segunda-feira, julho 02, 2012
LUZ NAS TREVAS – A VOLTA DO BANDIDO DA LUZ VERMELHA
Rogério Sganzerla não está mais entre nós. E talvez por isso o espectador já saiba que não deve esperar de LUZ NAS TREVAS – A VOLTA DO BANDIDO DA LUZ VERMELHA (2012) um filme do diretor. Ainda assim, na experiência bem incomum que é a apreciação desta continuação de O BANDIDO DA LUZ VERMELHA (1968), dirigida pela esposa do cineasta, Helena Ignez, e co-dirigida por Ícaro C. Martins, é possível ver a presença de Sganzerla, seja no espírito transgressor e anárquico da montagem, que procura emular o espírito do original, seja em sequências retiradas do próprio filme que deu início ao movimento do Cinema Marginal.
Ney Matogrosso aparece no papel do bandido, que não se conforma com a maneira como foi retratado no filme de 1968 e aparece também lendo livros em voz alta em sua cela, como saído de um filme de Godard. O pouco conhecido André Guerreiro Lopes interpreta o filho do bandido, que usa a alcunha de "Tudo-ou-Nada" e tenta repetir o que o pai fez, inclusive com momentos que remontam sequências do filme de Sganzerla, com direito à famosa sequência do carro na praia e a uma imitação de Jean-Paul Belmondo em ACOSSADO, com Tudo-ou-Nada passando os dedos por sobre os próprios lábios. Guerreiro Lopes já havia trabalhado com Helena Ignez, co-dirigindo com ela uma peça chamada "O Belo Indiferente", baseada em texto que Jean Cocteu escreveu para Edith Piaf, e estrelada por Djin Sganzerla.
Falando na musa, filha do cineasta, ela aparece em toda sua glória em vários momentos do filme e de corpo nu em uma cena de LUZ NAS TREVAS. Outras mulheres importantes que dão o ar da graça são: Simone Spoladore, Maria Luísa Mendonça, Bruna Lombardi e Sandra Corveloni. Mas é Djin quem mais se sobressai e que mais aparece na tela, como a amante de Tudo-ou-Nada. Nada mais justo: ela é a filha do criador e tem uma beleza ímpar.
O que talvez incomode no filme seja justamente essa tentativa de emular sem muitas diferenças, sem fazer maiores atualizações, uma obra que carrega um determinado espírito do tempo, no caso, o do final dos anos 1960, conturbados mundialmente por uma rebeldia e uma vontade de mudar revolucionária, no sentido mais amplo do termo. Será que esse espírito hoje, em tempos mais amargos e distópicos, causa o mesmo impacto e gera o mesmo interesse na plateia? Ou serve apenas como uma homenagem a um de nossos mais inventivos cineastas? Sinceramente, ainda não sei dizer.