O impacto de ter visto o meu primeiro filme mexicano de horror foi grande. O ESPELHO DA BRUXA, de Chano Urueta, lançado antes do nosso À MEIA-NOITE LEVAREI SUA ALMA, me pegou de surpresa, com tanta criatividade e beleza visual. E se percebe que há uma pluralidade de estilos muito rica também nessa cinematografia, como pude perceber vendo outros títulos do box Obras-Primas do Terror – Horror Mexicano, que, aliás, já ganhou um segundo volume, já disponível em pré-venda.
VENENO PARAS AS FADAS (1986) foi o segundo filme que vi de Carlos Enrique Taboada e o mais impressionante em muitos aspectos. Já havia gostado bastante de ATÉ O VENTO TEM MEDO (1968), mas este outro é bem mais interessante. No aspecto formal, o protagonismo das duas crianças é levado ao ponto de a câmera não mostrar os rostos dos adultos, a não ser em circunstâncias em que eles se apresentam como pessoas de causar medo ou susto.
Há uma excelente caracterização das duas meninas e a história se passa nos anos 1960. Flavia (Elsa María Gutiérrez), a morena novata na escola, que não tem uma educação religiosa em casa, começa uma amizade com Verónica (Ana Patricia Rojo), a garotinha loira que escuta, encantada, da empregada doméstica, histórias de bruxas e outras figuras fantásticas e logo quer passar a imagem para a colega de que ela mesma é uma bruxa. “Bruxas podem fazer tudo”, é o que ela escuta impressionada, e isso passa a ser um desejo de tudo dominar, sem se importar que tenha que cometer maldades, afinal, bruxas se dão ao luxo de fazer atos maléficos.
O filme é também um conto sobre a maldade presente na infância e até sobre a relação que se estabelece entre o agressor e o agredido. VENENO PARA AS FADAS, segundo vi em algumas críticas, é o último filme do realizador e também o seu mais potente trabalho, quando ele substitui o tema sobrenatural por um horror psicológico muito rico, unindo a fantasia com o terror de maneira brilhante. Um dos diretores mais entusiastas do cinema de Taboada é também um mexicano, Guillermo Del Toro, que já fez dois trabalhos com o horror e a infância andando de mãos dadas, A ESPINHA DO DIABO e O LABIRINTO DO FAUNO.
Um dos momentos em que o filme de Taboada ganha contornos mais dramáticos é quando Flavia pergunta a Verónica se ela pode ajudá-la, através da magia, a se livrar de suas exaustivas e chatas aulas de piano. Os momentos de tensão se intensificam quando Verónica viaja com a famíia de Flavia para uma casa de campo e a pequena bruxinha tem a ideia de criar um veneno para as fadas a partir de elementos clássicos da bruxaria, que ela ouvira nos contos de fadas.
Nos extras do DVD há depoimentos das duas meninas, agora adultas. Ana Patricia Rojo se tornou uma famosa atriz de telenovelas em seu país, mas afirma que seu melhor trabalho ainda é VENENO PARA AS FADAS. Já Elsa María Gutiérrez se desligou totalmente da vida de atriz.
+ DOIS CURTAS
TODOS OS ROSTOS QUE AMO SE PARECEM
A princípio pode parecer um filme-irmão de DOMICÍLIO INCERTO (2020), da mesma dupla de diretores, Davi Mello e Deborah Perrotta. Também traz um tipo de solidão que pode remeter ao cenário da pandemia. Mas TODOS OS ROSTOS QUE AMO SE PARECE (2021) é mais experiemental, um pouco mais difícil de assimilar. Tanto que vi duas vezes para tentar apreender um pouco mais. Não sei se adiantou para a compreensão, mas adianta bastante para perceber a beleza do desenho de produção, da fixação em janelas e portas e naquilo que elas apresentam dentro delas, e também em outros objetos da casa, como um quadro cuidadosamente arrumado. Gosto da citação da mãe de Sandra, a personagem de Deborah Perrotta, sobre a importância de ter o que gostamos em casa. Há uma curiosa cena de sonho, mas o sonho parece um filme antigo (em 16 mm, em VHS?), depois seguido pelo último, belo e intrigante quadro do filme. Ainda não sei o que vi, mas creio ter gostado.
UN ROBE D'ÉTÉ
Antes de estrear seu primeiro longa de ficção, François Ozon já tinha no currículo vários curtas. Este é um deles e é bem saboroso. E há alguns elos de contato entre UN ROB D’ÉTÉ (1996) com um de seus mais recentes filmes, VERÃO DE 85 (2020), embora me pareça mais próximo, de seus primeiros trabalhos, no que se refere à saudável força sensual. Na pequena trama que dura 15 minutos apenas, um rapaz gay vai tomar banho nu numa praia e é abordado por uma moça. Dá pra notar tanto a vontade de Ozon de materializar uma fantasia quanto o talento em contar uma história com poucos diálogos e muitos olhares. Além do mais, ele antecipou Tarantino ao incluir na trilha a canção "Bang bang", que aqui aparece em sua versão francesa.
TODOS OS ROSTOS QUE AMO SE PARECEM
A princípio pode parecer um filme-irmão de DOMICÍLIO INCERTO (2020), da mesma dupla de diretores, Davi Mello e Deborah Perrotta. Também traz um tipo de solidão que pode remeter ao cenário da pandemia. Mas TODOS OS ROSTOS QUE AMO SE PARECE (2021) é mais experiemental, um pouco mais difícil de assimilar. Tanto que vi duas vezes para tentar apreender um pouco mais. Não sei se adiantou para a compreensão, mas adianta bastante para perceber a beleza do desenho de produção, da fixação em janelas e portas e naquilo que elas apresentam dentro delas, e também em outros objetos da casa, como um quadro cuidadosamente arrumado. Gosto da citação da mãe de Sandra, a personagem de Deborah Perrotta, sobre a importância de ter o que gostamos em casa. Há uma curiosa cena de sonho, mas o sonho parece um filme antigo (em 16 mm, em VHS?), depois seguido pelo último, belo e intrigante quadro do filme. Ainda não sei o que vi, mas creio ter gostado.
UN ROBE D'ÉTÉ
Antes de estrear seu primeiro longa de ficção, François Ozon já tinha no currículo vários curtas. Este é um deles e é bem saboroso. E há alguns elos de contato entre UN ROB D’ÉTÉ (1996) com um de seus mais recentes filmes, VERÃO DE 85 (2020), embora me pareça mais próximo, de seus primeiros trabalhos, no que se refere à saudável força sensual. Na pequena trama que dura 15 minutos apenas, um rapaz gay vai tomar banho nu numa praia e é abordado por uma moça. Dá pra notar tanto a vontade de Ozon de materializar uma fantasia quanto o talento em contar uma história com poucos diálogos e muitos olhares. Além do mais, ele antecipou Tarantino ao incluir na trilha a canção "Bang bang", que aqui aparece em sua versão francesa.
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