domingo, dezembro 22, 2013
UM TOQUE DE PECADO (Tian Zhu Ding/A Touch of Sin)
Um dos problemas de filmes contendo várias histórias independentes é que uma delas vai sempre ficar à frente das demais em qualidade. E, no caso de UM TOQUE DE PECADO (2013), de Jia Zhang-ke, isso acontece logo na primeira história, a história de um sujeito, Dahai (Wu Jiang), que ousa enfrentar aquilo que ele julga estar errado na empresa em que trabalha. Para ele, é um absurdo o dono comprar um avião e viver em luxo enquanto a prometida divisão nos lucros não chega para ele nem para os seus colegas. Mas ninguém além dele consegue reclamar. E isso vai ter consequências muito grandes em sua vida e em outras vidas também. Trata-se do segmento mais violento, e que lembra westerns e filmes de gângster, mas não quer dizer que os demais também não o sejam.
Esse primeiro segmento já apresenta uma China que é conhecida de ouvir falar, mas muito pouco de quem está longe: a de uma potência atual que lucra e muito com a mão de obra barata da grande maioria da população. Daí a importância de filmes como esse, por mais que estejam exagerando ou não nos retratos apresentados.
O segundo segmento conta a história de um sujeito que volta para o vilarejo onde mora a esposa e os filhos. Mas não por muito tempo. Ele vê a vida naquele local como sendo tediosa, como afirma em determinada cena. Para ele, viver perigosamente, atirar sem piedade nas pessoas para roubar, por exemplo, é muito mais interessante. É um momento em que o filme perde bastante da graça apresentada pela primeira e empolgante história.
A terceira história apresenta uma protagonista feminina: uma mulher que tem um caso com um homem casado e que sofre o julgamento da comunidade, tendo que arranjar trabalho como recepcionista em uma casa de massagem luxuosa. Nada de muito importante acontece, até o dia em que um cliente pede para que ela mesma faça a massagem. O final parece com filmes exploitation, com muito sangue e violência, o que ajuda o espectador a acordar, mas que pode deixar aqueles fãs de O MUNDO (2004) um tanto decepcionados.
O filme termina com uma história que poderia ter sido mais envolvente no que se refere ao jovem protagonista, um rapaz que trabalha em uma fábrica e que foge de lá depois de um acidente com o colega. No trabalho em um hotel-bordel de luxo apaixona-se por uma das moças que lá trabalham.
UM TOQUE DE PECADO é uma obra que apresenta histórias de perdedores, mas que também tem como objetivo, assim como os trabalhos anteriores de Jia Zhang-ke, apresentar a situação nada animadora da China atual. Em outros tempos, os filmes seriam proibidos no país, mas, até por repercutir mais em festivais e circuitos alternativos ao redor do mundo, eles parecem não incomodar muito os líderes políticos desse gigante econômico que é hoje a China. Além do mais, é sempre bom lembrar que os trabalhos do diretor têm uma sofisticação estética que os tornam mais do que simples filmes de protesto.
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