quinta-feira, abril 02, 2020

AD ASTRA

Uma das coisas que eu costumava fazer com frequência na época em que meu blog era mais atualizado e também mais acessado era exercitar minha memória para falar sobre filmes que já fazia algum tempo que tinha visto. Façamos, então, algo parecido com um título de um dos diretores mais queridos da geração que começou na década de 1990, o americano James Gray.

AD ASTRA (2019) aparentemente é diferente de tudo que Gray havia realizado até então, sendo ele um misto de drama familiar com ficção científica espacial. A história se passa no futuro, em um momento em que a humanidade é capaz de providenciar missões até Netuno. Porém, o que temos novamente é um filme sobre a jornada de pai e filho, algo que havia sido explorado de maneira muito interessante no trabalho anterior do diretor, Z - A CIDADE PERDIDA (2016), em que a jornada se passa na floresta amazônica dos anos 1920.

Em AD ASTRA, Gray parece querer falar mais uma vez da busca de um filho por seu pai, da tentativa de refazer os passos para encontrar o pai, ou o pai em si, ou a si mesmo. Como se trata de uma obra que traz uma jornada tanto exterior quanto interior, há sempre esse movimento para dentro e para fora.

Na trama, Brad Pitt é um jovem astronauta que tem o chamado "right stuff", ou seja, a capacidade de manter-se são e tranquilo nas mais difíceis situações. Isso já é testado assim que o filme começa, quando ele quase morre tentando trazer de voltar para a Terra depois de muitas complicações uma espaçonave (ou seria um foguete?).

Ele é também conhecido por ser filho do famoso astronauta que está desaparecido e tido como morto depois de ter chefiado uma missão a Netuno. Desde então, nunca mais se teve notícia desse homem, que se transformou em um mito. Apesar da ausência de décadas, é como se o pai, ou ausência do pai, fosse uma presença constante na vida do protagonista. Até mais do que sua esposa, vivida por Liv Tyler, em papel apagado, mas que combina com o que o filme pretende dizer, creio eu.

Um aspecto que não foi muito aceito por parte da crítica foi o uso muito presente da voz do protagonista/narrador. Ao que parece, foi uma concessão do cineasta diante aos produtores, que talvez não tenham gostado muito do resultado sem uma voz explicativa. A situação lembra um pouco o caso de BLADE RUNNER, de Ridley Scott, que depois ganhou a versão do diretor, cortando a tal voice-over.

Sem o uso da voice-over, AD ASTRA se aproximaria bastante, em tom e imagem, de 2001 - UMA ODISSEIA NO ESPAÇO, de Kubrick, embora bem menos ambicioso e mais intimista e apesar do orçamento explicitamente maior para os padrões de Gray. De todo modo, como é um filme que namora bastante com a noção de terapia, esse recurso é até bem-vindo, já que, em uma sessão de terapia, a voz - se não um diálogo, um monólogo - é fundamental.

Pode-se até ter problemas com o filme, mas não dá para dizer que Gray deixou de lado sua assinatura em prol de uma grande produção. Inclusive, é bem provável que seja um filme que ganhe bastante com a revisão e com uma perspectiva histórica e de estudo da obra do diretor.

+ TRÊS FILMES

STAR WARS - A ASCENSÃO SKYWALKER (Star Wars: Episode IX - The Rise of Skywalker)

É triste ver uma das franquias mais lucrativas e mais queridas de todos os tempos tendo que terminar assim de maneira tão triste, tão cheia de problemas. Aliás, é difícil encontrar qualidades no filme nos quesitos roteiro, interpretações, densidade dramática, senso de aventura, força dos personagens. Se os novos personagens já não eram suficientemente fortes nos primeiros filmes, aqui eles se mostram não apenas rasos, mas totalmente vazios. A informação sobre a origem da Rey, inclusive, pode incomodar também, mas, ao que parece, foi fruto das reclamações de fãs xiitas por causa do segundo filme, dirigido por Rian Johnson. É sair do cinema sem querer ver mais nenhum outro filme da franquia. Triste assim. Direção: J.J. Abrams. Ano: 2019.

ANIQUILAÇÃO (Annihilation)

Um filme que estava no meu pendrive há séculos seculorum e eu já tinha visto a metade em fascículos. Resolvi, depois da postagem no blog do amigo Marcelo Valletta, terminar de ver logo a bagaça. Até que a segunda metade tem dois momentos (de terror) bem interessantes. Pena que o filme é feito de boas ideias mas de realização pífia. Há quem vá ficar animado com a bela direção de arte, mas se isso é tudo que o filme tem a oferecer, tá ruim, viu? Faz parte da maldição que assola a maioria dos filmes produzidos pela Netflix. Direção: Alex Garland. Ano: 2018.

O PREDADOR (The Predator)

Shane Black é um grande piadista. Só vendo O PREDADOR como uma comédia é que dá para respeitar e até gostar bastante, mesmo com aquele final todo confuso e tosco e que põe muita coisa a perder. Mas gosto muito da ousadia da história que mistura muita coisa, do grupo formado pelo atirador de elite, da Olivia Munn, a cientista que de repente tem habilidades de luta impressionantes. No fim das contas, os aliens acabam ficando meio que em segundo plano na brincadeira. Ano: 2018.

Nenhum comentário: