quinta-feira, abril 16, 2015
NÃO OLHE PARA TRÁS (Danny Collins)
O cinema, assim como a vida, é uma caixinha de surpresas. De vez em quando surge um filme assim, meio de mansinho, como este NÃO OLHE PARA TRÁS (2015), que nem deve ficar mais de uma semana em cartaz neste circuito ingrato, para nos surpreender e nos emocionar. Mas que bom que o filme pelo menos teve a chance de chegar à telona. Sorte dos poucos felizardos que se disporão a ir ao cinema nesta semana para conferir uma das melhores performances de Al Pacino, num momento particularmente muito bom para ele, depois de tanto se repetir nos últimos anos. (Falam muito bem de O ÚLTIMO ATO, de Barry Levinson, lançado em poucas cópias recentemente nos cinemas brasileiros.)
Em NÃO OLHE PARA TRÁS, Pacino é o Danny Collins do título original, um velho astro veterano do rock que continua fazendo sucesso, mas apenas com as velhas canções. Não consegue compor nada novo há décadas. Mesmo assim, apesar da idade, vai seguindo uma vida de sexo, drogas e rock’n’roll, com direito a cocaína, uma mulher bem jovem e mansões e carros luxuosos, além de turnês milionárias. Mas há uma coisa que muda a vida de Danny: ele descobre que John Lennon escreveu uma carta para ele em 1971. E essa carta nunca chegou em suas mãos até então. É a partir dessa carta ele passa a reavaliar sua vida.
O filme pode até parecer piegas para alguns e a história não se furta de momentos especialmente lacrimosos, mas muito bem-vindos. Ao longo da narrativa, várias canções de Lennon são ouvidas e compõem um mosaico muito bonito deste momento da história de Danny, principalmente a partir de quando ele decide conhecer seu filho crescido, fruto de uma noite de farra.
E aí entra em cena o personagem de Bobby Cannavale, um jovem homem que guarda mágoa do pai ausente, e que precisa ser cuidadosamente reconquistado. Junto dele Danny conhece a nora grávida de seis meses, vivida por uma iluminada Jennifer Garner, e sua netinha cheia de energia de sete anos. Finalmente ele tem uma família e com ela vêm problemas e revelações, mas também algo novo, que Danny não quer deixar passar, não importa quantas vezes ele seja enxotado.
O filme é enxuto, embora os diálogos não pareçam ser ditos com pressa em nenhum momento. No tom certo, o estreante na direção Dan Fogelman vai construindo uma pequena e tocante história sobre insegurança, generosidade, amor e dor, que também apresenta um interesse amoroso do famoso, ilustre e decadente cantor, a gerente do hotel onde ele fica hospedado, interpretada por Annette Bening. Mas o mais importante é que o filme consegue superar a velha fórmula de melodramas sobre redenção de velhos heróis e tem um dos finais mais belos e sensíveis do cinema recente.
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