segunda-feira, novembro 22, 2010

PAUL McCARTNEY NO MORUMBI – 21 DE NOVEMBRO DE 2010



Fim de semana de muitas emoções aqui em São Paulo. Mas posso dizer que a maior delas foi ter podido ver ao vivo um dos artistas mais importantes do século XX, o sujeito que fez parte da banda que revolucionou o rock e a música que se fazia até então. Paul McCartney, já com seus 68 anos, exibiu uma disposição jovem num show impecável. As canções do começo foram só para aquecer para o que viria. Depois de "Jet", ele emenda uma "All my loving" tão bela quanto na fase inicial dos Beatles. Foi quando caiu a ficha, o arrepio veio e eu percebi que a noite seria ainda de muitas emoções. Depois veio "Drive my car", que foi mais linda ainda.

As que me fizeram chorar, a ponto de ficar com queixo tremendo e tudo, foram as duas homenagens aos Beatles mortos. Paul teve o cuidado e a disposição de aprender algumas falas em português para se comunicar melhor com o público e para deixar mais claro pra gente o que ele queria dizer. Quando ele falou em português que a próxima canção ele escrevera para o seu amigo John e inicia a bela "Here today" e todo mundo ficou respeitosamente quietinho ouvindo a linda letra escrita em 1982 e que eu até então não conhecia, aquilo foi um momento inesquecível. Enquanto isso, no telão, fotos dos dois amigos juntos. Saber que ambos passaram tanto tempo sem se falar e de haver um reconhecimento da parte de Paul da grande amizade que os dois tiveram e que foi importante para a história do rock e para os nossos corações foi assim de lavar a alma. Me fez aumentar ainda mais o respeito que eu já tinha por esse que é o mais talentoso dos Beatles. A outra homenagem, então, foi de deixar mais lágrimas rolando: "Something", de George Harrison, que começou com um arranjo estranho, mas quando entrou a guitarra, a explosão emocional foi intensa.

Mas antes de "Here today" e "Something", ele já havia subido aos teclados para tocar uma das suas mais belas e melancólicas canções: "The long and winding road", do disco LET IT BE, feita durante aqueles momentos tristes de encerramento da banda. Foi o primeiro grande baque para mim. Sabemos que Paul nunca foi muito de fazer canções deprimidas. Isso ficava mais a cargo de John Lennon, que desde o começo dos Fab Four já se mostrava um sujeito cheio de traumas e sentimentos de rejeição. Paul, não. Ele era o elemento de equilíbrio do grupo, fazendo canções mais alegres e positivas, como a já citada e positiva "All my loving".

Por isso, boa parte da apresentação foi uma espécie de celebração da vida. É pura alegria ouvir ao vivo "Mrs. Vandeblit" (com seu coro contagioso de "ho! hey-ho!") e a beleza de "Let me roll it" e "Band on the run". Mas sempre que ele se dirigia ao piano, eu ficava logo tomado por uma ansiedade, ao saber que sairiam dali faixas como "Let it be" e principalmente "Hey Jude". Aliás, por mais que o show tenha sido praticamente só de pontos altos, podemos destacar "Hey Jude" como um dos pontos mais altos, com uma plateia cantando em uníssono, tão belo de ver que os olhos ficavam marejados. Eis uma canção que não envelhece e não perde a sua força.

E o fato de ele ter centrado sua apresentação basicamente em clássicos dos Beatles tornou o evento ainda mais especial. Quatro faixas do Álbum Branco ("Obla-di obla-da", "Blackbird", "Helter Skelter" e "Back in the U.S.S.R.") foram para mim um presente extra, retiradas do meu álbum favorito de todos os tempos. E ainda teve "And I love her", "I’ve just seen a face", "Eleanor Rigby" e "A Day in the life" puxada ainda pelo hino-mantra de John Lennon "Give peace a chance", quando as pessoas que estavam com balões brancos os soltaram, resultando noutro momento extasiante. A sementinha que Lennon havia plantado estava ali de volta aos corações das pessoas, como se o fim das utopias não tivesse chegado ainda. E quando, perto do final, ele ainda tocou "Yesterday", eu fiquei admirado que havia me esquecido dessa canção tão importante.

E até uma das que eu disse não gostar, como "Live and let die", queimei a língua, porque ficou simplesmente maravilhosa ao vivo. Até porque ela teve direito a efeitos especiais, com fogo saindo do palco e depois fogos de artifício acima. Quase uma antecipação de reveillon. Com a diferença que o artista que estava ali na nossa frente era o grande Paul McCartney. Que se despediu dizendo "até a próxima". Que bom ouvir isso, mesmo sabendo que ao final do show, com "The end" no terceiro bis, eu já meio que lamentava que estivesse acabando. Foi bom demais. Como eu já devo ter falado em algum relato de viagem postado aqui no blog: algumas coisas na vida não têm preço.

Clique AQUI para ver fotos que tirei do evento.

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