quarta-feira, dezembro 22, 2021

HOMEM-ARANHA – SEM VOLTA PARA CASA (Spider-Man – No Way Home)



Uma das grandes vantagens dos detentores dos direitos do Homem-Aranha (no caso, a Sony Pictures) é ter em mãos um dos super-heróis mais queridos de todos os tempos. Até quem nunca leu os quadrinhos (uma pena, aliás, caso seja o seu caso) tem um carinho especial pelo herói, cujo alter-ego, Peter Parker, passa por situações que o humaniza bem mais do que os demais heróis da Casa das Ideias – nem falo da DC Comics, que é casa mais de deuses e seres mitológicos mesmo. Então, uma das coisas que mais temos que agradecer por ter um projeto como HOMEM-ARANHA – SEM VOLTA PARA CASA (2021) sendo materializado é o fato de que, apesar de o personagem estar no meio de uma briga entre dois estúdios gigantes de Hollywood, a Sony e a Disney, o resultado que aqui temos é quase um milagre. Afinal, se a Marvel tivesse conseguido os direitos do herói, ela certamente trataria de esquecer os filmes protagonizados por Tobey Maguire (2002-2007) e Andrew Garfield (2012, 2014).

Então, aproveitando essa onda de exploração do conceito de multiverso, que não é nenhuma novidade para os fãs de quadrinhos desde pelo menos os anos 1980, foi uma felicidade ter a chance de brincar com a ideia de que os outros filmes do Homem-Aranha fazem parte de outros universos. Isso, inclusive, tira até mesmo aquela velha cisma de fãs xiitas que não gostam de certas mudanças ou adaptações que são feitas em seus heróis na transposição para as telas. Eu mesmo, confesso, não gostei muito da ideia da teia orgânica nos filmes do Sam Raimi. Mas agora tudo fica em paz, quando se tem em concordância que o universo dos quadrinhos também é um universo à parte, embora seja o ponto de origem de tudo.

HOMEM-ARANHA – SEM VOLTA PARA CASA começa exatamente de onde terminou o anterior, HOMEM-ARANHA – LONGE DE CASA (2019), que deixou um baita gancho: o vilão Mysterio (Jake Gyllenhaal) vazou para o mundo inteiro a identidade secreta do Homem-Aranha, fazendo com que o jovem Peter Parker (Tom Holland) ficasse em uma situação bastante complicada, tendo que se esconder, com sua tia May (Marisa Tomei), a namorada MJ (Zendaya) e o melhor amigo Ned (Jacob Batalon) em um apartamento, graças à ajuda de Happy Hogan (Jon Favreau), pelo menos até as coisas se acalmarem.

Sem ter muita paciência ou sabedoria para resolver a situação de uma maneira mais convencional, Peter Parker pede ao Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) para que ele o ajude com um feitiço para que todas as pessoas esqueçam que ele é o Homem-Aranha. Esse recurso já fora usado, e de maneira muito mais polêmica, nos quadrinhos, quando o herói faz um pacto com Mefisto, o Satanás da Marvel, para que as pessoas esqueçam sua identidade secreta, de modo que sua família não seja alvo dos inimigos. Ter o Doutor Estranho fazendo esse tipo de coisa é até mais tranquilizador.

E, no fim das contas, isso acaba funcionando como uma ótima desculpa para trazer de volta personagens dos filmes do Aranha protagonizados por Maguire e Garfield, devido a um problema durante o feitiço. Abre-se, então, um portal para que super-vilões como o Doutor Octopus (Alfred Molina), o Duende Verde (Willem Dafoe), o Electro (Jamie Foxx), o Lagarto (Rhys Ifans) e o Homem-Areia (Thomas Haden Church) invadam aquele universo e confrontem aquele Homem-Aranha diferente. Fico imaginando o quanto os produtores pagaram para poder conseguir a presença de cada ator desses. Só isso já é um exemplar do poder dos estúdios Marvel.

