segunda-feira, outubro 07, 2019

UM AMOR IMPOSSÍVEL (Un Amour Impossible)

No ano passado, o blog esteve praticamente entregue às baratas, de tão parado que estava. E os poucos leitores que ainda me seguem talvez não imaginem o quanto isso me incomodou. E essa fase continuou neste 2019, embora mais recentemente eu tenha procurado mudar um pouco a situação. Por isso, muita coisa boa que eu vi no cinema e em casa acabou não sendo escrita ou pensada neste espaço. Penso que a experiência fílmica só se torna completa quando a obra em questão é refletida, seja através de um bate-papo bem direcionado, seja através da escrita. E é essa a minha forma de dar continuidade à experiência, inclusive para saber qual o tamanho da minha relação de afetividade com o filme.

Por isso acho importante falar aqui de UM AMOR IMPOSSÍVEL (2018), de Catherine Corsini, que vi já faz alguns meses, mas que ainda está passeando por algumas cidades no circuito alternativo. Pelo título, parece uma dessas obras bem água com açúcar, mas o que temos aqui é uma verdadeira pedrada.

A história é contada por Chantal (Jehnny Betty, na fase adulta) e a personagem principal é sua mãe, Rachel (Virginie Efira, que vive a mesma personagem desde a tenra juventude até a velhice, o que é um risco). A princípio, o foco da narrativa se prende ao relacionamento entre Rachel e Philippe (Niels Schneider). Ela vem de uma classe mais humilde da sociedade; ele é um rapaz que conseguiu escapar da guerra da Argélia por influências de sua família rica e culta.

A relação dos dois parece correr muito bem, mas Rachel começa a ficar um tanto triste quando Philippe diz que tem entre seus princípios jamais se casar. E essa decisão não muda nem mesmo quando Rachel se vê grávida. A posição covarde de Philippe em não reconhecer oficialmente a paternidade de Chantal se torna até pequena diante do que veremos perto do final do filme.

Ainda que a figura de Philippe continue sendo de fundamental importância para a história, mesmo ele aparecendo para visitar a filha e Rachel de vez em quando, lá pelo meio, UM AMOR IMPOSSÍVEL se transforma em um filme sobre a relação de proximidade entre mãe e filha, e do quanto, mais adiante, Philippe fará parte de maneira mais próxima da vida de Chantal.

A cineasta Catherine Corsini vem de um belo filme sobre a relação afetiva entre duas jovens mulheres de estilos diferentes – UM BELO VERÃO (2015) – e aqui novamente mostra um cinema interessado em lidar com as questões relativas ao lugar da mulher no mundo moderno. No novo filme, entretanto, vemos uma protagonista por demais sofrida, seja por causa de uma paixão não correspondida, seja pela sociedade que não vê com bons olhos uma mãe solteira, entre outros problemas. Nesse sentido, é também um estudo sobre a evolução da mulher na sociedade ocidental (ou pelo menos francesa) a partir do final dos anos 1950.

+ TRÊS FILMES

O SÉTIMO CÓDIGO (Sebunsu Kôdo)

Resolvi finalmente ver este filme do Kiyoshi Kurosaw devido às comparações feitas com o maravilhoso O FIM DA VIAGEM, O INÍCIO DE TUDO (2019). E embora haja muitas coisas em comum (a atriz, a locação em país estrangeiro, uma personagem desolada, a música), aqui há uma trama de espionagem/suspense que traz uma reviravolta na segunda metade. Gosto mais da primeira, mas é bom ver que temos um cineasta que não tem medo de arriscar e de fugir do lugar comum, trazendo sempre filmes para nos deixar desconfortáveis ou admirados. A duração é bem curtinha: apenas uma hora. Ano: 2013.

LUCIA CHEIA DE GRAÇA (Tropa Grazia)

É difícil desde já se envolver com a proposta inicial: a de uma jovem mulher que recebe um pedido de Maria Mãe de Deus para construir uma igreja. Há um humor que não funciona, situações inusitadas que parecem despropositadas, personagens sem força e sem carisma. Enfim, há tudo que podia ser necessário para que um filme como esse despertasse o mínimo interesse. E nem é pela questão religiosa, que é tratada com certa leveza. É por não saber lidar com o que tem em mãos mesmo. Direção: Gianni Zanasi. Ano: 2018.

FILHAS DO SOL (Les Filles du Soleil)

A diretora (cujo trabalho eu desconhecia até então) pesa a mão neste drama de guerra sobre um batalhão de mulheres curdas em uma guerra no Curdistão. O diferencial está no fato de ser uma história verídica em que mulheres assumem o protagonismo em uma guerra contemporânea. Mas achei difícil me emocionar e me importar com as personagens, por mais que algumas cenas dentro da edição de idas e vindas no tempo sejam boas, como a fuga de um cativeiro, por exemplo. Direção: Eva Husson. Ano: 2018.

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