa mudança de configuração é progressiva e variada e é elemento importante na construção dos momentos de mudanças e de ações dos personagens.

Assim, depois que a Terra passa a se partir ao meio, a caverna onde os Croods mora é destruída e eles olham um mundo totalmente novo e colorido, mas ainda bastante perigoso. A família é constituída pelo pai, a filha, a esposa, o filho de pouco cérebro, a filhinha pequena e a sogra. Posteriormente entra o pretendente da filha, Guy, o rapaz que sabe fazer fogo, coisa que para eles é uma novidade tremenda, encarada como um pequeno sol. Curiosamente, Guy é pintado como um índio da América do Norte, enquanto a família Crood é vista como uma típica família pré-histórica.

E vendo a família do filme e sua tentativa de manter a ordem, a sobrevivência, a rebeldia da jovem e o cuidado excessivo do pai no que concerne às primeiras experiências sexuais da filha, que é mostrado de maneira bem discreta por causa das crianças, é possível pensar na própria constituição familiar, tão presente nos filmes e nos seriados americanos, o que só mostra o quanto a família lhes é cara. Afinal, é a base da sociedade deles.

Por isso há OS SIMPSONS, OS JETSONS, OS FLINTSTONES, FAMÍLIA SOPRANO, FAMÍLIA ADAMS, FAMÍLIA DINOSSAURO, OS INCRÍVEIS, UM AMOR DE FAMÍLIA, as famílias de A SETE PALMOS, de I LOVE LUCY, de EVERYBODY HATES CHRIS, de ALF, de O PODEROSO CHEFÃO, de PERDIDOS NO ESPAÇO, entre outras tantas. Embora algumas delas pareçam disfuncionais ou bem estranhas, são exemplos de união familiar americana (em alguns casos, ítalo-americana). E isso é pouco visto em outras culturas audiovisuais. Pode ser só impressão minha, já que o grosso do que chega aqui em filmes e seriados vêm dos Estados Unidos, mas essa impressão é muito forte. Tanto que me peguei pensando nisso diversas vezes ao longo de OS CROODS.

Por isso que quando o guru indiano Osho veio com a ideia de que para construir uma nova sociedade é preciso destruir a atual, baseada na família, ele se tornou em um dos homens mais perigosos do mundo, segundo os Estados Unidos, por justamente propor a destruição da constituição familiar como é conhecida, para só então se pensar em extinguirem-se as fronteiras entre os países, de modo que todos se tornem um, como desejado na canção "Imagine", de John Lennon.