segunda-feira, novembro 23, 2009
NO MEU LUGAR
Essa promoção que fizeram para o cinema nacional - inteira 6 reais, meia 3 - não é muito justa. Afinal, os cinemas de shopping estão entupidos com LUA NOVA e 2012, com filas que são verdadeiras muralhas para quem deseja outra opção. E cidades como Fortaleza, por exemplo, não têm tantos filmes brasileiros sendo exibidos. Tirando NO MEU LUGAR (2009), o outro filme brasileiro disponível é BESOURO. Quer dizer, a oportunidade que eles dão para ver filmes nacionais com preço mais barato acaba valendo de verdade apenas para São Paulo e Rio de Janeiro, que ainda têm uma boa diversidade em sua programação. Mesmo assim, é bom saber que Fortaleza foi incluída no circuito da promoção. Outra boa surpresa foi o fato de o filme de Eduardo Valente ter chegado aqui com uma janela estreita de diferença em relação ao eixo Rio-São Paulo para uma cópia em película. Que pena também que o filme não deve durar mais de uma semana em cartaz. A exemplo do que aconteceu com HOTEL ATLÂNTICO, de Suzana Amaral, que só durou uma semana aqui. O legal desses dois filmes é notar que são trabalhos que não fazem concessões ao mercado. Seus autores fizeram o que quiseram e não ofereceram um produto mastigado para as plateias. Mas nem sempre isso é bom sinal, que o digam as pessoas que saíram no meio da sessão, por não estarem entendendo nada da trama cheia de idas e vindas no tempo. E realmente NO MEU LUGAR exige mais atividade mental do espectador, que aos poucos vai decifrando o quebra-cabeças espaço-temporal.
O longa-metragem de estreia de Eduardo Valente foi aguardado com certa ansiedade pelos vários cinéfilos que acompanharam a carreira do diretor. O sucesso de seus curtas, com direito a premiação em Cannes, foi o principal responsável. Ainda assim, a falta de um elenco de rostos conhecidos e de uma trama um pouco mais palatável acaba não atraindo um público maior, que já não é frequentador do circuito alternativo. Também senti falta, no filme, de personagens com quem a gente se importasse. Algumas das tramas são melhores que outras. A trama do casal que ficou com a casa onde aconteceu o tiroteio, por exemplo, não é nada atraente. Sempre que o filme enfocava essa parte da história, eu ficava um pouco aborrecido. Por outro lado, as cenas envolvendo o policial decadente e sua filha e a do rapaz do morro namorando a empregada doméstica são mais interessantes. Inclusive, para contribuir com a estranheza do filme, o relacionamento do policial com a filha deixa sempre espaço para uma possível relação incestuosa, a começar pelo fato de eles dormirem na mesma cama.
O prólogo do filme é o seu coração, talvez o que haja de melhor, é o momento-chave da trama, fato que já se torna evidente nos primeiros minutos do filme. E isso se mostra ainda mais explícito quando NO MEU LUGAR se aproxima do final. O filme se inicia com a chegada de dois policiais a um local de crime. A câmera, vista do lado de fora da casa, nos fornece apenas uma visão nebulosa do que está acontecendo. Sabemos apenas que há um sujeito com uma arma na mão, uma pessoa ameaçada, uma moça gritando, nervosa, e uma dupla de policiais tentando conter a ação do criminoso. Já a partir desse momento, Valente deixa claro, como um Bresson, a intenção de esconder mais do que mostrar, de deixar para o espectador a tarefa de estimular a imaginação, de raciocionar. Daí a comparação que o filme tem recebido com os trabalhos de Iñarritú e Tarantino, embora seja bem menos pop, talvez mais próximo do cinema produzido no Oriente. Mas as reais influências de NO MEU LUGAR, ainda estou para saber.
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