quinta-feira, fevereiro 19, 2015

WHIPLASH – EM BUSCA DA PERFEIÇÃO (Whiplash)



A safra deste ano do Oscar tem prestigiado os filmes indies. E se por um lado isso é bom para escolher obras mais comprometidas com a arte e menos interessadas na bilheteria, por outro isso é ruim justamente porque a maioria dos indicados não tem apelo comercial suficiente para que a velha teoria de que o Oscar abre portas para o sucesso popular dos filmes cai por terra. Dos oito indicados a melhor filme este ano, por exemplo, o único campeão de bilheteria, por assim dizer, é SNIPER AMERICANO, de Clint Eastwood – A TEORIA DE TUDO é um caso à parte. Os demais são produções pequenas com repercussão maior nos festivais.

É o caso de WHIPLASH – EM BUSCA DA PERFEIÇÃO (2014), de Damien Chazelle, que tem faturado prêmios de melhor filme em alguns festivais em que participou (Sundance, duplamente, com prêmio do júri e do público, Calgary e Deauville), além de direção, em Santa Barbara e Valladolid. Mas quem mais tem ganhado prêmios mesmo é J.K. Simmons (excelente), que faz o papel de Fletcher, o professor carrasco de uma banda de jazz de uma conceituada universidade americana. Fletcher é impiedoso e humilha não apenas os medíocres, mas também aqueles que são muito bons, mas que não conseguem ser perfeitos para suas exigências. Ele é capaz, por exemplo, de jogar uma cadeira numa de suas vítimas.

E uma de suas vítimas, até por vontade própria, na verdade por obsessão, é o jovem Andrew (Miles Teller), sujeito solitário, que até consegue uma bela namorada, mas abdica desse relacionamento, pois acredita que ela seria para ele uma distração, poderia fazer com que ele perdesse o foco do seu principal objetivo de vida: ser um dos maiores bateristas de jazz do país, um artista a ser lembrado para sempre.

Até daria para traçar um paralelo entre essa obsessão pela perfeição mostrada em WHIPLASH com a de CISNE NEGRO, de Darren Aronofsky, embora os registros sejam bem diferentes. Enquanto o primeiro é um drama de relacionamento entre professor-aluno, o segundo aposta no clima de pesadelo. Ambos, porém, são retratos sofridos de pessoas não necessariamente felizes em busca de um ideal.

No caso de Andrew, o filme faz questão de mostrar o quanto ele sangra, literalmente, para atingir os seus fins. Para ser o melhor é preciso experimentar a dor, é preciso renegar alguns dos prazeres da vida. Isso deve valer para praticamente qualquer coisa na vida.

Mas o que conta mesmo no filme é a relação de amor (ou admiração) e ódio que se estabelece entre professor e pupilo. Não deixa de ser ao mesmo tempo enervante e engraçada essa relação. E quanto às várias cenas memoráveis ao longo da narrativa? Como esquecer a cena em que Miles chega atrasado a um ensaio? Ou a sua última apresentação no filme, com o jogo de olhares entre os dois. Tudo isso ao som de muita bateria. Talvez, mais até do que em BIRDMAN. Ver WHIPLASH em uma sala equipada com uma excelente aparelhagem de som faz a diferença.

WHIPLASH – EM BUSCA DA PERFEIÇÃO foi indicado ao Oscar nas categorias de filme, direção, ator coadjuvante (Simmons), edição e mixagem de som.

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