terça-feira, abril 09, 2013

UMA HISTÓRIA DE AMOR E FÚRIA























Não é sempre que temos a oportunidade de ver uma animação brasileira dirigida ao público adulto. Pelo que consta em alguns portais de cinema, inclusive, UMA HISTÓRIA DE AMOR E FÚRIA (2011) é um caso pioneiro. E, felizmente, é uma animação que só deixa a dever às produzidas nos Estados Unidos e no Japão, os dois maiores polos produtores do mundo, nos aspectos técnicos, já que traz uma narrativa fascinante, que talvez só peque por ser curta demais. Caberia mais uma história ali tranquilamente.

Mas sabemos o quanto é difícil produzir animação no Brasil, que ainda não tem uma tradição e uma equipe forte para dar conta de um longa-metragem tão ambicioso. Por isso UMA HISTÓRIA DE AMOR E FÚRIA levou seis anos para ficar pronto. E hoje podemos conferir com prazer uma história que, além de ter o seu viés didático, contando momentos importantes da História do Brasil, é também política, no sentido de que todas as histórias oferecem visões críticas da História oficial de nosso país.

O filme conta a história de um homem que tem cerca de 600 anos de idade em quatro momentos importantes da História do Brasil. Três delas no passado e uma no futuro, na chamada Guerra da Água. Sempre que ele morre, ele se transforma num pássaro e encontra séculos ou décadas depois a mesma mulher por quem ele é apaixonado desde os tempos em que ele era um índio da tribo tupinambá. Ele é vivido por Selton Mello; ela, por Camila Pitanga. Ela, curiosamente, sempre se chama Janaína, mesmo nascendo e morrendo em diferentes épocas. Como uma síntese da mulher brasileira, segundo Camila Pitanga.

Vale dizer que o primeiro processo de realização do filme foi capturar a interpretação dos atores dubladores (que também inclui Rodrigo Santoro), para só em seguida desenhar e animar a história. Como o diretor Luiz Bolognesi é fã tanto de histórias em quadrinhos, quanto de História do Brasil, ele achou ótimo poder juntar as duas coisas em uma única obra. Além do mais, uma animação tem a vantagem, principalmente em um país ainda com produções de pequeno porte como o Brasil, de poder trazer um visual futurista, com naves espaciais, sem parecer tosco ou algo do tipo.

Uma das histórias mais fascinantes é também uma que é pouca lembrada nos livros de História, que é a Balaiada, um momento em que escravos e descendentes de escravos do Maranhão conseguiram se libertar dos fazendeiros que os exploravam e tomaram para si a cidade de Caxias, que depois seria famosa por batizar o homem enviado pelo Imperador, o Duque de Caxias, da história oficial dos livros da época da ditadura.

E assim também vemos o protagonista passar pelos anos de chumbo da ditadura e logo em seguida para o futuro, no ano de 2096. Mas o mais importante, dentro da narrativa é a ideia de uma força antagonista e maligna, que acaba por destruir os sonhos dos mais nobres, o Anhangá, que aparece no conto dos tupinambás e continua sendo citado ao longo do filme pelo personagem de Selton Mello. O amor dos protagonistas está sempre comprometido pela intervenção dessa espécie de deus indígena que seduz para a morte. Quer dizer, apesar de terminar como uma produção futurista, UMA HISTÓRIA DE AMOR E FÚRIA nunca perde as raízes. Assim, nunca deixamos de ser um pouco tupinambás.

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