terça-feira, novembro 17, 2009
2012
Um dos segredos para se gostar de 2012 (2009), de Roland Emmerich, é encará-lo como um filme B despretensioso. Mesmo sendo uma superprodução, 2012 tem o sabor daqueles deliciosos filmes vagabundos que passavam no SBT nos anos 80. Vendo dessa forma, até dá pra relevar o final ridículo, os efeitos especiais nem sempre eficientes e que às vezes parecem bem desleixados para tanto dinheiro envolvido, os diálogos ruins e a extrema superficialidade dos personagens. Mas não dá pra esperar algo diferente de Emmerich. Principalmente levando em consideração que o seu último filme é o horrível 10.000 A.C. (2008) e que o seu melhor é O DIA DEPOIS DE AMANHÃ (2004).
Emmerich, desde antes de SOLDADO UNIVERSAL (1992) já flertava com a ficção científica, que alcançou o auge da popularidade nos anos 50, com uma explosão de disaster movies e de filmes que visualizavam um futuro negro para a humanidade com um holocausto nuclear, talvez fruto de um sentimento de culpa coletivo americano depois de eles terem bombardeado duas cidades inteiras no Japão. Hoje, as preocupações se voltaram para a questão ambiental. Mas Emmerich nem chega a explorar tanto esse filão no novo filme. Isso ele já havia explorado antes em O DIA DEPOIS DE AMANHÃ.
Desta vez, ele se aproveita de profecias maias que prevêem o fim do mundo - ou o fim do mundo como o conhecemos - para dezembro de 2012. O que importa aqui não é nem se o mundo vai ou não acabar em 2012, ainda que muita gente esteja realmente preocupada com isso; o que importa é que as pessoas gostam de ver o mundo se acabando no cinema. O que tem se mostrado em números e na prática. Não lembro de nenhum outro filme este ano que tenha atraído tantas pessoas ao cinema. Que tenha gerado filas tão grandes. O que, de certa forma, é animador para a sobrevivência do cinema em tempos de downloads de filmes e dvds piratas nos camelôs. Mesmo aqueles que não têm o hábito de ir ao cinema estão se sentindo motivados a sairem de suas casas para ver o fim do mundo sob a ótica do puro entretenimento.
E no que se refere a entreter, Emmerich se sai muito bem. Afinal, o seu filme tem duas horas e quarenta minutos de duração que passam voando. E um elenco de rostos conhecidos. O personagem mais interessante é, de longe, o de Woody Harrelson, que faz um radialista meio louco, ligado em teorias conspiratórias e que já havia descoberto o que apenas os governantes dos países mais ricos ou empresários milionários sabiam. Pode-se dizer que ele é uma espécie de alter-ego de Emmerich na sequência em que ele vê o mundo ao seu redor desabando e ele achando tudo aquilo lindo. O personagem principal, no entanto, é John Cusack, no papel de um chofer de limusine que escreveu um livro de ficção científica que praticamente ninguém leu e que é divorciado de Amanda Peet. Ele é a pessoa comum de mais fácil identificação com o público. Não é nenhum dos ricos que compraram uma vaga na nave que vai abrigar os poucos afortunados a sobreviver, nem nenhum dos cientistas ou políticos mais envolvidos com o fim iminente. E a cena em que ele foge no carro com a família enquanto as ruas vão se despedaçando é uma espécie de versão exagerada e tosca da cena de Tom Cruise e família em GUERRA DOS MUNDOS, de Steven Spielberg.
E não resta dúvida que nas mãos de um Spielberg ou de um James Cameron o filme teria resultado muito diferente. Teríamos nos preocupado com os personagens, teríamos nos emocionado com as cenas dramáticas. Do jeito que ficou, todas as cenas em que Emmerich tentou emocionar a plateia resultou em fracasso. As cenas de despedida do presidente Danny Glover com a família ou com o povo americano, por exemplo, chegam a ser ridículas em suas tentativas vãs de emocionar.
E se 2012 não tem uma cena tão antológica quanto a dos americanos procurando abrigo no México em O DIA DEPOIS DE AMANHÃ, as cenas das arcas da salvação são uma boa mostra da inventividade de Emmerich. Ainda assim, apesar de toda a expectativa e de toda a propaganda em torno, o melhor filme sobre o fim do mundo exibido no ano continua sendo o surpreendente PRESSÁGIO, de Alex Proyas.
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