sábado, julho 31, 2021

O MISTÉRIO DA VIÚVA NEGRA (Black Widow)



Bob Rafelson é um dos cineastas mais importantes da Nova Hollywood, quando estreou com OS MONKEES ESTÃO SOLTOS (1968), aproveitando o espírito da contracultura da época. Tendo acumulado apenas uma dúzia de longas-metragens ao longo da carreira, certamente não foi um diretor tão bem-sucedido quanto seus conterrâneos e colegas De Palma, Scorsese, Spielberg, Coppola ou mesmo Bogdanovich, mas tem, sem dúvida, alguns trabalhos bem memoráveis. Confesso que não sou tão entusiasta do pouco que vi de seu trabalho e reconheço que preciso ver mais filmes seus, mas não vou me esquecer da empolgação que tive quando vi O MISTÉRIO DA VIÚVA NEGRA (1987) pela primeira vez.

Foi no Supercine, no início dos anos 1990. E de fato, pelo jeitão de thriller, é compreensível que tenha sido escolhido para estrear nesta grade. Na época, comecei a assistir e não desgrudei os olhos. Na revisão, a situação se repetiu, um fato raro nesses tempos de inquietação espiritual. Eu não me recordo se na época eu percebi que a direção era do Rafelson e isso me motivou a ver até o final, mas creio que não foi por isso, não. 

Até queria ver este filme antes de VIÚVA NEGRA, a aventura da Marvel lançada nos cinemas recentemente, para sair dizendo que este é e Black Widow que importa, mas outro motivo muito maior para eu querer ver o filme foi a presença de Debra Winger, principalmente depois de me me sentir novamente encantado com a atriz com a revisão recente de LAÇOS DE TERNURA. É sempre uma alegria vê-la em cena. Aqui ela interpreta uma investigadora do departamento de justiça que se vê obcecada com o caso de uma mulher que vem assassinando maridos milionários ardilosamente (Theresa Russell). Ela comete o crime e logo trata de assumir uma outra identidade para pegar mais uma vítima.

As duas atrizes estão ótimas em seus papéis e  melhora ainda mais quando elas passam a contracenar entre si e o jogo de gato e rato se torna mais perigoso. Na verdade, até existe uma espécie de tensão sexual entre as duas, nas cenas no Havaí. Não me lembrava do plot twist, da ótima cena de scuba diving ou dos momentos finais. Muito bom. Sei que muitos o consideram uma espécie de filme vulgar, mas se é um filme vagabundo, é um dos mais deliciosos filmes vagabundos que eu já vi, com um ótimo senso de humor. Sem falar que é uma obra que antecipa a moda dos thrillers eróticos dos anos 1990, com a atuação de Russel como uma femme fatale irresistível. 

+ DOIS FILMES

KNIVES AND SKIN

Fica bastante clara em KNIVES AND SKIN (2019) a influência de David Lynch, principalmente de TWIN PEAKS. Como na série, há o desaparecimento de uma jovem numa cidade pequena, um desaparecimento que ocorre em circunstâncias misteriosas. Trata-se de um filme que se apoia em muitos momentos bons, principalmente com a excelente utilização da música em coral (há "Blue Monday", do New Order; "Girls Just Want to Have Fun", da Cindi Lauper; "Promises, Promises, do Incubus etc.). Em um momento em especial, até me lembrei de MAGNÓLIA, de Paul Thomas Anderson. Mas o forte do filme é mesmo o uso de uma trilha com sintetizador em tom triste do início ao fim, de modo a acentuar os dramas dos vários personagens. Há uma cena de masturbação que muito me lembrou a de CIDADE DOS SONHOS, de David Lynch, também. Ou seja, não sei ainda o quanto a diretora Jennifer Reeder vai evoluir para se tornar uma grande diretora, mas certamente ela tem se espelhado em grandes autores. Sem falar que em sua obra há uma diversidade muito saudável, de gênero e de raça.

ANTIGA ALEGRIA (Old Joy)

Antes da consagração com FIRST COW (2019), Kelly Reichardt já havia feito uma outra belíssima ode à amizade entre dois homens. Neste pequeno road movie, dois velhos amigos se reencontram depois de a vida ter, de certa forma, os separado - um deles casou e tem um filho para nascer; o outro diz que jamais teria essa coragem. Eles passam dois dias acampando, se perdendo e conversando. É curioso como já neste segundo longa a diretora tinha o poder de nos deixar hipnotizados com o andamento lento, as conversas que não parecem ensaiadas, com a natureza. E em ANTIGA ALEGRIA (2006) ainda há a trilha do Yo La Tengo, acentuando aquele ar de filme indie. Vendo este filme já é possível perceber a ponte entre ele e o excelente WENDY E LUCY (2008). E não é só pela participação da cachorrinha Lucy.

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