segunda-feira, abril 01, 2013

ESPELHO D’ALMA (The Dark Mirror)























A principal curiosidade para boa parte dos espectadores de hoje em ver ESPELHO D’ALMA (1946) é o fato de o filme ser precursor de GÊMEOS – MÓRBIDA SEMELHANÇA, de David Cronenberg. Isto é, conta a história de duas irmãs gêmeas idênticas (interpretadas por Olivia de Havilland) que diferem totalmente no comportamento: uma é frágil e meiga; outra é forte, cruel e manipuladora. As duas, inclusive, chegam a combinar encontros com os mesmos namorados, já que eles não sabem quem é quem. No filme de Richard Siodmak, as duas até usam, às vezes, colares com seus nomes escritos: Terry e Ruth.

ESPELHO D’ALMA tem aquela característica gostosa de um típico film noir produzido naquela década, com a diferença que aqui há também o adicional do melodrama, que acaba por estragar um pouco o resultado final. Ou talvez não tenha sido o gênero em si, mas a forma como o roteiro se desenvolve e dá conclusão para o caso de assassinato no qual uma das duas é a principal suspeita.

Nesse sentido, o filme também se aproxima da comédia, no momento em que o detetive de polícia vivido por Thomas Mitchell fica impossibilitado de prender uma delas, já que não pode prender as duas, além dos problemas complicados de álibi, de não saber se a mulher que foi vista na hora do assassinato era Terry ou Ruth. Entra em cena, então, o personagem do psicanalista (Lew Ayres), que começa a fazer testes com as duas usando métodos hoje clássicos como as cartelas Rorschach e os métodos de associação de palavras. Hoje parece até um pouco simplista, mas o filme foi um dos precursores da psicanálise no cinema. Merece o crédito.

Confesso que conheço muito pouco da filmografia de Siodmak – vi apenas SILÊNCIO NAS TREVAS (1945) –, mas, pelo que dizem, ele é um diretor bastante respeitado no que se refere à criação das convenções do film noir americano. Há também uma parcela da crítica que o julga um diretor menor, sem grande importância no panteão dos mestres do cinema. Creio, porém, que esse tipo de julgamento não deve ser muito comum hoje em dia. Ainda assim, sinto falta de uma louvação maior de sua obra dentro da comunidade cinéfila contemporânea. 

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