É interessante o quanto essa brincadeira faz a festa dos fãs do herói, que gritam e festejam a aparição de cada personagem conhecido e que havia sido dado como morto e esquecido, com o advento da fase Tom Holland. Essa festa se torna ainda mais feliz com as cenas que trazem de volta os Aranhas de Maguire e Garfield, ambos surgindo de maneira divertida e inteligente da parte dos roteiristas. E mais: as cenas de interação entre os três são os momentos mais gostosos de ver do filme, assim como a gloriosa cena dos três partindo para a luta contra os bandidos. A troca de confidências e a ajuda psicológica que os colegas mais velhos dão ao Peter daquele universo são também exemplos de pontos altos do filme, além das piadas que surgem, muitas delas como piscadelas para os fãs fiéis. Ou seja, quem não tiver visto os demais filmes vai ficar sem entender um bocado.

Mas diria que SEM VOLTA PARA CASA falha na maneira como lida com as emoções. Cenas mais dramáticas e que deveriam ser tristes ou tocantes acabam parecendo mecânicas, como é mecânico esse meio de produção atual da Marvel. Dá para se notar que estamos diante de um filme de produtor e não de diretor, por mais que funcione muito bem na maioria das vezes.

Ainda assim, gosto da solução final para a vida do herói, que pode ser um elemento de afinação para as histórias mais clássicas do amigão da vizinhança. Sem falar que a questão envolvendo a Zendaya pode render no futuro, se bem pensado, e se feito com delicadeza, momentos comoventes. Aguardemos. Enquanto isso, e por falar em Zendaya, sua melhor personagem, Rue Bennett, estará de volta com a segunda temporada da ótima série EUPHORIA no dia 9 de janeiro. Está pertinho já.

+ DOIS FILMES

RESIDENT EVIL - BEM-VINDO A RACCOON CITY (Resident Evil - Welcome to Raccoon City)

A proposta de contar um prequel dos eventos de RESIDENT EVIL – O HÓSPEDE MALDITO (2002) e suas sequências me pareceu interessante, tanto por trazer no elenco uma atriz querida como a Kaya Scodelario, quanto pela possibilidade de começar tudo de novo e muito provavelmente trazer o terror de volta, diminuindo um pouco mais a ação e um tipo de espírito mais grandioso e barulhento das sequências. Em parte, isso funciona, já que RESIDENT EVIL - BEM-VINDO A RACCOON CITY (2021), dirigido por Johannes Roberts, traz mesmo mais terror que ação, mas infelizmente dá um pouco de saudade dos filmes anteriores e do charme das atrizes/personagens que foram surgindo ao longo dos filmes (Alice, Rain, Claire, Jill Valentine). Como não conheço os games, não me importo muito com essa relação, apenas em como funciona como cinema. E este RACCON CITY fracassa justamente quando começa a se aproximar mais do espírito dos games, em seu terço final. Mas estava gostando do começo.

GHOSTBUSTERS - MAIS ALÉM (Ghostbusters – Afterlife)

Nunca fui fã dos Caça-Fantasmas dos anos 1980. Tampouco sou muito apegado a essa década para me empolgar com esse saudosismo que virou moda de uns anos pra cá. Vejo CAÇA-FANTASMAS (1984), de Ivan Reitman, como um filme de terror sem terror, feito para agradar a crianças e adolescentes e com musiquinha pop famosa (que aqui só aparece no final). No entanto, achei bem interessante o trabalho que Jason Reitman fez como homenagem ao pai, que está aparentemente aposentado - além de outra bela homenagem. Além disso, há a simpatia e o carisma dos personagens jovens, adolescentes e pré-adolescentes de GHOSTBUSTERS – MAIS ALÉM (2021), que usam seus dons para encarar diferentes tipos de fantasmas, usando as armas de seus ancestrais, encontradas na velha casa abandonada e tida como assombrada. A trilha sonora é tão carregada do espírito dos anos 1980, que até chega a incomodar um pouco. Mas no final os pontos positivos se sobressaem e ter um diretor tão bom quanto Jason Reitman acaba fazendo a diferença.

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