quinta-feira, julho 28, 2016

SENHORITA OYU (Oyû-sama)

Pra quem já tinha achado A VIDA DE O'HARU (1952) bem triste, talvez SENHORITA OYU (1951), o filme anterior de Kenji Mizoguchi, seja mais ainda, embora não seja um compêndio de desgraças na vida de uma pessoa, mas um filme sobre negações que tornam a vida de três pessoas um tormento. Tudo começa por causa de um casamento arranjado para um rapaz chamado Shinnosuke (Yûji Ori). O rapaz não tem muito hábito de ter muitos relacionamentos e por isso sua tia tenta ajudá-lo a encontrar uma esposa.

Acontece que no dia que sua pretendente chega ele só tem olhos para outra mulher, a Senhorita Oyu (Kinuyo Tanaka) do título. Na verdade, ele acha que ela é que é sua pretendente. Depois que sabe que é a outra, mais jovem, rejeita a moça, mas a Senhorita Oyu, na verdade chamada de Senhora Oyu, por ter casado e ter um filho do casamento com um homem que morreu, não sai de sua cabeça.

Ao procurar estabelecer vínculos com ela, aos poucos, a própria mulher também começa a se afeiçoar ao rapaz, embora esse amor não pareça, a princípio, evidente. Só saberemos quando o rapaz, a pedido de Oyu, e para se manter perto dela, aceita se casar com a sua bela irmã mais nova Shizu (Nobuko Otawa). Esta, por sua vez, logo na noite de núpcias, pede que ele só mantenha as aparências, que a tenha apenas como uma irmã, para que ele não magoe o coração da irmã mais velha, que ele tanto ama.

Este é o grande momento de revelação do filme, quando ele se mostra maior do que o que inicialmente aparenta, com uma trama carregada de dor, que até lembra a de alguns melodramas hollywoodianos, mas que traz uma carga muito maior de negações, seja pelos próprios personagens, seja pelas regras de conduta do Japão daquele momento. Nessa hora, a música do filme se mostra mais presente e o tom grave toma de conta.

É bom lembrar que quando os personagens dos filmes de Mizoguchi tentam fugir às convenções, os castigos são muito piores, que é o que acontece com a personagem rebelde de A VIDA DE O'HARU, que é também o que acontece com o protagonista do horror CONTOS DA LUA VAGA (1953). Ou seja, ao que parece, não há escapatória. No início de SENHORITA OYU, o rapaz até planeja fugir com a mulher que ama, em um sentimento de impulso. Confidencia isso à tia, que logo diz se tratar de uma ideia louca, algo que deve ser abandonado.

No entanto, ao aceitar as condições da jovem esposa, que se vê presa a uma situação muito ruim por amor e devoção à irmã mais velha, o rapaz acaba aceitando tornar a todos os três infelizes. Mesmo quando ele descobre que finalmente ama a esposa, já é tarde demais, e o filme termina em um tom muito amargo. Há que se pensar que o cineasta seja extremamente cruel com seus personagens, mas o sentimento que fica é mais de solidariedade, de entender a dor deles.

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