quarta-feira, agosto 12, 2020

UM RETRATO DE MULHER (The Woman in the Window)

É curioso o quanto a questão do sonho e o modo como Fritz Lang termina UM RETRATO DE MULHER (1944) ainda é motivo de controvérsia, de crítica, de desaprovação. Eu mesmo fiquei um tanto desapontado com a solução final, que soube que foi tomada pelo próprio Lang, mudando, assim, o final do romance no qual o filme se baseia. De todo modo, é bom lembrar que o título anterior de Lang foi QUANDO DESCERAM AS TREVAS (1944), que tem uma atmosfera de sonho fascinante que permeia toda a obra, do início ao fim. E é justamente um dos motivos pelos quais o filme me agrada tanto. O problema de UM RETRATO DE MULHER é que tem um pé no realismo também e isso pode distorcer ou incomodar um pouco.

Deixando essa questão do final de lado, UM RETRATO DE MULHER é um dos mais representativos noirs do período, embora a figura da femme fatale aqui não seja de uma mulher perigosa, mas de uma mulher que desencadeia uma situação perigosa. Na trama, Edward G. Robinson é um professor de psicologia e especialista em criminologia que sai para dar uma volta à noite, enquanto a esposa e seus filhos estão viajando. Ele encontra uma bela mulher (Joan Bennett), justamente a mulher que foi modelo de uma linda pintura exposta em uma vitrine, que o convida para beber e depois ir até o apartamento dela. De repente, entra um sujeito na casa, o amante dessa mulher, e tenta estrangulá-lo. Ele consegue se defender, dando tesouradas nas costas do homem. A tesoura foi dada pela morena.

Os dois ficam perturbados com a situação e a tentação de esconder o corpo do homem surge como uma ideia. Eles acreditam que seriam desacreditados pela polícia se contassem a verdade. E, então, algumas das melhores cenas do filme ocorrem: quando Robinson se esforça para levar o cadáver até o carro e depois até um matagal distante. Como ele e a mulher e o morto não têm nenhuma relação em comum haveria chance de ninguém descobrir. E toda a ação que se desenrola na tentativa de se livrar do corpo é marcante em todos os detalhes. Mas o bacana é que o filme vai se tornando mais divertido quando o amigo de Robinson, um procurador de justiça vivido por Raymond Massey, revela a ele notícias sobre o andamento das investigações do morto, que é um homem mais importante e famoso do que ele imaginara.

Como é fácil se colocar na posição de preocupação do protagonista, o filme se desenvolve bem nesse aspecto, embora o ritmo seja um pouco prejudicado com a entrada em cena do chantagista (Dan Duryea). Aliás, o surgimento do chantagista e a mudança do ponto de vista para o da personagem de Bennett não deixam de ser uma espécie de contradição para o final proposto por Lang. No entanto, isso é algo que pode ser relevado. "Deixemos de lado, cuidemos da vida".

A dobradinha Edward G. Robinson e Joan Bennett deu tão certo que Lang repetiria no filme seguinte, ALMAS PERVERSAS (1945). E é importante lembrar que Bennett já havia trabalhado com Lang em O HOMEM QUE QUIS MATAR HITLER (1941), com a diferença que no filme anterior ela era uma mulher mais ingênua, enquanto aqui é uma mulher com ar sedutor, ainda que não tão segura de si. Bennett ainda apareceria em mais um Lang: O SEGREDO DA PORTA FECHADA (1947). Quanto a Robinson, é interessante vê-lo saindo do tradicional papel de homem malvado ou de gângster, que foi o que mais o marcou, desde que fez ALMA NO LODO, no começo dos anos 1930.

+ TRÊS FILMES

TEOBALDO MORTO, ROMEU EXILADO

Acho que foi o filme mais chato e maçante que vi em 2016. Não quer dizer que tenha sido o pior, mas eu não entrei em sintonia em momento algum. Só queria que as duas horas se passassem logo. Chegou uma hora que estava pouco me importando para a lógica, para o drama ou para qualquer coisa. Das cerca de 10 pessoas em sala, só restaram eu e mais outro cara. Eu sou bravo e vou sempre até o fim. Direção: Rodrigo de Oliveira. Ano: 2015.

JOVENS INFELIZES OU UM HOMEM QUE GRITA NÃO É UM URSO QUE DANÇA

Acho difícil fazer um julgamento de bom ou ruim deste filme. É interessante e há uma passagem brincando com Becket, que é engraçadíssima. Sem falar que a estrutura é interessante, bem como o espírito anárquico, além do gesto de homenagem ao Carlão e também a Tonacci. Direção: Thiago B. Mendonça. Ano: 2016.

ATAQUE A LONDRES (London Has Fallen)

Eu comecei a desgostar do filme desde o começo, com sua edição e direção grosseiras e desleixada. Mas aí terminei o odiando, com o discurso imperialista do protagonista contra os terroristas. Os EUA são uma grande potência. Não precisam ficar alardeando isso, não. Ainda mais em filme ruim como esse. Pega mal. Detalhe: eu tinha gostado do primeiro filme, dirigido pelo Antoine Fuqua. Direção: Babak Najafi. Ano: 2016.

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