quinta-feira, abril 30, 2015
O ANIMAL SONHADO
Quando se pensa em filmes brasileiros em segmentos, que lidam com o sexo, geralmente se lembra daqueles belos e tesudos exemplares produzidos na época da Boca do Lixo. Mas os tempos são outros e sabemos que aqueles filmes eram feitos com uma boa dose de apelação mesmo. Afinal, eles precisavam ser pagos. Não já nasciam pagos por incentivos do Governo. Hoje os tempos são outros e não existe mais uma indústria do cinema brasileiro, por assim dizer.
Nesse sentido, a busca de falar sobre ou mostrar sexo nos filmes não passa mais necessariamente por uma intenção de tornar tais cenas excitantes do ponto de vista erótico. Pode-se dizer que é o caso de O ANIMAL SONHADO (2015), um bem-vindo projeto coletivo produzido em Fortaleza e dirigido a seis mãos por Breno Baptista, Luciana Vieira, Rodrigo Fernandes, Samuel Brasileiro, Ticiana Augusto Lima e Victor Costa Lopes.
Embora fique bem clara a divisão entre cada segmento e o corte entre eles seja suave (o corte do primeiro para o segundo dá a entender uma falsa continuidade, inclusive), a equipe optou por não nomear os diretores de cada episódio. Assumiu-se o projeto como coletivo. E por mais que os episódios sejam distintos, há algo que os liga que vai além da temática “sexualidade”. E esse é um dos pontos que depõem a favor do filme, que cresce à medida que pensamos nele.
Daí a discussão com os realizadores após a sessão ser muito recompensadora, pois ajuda a iluminar alguns pontos que ficaram um pouco turvos. Na plateia do Cinema do Dragão, palco da primeira exibição do filme em Fortaleza, havia muita gente que contribuiu com o projeto e que apontava vez ou outra algo ou alguém presente. Isso, junto com a simpatia dos realizadores, tornou a conversa informal e agradável.
As seis histórias de O ANIMAL SONHADO são narradas num crescendo de sonhos, desejos, alegrias, frustrações e fantasias para terminar em algo bastante próximo do cinema de horror, cujos elementos vão paulatinamente sendo absorvidos ao longo do filme, auxiliados por um excelente tratamento sonoro, que faz a diferença em uma obra que não opta por ter muitos diálogos. Durante o debate, os realizadores afirmaram que a montagem ficou exatamente na ordem em que filmaram, embora essa não fosse exatamente a intenção inicial. Isso indica que o crescendo de tensão mostrado no filme foi reflexo também de um sentimento do coletivo.
Nas tramas, há uma história que mostra a tensão sexual entre dois rapazes, uma aventura de dois rapazes para conquistar duas moças em uma festa, a história de uma jovem em uma academia de musculação, o desejo sexual de um pai por sua filha adolescente, um descontraído encontro de amigos numa casa de praia, e uma mulher que se vê desejada por uma cidade.
O primeiro (mais realista) e o último (mais onírico) são justamente os que mais lidam com tensões eróticas de maneira mais excitante, ainda que se perceba uma maior preocupação nos aspectos visuais do que em excitar a plateia com as cenas. Em geral, os corpos são muito bonitos de ver, especialmente quando nus, mas há uma opção por tratar essa sexualidade de maneira mais incômoda e menos erótica, ainda que sem nenhuma amarra moralista ou religiosa. O que é bom. Dos seis segmentos, tenho um especial apreço pelo quinto, que parece ter ganhado uma aura mágica maior que os demais.
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