terça-feira, novembro 03, 2009

BESOURO



É sempre bom ver um filme brasileiro de gênero estreando em várias salas do país e com um bom apelo popular. Desde que vi o trailer de BESOURO (2009), fiquei na torcida pelo sucesso do filme. Não apenas comercial, mas artístico também, embora esse segundo quesito seja mais difícil de mensurar. No aspecto técnico, o filme de João Daniel Tikhomiroff é melhor do que eu esperava. Tem uma fotografia bem cuidada, efeitos especiais surpreendentes, cenas de luta bem coreografadas e uma edição que não compromete o andamento narrativo. O problema está principalmente na direção de atores, que ainda parece bem amadora.

Apresentar a história de um herói negro que luta contra o preconceito racial na Bahia da década de 1920 é uma boa ideia, bem como explorar a riqueza da cultura afrobrasileira, com os orixás. Inclusive, pode-se dizer que o personagem do Exu é um dos mais interessantes do filme. Talvez seja o único que é pintado em tons de cinza, sendo um espírito que pode ser tanto maligno quanto protetor. No mais, os negros são mostrados como vítimas ou heróis e os coronéis são vilões bem caricatos, especialmente o capataz do coronel, que é o que mais demonstra o seu ódio aos negros e à capoeira.

E assim como BEZERRA DE MENEZES - O DIÁRIO DE UM ESPÍRITO fez bastante sucesso entre o público espírita e interessados no assunto, vários praticantes e simpatizantes da capoeira têm comparecido às salas de cinema, podendo render também uma boa repercussão internacional, já que o esporte/dança/luta é cultuado em várias partes do mundo.

Na trama, Aílton Carmo é Besouro, discípulo de Mestre Alípio, um homem bastante amado e respeitado pelos negros de Salvador. Mestre Alípio é o grande mentor da capoeira e tem ideias que podem ser bem perigosas para os coronéis, que mesmo depois de passados quase cinquenta anos da Lei Áurea, ainda continuam a tratar os negros como escravos. Besouro é um personagem histórico pouco conhecido dos livros de história, mas que é cantado nas rodas de capoeira. O filme nos dá a oportunidade de entrarmos em contato com sua história. Ou lenda, no caso, já que o filme é cheio de elementos fantásticos. BESOURO representa a chance de o cinema brasileiro lidar com a ação e a fantasia, como nos filmes chineses de kung fu.

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