domingo, julho 24, 2016

DOIS CARAS LEGAIS (The Nice Guys)



Não é fácil trazer humor para o film noir, ser bem-sucedido e parecer esperto, inteligente. Nem Paul Thomas Anderson conseguiu, com seu VÍCIO INERENTE, por mais que haja defensores de seu filme e ele tenha escolhido adaptar uma obra difícil. Shane Black até teve mais sorte, já que o trabalho dele consiste em usar a atmosfera de mistério e de um materialismo pouco palpável característico do subgênero e trazer para o clima dos filmes policiais dos anos 1970.

Mas, por mais que a trama se passa nos loucos anos 1970, e que lide bem com a questão da decadência de Los Angeles, em parte por causa da ascendência crescente da indústria pornográfica, Shane Black é o sujeito por trás dos roteiros da franquia MÁQUINA MORTÍFERA (1987-1998), ou seja, seu estilo não encontra muita sintonia com os bons policias da década de 1970 e seus detetives durões, mas com uma junção do humor e uma violência moderada, que era bem própria dos policiais da dupla Riggs e Murtaugh. O que não quer dizer que seja ruim. Na verdade, é até bem-vindo.

Acontece que DOIS CARAS LEGAIS (2016) é um filme que tenta ser mais esperto do que consegue, e que por mais que seja cool e tenha uma série de momentos bem divertidos e gere algumas boas risadas, poderia ser mais redondinho, menos "barrigudo". Mas, agora que Richard Donner se aposentou (tudo indica), Shane Black parece ser o seu sucessor. E não deixa de ser, como diretor, um sujeito interessante, que gosta de transgredir certas regras, como já havia feito, inclusive, em HOMEM DE FERRO 3 (2013). Para o bem e para o mal.

Em DOIS CARAS LEGAIS, temos a história de dois detetives particulares picaretas, Jackson Healey (Russell Crowe) e Holland March (Ryan Gosling), que acabam unindo forças para resolver o mistério do desaparecimento de uma jovem envolvida em uma produção pornográfica. Como é comum em produções que bebem do film noir, toda a investigação leva a caminhos nebulosos, e cada caso bem-sucedido deles é fruto de pura sorte. Ou, no caso, da ajuda da filha de March, Holly, vivida pela garota-revelação Angourie Rice. Ela rouba a cena sempre que aparece. É dessas jovens atrizes que a gente torce para que tenha uma carreira longa e bem-sucedida no cinema.

Uma coisa que pode incomodar no filme talvez seja essa tentativa o tempo todo de ser esperto mas falhar no desenvolvimento da relação de amizade entre Healey e March, algo que acaba ficando na superfície. Mas, se a intenção era mesmo focar na trama meio labiríntica, no senso de humor relaxado e nas várias cenas movimentadas, podemos dizer que DOIS CARAS LEGAIS cumpre relativamente bem o seu papel, e acaba se destacando no cenário atual americano, carente de bons filmes policiais.

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