quinta-feira, abril 04, 2013

OS CROODS (The Croods)























De certo modo, OS CROODS (2013) é uma evolução nas animações da Dreamworks, que costumam compensar sua pouca inspiração, em comparação com sua grande concorrente, a Pixar, com astros hollywoodianos famosos na dublagem. Isso, em alguns casos, quando o filme chega aos cinemas brasileiros, pode não significar tanto assim, mas em outros, como os de FORMIGUINHAZ (1998) e BEE MOVIE (2007), dublados respectivamente por Woody Allen e Jerry Seinfeld, ver o filme no idioma original é essencial. Isso para quem conhece os citados comediantes, claro.

Essa maior falta de capricho na parte técnica na comparação entre os dois estúdios de animação pode ser lembrada apenas ao pensarmos no extremo cuidado na confecção dos fios de cabelo da Princesa Merida, em VALENTE, da Pixar. Entretanto, deixando de lado comparações, e atentando para o filme, OS CROODS dá um passo à frente na história das animações da companhia, também por trazer entre suas mentes criativas um ex-Monty Python, John Cleese. Por isso em alguns momentos o filme tem um humor bem interessante e engraçado, levemente próximo ao do grupo britânico. A brincadeira com o desejo de que a velha sogra morra é talvez um exemplo.

Há também uma leve referência ao mito da caverna de Platão, já que a família fica presa à caverna durante dias por obediência ao patriarca (voz de Nicolas Cage, na versão original) e por causa das várias experiências perigosas que eles testemunharam e que mataram famílias vizinhas deles. A personagem da filha adolescente Eep (Emma Stone) é que vai desafiar a falta de coragem (ou necessidade de sobrevivência) do pai, já que é por causa dela que eles conseguem contato com um rapaz, Guy (Ryan Reynolds), que sabe que o "fim do mundo" está próximo e que oferece a ela uma espécie de apito para ser usado nos momentos em que ela estiver em perigo.

O tal fim do mundo seria a reconfiguração do Planeta Terra separando os continentes, como os conhecemos hoje. E nesse ponto a história guarda semelhanças com a de A ERA DO GELO 4, que também conta sobre esse importante momento em nosso planeta. Acontece que em OS CROODS, essa mudança de configuração é progressiva e variada e é elemento importante na construção dos momentos de mudanças e de ações dos personagens.

Assim, depois que a Terra passa a se partir ao meio, a caverna onde os Croods mora é destruída e eles olham um mundo totalmente novo e colorido, mas ainda bastante perigoso. A família é constituída pelo pai, a filha, a esposa, o filho de pouco cérebro, a filhinha pequena e a sogra. Posteriormente entra o pretendente da filha, Guy, o rapaz que sabe fazer fogo, coisa que para eles é uma novidade tremenda, encarada como um pequeno sol. Curiosamente, Guy é pintado como um índio da América do Norte, enquanto a família Crood é vista como uma típica família pré-histórica.

E vendo a família do filme e sua tentativa de manter a ordem, a sobrevivência, a rebeldia da jovem e o cuidado excessivo do pai no que concerne às primeiras experiências sexuais da filha, que é mostrado de maneira bem discreta por causa das crianças, é possível pensar na própria constituição familiar, tão presente nos filmes e nos seriados americanos, o que só mostra o quanto a família lhes é cara. Afinal, é a base da sociedade deles.

Por isso há OS SIMPSONS, OS JETSONS, OS FLINTSTONES, FAMÍLIA SOPRANO, FAMÍLIA ADAMS, FAMÍLIA DINOSSAURO, OS INCRÍVEIS, UM AMOR DE FAMÍLIA, as famílias de A SETE PALMOS, de I LOVE LUCY, de EVERYBODY HATES CHRIS, de ALF, de O PODEROSO CHEFÃO, de PERDIDOS NO ESPAÇO, entre outras tantas. Embora algumas delas pareçam disfuncionais ou bem estranhas, são exemplos de união familiar americana (em alguns casos, ítalo-americana). E isso é pouco visto em outras culturas audiovisuais. Pode ser só impressão minha, já que o grosso do que chega aqui em filmes e seriados vêm dos Estados Unidos, mas essa impressão é muito forte. Tanto que me peguei pensando nisso diversas vezes ao longo de OS CROODS.

Por isso que quando o guru indiano Osho veio com a ideia de que para construir uma nova sociedade é preciso destruir a atual, baseada na família, ele se tornou em um dos homens mais perigosos do mundo, segundo os Estados Unidos, por justamente propor a destruição da constituição familiar como é conhecida, para só então se pensar em extinguirem-se as fronteiras entre os países, de modo que todos se tornem um, como desejado na canção "Imagine", de John Lennon.

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