sábado, fevereiro 14, 2015
SNIPER AMERICANO (American Sniper)
Não é de hoje que Clint Eastwood provoca algumas controvérsias no que se refere ao seu posicionamento político apresentado em seus filmes. Desde os tempos de Dirty Harry, principalmente naquele em que ele mesmo dirigiu, IMPACTO FULMINANTE (1983), a questão em torno do fato de seu protagonista ser a sua voz ou de poder ser visto de maneira distanciada e crítica pelo espectador acaba causando um pouco de confusão. De todo modo, o importante é termos um filme controverso de um grande cineasta em questão, um filme que faz pensar e não apenas um filme bem resolvido e fácil de esquecer.
SNIPER AMERICANO (2014), inclusive, tem sido comparado a outro filme bem controverso, que mostrava seus protagonistas atirando em crianças e mulheres: REGRAS DO JOGO, de William Friedkin. Assim, a questão ética tem sido o principal ponto de discussão entre cinéfilos, mesmo entre admiradores da obra do velho Clint. Em minha opinião, trata-se de mais uma obra-prima para seu currículo. Uma que ele devia desde GRAN TORINO (2008).
Assim, não há tanta diferença entre o velho ranzinza e veterano da Guerra da Coreia do filme de 2008, o caubói carregado de culpas de OS IMPERDOÁVEIS (1992), o treinador de boxe ao final de MENINA DE OURO (2004), o cineasta inconsequente e matador de animais de CORAÇÃO DE CAÇADOR (1990) e este atirador de elite de SNIPER AMERICANO.
A princípio, ele é apresentado como um caubói ingênuo do Texas que, ao ver na televisão a morte de americanos por iraquianos, resolve se alistar e assumir uma vida que considera mais digna, assumir uma posição de amor à pátria. Mas, como o próprio Clint já havia mostrado em outro filme de guerra, A CONQUISTA DA HONRA (2006), o gosto do heroísmo pode não ser assim tão doce. Afinal, ter que atirar em uma mulher e em uma criança exige um coração duro.
Uma sequência bem representativa do modo como Chris Kyle (Bradley Cooper) vê o seu trabalho é quando sua esposa (Sienna Miller) o questiona sobre a carta de um companheiro seu morto em serviço. Na carta, escrita duas semanas antes de ele morrer, ele se pergunta sobre a natureza daquela guerra. Uma das guerras mais sujas e torpes que os americanos já criaram, com a desculpa de que havia no Iraque armas de destruição em massa. Mas nada disso é citado no filme, que inclusive toma a liberdade para utilizar várias elipses temporais, até por respeito à inteligência do espectador.
A semelhança do filme com GUERRA AO TERROR, de Kathryn Bigelow, cessa justamente na questão do homem viciado no ambiente da guerra que não consegue mais viver normalmente no seio familiar. No mais, as intenções de Bigelow e Eastwood são bem distintas. SNIPER AMERICANO representaria mais uma contribuição a uma obra voltada a dissecar o espírito do homem americano médio, em especial os mais durões; botar o dedo na questão da culpa mais uma vez; homenagear John Ford, tanto nos aspectos formais quanto nos temáticos.
Há quem reclame do filme por justamente tratar o personagem, supostamente, com certo respeito, sendo que seria um homem merecedor de desprezo; há quem reclame dos problemas de continuidade e da cena do bebê postiço, ou do modo como a maldade dos iraquianos parece ser tão maior quanto a maldade dos americanos. Mas tudo isso é pequeno ou é passível de questionamento diante de uma obra grandiosa, que ainda conta com um absurdo de sequências de ação de tirar o fôlego e nos colocar em meio ao conflito. O que dizer da sequência da tempestade de areia? E poder ver tudo isso numa gloriosa sala IMAX é um privilégio e tanto.
SNIPER AMERICANO concorre ao Oscar nas categorias de melhor filme, ator (Bradley Cooper), roteiro adaptado, edição, mixagem de som e edição de som.
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