sábado, fevereiro 21, 2015
FOXCATCHER – UMA HISTÓRIA QUE CHOCOU O MUNDO (Foxcatcher)
Antes de mais nada, fica a pergunta: o que a Academia vê tanto em Bennett Miller a ponto de indicá-lo ao Oscar de direção pelos seus três longas de ficção realizados? Foi assim com sua estreia com o ótimo CAPOTE (2005), com o segundo longa, o bom O HOMEM QUE MUDOU O JOGO (2011), e agora com o novo FOXCATCHER – UMA HISTÓRIA QUE CHOCOU O MUNDO (2014), uma obra incômoda, é verdade. E digo isso como um elogio. Mas mesmo assim, acaba decepcionando um pouco, não apenas por não chocar tanto quanto o título brasileiro quer vender, como porque, talvez, haja um excesso de confiança por parte do diretor, ao optar por um andamento narrativo mais lento.
Não que isso seja um defeito. Para provocar o efeito desejado em FOXCATCHER esse tipo de andamento talvez seja mesmo necessário. Outra coisa que talvez possa incomodar nos aspectos técnicos é a trilha sonora, que funciona bem para construir uma atmosfera de tensão e suspense, mas que ao final acaba não causando lá grande comoção. E dá a impressão de que sem ela o filme não se sustentaria.
Ainda assim, FOXCATCHER é o tipo de filme que vai com a gente pra casa. Levamos conosco John Du Pont, o personagem de Steve Carell, um velho narigudo e com gosto por luta grego-romana e por corpos masculinos que ao mesmo tempo que é repugnante é também patético, especialmente quando finge ser o que não é. É o tipo de personagem digno de pena, por sua solidão e sua tentativa de mostrar autoridade e poder por causa do dinheiro, mas ao mesmo tempo é distante o suficiente para não ser digno de nossa solidariedade.
Também encaramos com distanciamento outro personagem solitário, o campeão olímpico de luta greco-romana Mark Schultz. Escolherem Channing Tatum para interpretá-lo não deixa de ser um acerto e tanto de casting, por sua fama de ser mau ator ou de estar no showbizz pelos músculos. Mark Schultz caminha feito um chimpanzé, e não se sabe até que ponto houve um exagero na construção do personagem nesse aspecto ou se o verdadeiro Mark era assim mesmo. Mas isso é irrelevante para a obra, trata-se apenas de uma curiosidade.
Chegamos, então, ao terceiro personagem, o irmão de Mark, David (Mark Ruffalo), um sujeito bem diferente do irmão. Na verdade, o único amigo dele, embora durante a narrativa mostrada ele não tenha encontrado tempo para se dedicar ao irmão solitário, por causa de compromissos profissionais e principalmente familiares – esposa e filhos. Mark é o único personagem centrado nesse trio.
Com personagens tão bem construídos, ainda que vistos à distância, FOXCATCHER se firma mais como uma obra de personagens do que de enredo. Ainda assim, há um enredo também bem tecido, que se inicia de verdade quando John Du Pont convida Mark a treinar em sua mansão. Lá ele receberia todo o suporte financeiro que um atleta olímpico merece. No início até que as coisas funcionam bem, mas aos poucos a relação de Mark com Du Pont vai ficando no mínimo muito incômoda. Um mal estar que contagia a plateia até os seus momentos finais.
Talvez haja espaço para alguns risos amarelos, ao vermos as roupas um tanto datadas e até um tanto eróticas que os atletas da década de 1980 vestiam. Principalmente quando vemos Steve Carell vestido com uma delas. O que vemos ali é um homem ridículo, mas não um homem ridículo como o chefe Michael Scott, da série cômica THE OFFICE, mas algo diferente. E embora não seja o primeiro papel dramático de Carell (lembremos do suicida de PEQUENA MISS SUNSHINE), é o que mais se aproxima do trágico. Não deixa de ser um mérito e tanto para o ator e para o filme de Miller.
FOXCATCHER – UMA HISTÓRIA QUE CHOCOU O MUNDO concorre ao Oscar nas categorias de direção, ator (Carell), ator coadjuvante (Ruffalo), roteiro original e maquiagem e cabelo.
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